quarta-feira, 14 de abril de 2010
Notícias
14/04/2010 08:51:09 - Em resposta à Folha, bispo diz que vídeos são coerentes com a sua crença
14/04/2010 08:49:39 - Em vídeo, Universal orienta a fazer acordo com "bandido"
14/04/2010 08:47:08 - Polícia cumpre mandados de busca e apreensão contra padres acusados de pedofilia em AL
14/04/2010 08:46:25 - Igreja católica mexicana pede perdão por abusos sexuais contra menores
14/04/2010 08:45:54 - Delegada indiciará padre por estupro em Franca
14/04/2010 08:44:49 - Bispo britânico não vai comparecer a julgamento por negacionismo
13/04/2010 14:23:59 - Michael W. Smith de volta ao Brasil no Festival de Esperança
13/04/2010 14:14:45 - Gravadora Gospel Records encerra as suas atividades
13/04/2010 13:10:55 - Vaticano absolve os Beatles de "blasfêmia" e "satanismo"
13/04/2010 13:08:26 - Vândalos picham frases obscenas na casa onde nasceu Bento XVI
13/04/2010 07:16:46 - Em vídeo, bispo da Igreja Universal ensina a arrecadar na crise
13/04/2010 07:15:07 - Jogadores do Santos visitam lar espírita para acabar com polêmica
13/04/2010 07:14:42 - Igrejas evangélicas abrigam vítimas da tragédia no Rio e em Niterói
13/04/2010 07:14:13 - Magno Malta diz que CNJ deveria punir juiz que libertou acusado de matar jovens em GO
13/04/2010 07:13:26 - Presbiterianos pressionam por retirada de soldados americanos
13/04/2010 07:12:57 - Homossexualidade leva à pedofilia, diz igreja
13/04/2010 07:12:29 - Em relatório, advogado denuncia novos abusos na igreja da Alemanha
13/04/2010 07:11:45 - Padre espanhol reza missa com rock, rap e blues
13/04/2010 07:11:20 - Rabino de Nova York é preso por abusar de adolescente
12/04/2010 15:30:00 - Intelectuais britânicos querem prisão do papa por abusos na Igreja
Assassino de jovens desaparecidos confessa crime. Pedreiro ia à igreja mas mantinha relacionamento homossexual com dois rapazes

Admar de Jesus Santos não tem amigos. Costumava sair nos fins de semana apenas para assistir a cultos na Igreja Universal do Reino de Deus. Além de solitário, os vizinhos consideram o pedreiro de 40 anos um sujeito discreto. Poucos sabem do seu passado, tão sombrio quanto o presente. A mulher teria se matado com veneno. Os filhos do casal acabaram criados pelo avô paterno. Além de perder a mãe de forma trágica, as crianças viram o pai ser preso. A Justiça de Brasília o condenou a 14 anos de prisão, em 2005, por abusos sexuais contra dois meninos, de 8 e 11 anos. No entanto, em 23 de dezembro último, o pedófilo deixou a penitenciária da Papuda pela porta da frente. Sete dias depois, voltou a agir como criminoso. E não parou mais, até ser detido novamente pela polícia e confessar a morte dos seis adolescentes de Luziânia (GO) dados como desaparecidos.
Desde a sua segunda prisão, no último sábado, Admar disse pouco. Mas o suficiente para os investigadores o apresentarem ontem como o assassino em série que atormentou Luziânia por 101 dias e seis corpos serem encontrados enterrados num terreno ermo da área rural do município a 70km de Brasília. Sem demonstrar arrependimento ou remorso pelas execuções que admitiu ter cometido a sangue frio, ele levou os policiais aos locais onde enterrou suas vítimas mais recentes. Apontou uma a uma as covas rasas. Algumas, cavadas com as próprias mãos, segundo os policiais. Os cadávares estavam em avançado estado de decomposição. Os investigadores, porém, dizem não ter dúvidas de serem os restos mortais dos meninos de 13 a 19 anos, sumidos entre 30 de dezembro e 29 de janeiro.
Nascido em uma família pobre de nove irmãos, baiano de Serra Dourada, cidade de 18 mil habitantes onde o seu pai e os filhos residem, Admar chegou a Luziânia há 16 anos. Só deixou o município goiano de 210 mil moradores no período em que esteve preso por abusar de duas crianças no Distrito Federal. Nesse caso, ofereceu dinheiro para um menino ajudá-lo a descarregar um caminhão. Com uma faca no pescoço, o garoto acabou forçado a manter relações sexuais com ele. “O menino escapou dizendo que traria um coleguinha, mas chamou a polícia. Quando os policiais chegaram ao local, ele (Admar) já estava abusando de outro garoto. Isso prova que ele tem alto poder de convencimento”, contou o delegado Wesley Almeida, da Polícia Federal, que também investiga o mistério de Luziânia.
Em entrevista coletiva concedida nesta segunda-feira (12), na Secretaria de Segurança Pública de Goiás, o pedreiro Adimar Jesus confessou ter assassinado, a pauladas, seis jovens de Luziânia (GO), cidade que fica a 70 Km de Brasília.
“Estou arrependido”, disse o pedreiro, que afirmou ainda ter mantido relações homossexuais com duas das vítimas.
Psicopata
Antes de ser liberado da Papuda, Admar passou por avaliação de sanidade. Para um médico do sistema carcerário de Brasília, ele tem o perfil violento de um psicopata e deveria ter acompanhamento psiquiátrico, o que não ocorria. Dizendo ter o laudo sobre o pedreiro, o delegado-geral da Polícia Civil de Goiás, Aredes Pires, não entende como ele voltou às ruas. “Seis vidas se perderam, há um sofrimento enorme das famílias e, talvez, isso poderia ter sido evitado”, ressalta.
O responsável pelos inquéritos, delegado Juracy José Pereira, não tem dúvidas de que se trata de um serial killer, pelo jeito metódico com que Admar agia e a motivação do crime. O perfil das vítimas é o mesmo. Meninos adolescentes — o único maior de idade tinha rosto de menino. Segundo Juracy Pereira, a pouca idade facilitaria o aliciamento. A abordagem era feita sempre à luz do dia, sem violência, com motivação sexual e desfecho já premeditado: a morte da vítima para eliminar provas contra ele.
As investigações revelaram ainda que, com exceção de uma das abordagens, as demais obedeceram a uma sequência lógica dos dias da semana. “Os desaparecimentos ocorreram, respectivamente, na quarta, segunda, domingo, quarta, segunda, sexta e domingo”, pontuou o delegado. “Para mim, esses fatos caracterizam ação de um assassino em série.”
Agentes também desconfiam que Admar teve ajuda de outras pessoas nos crimes de Luziânia. Ele nega. A Justiça do estado vizinho do DF mandou prender o acusado por ao menos cinco dias. O tempo pode ser renovado quantas vezes o juiz achar necessário para os investigadores levantarem provas.
No primeiro depoimento informal, na manhã de sábado, Admar não deu muitos detalhes, mas disse ter oferecido R$ 200 a cada um dos seis jovens, em troca de relações sexuais. Alegou ter matado todos a paulada para não ser denunciado, como ocorreu há cinco anos, em Brasília. “Quatro dos seis jovens tinham relacionamento homossexual e em função disso prendemos dois pedófilos que, em princípio, acreditávamos ter envolvimento com os desaparecimentos. Eles continuam presos por crimes cometidos em Niquelândia, mas não são os responsáveis pelos sumiços de Luziânia”, afirmou Aredes Pires.
Acima da média
A polícia goiana relutou para abrir investigação sobre os sumiços em série de garotos em Luziânia. A delegacia da cidade só começou a dar atenção ao caso após pressões geradas por uma série de reportagens do Correio — o primeiro a denunciar os desaparecimentos, ainda em 16 de janeiro — e o quinto desaparecimento, ocorrido em 20 de janeiro. Insatisfeitas, as mães dos meninos procuraram o Ministério da Justiça, que em 9 de fevereiro mandou a Polícia Federal dar apoio à Polícia Civil de Goiás. Para o delegado Wesley Almeida, da Divisão de Combate ao Crime Organizado da PF, o pedreiro tem “alto poder de persuasão e provavelmente inteligência acima da média”.
