terça-feira, 13 de abril de 2010

CONHECENDO E SENDO CONHECIDO

Para que fomos feitos? Para conhecer a Deus. Que alvo devemos estabelecer para nós mesmos na vida? Conhecer a Deus. O que é a "vida eterna" que Jesus dá? Conhecimento de Deus. "E a vida eterna é esta: que te conheçam a ti, o único Deus verdadeiro e a Jesus Cristo, a quem enviaste" (João 17:3). Qual é a melhor coisa na vida, que traz mais alegria, prazer e contentamento que qualquer outra? O conhecimento de Deus.
"Assim diz o Senhor: Não se glorie o sábio na sua sabedoria nem o forte na sua força nem o rico nas suas riquezas; mas o que se gloriar glorie-se nisto: em me conhecer e saber que eu sou o Senhor'' (Jer 9 :23-24).
Qual, de todos os estados em que Deus vê o homem, Lhe dá mais prazer? O conhecimento dEle. "Quero... o conhecimento de Deus mais que holocaustos", diz Deus (Osé. 6:6).
Dissemos muita coisa nestas poucas sentenças. O ponto que queremos evidenciar é aquele que aquece o coração de cada cristão, embora a pessoa cuja religião. é apenas formal não seja afetada por ele e justamente por este fato se evidencia sua condição não regenerada. O que dissemos proporciona instantaneamente o alicerce, a forma e o alvo. de nossa vida, além de um princípio de prioridades e uma escala de valores. Uma vez que você se convença de que a principal razão de sua estada aqui é conhecer Deus, muitos dos problemas da vida se enquadrarão devidamente.
O mundo está cheio de vítimas do mal devastador que Albert Camus chamou de Absurdismo ("a vida é uma piada sem graça"), e da doença que chamaremos de febre de Maria Antonieta ("nada tem gosto"), desde que foi ela que encontrou essa frase para descrevê-la. Essas enfermidades prejudicam toda uma vida: tudo de repente se torna um problema e um aborrecimento, porque nada parece valer a pena. Mas os vermes do Absurdismo e a febre de Maria Antonieta são doenças das quais, pela sua própria natureza, o cristão está imune, exceto por momentos ocasionais de perturbação quando o poder da tentação deforma sua mente; mas, estes, graças a Deus, não duram muito. O que dá valor à vida é ter um grande objetivo; alguma coisa que prenda nossa imaginação e conserve nossa fidelidade; e isto o cristão tem, como ninguém mais pode tê-lo. Pois haverá objetivo mais alto, mais exaltado e mais coercitivo do que conhecer a Deus?
De um outro ponto de vista, entretanto, ainda não dissemos muita coisa. Quando falamos. de conhecer a Deus, estamos usando uma fórmula verbal, e as fórmulas são como cheques, não têm qualquer valor a menos que saibamos como sacá-los. Sobre o que estamos falando quando usamos a frase: "conhecer a Deus"? De um certo tipo de emoção? Arrepios na espinha? Um sentimento como de um sonho, fora da realidade, flutuante? Uma sensação de formigamento e exaltação, como a buscada pelos viciados em drogas? Ou conhecer a Deus é um tipo de experiência intelectual? Ouvimos vozes? temos visões? pensamentos estranhos começam a passar pela nossa mente? ou o ,que? Estes assuntos devem ser discutidos especialmente porque, segundo as Escrituras, trata-se de um campo em que é fácil ser enganado, e pensar que se conhece a Deus quando isso não é verdade.
Perguntamos então: que tipo de atividade, ou acontecimento pode ser propriamente descrito como "conhecer a Deus"?
II
Fica claro, logo de início que "conhecer" a Deus é necessariamente um assunto mais complexo que "conhecer" uma pessoa; assim como "conhecer" meu vizinho é mais complexo que "conhecer" uma casa, ou um livro, ou uma língua. Quanto mais complexo o assunto, mais difícil é o conhecimento dele. O conhecimento de alguma coisa inanimada, como o Museu Britânico, se alcança através da inspeção e exploração. Estas atividades, embora exigentes em termos de esforço concentrado, são relativamente fáceis de descrever.
