terça-feira, 13 de abril de 2010

O ÚNICO E VERDADEIRO DEUS

I
O que a palavra "idolatria" sugere à sua mente? Selvagens rastejando diante de um poste-ídolo? Estátuas com faces cruéis nos templos hindus? Danças religiosas dos sacerdotes de Baal ao redor do altar levantado por Elias? Tudo isto certamente é idolatria, de um modo bem claro, mas precisamos pensar que existem formas bem mais sutis de idolatria.
Veja o segundo mandamento. Ele diz "Não farás para ti imagem de escultura, nem semelhança alguma do que há em cima nos céus, nem em baixo na terra, nem nas águas debaixo da terra. Não as adorarás, nem lhes darás culto; porque eu sou o Senhor teu Deus, Deus zeloso..." (Êxo. 20:4-5). Sobre o que este mandamento está falando?
Se estivesse isolado, seria natural supor que se refere à adoração de imagens de outros deuses além de Jeová – os ídolos da Babilônia, por exemplo, que Isaías ridicularizou (Isa. 44:9; 46:1), ou o paganismo do mundo greco-romano dos tempos de Paulo, sobre os quais ele escreveu em Romanos 1:23-25: "E mudaram a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem do homem corruptível, bem como de aves, quadrúpedes, e répteis.., pois eles mudaram a verdade de Deus em mentira, adorando e servindo a criatura em lugar do Criador..." Mas em seu contexto, é bem pouco provável que o segundo mandamento esteja se referindo a este tipo de idolatria, pois se assim fosse apenas estaria repetindo o pensamento do primeiro mandamento sem acrescentar nada a ele.
Assim sendo, tomamos o segundo mandamento – como tem sido sempre feito – como indicando para nós o princípio de que (citando Charles Hodge) "a idolatria consiste não apenas na adoração de deuses falsos, mas também na adoração do verdadeiro Deus através de imagens". Na aplicação cristã isto quer dizer que não devemos fazer uso de qualquer representação visual ou gravuras do Deus Triúno, ou de nenhuma pessoa da Trindade com a finalidade de adoração. O mandamento não se refere então ao objeto de nossa adoração, mas à maneira como esta é feita; o que ele diz é que nenhum estátua ou figura daquele que adoramos deve ser usada como auxílio a esta adoração.
Parece estranho à primeira vista, que tal proibição esteja colocada entre os dez princípios básicos da religião bíblica, pois não vemos, de imediato, muita razão. para isso. Que mal pode haver, perguntamos, se o adorador rodear-se de estátuas e quadros se eles o ajudam a elevar seu coração a Deus? Acostumamo-nos a tratar este problema como se estas coisas devessem ser usadas ou não, de acordo com o temperamento e o gosto pessoal de cada um. Sabemos que muitas pessoas têm crucifixos e figuras de Cristo em seus quartos e elas dizem que olhar para esses objetos ajuda a focalizar seus pensamentos em Cristo. Sabemos que muitas pessoas dizem ser capazes de adorar com mais liberdade e facilidade em igrejas cheias de tais ornamentos do que em igrejas sem eles.
Bem, que há de errado nisso? Que mal essas coisas podem causar? Se as pessoas as acham realmente úteis, que há de mais para se dizer? Que propósito há em proibi-las? Diante desta perplexidade, alguém poderá sugerir que o segundo mandamento se aplica apenas a representações imorais ou degradantes de Deus, tiradas dos cultos pagãos e a nada mais. Mas as palavras do mandamento eliminam tal suposição. Deus diz categoricamente: "Não farás para ti imagem de escultura nem alguma semelhança" para ser usada em adoração. Esta afirmação categórica proíbe tão apenas o uso de figuras e estátuas que mostram Deus como um animal, mas também o uso de figuras e imagens que O mostram como a mais elevada criatura que conhecemos – o homem. Proíbe também o uso de figuras e imagens de Jesus Cristo Como um homem, embora o próprio Jesus tenta sido e permaneça um Homem; pois toda figura ou imagem é necessariamente feita com a "semelhança" do homem ideal, como o imaginamos, e portanto, está sob a proibição imposta pelo mandamento.
Historicamente, os cristãos divergem a respeito do segundo mandamento, no caso de proibir o uso de figuras de Jesus com o propósito de ensinar e instruir" (por exemplo, na Escola Dominical), e a questão não é fácil de resolver; mas não há dúvida alguma de que o segundo mandamento nos obriga a dissociar nossa adoração tanto pública como particular, de qualquer figura ou estátua de Jesus, assim como de qualquer representação de Seu Pai.