Admar passou a madrugada de sábado para domingo preso na delegacia de Luziânia. Revoltada, a população ameaçava invadir o prédio e linchar o acusado. Por questões de segurança, os agentes levaram o assassino confesso dos seis adolescentes de Luziânia para Goiânia. Ele deixou o município do Entorno do DF por volta das 10h30, logo depois de ter apontado os locais onde enterrou os corpos. No início da noite, seguiu para o um presídio de Aparecida de Goiânia, nos arredores da capital do estado. Enquanto isso, em Luziânia, policiais militares tentavam conter a raiva de moradores de Luziânia, que cercavam a casa onde o pedreiro morava com a irmã, o cunhado e dois sobrinhos.
Ouvia vozes
Ele disse que ouvia vozes que o mandavam transar com os jovens, mas que depois sentia raiva e por isso os matava com pauladas e a golpes de enxada.
- Eu ouvia vozes que me mandavam transar com os garotos – disse.
Inicialmente, o pedreiro afirmou que só havia tido relações homossexuais com dois dos garotos. As declarações dadas na Secretaria de Segurança Pública de Goiás foram acompanhadas pela CPI da Pedofilia, em andamento no Senado, e tomadas a portas fechadas.
Ele também chegou a dizer que recebia dinheiro para matar os adolescentes e que estaria cobrando deles uma dívida de drogas. A versão apresentada ao final do depoimento, no entanto, parece ser, na opinião do relator da CPI, senador Demóstenes Torres (DEM-GO), a que mais faz sentido. Todos os corpos foram encontrados nus, enterrados próximos uns dos outros.
A CPI quer convocar o juiz Luiz Carlos de Miranda, da Vara de Execuções Penais do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, para questionar por que o magistrado resolveu soltar Admar, embora houvesse um laudo médico assinado por cinco psicólogos atestando que ele era um psicopata. A CPI considerou a soltura como desastrosa.
Ex-coroinhas relatam supostos abusos no interior de SP; padre nega. Assista

Adolescentes denunciam carícias na igreja desde 2001. Sacerdote nega todas as acusações; advogado aponta ‘fábula infantil’.
Garotos que dizem ter sido vítimas de abuso do padre José Afonso Dé, de 74 anos, indiciado pela Polícia Civil por estupro de vulnerável e ato libidinoso com fraude na noite de segunda (12), relataram ao G1 que o sacerdote os convidava para sua casa com o pretexto de estudar a Bíblia, tomar chá e comer pipoca. Mas ao chegarem ao local, contam os denunciantes, eram forçados a beijar o pároco na boca e tinham seus órgãos sexuais tocados por ele.
O padre nega todas as acusações. Durante oito horas de interrogatório, afirmou ser inocente. Em entrevista ao G1, também refutou qualquer abuso. “Eu sou inocente dessa acusação. Nunca cometi nenhum abuso sexual com ninguém”, disse, na quinta (8), em Franca, antes de ser indiciado.
De acordo com a Delegacia de Defesa da Mulher (DDM), que também investiga crimes contra crianças e adolescentes, nove denúncias de pedofilia já foram feitas contra o religioso, que está afastado de suas funções.
Segundo a delegada Graciela de Lourdes David Ambrosio, da DDM, as vítimas seriam meninos de 12 e 16 anos que frequentavam a Paróquia São Vicente de Paulo, na periferia de Franca, e a casa do sacerdote. A paróquia é uma das mais tradicionais da cidade e o padre, uma das figuras mais populares da igreja católica na região.
O inquérito para apurar o possível envolvimento do padre com pedofilia foi aberto em 24 de março após uma denúncia anônima levada ao Conselho Tutelar e repassada à DDM. Ele deve ser concluído até o fim da semana, de acordo com a delegada.
De acordo com a delegada, os garotos teriam sofrido abusos entre 2001 e janeiro deste ano. Mas há também adultos que dizem ter sido molestados pelo padre Dé desde 1995, quando eram adolescentes, em Franca, e que dizem ter sido convidados a morar com o sacerdote na Paróquia Nossa Senhora de Fátima, em Iturama, Minas Gerais. Eles contam que o pároco pretendia fundar um seminário no local. Procurados pelo G1, funcionários da igreja mineira negaram as acusações de abuso no local. A polícia de Franca pretende acionar as autoridades de Iturama para apurar essas denúncias.
O G1 teve acesso aos depoimentos prestados pelas supostas vítimas na polícia e conversou com algumas delas (veja no vídeo), que só aceitaram falar sob a condição de não terem suas identidades reveladas.
Denúncias
Em uma das denúncias, um garoto de 14 anos relata o que diz ter acontecido numa visita à residência do sacerdote em janeiro deste ano. “Quando iam cumprimentar o padre Dé ele tentava dar ‘selinho’ no declarante”, disse o adolescente em depoimento à polícia. Em um outro relato, um menino de 15 anos fala sobre beijos na boca e carícias nas partes íntimas.
Um ex-seminarista, atualmente com 22 anos, afirmou à polícia que foi vítima aos 14. “Muitas vezes, padre Dé chegou a presentear o declarante com relógio e dinheiro, semanalmente R$ 30 ou R$ 40, além de passeios…”
O G1 ainda conversou com dois irmãos ex-seminaristas, que dizem ter sido molestados pelo padre Dé em Iturama. Ambos desistiram da ideia de se tornarem padres e voltaram para Franca.
“Ele [padre Dé] convidou a gente para ir a uma paróquia que ele estava em Minas Gerais, Iturama. Lá, ele me abraçou dizendo que era um abraço de pai. Só que ele começou a querer beijar minha boca”, disse o ex-seminarista, atualmente com 35 anos, sobre o suposto abuso que sofreu em 1997, quando tinha 23 anos.
Vergonha
Envergonhados, os meninos de Franca alegam que tinham medo de contar aos seus pais o que acontecia na residência do padre Dé. Decidiram, então, revelar o assédio sexual a outros religiosos. Os párocos disseram à polícia que tinham conhecimento das denúncias e que iriam tomar providências, o que não aconteceu.
A delegada Graciela afirma ter ouvido os adolescentes na presença das mães deles. “Não tenho dúvida de que os meninos foram abusados.” Para a policial, o número de vítimas pode aumentar.
Outro lado
O bispo dom Pedro Luis Stringhini decidiu afastar o padre Dé até que as investigações da polícia sejam concluídas. “Ele foi afastado para preservar as investigações, a igreja e ele próprio. Por enquanto, ele não pode mais celebrar missas na igreja”, disse o bispo por telefone.
O advogado do pároco, Eduardo Caleiro Palma, disse que todas as denúncias contra seu cliente são fruto de uma “fábula” infantil. “Alguns meninos foram se queixar com o pároco da igreja sobre o comportamento do padre Dé, que é uma pessoa carinhosa e gosta de abraçar as pessoas sem qualquer conotação sexual. Durante uma missa, os mesmos meninos se desentenderam com o padre, o xingaram e acabaram indo a polícia denunciá-lo por pedofilia. O que era um abraço acabou se tornando um abuso. Na hora certa a verdade vai aparecer”, disse Palma.
Após o depoimento desta segunda-feira (12), o advogado disse que o padre respondeu a “todas as perguntas feitas pela delegada”. “E fez isso de forma coerente e clara.” Segundo ele, foi um depoimento “minucioso”, em que foram esclarecidas todas as dúvidas levantadas. Ele diz que irá aguardar a conclusão do inquérito para anunciar que medidas irá tomar.
Um dos filhos adotivo do padre, Marcelo Souza, de 28 anos, também desmente as denúncias. ”Convivo com ele há mais 12 anos. Ele é a pessoa que me criou. É a pessoa a quem eu devo minha vida. São acusações levianas.” O padre diz ter mais nove filhos adotivos, entre eles três mulheres.