Mas quando se trata de coisas vivas, conhecê-las então se toma muito mais complicado. Não se conhece realmente uma coisa viva enquanto não se souber, não apenas sua história passada, mas o modo como costuma reagir e se comportar em certas circunstâncias. Uma pessoa que diz "Eu conheço este cavalo", não está normalmente indicando apenas que "já o viu antes" (embora do modo como usamos as palavras pode ter simplesmente esse significado); mais provavelmente, entretanto, o que queria dizer era: "Conheço o comportamento dele, e posso dizer-lhe como deve ser conduzido". Tal conhecimento vem apenas depois de algum contato anterior com o cavalo, vendo-o em ação e tentando ela mesma conduzi-lo.
No caso de seres humanos, a situação é mais complicada ainda, pelo fato de que, diversamente dos cavalos, as. pessoas se mascaram e não mostram aos outros tudo o que lhes vai no coração. Uns poucos dias são suficientes para se conhecer completamente um cavalo, mas você pode passar meses e anos convivendo com outra pessoa e ainda precisará dizer ao fim desse tempo: "Eu realmente não a conheço bem".
Reconhecemos graus em nosso conhecimento de nossos semelhantes; nós os conhecemos "bem", "não muito bem", "só nos cumprimentamos'", "intimamente", ou "pelo avesso", de acordo com quanto ou quão pouco eles tenham se aberto conosco quando os encontramos.
Assim, a qualidade e a extensão de nosso conhecimento a seu respeito depende mais deles do que de nós. Nosso, conhecimento deles é mais diretamente o resultado de sua permissão para que os conheçamos do que de nosso esforço nesse sentido. Quando nos encontramos, nossa parte é dar-lhes nossa atenção e demonstrar interesse, manifestando Sua vontade e nos abrindo de maneira amigável. A partir desse ponto, entretanto, são eles que decidem se vamos chegar a conhecê-los ou não.
Imagine agora que vamos ser apresentados a alguém que sentimos ser "superior" a nós, quer em posição, distinção intelectual, habilidade profissional, santidade pessoal ou de outro modo qualquer. Quanto mais consciência tivermos de nossa inferioridade maior será a sensação de que nosso papel é apenas ouvi-lo respeitosamente e deixar que tome a iniciativa da conversa. (Pense num encontro com a Rainha da Inglaterra ou com o Duque de Edimburgo).
Gostaríamos de conhecer essa pessoa tão importante, mas sentimos que isso depende mais da decisão dela do que da nossa. Se ela se mantiver dentro de uma cortesia formal, podemos ficar desapontados, mas não nos sentiremos levados a reclamar, pois afinal, não tínhamos qualquer direito à sua amizade. Mas se, pelo contrário, começa a fazer confidências e a falar francamente o que pensa a respeito de assuntos comuns, e se nos convidar para algum programa particular que tenha planejado e pedir que estejamos permanentemente disponíveis para esse tipo de colaboração sempre que precisar de nós, então nos sentiremos tremendamente privilegiados e a nossa perspectiva geral mudará completamente. Se a vida até então parecia tola e sombria, não o será mais, agora que o grande homem nos incluiu entre seus assistentes pessoais. Que grande novidade para comunicar à família! – é uma boa razão pela qual viver!
Respeitando as distâncias, esta é uma ilustração do que significa conhecer a Deus. Deus pôde perfeitamente dizer através de Jeremias: "Mas o que se gloriar, glorie-se nisto: em me conhecer... (Jer 9:23) pois conhecer a Deus é um relacionamento capaz de fazer vibrar o coração do homem. O que acontece é que o Criador Todo-Poderoso, o Senhor dos Exércitos, o grande Deus diante de quem as nações são como uma gota no oceano, se aproxima e começa a conversar com ele através das palavras e verdades das Sagradas Escrituras. Ele talvez já conhecesse a Bíblia e as verdades cristãs desde há muito, mas isso não tinha tido antes qualquer significado; porém um dia ele desperta para o fato de que Deus está realmente falando com ele através da mensagem bíblica. Enquanto ouve as palavras de Deus, sente-se cada vez mais rebaixado, pois Deus lhe fala sobre seu pecado, sua culpa e fraqueza, sua cegueira e insensatez e o leva a considerar-se sem esperança e indefeso, e a implorar por perdão.