Mas qual é, neste caso, a razão para esta proibição tão ampla? Pela ênfase dada ao próprio mandamento com as assustadoras sanções ligadas a ele (proclamando o zelo de Deus; punindo com severidade os transgressores) supõe-se que deve ser de importância crucial. Mas será realmente? A resposta é sim. A Bíblia mostra que a glória de Deus e o bem espiritual do homem estão diretamente ligados a ele. Duas linhas de pensamento se apresentam diante de nós e juntas poderão explicar amplamente porque este mandamento deve ser tão enfaticamente destacado. Estas linhas de pensamento não se relacionam com o auxílio real ou imaginário das imagens, mas com a verdade delas. São as seguintes:
1) As imagens desonram a Deus, pois obscurecem a Sua glória. A semelhança das coisas celestes (sol, lua, estrelas) ou terrestres (homens, animal, pássaro, inseto) e marítimas (peixes, mamíferos, crustáceos) não é exatamente a semelhança de seu Criador.
"A verdadeira imagem de Deus", escreveu Calvino, "não é encontrada em todo o mundo; conseqüentemente... sua glória é profanada, e sua verdade corrompida pela mentira, sempre que Ele é apresentado aos nossos olhos de uma forma visível... Portanto, projetar qualquer imagem de Deus é em si mesmo ímpio; porque por essa corrupção sua majestade fica adulterada, e Ele é imaginado diferente do que é na realidade.
"O ponto aqui não é apenas que a imagem representa Deus como tendo corpo e membros, o que na realidade Ele não tem. Se fosse apenas esta a objeção a imagens, a representação de Cristo não seria errada, mas a realidade é muito mais profunda. O ponto focal da objeção a figuras e imagens é que inevitavelmente elas ocultam quase toda, senão toda a verdade sobre a natureza pessoal e o caráter do Ser divino que representam.
Para ilustrar: Arão fez um bezerro de ouro (isto é, a imagem de um boi). A intenção foi ter um símbolo visível de Jeová, o Deus poderoso que havia tirado Israel do Egito. Não há dúvida de que a intenção era honrar a Deus, criando um símbolo de sua grande força. Mas, não é difícil ver como esse símbolo é de fato um insulto a Ele, pois que idéia de seu caráter moral, sua justiça, bondade e paciência, poderia alguém fazer olhando para a sua imagem representada por um boi? Assim a imagem de Arão escondeu a glória de Jeová. De um modo semelhante, o patético do crucifixo obscurece a glória de Cristo, pois esconde o fato de sua divindade, sua vitória na cruz, e seu reino presente. Ele mostra sua fraqueza humana, mas esconde sua força divina; descreve a realidade de sua dor, porém não mostra a r4alidade de sua alegria e força. Em ambos os casos o símbolo é sem valor por aquilo que deixa de representar. O mesmo acontece com todas as outras representações vistais da divindade.
O que quer que pensemos a respeito da arte religiosa de um ponte, de vista cultural, não devemos olhar para figuras de Deus a fim de que nos mostrem sua glória e que nos levem à adoração, pois na verdade a sua glória jamais é encontrada nesses quadros. Por isso é que Deus acrescentou no segundo mandamento uma referência a Si mesmo como "zeloso" para se vingar daqueles que O desobedecem: pois o "ciúme" de Deus, na Bíblia, é seu zelo em manter sua própria glória, que é posta em jogo quando imagens são usadas na adoração.
Em Isaías 40:18 depois de haver declarado vivamente a grandeza incomensurável de Deus, é feita a pergunta: "Com quem comparareis a Deus? ou que cousa semelhante confrontareis com ele?" A pergunta não espera uma resposta, apenas um silêncio reservado. Seu propósito é lembrado que é tão absurdo quanto ímpio pensar que uma imagem modelada, como precisam ser, de acordo com alguma criatura, possa ter qualquer semelhança aceitável com o Criador.
Esta não é a única razão pela qual somos proibidos de usar imagens na adoração.