Fonte: G1
Famosa cantora gospel revela: “Sou lésbica”

Uma das maiores estrelas da música cristã norte americana chocou o mundo ao assumir que era lésbica: Jennifer Knapp assumiu em entrevista ao “Christianity Today” recentemente que mantém atualmente relacionamentos com pessoas do mesmo sexo.
Visite: Gospel, Noticias Gospel, Videos Gospel, Biblia Online
Jennifer tem 36 anos e é natural do Kansas. Por muitos anos a cantora namorou homens, mas agora decidiu “sair do armário”.
A revelação vem juntamente com o lançamento de um novo CD, chamado “Letting Go”. A cantora se diz preparada para a reação dos fãs cristãos e, por isso, preparou um álbum que não é voltado para o mundo gospel. Ela entende como uma falta de respeito tentar forçar rádios e varejistas cristãos a colocarem seus trabalhos na prateleira após esta revelação bombástica e que provavelmente não terá boas reações dos antigos fãs.
Sobre sua fé, Jennifer não considera tê-la abandonado e não crê que esteja dando as costas para a igreja. Não há outro caso registrado de uma cantora cristã que se assume gay – Jennifer é a primeira que, após o grande destaque dentro do cenário cristão, assume uma preferência sexual por pessoas do mesmo sexo.
Após sete anos sem fazer qualquer lançamento musical, Jennifer volta com este peso – contudo não considera ter se escondido dos fãs para não dar a revelação, apenas sentiu que era um momento onde deveria parar e agora retornar – para não parar novamente.
Fonte: Gospel+
Com informações dos sites G1, Pavablog e jesusneedsnewpr.net
Veja vídeo no qual bispo da Universal orienta a fazer acordo com "bandidos"
Um vídeo entregue ao Ministério Público de São Paulo por um ex-voluntário da Igreja Universal revela a pregação combinada entre os bispos da cúpula da igreja para obter dízimos dos fiéis em meio à crise econômica de 2008.
As gravações são de duas reuniões feitas por videoconferência, conduzidas pelos líderes na sede, em São Paulo, e acompanhadas em tempo real nos Estados.
Segundo a reportagem de Rubens Valente publicada nesta terça-feira na Folha, as reuniões foram coordenadas pelo bispo Romualdo Panceiro, considerado o segundo nome mais importante na igreja e apontado pelo líder Edir Macedo como o seu sucessor.
Em um dos vídeos, Panceiro orienta outros bispos a recorrerem a trechos da Bíblia nos quais se narra que o personagem biblíco Isaac, para escapar de uma grande fome, recebeu orientação divina para semear no solo ruim, e por isso foi agraciado.
As gravações são de duas reuniões feitas por videoconferência, conduzidas pelos líderes na sede, em São Paulo, e acompanhadas em tempo real nos Estados.
Segundo a reportagem de Rubens Valente publicada nesta terça-feira na Folha, as reuniões foram coordenadas pelo bispo Romualdo Panceiro, considerado o segundo nome mais importante na igreja e apontado pelo líder Edir Macedo como o seu sucessor.
Em um dos vídeos, Panceiro orienta outros bispos a recorrerem a trechos da Bíblia nos quais se narra que o personagem biblíco Isaac, para escapar de uma grande fome, recebeu orientação divina para semear no solo ruim, e por isso foi agraciado.
Pastor da Igreja homossexual afirma sofrer preconceito de pastores heterossexuais

Fundada em 2007 no Rio de Janeiro, a Igreja Cristã Contemporânea já possui mais de 500 membros. Em março, a igreja pastoreada pelos pastores homossexuais Marcos Gladstone, 34, e Fábio Inácio, 29, foi inaugurada em Belo Horizonte (MG). Na capital mineira, a pastora responsável é Márcia Santos, que também é homossexual.
Visite: Gospel, Noticias Gospel, Videos Gospel, Musica Gospel
No primeiro culto, realizado em um hotel da cidade, estavam presentes 20 pessoas. No último domingo, dia 11/04, 80 pessoas já estavam freqüentando a igreja. Mas o crescimento do número de membros e a disseminação da igreja não tem agradado outros evangélicos.
O pastor Marcos Gladstone disse sofrer preconceito de outros pastores, que afirmam que a igreja não é aceita por Deus. “Todos os dias recebemos mensagens homofóbicas que dizem que estamos possuídos pelo diabo. O que as pessoas não entendem é que nós, homossexuais, não fizemos uma escolha. Nascemos assim. É como ter a pele branca ou negra. Não é uma opção. Mas essas pessoas podem dizer o que for, pois somos blindados contra o preconceito e vamos seguir em frente”, disse Gladstone.
O pastor contou que ele e seu companheiro, o também pastor, Fábio Inácio, recebem e-mails diariamente condenando a iniciativa de fazer uma igreja destinada ao público homossexual.
De acordo com os pastores, que desde criança tiveram formação evangélica, o preconceito sempre foi muito grande. Por isso, segundo ele, a igreja Contemporânea nasceu de um sonho e do amor que sentem por Jesus. “Durante anos convivemos com os preconceitos contra homossexuais. Enfrentamos conflitos pessoais, mas hoje sabemos que Deus nos aceita como somos”, disse Gladstone.
O objetivo da igreja é receber os homossexuais convertidos ao cristianismo, mas que sofrem preconceito dentro da própria igreja, como é o caso do cabeleireiro Guilherme Medeiros Fraga, 25, que foi o principal incentivador da instalação da igreja em Belo Horizonte. “Sempre fui evangélico, mas não era aceito na minha igreja. Queria participar mais dos cultos, mas não podia”, disse.
Para os pastores Deus ama a todas as pessoas e não condena a opção sexual. Eles ensinam que Deus reprova a libertinagem, por isso uma união tem que ser monogâmica.
Embora seja frequentada por homossexuais também há a presença de heterossexuais. De acordo com o pastor Fábio Inácio, o formato dos cultos segue o mesmo padrão de outras igrejas evangélicas. Há momentos de louvor, pregação e oração. O diferencial é a mensagem de aceitação aos homossexuais. “Estamos levando a palavra de Deus para aquelas pessoas que desejam fazer parte de uma congregação, mas não são aceitas devido a sua orientação sexual”, falou.
Evangelização
Os membros da Igreja Cristã Contemporânea evangelizam em boates, praças e locais onde há prostituição. Quando abordam as pessoas falam sobre o amor de Deus. “Tentamos mostrar para as pessoas que Deus as aceita como elas são e a receptividade tem sido muito boa. As pessoas param e nos escutam. Os homossexuais estão sedentos desse tipo de igreja”, disse Gladstone.
Casamento homossexual
No dia 19 de abril, na sede do Rio de Janeiro, será realizado o casamento Bruno Bállico, 18, e João Neto, 27. Os companheiros, que se conheceram pela internet têm uma união estável há mais de um ano, por isso decidiram oficializar a união na Igreja Cristã Contemporânea.
Daniel Berg - Biografia
Introdução
Daniel Berg nasceu em Vargon, na Suécia, num lar genuinamente cristão. Logo aos 17 anos, fez sua primeira viagem para os Estados Unidos, em 1902; isto porque a Suécia passava por uma crise financeira muito séria. Ao final de oito anos voltou de passagem à Suécia.
Nesta ocasião ao visitar a casa de seu melhor amigo, soube que ele era agora um pregador do Evangelho numa cidade próxima. Ao visitá-lo, em sua igreja, ouviu pela primeira vez sobre o batismo no Espírito Santo. Depois do culto, conversaram bastante sobre esta doutrina o que fez com que Daniel Berg saísse dalí convicto, e buscando o seu batismo no Espírito Santo. Ainda no caminho de volta para a América ele recebeu o bastismo e decidiu-se definitivamente em dedicar sua vida ao Senhor.