Mas isto não é tudo. À medida que vai ouvindo, compreende que Deus está realmente abrindo seu coração a ele, tornando-Se seu amigo e aceitando-o como companheiro – na frase de Barth, um sócio da aliança. É uma coisa que abala, mas é verdadeira – o relacionamento no qual os homens pecadores conhecem a Deus é tal que Deus, por assim dizer, os aceita como seus assistentes para serem daí por diante seus cooperadores (veja I Cor. 3:9) e amigos pessoais.
O ato de Deus, tirando José da prisão, e tornando-o primeiro-ministro de Faraó é uma figura do que Ele faz com todos os cristãos: de prisioneiro de Satanás, vê-se transferido a uma posição de confiança no serviço de Deus. Sua vida se transforma repentinamente. A diferença entre sentir orgulho ou vergonha da condição de servo depende daquele a quem se serve. Muitas pessoas falaram do seu orgulho em prestar serviços pessoais a Sir Winston Churchill durante a Segunda Guerra Mundial. Quão maior deveria ser o orgulho e a glória de conhecer e servir ao Senhor do céu e da Terra.
O que então está contido na atividade de conhecer a Deus?
Juntando os vários elementos incluídos neste relacionamento, como já delineamos, podemos dizer que o conhecimento de Deus envolve: Primeiro, o ato de ouvir a palavra de Deus e recebê-la como interpretada pelo Espírito Santo em relação à nossa própria pessoa. Segundo, notar a natureza e o caráter de Deus revelados em sua palavra e obra. Terceiro, aceitar seu convite e obedecer suas ordens. Quarto, reconhecer e se alegrar no amor que Ele tem mostrado, aproximando-se dessa forma de nós, atraindo-nos para a sua divina companhia.

III
A Bíblia completa essas idéias usando figuras e analogia, falando-nos que conhecemos a Deus como o filho conhece a seu pai, a esposa a seu marido, um súdito ao seu rei e uma ovelha ao seu pastor (estas são apenas quatro das muitas analogias usadas). Todas elas mostram a relação na qual o conhecedor "procura" aquele que é conhecido e este se responsabiliza pelo bem-estar daquele. Isto faz parte do conceito bíblico de conhecer a Deus. Aqueles que O conhecem, isto é, aqueles que Ele permite que O conheçam são amados e cuidados por Ele. Falaremos mais adiante sobre este assunto.
A Bíblia acrescenta então, outro ponto: só podemos conhecer a Deus desse modo, através do conhecimento de Jesus Cristo, que é Ele mesmo, Deus manifestado na carne, "... não me tens conhecido...? quem me vê a mim vê o Pai." "Ninguém vem ao Pai senão por mim" (João 14:9, 6). É importante, portanto, que tenhamos bem claro em nossa mente o que significa "conhecer" a Jesus Cristo!
Para seus discípulos, enquanto esteve na terra, conhecer Jesus era diretamente comparável ao conhecimento do grande homem de nossa ilustração. Os discípulos eram simples galileus, sem nenhuma razão especial de interesse por Jesus. Mas Jesus, o Mestre que falou com autoridade, o Profeta que era mais do que profeta, o Senhor que despertou neles crescente respeito e devoção até que não puderam senão reconhecê-Lo como seu Deus, os encontrou, chamou-os a Si, confiou neles e os designou como seus agentes para proclamarem ao mundo o reino de Deus. "Então designou doze para estarem com ele e para os enviar a pregar" (Mar. 3:14).
Eles reconheceram Aquele que os havia escolhido e chamado de amigos como "o Cristo, o Filho do Deus vivo" (Mat. 16:16), o homem nascido para ser rei, o portador das "palavras da vida eterna" (João 6:68), e a idéia de lealdade e privilégio que esto conhecimento trouxe transformou completamente suas vidas.