2 – As imagens enganam os homens. Elas projetam idéias falsas a respeito de Deus. O modo inadequado como O representam perverte nossos pensamentos a Seu respeito, e incutem em nossas mentes erros de todos os tipos sobre seu caráter e vontade. Ao fazer a imagem de Deus na forma de um bezerro, Arão levou os israelitas a pensarem nEle como um Ser que pedia ser adorado através de frenética devassidão. Conseqüentemente, a "festa do Senhor" que Arão organizou (Êxo. 32:5) transformou-se em uma orgia vergonhosa. Ainda mais, a história tem provado com fatos que o uso do crucifixo como auxílio para a oração tem levado o povo a pensar que devoção é meditar sobre os sofrimentos corporais de Cristo; e isso os torna mórbidos em relação ao valor espiritual da dor física, impedindo-os de conhecer o Salvador ressurreto.
Estes exemplos mostram como as imagens falsificaram a verdade de Deus na mente dos homens. Psicologicamente, é certo que se seus pensamentos estiverem habitualmente focalizados em uma imagem ou figura dAquele a quem suas orações são dirigidas, você pensará nEle e orará a Ele como a imagem O representa. Assim, neste sentido, você estará "se curvando" e "adorando" sua imagem; e na mesma medida em que essa imagem falha em representar a verdade sobre Deus, você estará também deixando de adorar a Deus em verdade.
É por isso que Deus nos proíbe de fazer uso de imagens e figuras em nossa adoração.

II
A compreensão de que imagens e figuras de Deus afetam nossos pensamentos sobre Deus leva a um campo mais avançado no qual se aplica a proibição do segundo mandamento. Ele tanto nos proíbe moldar imagens de Deus como também criar mentalmente imagens de Deus. Imaginar Deus em nossa mente pode ser uma infração tão real do segundo mandamento quanto imaginá-lo mediante o trabalho de nossas mãos.
Ouvimos freqüentemente expressões como esta: "Eu gosto de pensar em Deus como o grande Arquiteto (ou Matemático, ou Artista)". "Eu não penso em Deus como um Juiz: gosto de pensar nEle simplesmente como um Pai." Sabemos por experiência como essas expressões servem de prelúdio à negação de alguma coisa que a Bíblia nos diz a respeito de Deus. É necessário que se diga com a maior ênfase possível que quem se considera livre para pensar em Deus como gosta está infringindo o segundo mandamento. Na melhor das hipóteses, podem pensar em Deus apenas como um homem, talvez um homem ideal ou um super-homem, mas Deus não se iguala a nenhum tipo humano. Nós fomos feitos à sua imagem, porém não podemos pensar nEle de acordo com a nossa imagem, pois pensar em Deus desse modo é ser ignorante a seu respeito, não O conhecendo.
Toda teologia especulativa, que se baseia em arrazoados filosóficos em vez da revelação bíblica, está errada. Paulo nos conta onde termina este tipo de teologia: "o mundo não o conheceu por sua própria sabedoria" (1 Cor. 1:21). Seguir a imaginação no campo da teologia é um modo de se manter ignorante a respeito de Deus, tornar-se um adorador de imagens – o ídolo neste caso seria uma falsa imagem mental de Deus criada pela especulação e imaginação.
Tendo em vista este fato, o propósito positivo do segundo mandamento torna-se claro. Negativamente, é uma exortação contra os modos de adoração e a prática religiosa que nos levam a desonrar a Deus e a falsificar sua verdade. Positivamente, convoca-nos a reconhecer que Deus, o Criador, é transcendente, misterioso e inescrutável, além do limite de qualquer conjectura filosófica de que sejamos capazes; e, como conseqüência, um chamado para que nos humilhemos para ouvi-lo e aprender dEle, deixando que Ele mesmo nos ensine como é e como devemos pensar nEle. "Meus pensamentos não são os vossos pensamentos", Ele nos diz, "nem os vossos caminhos os meus caminhos... Porque, assim como os céus são mais altos do que a terra, assim são os meus caminhos «ais altos do que os vossos caminhos, e os meus pensamentos mais altos do que os vossos pensamentos" (Isa. 55:8-9) .
Paulo fala do mesmo modo: "Ó profundidade da riqueza, tanto da sabedoria, como do conhecimento de Deus! Quão insondáveis são os teus juízos, e quão inescrutáveis os seus caminhos! Quem, pois. conheceu a mente do Senhor?" (Rom. 11:33-34).