Sua Chamada
Durante uma conferência em Chicago, ele conheceu seu futuro companheiro nas missões, o sueco Gunnar Vingren, que estava recém formado num Instituto Bíblico e desejoso de ser um missionário. Ambos, cheios do poder pentecostal, passaram a buscar do Senhor o seu direcionamento para suas vidas. Certo dia, o dono da casa que Gunnar Vingren morava teve um sonho e tinha visto o nome Pará e foi-lhe revelado que seria uma orientação para aqueles jovens. Logo descobriram que Deus os chamava para o Brasil. Apesar do pouco entusiasmo da igreja, e de nenhuma promessa de ajuda financeira, ambos foram separados para serem missionários no Brasil, cheios de convicção da parte de Deus.
A última e grande confirmação da parte de Deus, foi quando o Senhor pediu a Vingren que desse 90 dólares, exatamente o valor que eles tinham para a viagem, para um jornal pentecostal. Eles, em obediência, o fizeram. Porém, extraordinariamente o Senhor os devolveu o exato montante, usando um irmão em outra cidade, que foi revelado por Deus para tal. Berg e Vingren partiram para o Brasil no dia 5 de Novembro de 1910. Durante a viagem, eles já puderam experimentar um pouquinho o que seria o seu campo, e alí mesmo se converteu a primeira alma para Jesus, desde que eles foram separados como missionários. Então, no dia 19 do mesmo mês chegaram à cidade de Belém do Pará.
Sua Chegada ao Brasil
Sua primeira hospedagem foi no porão de uma Igreja Batista, cujo pastor era americano. Logo começaram a dirigir cultos, para ajudar aquele pastor, e sempre que sentiam de falar sobre a manifestação do Espírito Santo para aqueles dias, o faziam sem constrangimento. Mesmo sendo um assunto novo para aqueles irmãos, eles se interessavam cada vez mais, o que decorreu no grande aumento da assiduidade nos cultos e constantes visitas aos missionários. Enquanto isso, Berg começou a trabalhar na fundição, para sustentá-los, enquanto Vingren estudava português para ensiná-lo à noite.
Primeira Assembléia de Deus
A pobreza e principalmente a doença era uma constante naquele lugar, sobretudo a lepra e a febre amarela. Com isso, os irmãos frequentavam cada ves mais o porão onde viviam Berg e Vigren, à busca de oração e conhecimento da Palavra. Alí o Senhor começou a batizar com o Espírito Santo e curar muitos enfermos. Num daqueles cultos improvisados, entrou de surpresa o pastor da igreja, que foi cordialmente convidado a participar do culto. Recusando o convite, passou a declarar uma série de acusações com relação às falsas doutrinas ensinadas pelos missionários, esperava contar com o apoio dos que ali estavam, mais pelo contrário, um diácono, dos membros mais antigos, se levantou e defendeu com testemunhos reais de que o batismo no Espírito Santo e a cura divina é para a atualidade. Neste dia então, Berg, Vingren e mais 18 irmãos foram expulsos daquela igreja e formaram a primeira Assembléia de Deus, que a princípio se reunia na casa da irmã Celina Albuquerque, a primeira crente batizada no Espírito Santo em terras brasileiras.
Logo depois começou a circular pela cidade um panfleto, da parte daquele pastor batista, alertando a população contra os ensinamentos dos missionários, citando inclusive as passagens bíblicas por eles usadas.O que parecia prejudicial, tornou-se num grande impulso para propagação das verdades bíblicas, pois aqueles que os liam, ao conferir com as escrituras, passavam a crer e buscavam a igreja, que crescia exponencialmente. Dias depois, chega a primeira remessa de Bíblias e Novos Testamentos em português, o que leva Daniel Berg a se dedicar exclusivamente à venda das literaturas e pregação do Evangelho.
Avançando Para o Interior do Brasil
Quando a Palavra de Deus já havia sido distribuida em toda Belém, Berg sentiu de Deus em ir rumo a Bragança e fazer na marcha para o interior o mesmo trabalho, para o qual era vocacionado. A tarefa não era fácil; os dois maiores inimigos eram o analfabetismo e o catolicismo herdado da colonização portuguesa. Naqueles pequenos vilarejos, o padre era a maior autoridade e todos os moradores já haviam sido advertidos quanto à pregação de Daniel Berg, e temiam a leitura da Bíblia, pois a igreja os proibia.
Vencendo os Obstáculos
Apesar disto, o jovem continuava a bater nas portas, a ler trechos bíblicos e orar pelos enfermos. As portas se abriam aos poucos e o Senhor operava sempre. Em pouco tempo já haviam vinte novas igrejas entre Belém e Bragança. O próximo passo foi a caminho das selvas. O contato inicial foi difícil e a primeira família se converteu num velório quando Daniel leu sobre a ressurreição para o pai e os filhos ao lado do corpo da mãe. Estes se tornaram evangelistas e contribuíram para a formação de uma grande igreja alí. Sofreram fortes perseguições por parte dos policiais, pois o delegado estava comprometido politicamente com a igreja católica. Mas claro que por fim o nome do Senhor era glorificado pelas vitórias dos crentes. Berg só saiu dalí quando a igreja já havia amadurecido e caminhava por seus próprios pés.
Seus Últimos Dias
O passo decorrente foi sua chegada às ilhas; nesta altura os maiores inimigos eram os naturais. A travessia em barcos precários, tornava o acesso muito perigoso, pois além da embarcação, haviam as piranhas e os jacarés. As grandes distâncias, as horas perdidas e o esforço com os remos, junto ao grande aumento do trabalho, tornou-o quase impossível. Após um acidente sofrido por Daniel, numa daquelas pequenas embarcações, sentiu de Deus de comprar um grande barco a velas, o que fez com a ajuda da igreja de Belém. Com o barco "Boas Novas" o atendimento era mais proveitoso e em maior extensão.
Daniel Berg passou para o Senhor em 1963, e mesmo enfermo num hospital, saía de um a outra enfermaria entregando literatura e orando pelos que se entregavam.
Daniel Berg nasceu em Vargon, na Suécia, num lar genuinamente cristão. Logo aos 17 anos, fez sua primeira viagem para os Estados Unidos, em 1902; isto porque a Suécia passava por uma crise financeira muito séria. Ao final de oito anos voltou de passagem à Suécia.
Nesta ocasião ao visitar a casa de seu melhor amigo, soube que ele era agora um pregador do Evangelho numa cidade próxima. Ao visitá-lo, em sua igreja, ouviu pela primeira vez sobre o batismo no Espírito Santo. Depois do culto, conversaram bastante sobre esta doutrina o que fez com que Daniel Berg saísse dalí convicto, e buscando o seu batismo no Espírito Santo. Ainda no caminho de volta para a América ele recebeu o bastismo e decidiu-se definitivamente em dedicar sua vida ao Senhor.
Sua Chamada
Durante uma conferência em Chicago, ele conheceu seu futuro companheiro nas missões, o sueco Gunnar Vingren, que estava recém formado num Instituto Bíblico e desejoso de ser um missionário. Ambos, cheios do poder pentecostal, passaram a buscar do Senhor o seu direcionamento para suas vidas. Certo dia, o dono da casa que Gunnar Vingren morava teve um sonho e tinha visto o nome Pará e foi-lhe revelado que seria uma orientação para aqueles jovens. Logo descobriram que Deus os chamava para o Brasil. Apesar do pouco entusiasmo da igreja, e de nenhuma promessa de ajuda financeira, ambos foram separados para serem missionários no Brasil, cheios de convicção da parte de Deus.
A última e grande confirmação da parte de Deus, foi quando o Senhor pediu a Vingren que desse 90 dólares, exatamente o valor que eles tinham para a viagem, para um jornal pentecostal. Eles, em obediência, o fizeram. Porém, extraordinariamente o Senhor os devolveu o exato montante, usando um irmão em outra cidade, que foi revelado por Deus para tal. Berg e Vingren partiram para o Brasil no dia 5 de Novembro de 1910. Durante a viagem, eles já puderam experimentar um pouquinho o que seria o seu campo, e alí mesmo se converteu a primeira alma para Jesus, desde que eles foram separados como missionários. Então, no dia 19 do mesmo mês chegaram à cidade de Belém do Pará.