Quando o Novo Testamento fala que Jesus Cristo ressuscitou, um dos significados desta declaração é que a vítima do Calvário está agora, por assim dizer, livre e à vontade, e que qualquer pessoa, em qualquer lugar pode gozar do mesmo tipo de relacionamento com Ele como os discípulos e fizeram no seu tempo de encarnação. As únicas diferenças são estas: primeiro, sua presença entre os cristãos não é física, mas espiritual, sendo, portanto, invisível a nossos olhos; segundo, baseado. no testemunho do Novo Testamento, o cristão, desde o início, as verdades sobre a divindade e o sacrifício de Jesus que os primeiros discípulos foram aprendendo apenas gradualmente no decorrer dos anos; e, terceiro, que Jesus não fala agora conosco: mediante palavras novas; mas aplicando às nossas consciências aquelas suas palavras que foram registradas nos evangelhos, juntamente com todo o testemunho bíblico a seu respeito.

Conhecer Jesus continua sendo uma relação definida de discipulado pessoal, como o foi para os doze quando Ele estava na terra. O Jesus que anda pelas histórias do evangelho também anda com os cristãos agora, e conhecê-Lo significa seguir com Ele, tanto agora como antes.
"As minhas ovelhas ouvem a minha voz", diz Jesus, "eu as conheço, e elas me seguem" (João 10:21). Sua "voz" é seu chamado, sua promessa e sua exigência. "Eu sou o pão da vida" "a porta das ovelhas" "o Bom Pastor" "a ressurreição" (João 6:35; 10:7, 14; 11:25). "Quem não honra o Filho não honra o Pai que o enviou. Em verdade, em verdade vos digo: quem ouve a minha palavra e crê nAquele que me enviou, tem a vida eterna" (João 5:23 e 24).
"Vinde a mim todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim... e achareis descanso..." (Mat. 11:28-29). A voz de Jesus é "ouvida" quando o seu apelo, é reconhecido, quando cremos em sua promessa e respondemos ao seu chamado. Nesse momento em diante Jesus passa a ser conhecido como pastor, e aqueles que confiam nEle são reconhecidos por Ele como Suas ovelhas. "... eu as conheço e elas me seguem; e dou-lhes a vida eterna, jamais perecerão eternamente e ninguém as arrebatará da minha mão" (João 10:27-28). Conhecer a Jesus é ser salvo por Ele do pecado, da culpa e da morte nesta vida e na vida futura.

IV
Recordando agora o que foi dito sobre o significado de "te conheçam a ti só, por único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste", podemos destacar os seguintes pontos:
Primeiro: O conhecimento de Deus é pessoal, como acontece com qualquer relacionamento humano. Conhecer a Deus é mais do que saber sobre Ele; é entrar em contato com Ele enquanto se revela a você e ser dirigido por Ele à medida que toma conhecimento de você. Saber sobre Deus é uma pré-condição para que se confie nEle ("como crerão naquele de quem não ouviram?" Rom. 10:14), mas a extensão de nosso conhecimento a seu respeito não pode servir de medida para a profundidade desse conhecimento.
John Owen e João Calvino sabiam mais teologia do que John Bunyan ou Billy Bray mas quem poderá negar que os últimos conheciam seu Deus tão bem quanto os primeiros? (Os quatro, é claro, eram profundos pesquisadores da Bíblia, o que vale mais que qualquer conhecimento teológico). Se o fator decisivo fosse o conhecimento da doutrina, naturalmente então os maiores estudiosos da Bíblia conheceriam a Deus melhor que os outros. Mas, não é isso que acontece.
Você pode guardar na mente a doutrina correta, sem jamais provar em seu coração as realidades a que se refere um simples leitor da Bíblia e ouvinte de sermões que esteja cheio do Espírito Santo desenvolverá um relacionamento mais profundo com seu Deus e Salvador do que homens mais instruídos que se contentem apenas com estarem teologicamente certos. A razão disto é que o primeiro entrará em contato com Deus a respeito da aplicação prática da verdade em sua vida, enquanto o último não terá essa preocupação.