Deus não é como nós. Sua sabedoria, seus objetivos, sua escala de valores, seu modo de proceder difere tanto do nosso que não temos possibilidade de comparar nossos caminhos com os seus ou inferi-los por analogia segundo a idéia que fazemos do homem ideal. Não podemos conhecê-lo a menos que Ele fale e conte a seu próprio respeito. Mas, em realidade, Ele tem falado. Falou aos seus profetas e apóstolos e através deles, e tem falado nas palavras e atos de seu próprio Filho. Através de sua revelação, a que temos acesso pelas Sagradas Escrituras, podemos formar uma noção verdadeira sobre Deus; sem ela nunca o faremos. Parece assim que a força positiva do segundo mandamento é exigir que formemos nossa idéia sobre Deus com base na sua Santa Palavra e não em qualquer outra fonte.
Pelo modo como foi enunciado, parece claro que este é o impulso positivo do mandamento. Tendo proibido que se fizessem e se adorassem imagens, Deus se declarou "zeloso" em punir, não apenas os adoradores de imagens, mas todos os que O "odeiam", no sentido de desobedecerem os seus mandamentos como um todo.
Pelo contexto, seria natural e esperada uma ameaça apenas aos que usam imagens; por que então a ameaça de Deus é generalizada? Certamente é para que saibamos que aqueles que fazem imagens e as usam para adoração, e assim inevitavelmente extraem delas a sua teologia, terão na verdade a tendência de negligenciar em todos os pontos a vontade de Deus revelada. A mente que aceita imagens não aprendeu ainda a amar e a aceitar a Palavra de Deus. Aqueles que esperam que as imagens feitas pelos homens, materiais ou mentais, possam levá-los a Deus, por certo não tomarão nenhuma parte de sua revelação tão seriamente como deveriam.
Em Deuteronômio 4, o próprio Moisés interpreta a proibição de imagens na adoração, exatamente deste mesmo modo, opondo a fabricação de imagens à atenção aos mandamentos e à Palavra de Deus, como se essas duas coisas excluíssem completamente uma à outra. Ele lembra ao povo que embora tivessem tido sinais da presença de Deus no Sinai não viram nenhuma representação visível do próprio Deus, mas apenas ouviram sua voz: e os exortou a continuar vivendo como se estivessem aos pés da montanha, com a própria palavra de Deus soando aos seus ouvidos para dirigi-los, e sem qualquer suposta imagem de Deus diante de seus olhos para distraí-los.
A idéia é clara. Deus não apresentou a eles um símbolo visível de Si mesmo, mas falou com eles; não devendo eles, portanto, agora, procurar um símbolo visível de Deus, mas simplesmente obedecer às suas palavras. Se se disser que Moisés estava com medo de que os israelitas tomassem emprestados modelos de imagens das nações idólatras que os rodeavam, nossa resposta é sem dúvida positiva e este é exatamente o ponto: todas as imagens de Deus feitas pelos homens, quer sejam moldadas ou mentais são realmente emprestadas de um mundo sem Deus e pecador, e com certeza não estarão de acordo com a Palavra santa do próprio Deus. Fazer uma imagem de Deus é buscar inspiração em recursos humanos e não no próprio Deus, sendo este realmente o erro ao se fabricar imagens.

III
A questão que surge diante de nós dentro desta linha de pensamento que estamos seguindo é esta: Até que ponto estamos guardando o segundo mandamento? Por certo não temos imagens de bezerros em nossas igrejas, e, provavelmente não temos também um crucifixo em casa (embora poisamos ter alguma figura de Cristo em nossas paredes, que mereciam uma reflexão mais cuidadosa); mas, temos certeza que o Deus que adoramos é o Deus da Bíblia, o Jeová Triúno? Adoramos o único e verdadeiro Deus? Ou nossas idéias a seu respeito mostram que na realidade não cremos no Deus cristão, mas em algum outro da mesma forma que o muçulmano, o judeu e o testemunha de Jeová não crêem no Deus dos cristãos, mas em algum outro?
Você pode dizer: Como posso saber? Bem, o teste é este. O Deus da Bíblia falou em Seu Filho. A luz do conhecimento de sua glória nos é dada na face de Jesus Cristo. Será que olho habitualmente para a pessoa e para a obra do Senhor Jesus Cristo como revelação da verdade final sobre a natureza e a grandeza de Deus? Vejo todos os propósitos de Deus centralizados nEle?
Se fui capacitado para ver isto e em minha mente e meu coração posso ir até o Calvário e apropriar-me da solução do Calvário, posso então saber que verdadeiramente adoro o Deus verdadeiro, que Ele é o meu Deus, e que eu já estou gozando a vida eterna de acordo com a definição do próprio Senhor: "e a vida eterna é esta: que te conheçam a ti o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo a quem enviaste" (João 17:3).


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