Sua Chegada ao Brasil
Sua primeira hospedagem foi no porão de uma Igreja Batista, cujo pastor era americano. Logo começaram a dirigir cultos, para ajudar aquele pastor, e sempre que sentiam de falar sobre a manifestação do Espírito Santo para aqueles dias, o faziam sem constrangimento. Mesmo sendo um assunto novo para aqueles irmãos, eles se interessavam cada vez mais, o que decorreu no grande aumento da assiduidade nos cultos e constantes visitas aos missionários. Enquanto isso, Berg começou a trabalhar na fundição, para sustentá-los, enquanto Vingren estudava português para ensiná-lo à noite.
Primeira Assembléia de Deus
A pobreza e principalmente a doença era uma constante naquele lugar, sobretudo a lepra e a febre amarela. Com isso, os irmãos frequentavam cada ves mais o porão onde viviam Berg e Vigren, à busca de oração e conhecimento da Palavra. Alí o Senhor começou a batizar com o Espírito Santo e curar muitos enfermos. Num daqueles cultos improvisados, entrou de surpresa o pastor da igreja, que foi cordialmente convidado a participar do culto. Recusando o convite, passou a declarar uma série de acusações com relação às falsas doutrinas ensinadas pelos missionários, esperava contar com o apoio dos que ali estavam, mais pelo contrário, um diácono, dos membros mais antigos, se levantou e defendeu com testemunhos reais de que o batismo no Espírito Santo e a cura divina é para a atualidade. Neste dia então, Berg, Vingren e mais 18 irmãos foram expulsos daquela igreja e formaram a primeira Assembléia de Deus, que a princípio se reunia na casa da irmã Celina Albuquerque, a primeira crente batizada no Espírito Santo em terras brasileiras.
Logo depois começou a circular pela cidade um panfleto, da parte daquele pastor batista, alertando a população contra os ensinamentos dos missionários, citando inclusive as passagens bíblicas por eles usadas.O que parecia prejudicial, tornou-se num grande impulso para propagação das verdades bíblicas, pois aqueles que os liam, ao conferir com as escrituras, passavam a crer e buscavam a igreja, que crescia exponencialmente. Dias depois, chega a primeira remessa de Bíblias e Novos Testamentos em português, o que leva Daniel Berg a se dedicar exclusivamente à venda das literaturas e pregação do Evangelho.
Avançando Para o Interior do Brasil
Quando a Palavra de Deus já havia sido distribuida em toda Belém, Berg sentiu de Deus em ir rumo a Bragança e fazer na marcha para o interior o mesmo trabalho, para o qual era vocacionado. A tarefa não era fácil; os dois maiores inimigos eram o analfabetismo e o catolicismo herdado da colonização portuguesa. Naqueles pequenos vilarejos, o padre era a maior autoridade e todos os moradores já haviam sido advertidos quanto à pregação de Daniel Berg, e temiam a leitura da Bíblia, pois a igreja os proibia.
Vencendo os Obstáculos
Apesar disto, o jovem continuava a bater nas portas, a ler trechos bíblicos e orar pelos enfermos. As portas se abriam aos poucos e o Senhor operava sempre. Em pouco tempo já haviam vinte novas igrejas entre Belém e Bragança. O próximo passo foi a caminho das selvas. O contato inicial foi difícil e a primeira família se converteu num velório quando Daniel leu sobre a ressurreição para o pai e os filhos ao lado do corpo da mãe. Estes se tornaram evangelistas e contribuíram para a formação de uma grande igreja alí. Sofreram fortes perseguições por parte dos policiais, pois o delegado estava comprometido politicamente com a igreja católica. Mas claro que por fim o nome do Senhor era glorificado pelas vitórias dos crentes. Berg só saiu dalí quando a igreja já havia amadurecido e caminhava por seus próprios pés.
Seus Últimos Dias
O passo decorrente foi sua chegada às ilhas; nesta altura os maiores inimigos eram os naturais. A travessia em barcos precários, tornava o acesso muito perigoso, pois além da embarcação, haviam as piranhas e os jacarés. As grandes distâncias, as horas perdidas e o esforço com os remos, junto ao grande aumento do trabalho, tornou-o quase impossível. Após um acidente sofrido por Daniel, numa daquelas pequenas embarcações, sentiu de Deus de comprar um grande barco a velas, o que fez com a ajuda da igreja de Belém. Com o barco "Boas Novas" o atendimento era mais proveitoso e em maior extensão.
Daniel Berg passou para o Senhor em 1963, e mesmo enfermo num hospital, saía de um a outra enfermaria entregando literatura e orando pelos que se entregavam.
1º de Abril. Dia da Mentira?

Existem inúmeras explicações para o 1º de abril ter se transformado no Dia da Mentira. Uma delas diz que a brincadeira surgiu na França. Desde o começo do século XVI, o Ano Novo era festejado no dia 25 de Março, data que marcava a chegada da primavera. As festas duravam uma semana e terminavam no dia 1 de abril. Em 1564, depois da adoção do calendário gregoriano, o rei Carlos IX de França determinou que o ano novo seria comemorado no dia 1 de janeiro.
Alguns franceses resistiram à mudança e continuaram a seguir o calendário antigo, pelo qual o ano iniciaria em 1 de abril. Gozadores passaram então a ridicularizá-los, a enviar presentes esquisitos e convites para festas que não existiam. Essas brincadeiras ficaram conhecidas como plaisanteries.Em países de língua inglesa o dia da mentira costuma ser conhecido como April Fool's Day ou Dia dos Tolos, na Itália e na França ele é chamado respectivamente pesce d'aprile e poisson d'avril, o que significa literalmente "peixe de abril".
No Brasil, o 1º de abril começou a ser difundido em Minas Gerais, onde circulou "A Mentira", um periódico de vida efêmera, lançado em 1º de abril de 1848, com a notícia do falecimento de Dom Pedro, desmentida no dia seguinte. "A Mentira" saiu pela última vez em 14 de setembro de 1849, convocando todos os credores para um acerto de contas no dia 1º de abril do ano seguinte, dando como referência um local inexistente.
A Bíblia diz que a mentira não convém aos santos e que o diabo é pai dela. No livro de provérbios, capítulo 6 de 16 a 19 aprendemos que: "Seis coisas o SENHOR aborrece, e a sétima a sua alma abomina: olhos altivos, língua mentirosa, mãos que derramam sangue inocente, coração que trama projetos iníquos, pés que se apressam a correr para o mal, testemunha falsa que profere mentiras e o que semeia contendas entre irmãos."Caro leitor, quando a Bíblia afirma que Deus aborrece e abomina alguma coisa, devemos levar isso a sério.
Salomão melhor do que ninguém entendia o que estava afirmando, afinal de contas, ele sabia o quão terrível e temível é o SOBERANO SENHOR.Nesta lista de sete coisas que Deus aborrece, três delas são relacionados aos pecados da língua. As Escrituras Sagradas afirmam que Deus odeia a mentira. Segundo a Bíblia O mentiroso será castigado por Deus (Salmo 7:12-16). Muitas pessoas confiam na mentira, se achando capazes de enganar o mundo e até o próprio Deus. Na sua arrogância, elas não confiam no Senhor (Salmo 40:4). Além disso, o texto também é claro em afirmar que o nosso Deus aborrece a testemunha falsa que profere mentiras.
Isto é, em outras palavras Deus odeia aqueles que lançam falso testemunho a respeito de outrem. E por fim, o texto é enfático em afrmar que Deus abomina O que semeia contendas entre irmãos.Prezado amigo, contendas são obras de maldizentes. Lamentavelmente existem pessoas que ocupam o seu tempo falando mal dos outros e semeando discórdias. Para estas o que importa é denegrir a vida do vizinho, do colega de trabalho, do irmão da igreja, do líder do ministério, do pastor e de quem mais achar por bem.