Segundo: Conhecer a Deus é um caso de envolvimento pessoal que abrange a mente, a vontade e os sentimentos. Caso contrário, não seria realmente um envolvimento total. Para conhecer outra pessoa você precisa dedicar-se a seus interesses, procurar sua companhia e estar pronto a se identificar com suas preocupações. Sem isso seu relacionamento com ela será apenas superficial e insípido.
"Oh! provai e vede que o Senhor é bom", diz o salmista (Sal. 34: 8).
"Provar", como bem sabemos, é "experimentar" um pedaço de alguma coisa com a intenção de apreciar seu sabor. Um prato pode parecer bom, e ser bem recomendado pelo cozinheiro, mas não saberemos de suas reais qualidades enquanto não o provarmos.
Do mesmo modo não conheceremos as qualidades reais de outra pessoa enquanto não tivermos ''experimentado" a sua amizade. Os amigos estão, por assim dizer, comunicando sabores um ao outro durante todo o tempo, tanto quando compartilham suas atitudes um com o outro (pense nas pessoas que se amam), como em relação a tudo que seja de interesse comum. À medida que abrem assim seus corações um ao outro, mediante aquilo que dizem e fazem, um "prova" as qualidades do outro, na alegria ou na tristeza. Eles se identificaram com as preocupações um do outro, envolvendo-se portanto pessoal e emocionalmente nelas. Eles sentem e pensam um no outro. Este é um aspecto essencial do conhecimento que existe entre os amigos, e o mesmo se aplica ao conhecimento que o cristão tem de Deus, o qual, como já vimos, é em si mesmo um relacionamento entre amigos.
O lado emocional do conhecimento de Deus é constantemente desencorajado nos últimos tempos, por medo de desenvolver um sentimentalismo meditativo. É verdade que não existe nada menos religioso que a religião meditativa, sendo necessário salientar constantemente que Deus não existe para nosso "conforto", ou "felicidade.", ou "satisfação", ou para nos proporcionar "experiências religiosas", como se estas fossem as coisas mais importantes na vida. É necessário também destacar, que se qualquer pessoa, baseado-se em "experiências religiosas", disser: "Eu o conheço, e não guarda os seus mandamentos, é mentiroso e nele não está a verdade" (I João 2:4; veja versos. 9, 11, 3:6, 11, 4:20).
Mas, apesar de tudo isso, não devemos desprezar o fato de que o conhecimento de Deus é uma relação emocional, assim como intelectual e volitava, e não seria realmente um relacionamento profundo entre duas pessoas se não houvesse emoção. O crente é, e deve ser, envolvido emocionalmente nas vitórias e vicissitudes da causa de Deus no mundo, do mesmo modo como os auxiliares imediatos de Sir Winston Churchill estavam envolvidos com as oscilações da guerra.
O crente se alegra quando Deus é honrado e defendido e sente angústia profunda quando O vê escarnecido. Quando Barnabé chegou a Antioquia "vendo a graça de Deus, alegrou-se" (Atos 11:23) ao contrário do salmista que escreveu "torrentes de águas correm dos meus olhos porque os homens não guardam a tua lei" (Sal 119:136).
Do mesmo modo, o cristão sente vergonha e tristeza quando se convence que negou a seu senhor (Sal. 51 e Luc. 22: 61), e de tempos em tempos conheço transportes de alegria quando Deus de alguma maneira faz com que ele sinta a glória do seu eterno amor com o qual tem sido amado ("exultais com alegria indizível e cheia de glória" (I Ped. 1: 8). Este é o lado emocional e experimental da amizade com Deus. Por mais verdadeiros que sejam os pensamentos do homem sobre Deus, se ele ignorar essa parte emocional, na realidade, não conhece o Deus que ocupa sua mente.

Então, em terceiro lugar: Conhecer a Deus é uma questão de graça. É um relacionamento cuja iniciativa é completamente de Deus – como deve ser mesmo, pelo fato dEle estar tão acima de nós e de termos perdido totalmente qualquer direito ao Seu favor por causa de nossos pecados. Nós não fazemos amizade com Deus; Ele é que se torna nosso amigo levando-nos a conhecê-Lo e tornando Seu amor conhecido por nós.