Alguém já disse que contendas são fáceis de começar e difíceis de terminar. Salomão afirmou "que Como o abrir-se da represa, assim é o começo da contenda; desiste, pois, antes que haja rixas" (Provérbios 17:14).Pois é, infelizmente os que agem desta forma demonstram não possuir o menor temor a Deus e sua Palavra.
Se você é daqueles que tem por hábito falar muito e mal de alguém, resolva em nome de Cristo mudar o seu comportamento fazendo da língua instrumento de bênção.
Pense nisso!
terça-feira, 13 de abril de 2010
DEUS, O JUIZ
I
Você acredita no julgamento divino? Com isto estou perguntando se você crê em um Deus que será nosso Juiz.
Muitos, ao que parece, não acreditam. Fale a eles de Deus como Pai, Amigo, Ajudador, Aquele que nos ama apesar de todas as nossas fraquezas, insensatez e pecado, e suas faces se iluminam; você está imediatamente sintonizado com eles. Mas fale de Deus como Juiz, e eles fecharão o rosto e balançarão a cabeça. Suas mentes se recusam a aceitar essa idéia, pois acham-na repulsiva e sem valor.
Entretanto há poucas coisas na Bíblia que tenham sido mais fortemente destacadas do que a realidade da ação de Deus como Juiz. "Juiz" é uma palavra aplicada constantemente a Ele. Abraão, intercedendo por Sodoma, uma cidade como Londres que Deus estava a ponto de destruir, clamou, "Não fará justiça o Juiz de toda a terra?" (Gên. 18:25). Jefté, concluindo seu ultimato aos invasores amonitas declarou "Não sou eu, portanto, quem pecou contra ti! porém tu fazes mal em pelejar contra mim. O Senhor que é Juiz, julgue hoje entre os filhos de Israel e entre os filhos de Amom" (Juí. 11:27). "Mas Deus é o Juiz" (Sal. 75:7); Levanta-te, ó Deus, julga a terra (Sal. 82:8). No Novo Testamento o autor de Hebreus fala de "Deus o Juiz de todos" (Heb. 12:23).
Este não é um assunto só de palavras, a realidade do julgamento divina, como um fato, é apresentada em cada página da história bíblica. Deus julgou Adão e Eva, expulsando-os do Jardim e amaldiçoando sua vida na terra (Gên. 3). Deus julgou o mundo corrupto dos dias de Noé enviando o dilúvio para destruir a humanidade (Gên. 6-8). Deus julgou Sodoma e Gomorra, destruindo-as por meio de uma catástrofe vulcânica (Gên. 18-19).
Deus julgou os egípcios, capatazes dos israelitas, exatamente como havia dito que faria (Gên. 15:14), mandando contra eles o terror das dez pragas (Êxo. 7-12). Deus julgou aqueles que adoraram o bezerro de ouro usando os levitas como seu executor (Êxo. 32:26-35). Deus julgou Nadabe e Abiú por Lhe oferecerem fogo estranho (Lev. 10:1), como mais tarde julgou Coré, Datã e Abirão que foram engolidos por um tremor de terra. Deus julgou Acã por roubo sacrílego, ele e os seus foram eliminados (Jos. 7). Deus julgou Israel por ser infiel a Ele depois de entrar em Canaã, fazendo com que caísse sob o domínio de outras nações (Juí 2:11 e 3:5; 4:1) Antes de entrarem na terra prometida Deus havia ameaçado seu povo com a deportação como o último castigo para a impiedade, e, finalmente, depois de repetidas admoestações feitas pelos profetas, Ele os julgou, cumprindo sua ameaça: o reino do norte (Israel) caiu vítima do cativeiro assírio e o reino do sul (Judá) do babilônico (2 Reis 17; 22:15; 23:26). Na Babilônia, Deus julgou Nabucodonosor e Belsazar, ambos por impiedade. Ao primeiro foi dado tempo para que corrigisse sua vida, ao segundo não. (Dan. 4:5).
As narrativas do julgamento divino não estão confinadas apenas ao Velho 'testamento. Na história do Novo Testamento, o julgamento cai sobre os judeus por haverem rejeitado a Cristo (Mat. 21:43; 1 Tess. 2:14), sobre Ananias e Safira por terem mentido a Deus (Atos 5), sobre Herodes, pelo seu orgulho (Atos 12:21) sobre Elimas, por sua oposição ao evangelho (Atos 13:8), e sobre os cristãos de Corinto, que foram afligidos por doenças (fatais em muitos casos) por causa de sua grosseira irreverência, particularmente em relação à Ceia do Senhor (1 Cor. 11: 29-32). Esta é apenas uma seleção das muitas narrativas dos atos de julgamento divino que a Bíblia contém.
Quando passamos da história para os ensinamentos bíblicos, a lei, os profetas, os escritores de sabedoria, as palavras de Cristo a seus apóstolos, em tudo descobrimos que a idéia da ação de Deus no julgamento supera tudo o mais. A legislação mosaica é dada como vinda de um Deus que é justo Juiz e não hesitará em infligir penalidades por uma atuação providencial direta se Seu povo quebrar Sua lei.
Os profetas acolhem esse tema, na verdade, a maior parte de seus ensinamentos registrados consiste de exposição e aplicação da lei, e de ameaças de julgamento contra os impenitentes e os fora da lei. Eles gastam muito mais espaço falando do julgamento do que predizendo o Messias e seu reino! Nos livros de sabedoria aparece o mesmo ponto de vista: a certeza básica subjacente a todas as discussões sobre os problemas da vida em Jó e em Eclesiastes e em todas as máximas práticas de Provérbios, é que "Deus te pedirá conta", "Porque Deus há de trazei a juízo todas as obras, até as que estão escondidas, quer sejam boas quer sejam más" (Ecles. 12:9, 12:4).
As pessoas que não lêem realmente a Bíblia, confiantemente nos asseguram que quando vamos do Velho para o Novo Testamento, o tema do julgamento divino passa a um segundo plano; mas se examinarmos o Novo Testamento, mesmo superficialmente, vemos logo que a ênfase do Velho testamento na ação de Deus como Juiz, longe de ser reduzida é na realidade intensificada. Todo o Novo Testamento é dominado pela certeza da chegada do dia do juízo universal e pelo problema que ele levanta: Como podemos nós os pecadores nos reconciliarmos com Deus enquanto ainda há tempo? O Novo Testamento fala do "dia do. julgamento" "o dia da ira", "a ira vindoura", e proclama Jesus o divino Salvador, como o Juiz divinamente indicado. "O Juiz" que está à porta (Tia. 5:9) "preparado para julgar os vivos e os mortos" (1 Ped. 4-5), "o justo juiz" que dará a Paulo sua coroa (2 Tim. 4:8), é o Senhor Jesus Cristo. "Ele é quem foi constituído por Deus juiz de vivos e de mortos" (At. 10:42).
Deus "estabeleceu um dia em que há de julgar o mundo com justiça, por meio do varão que destinou" (At. 17:31), disse Paulo aos atenienses. E aos romanos escreveu: "no dia em que Deus, por meio de Cristo Jesus, julgar os segredos dos homens de conformidade com o meu evangelho" (Rom. 2:16). O próprio Jesus disse a mesma coisa: "o pai . . . ao Filho confiou todo o julgamento. . . o Pai. .. deu autoridade para julgar. . . vem a hora em que todos os que se acham nos túmulos ouvirão a sua voz e sairão. Os que tiverem feito o bem para a ressurreição da vida; e os que tiverem praticado o mal, para a ressurreição do juízo" (João 5:22, 26).
O Jesus do Novo Testamento, que é o Salvador do mundo, é também o seu Juiz.
II
Qual é o significado disso? O que está envolvido na idéia do Pai, ou Jesus, ser Juiz? Pelo menos quatro idéias são abrangidas:
1) O juiz é uma pessoa com autoridade
No mundo bíblico, o rei era sempre o juiz supremo, por ser a autoridade maior. É nessa base, de acordo com a Bíblia, que Deus é o Juiz do Seu mundo. Como nosso Criador, Ele nos possui e como nosso Proprietário, Ele tem o direito de dispor de nós; tem, portanto, o direito de fazer leis para nós e nos recompensar de acordo com nossa atitude, se cumprimos ou não essas leis. Em muitos Estados modernos a Legislatura e o Judiciário estão separados, de modo que o juiz não faz as leis que aplica, mas no mundo antigo não era assim, e também não é assim com Deus. Ele é a que faz a lei e o juiz que a administra.
2) O juiz é uma pessoa identificada com o que é bom e certo
A idéia moderna que o juiz deve ser frio e imparcial não tem lugar na Bíblia. Espera-se do juiz bíblico que ame a justiça e a honestidade, que sinta repulsa por lodo o mau tratamento infligido aos homens por seus semelhantes. Um juiz injusto, que não tenha interesse em ver o certo triunfar sobre o errado, é, de acordo com os padrões bíblicos, uma monstruosidade. A Bíblia não deixa qualquer dúvida sobre o amor de Deus pela justiça e seu ódio pela iniqüidade e que o ideal de um juiz totalmente identificado com o que é bom e justo enquadra-se perfeitamente nEle.
3) O juiz é uma pessoa com sabedoria para discernir a verdade
No mundo bíblico a primeira tarefa do juiz é conhecer os fatos da causa a ele apresentada. Não há júri; é responsabilidade dele, e de ninguém mais, interrogar, inquirir, detectar as mentiras e penetrar nos subterfúgios e determinar a situação real.
Quando a Bíblia mostra Deus julgando, dá ênfase à Sua onisciência e sabedoria perscrutando os corações e descobrindo os fatos. Nada Lhe escapa; podamos enganar aos homens, mas jamais a Deus. Ele nos conhece; e nos julga como realmente somos. Quando Abraão se encontrou com o Senhor em forma humana nos carvalhos de Manre, Ele Lhe fez entender que estava a caminho de Sodoma para estabelecer a verdade sobre a situação moral naquela cidade. "Disse mais o Senhor: Com efeito o clamor de Sodoma e Gomorra tem se multiplicado, e o seu pecado te tem agravado muito, descerei, e verei se de fato o que têm praticado corresponde a esse clamor, que é vindo até mim; e se assim não é sabê-lo-ei" (Gên. 18:20-21). E sempre é assim, Deus saberá. Seu julgamento é de acordo com a verdade a verdade concreta, bem como com a verdade moral. Ele julga "o íntimo dos homens", não apenas a sua fachada. Paulo tem razão ao dizer: "Importa que todos nós compareçamos perante o tribunal de Cristo" (2 Cor. 5:10).
4) O juiz é uma pessoa com poder para executar a sentença
O juiz moderno apenas dá a sentença, outro departamento executa e faz cumprir. O mesmo acontecia no mundo antigo. Mas Deus é seu próprio executor. Do mesmo modo como legisla e sentencia, ele também pune. Nele estão acumuladas todas as funções judiciais.
III
De tudo o que foi dito fica claro que a proclamação bíblica da ação de Deus como juiz é parte da afirmação que faz a respeito de Seu caráter. Confirma também o que se disse antes sobre Sua perfeição moral, Sua retidão e justiça, Sua sabedoria, onisciência e onipotência. Mostra-nos também que a retribuição é o centro da justiça que demonstra a natureza de Deus – dar ao homem aquilo que merece; pois esta é a essência da tarefa do juiz. Retribuir o bem com o bem e o mal com o mal, é coisa natural a Deus. Assim, quando o Novo Testamento fala do julgamento final, sempre o apresenta em termos de recompensa. Deus julgará todos os homens "de acordo com suas obras" (Mat. 16:27; Apoc. 20:12).
Paulo amplia essa idéia: Deus "retribuirá a cada um segundo o seu procedimento: dará a vida eterna aos que, perseverando em fazer bem procuram glória, honra e incorruptibilidade; mas ira e indignação e aos facciosos que desobedecem à verdade, e obedecem à injustiça. Tribulação e angústia virão sobre a alma de qualquer homem que faz o mal... glória, porém, e honra e paz a todo aquele que pratica o bem... Porque para com Deus, não há acepção de pessoas" (Rom. 2:6-11).
O princípio da retribuição se aplica do começo ao fim, os cristãos assim como os não-cristãos receberão "de acordo com suas obras". Os cristãos estão implicitamente incluídos na referência quando Paulo diz: "Porque importa que todos nós compareçamos perante o Tribunal de Cristo para que cada um receba segundo o bem ou mal que tiver feito por meio do corpo" (2 Cor. 5:10).
Assim, a recompensa aparece como uma expressão natural e predeterminada do caráter divino. Deus resolveu ser o Juiz de todos os homens, recompensando cada um de acordo com suas obras. A retribuição é a inescapável lei moral da criação; Deus cuidará para que cada pessoa, mais cedo ou mais tarde, receba o que merece aqui, ou na vida futura. Este é um dos fatos básicos da vida. E nós, sendo feitos à imagem de Deus, sabemos no nosso íntimo que isso é correto. É assim mesmo que deve ser. Freqüentemente reclamamos, como faz O criminoso (mas, no seu caso, sem muito fundamento) "não há justiça".
O problema do salmista que via homens inofensivos serem castigados e os ímpios "não se acham em trabalho como outros homens" mas prosperam e têm paz (Sal. 73), é repetido constantemente na experiência humana. Mas o caráter de Deus é a garantia que tudo o que é errado será endireitado um dia, quando chegar o "dia da ira e da manifestação do juízo de Deus (Rom. 2:5), a recompensa será exata e nenhum problema de injustiça cósmica ficará a nos perseguir. Deus é o Juiz e a justiça será feita.
Por que, então os homens evitam a idéia de Deus como Juiz? Por que acham que essa idéia é indigna dEle? A verdade é que parte da perfeição moral de Deus é sua perfeição no julgamento. Um Deus que não se importasse com a diferença entre o certo e o errado seria um ser bom e admirável? Um Deus que não fizesse distinção entre os monstro da História, os Hitler e os Stalin (se é que devemos usar nomes) e seus próprios santos, seria moralmente perfeito e digno de louvor? A indiferença moral seria imperfeição em Deus, e não perfeição. Entretanto, o fato de não julgar o mundo demonstraria indiferença moral. A prova final de que Deus é um Ser moralmente perfeito, que não fica indiferente às questões do que é certo ou errado, é o fato dEle mesmo ter-se comprometido a julgar o mundo.
Está claro que a realidade do julgamento divino deve ter um efeito direto no nosso moda de encarar a vida. Se sabemos que teremos de enfrentar o julgamento retribuidor no final, não viveremos como o faríamos de outro modo. Mas deve-se enfatizar que a doutrina do julgamento divino e particularmente a do julgamento final, não deve ser vista primariamente como um truque com o qual se amedronta os homens para que tenham uma aparência de "correção" condicional. É verdade que tem suas implicações assustadoras para os ímpios, mas seu ponto principal é a revelação do caráter moral de Deus e concede significado moral à vida humana. Como escreveu Leon Morris:
"A doutrina do julgamento final... enfatiza a responsabilidade do homem e a certeza de que a justiça finalmente triunfará sobre todo o mal que é parte e parcela da vida aqui e agora. A primeira concede dignidade ao ato mais humilde e a última traz calma e certeza aos que estão no auge da batalha. Esta doutrina dá sentido à vida... A visão cristã do julgamento significa que a história se dirige para um alvo... O julgamento defende a idéia do triunfo final de Deus e do bem. É impossível pensar que o conflito presente entre o bem e o mal perdure por toda a eternidade. O julgamento significa que o mal será eliminado de uma vez por todas com decisão e autoridade. O julgamento significa. que no final a vontade de Deus será perfeitamente realizada." (The Biblical Doctrine of Judgment, pág. 72).