Paulo expressa esta idéia da prioridade da graça no nosso conhecimento de Deus quando escreve aos Gálatas: "Mas agora, que conheceis a Deus, ou antes, sendo conhecidos de Deus". (Gál. 4:9). O que transparece nesta frase é a compreensão por parte do apóstolo de que a graça veio primeiro e permanece fundamental na salvação dos leitores. O conhecimento que tinham de Deus era conseqüência de ter Deus tomado conhecimento deles. Eles O conhecem pela fé porque Ele primeiro os havia escolhido pela graça.
"Conhecer", quando usado a respeito de Deus é uma palavra da graça soberana mostrando que Deus tomou a iniciativa de amar, escolher, redimir, chamar e preservar. Que Deus está perfeitamente consciente a nosso respeito, "conhecendo-nos pelo avesso" por assim dizer, é com certeza parte do significado, como se vê pelo contraste entre nosso conhecimento incipiente de Deus e seu perfeito conhecimento sobre nós em 1 Cor. 13:2; mas não é o significado principal, pois este realmente surge em passagens como as que se seguem:
"Disse o Senhor a Moisés. . . porque achaste graça aos meus olhos, e eu te conheço pelo teu nome" (Êxo. 33:17).
"Antes que eu te formasse [Jeremias] no ventre materno eu te conheci, e antes que saísses da madre te consagrei" (Jer. 1:5).
"Eu sou o bom pastor, conheço as minhas ovelhas, e elas me conhecem a mim... e dou a minha vida pelas ovelhas... as minhas .ovelhas ouvem a minha voz eu as conheço... jamais perecerão" (S. João 10:14, 15, 27-28).
Aqui o conhecimento que Deus tem sobre os que são Seus está associado ao seu propósito de graça salvadora. É um conhecimento que implica em afeição pessoal, ação redentora, fidelidade à aliança e proteção providencial para com aqueles que são conhecidos de Deus. Em outras palavras, isto implica em salvação, agora e para sempre, como já aludirmos anteriormente.

V
Portanto, o que importa realmente, em última análise, não é o fato de que conheço a Deus, mas uma idéia muito mais ampla está subentendida – o fato de que Ele me conhece. Estou gravado nas palmas de Sua mão, e nunca estou longe de Seu pensamento. Todo o meu conhecimento dEle depende de sua iniciativa básica de me conhecer. Eu O conheço porque Ele me conheceu primeiro e continua a fazê-lo. Ele me conhece como amigo, alguém que muito me ama e seus olhos ou sua atenção jamais se afastam de mim, e por nenhum momento seu cuidado me faltará.
Este é um conhecimento maravilhoso. Há um conforto indescritível, do tipo que Los anima, e nunca enerva – saber que Deus está constantemente atento a mim com amor, e me vigiando para meu próprio benefício. Há um alívio tremendo em saber que Seu amor é profundamente realista, baseado em todos os pontos no conhecimento prévio do que há de pior sobre mim, de modo que nada pode agora desapontá-Lo a meu respeito como acontece freqüentemente comigo, pois estou sempre me desiludindo sobre mim mesmo, nem extinguir Sua determinação em me abençoar. Há, certamente, grande motivo de humilhação em pensar que Ele vê tudo que há de errado em mim que outros não vêem (e isto me alegra!), e que Ele vê mais corrupção do que eu mesmo vejo em mim (o que, em sã consciência, é bastante).. Há entretanto, igualmente um grande incentivo para adorar e amar a Deus na idéia de que, por alguma razão obscura Ele me quer como seu amigo, e quer ser meu amigo, pois deu seu Filho pala morrer, por mim a fim de cumprir esse propósito. Não podemos nos estender nestes pensamentos, mas a sua simples menção já basta para mostrar como é importante para nós saber, não apenas que conhecemos a Deus, mas que Ele nos conhece.


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