IV
Nem sempre se compreende que a principal autoridade do Novo Testamento no julgamento final, tanto no céu como na inferno, é o próprio Senhor Jesus Cristo. Acertadamente o ofício fúnebre anglicano se dirige a Jesus como sendo "o santo e misericordioso Salvador, Tu mais do que notável Juiz eterno". Pois Jesus constantemente afirmou que no dia em que todos aparecerem diante do trono de Deus para receberem as conseqüências permanentes e eternas da vida que levaram, Ele próprio será o agente do Pai no julgamento e sua palavra de aceitação ou rejeição será decisiva. Há muitas passagens em relação a esse assunto, citaremos algumas: Mat. 7:13-27, 10:26-33; 12:36; 13:24-49, 22:1-14, 24:36-25:46; Luc. 13:23-30; 16:19-31 ; João 5:22-29.
A mais clara representação de Jesus como Juiz está em Mateus 25:31 e seguintes: "o Filho do Homem ... se assentará no trono da sua glória; e todas as nações (isto é, todas as pessoas) serão reunidas em sua presença, e ele separará uns dos outros ... Então, o Rei dirá também aos que estiverem à sua esquerda: Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno ..."
A mais clara afirmação da prerrogativa de Jesus como juiz está contido em João 5 :22 em diante: "o Pai a ninguém julga, mas ao Filho confiou todo o julgamento, a fim de que todos honrem o Filho do modo porque honram ao Pai... o Pai... deu-lhe a autoridade para julgar, porque é o Filho do homem (a quem foi prometido domínio, inclusive as funções de Juiz Dan. 7:13)... porque vem a hora em que todos os que estão nos sepulcros ouvirão a sua voz e sairão: os que tiverem feito o bem, para a ressurreição da vida; e os que tiverem praticada o mal, para a ressurreição do juízo". A própria indicação de Deus tornou Jesus Cristo inevitável. Ele está no fim da estrada da vida de todas as pessoas, sem exceção.
"Prepara-te ó Israel, para te encontrares com o teu Deus" (Amós 4:12) foi a mensagem de Amós a Israel. "Prepara-te para te encontrares com Jesus ressuscitado" é a mensagem de Deus hoje ao mundo (At. 17:31). E podemos ter a certeza de que aquele que é verdadeiro Deus e homem perfeito será um juiz perfeitamente justo.
V
O julgamento final, como já vimos, será de acordo com nossas obras, isto é, aquilo que fizemos, durante todo o curso de nossa vida A relevância de nossos "atos" não é que mereçam qualquer prêmio da corte – estão muito aquém da perfeição para isso – mas sim o fato de indicarem aquilo que vai no coração; o que, em outras palavras, é a natureza real de cada agente. Jesus disse certa vez "de toda a palavra frívola que proferirem os homens, dela darão conta no dia do juízo; porque pelas tuas palavras serás justificado, e pelas tuas palavras serás condenado'" (Mat. 12:36-37).
Qual o significado das palavras que pronunciamos (cuja expressão seja "uma obra" ao sentido relevante)? Exatamente este: As palavras mostram como você é interiormente. Jesus salientou bem este ponto: "Porque pelo fruto se conhece a árvore... como podeis falar coisas boas sendo maus? Porque a boca fala do que está cheio o coração" (v. 33-34). Do mesmo modo na passagem sobre as ovelhas e os cabritos é feita uma citação a respeito da atitude dos homens, se atenderam ou não às necessidades dos cristãos. Qual o significado disso? Não é que um modo de agir seja meritório e o outro não, mas que por essas ações pode-se dizer se houve amor a Cristo, amor esse que brota da fé no coração (Mat. 25:34 em diante).
Uma vez tenhamos compreendido que o significado das obras no julgamento final é um índice do caráter espiritual, torna-se possível responder a uma questão que tem confundido a muitos, e que pode ser colocada do seguinte modo. Jesus disse: "Quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou, tem a vida eterna, e não entra em juízo, mas passou da morte para a vida" (João 5:24). Paulo afirmou: "Porque importa que todos nós compareçamos perante o tribunal de Cristo, para que cada um receba segundo o bem ou mal que tiver feito por meio do corpo" (2 Cor. 5:10). Como podemos juntar estas duas afirmações?
Como o perdão gratuito e a justificação pela fé se enquadram no julgamento pelas obras? A resposta parece ser a seguinte. Primeiro, o dom da justificação certamente protege os crentes de serem condenados e banidos da presença de Deus como pecadores. Isto aparece na visão do julgamento em Apocalipse 20:11-15, onde junto com os "livros" onde estão registradas todas as obras de cada pessoa é aberto o "Livro da Vida" e aqueles cujos nomes estão escritos não serão "lançados no lago de fogo" como acontecerá com os outros. Mas, em segundo lugar, a dádiva da justificação não protegerá de modo algum os crentes de serem avaliados como cristãos; e de perderem benefícios que outros irão gozar se ficar provado que como cristãos foram negligentes, maldosos e destrutivos. Paulo adverte os coríntios para que sejam cuidadosos com o tipo de vida que construíram sobre o único fundamento, Cristo. "Contudo, se o que alguém edifica sobre o fundamento é ouro, prata, pedras preciosas, madeira, feno, palha, manifesta se tornará a obra de cada um; pois o dia a demonstrará, porque está sendo revelada pelo fogo;... Se permanecer a obra de alguém que sobre o fundamento edificou, esse receberá galardão; se a obra de alguém se queimar, sofrerá ele dano, mas esse mesmo será salvo, todavia, como que através do fogo" (1 Cor. 3:12-15).
"Galardão" e "perda" significam um relacionamento mais rico ou mais pobre com Deus, embora atualmente esteja além de nossas possibilidades determinar como será isso.
O julgamento final será também de acordo com nosso conhecimento. Todos sabem alguma coisa sobre a vontade de Deus através da revelação, mesmo que não tenham sido instruídos na lei ou no Evangelho, e todos são culpados diante de Deus por não terem correspondido àquilo que sabiam. Mas o demérito é proporcional ao grau desse conhecimento; veja Romanos 2:12 e compare com Lucas 12:47. O princípio empregado aqui é que: "A qualquer que muito foi dado, muito se lhe pedirá" (v. 48). A justiça é evidente neste ponto. O Juiz de toda a Terra agirá retamente em cada caso.
VI
Paulo se refere ao fato de que todos devemos comparecer diante do tribunal de Cristo como o "temor do Senhor" (2 Cor. 5:11), e ele está com a razão. Jesus, o Senhor, da mesma forma que seu Pai, é santo e puro, nós não somos nem uma coisa nem outra. Vivemos debaixo de seus olhos, Ele conhece nosso interior, e no dia do julgamento será feita diante dEle uma recapitulação de toda a nossa vida passada, uma espécie de revisão. Se nos conhecemos realmente, sabemos que não estamos qualificados para enfrentá-Lo.
Que devemos então fazer? A resposta do Novo Testamento é: apele para o Juiz para que seja seu Salvador presente. Como Juiz Ele é a lei, mas como Salvador é o Evangelho. Aparte-se dEle agora e você O encontrará mais tarde como Juiz, e sem apelação. Busque-O agora e você O encontrará (pois "aquele que busca acha"), e descobrirá que está esperando por aquele futuro encontro com alegria, sabendo que "nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus" (Rom. 8:1) Assim:
Eis que vem a morte atrás
Desta vida tão fugaz
Quando eu ao meu lar subir
E teu rosto em glória vir
Rocha eterna, que prazer
Eu terei de em Ti viver.
Você acredita no julgamento divino? Com isto estou perguntando se você crê em um Deus que será nosso Juiz.
Muitos, ao que parece, não acreditam. Fale a eles de Deus como Pai, Amigo, Ajudador, Aquele que nos ama apesar de todas as nossas fraquezas, insensatez e pecado, e suas faces se iluminam; você está imediatamente sintonizado com eles. Mas fale de Deus como Juiz, e eles fecharão o rosto e balançarão a cabeça. Suas mentes se recusam a aceitar essa idéia, pois acham-na repulsiva e sem valor.
Entretanto há poucas coisas na Bíblia que tenham sido mais fortemente destacadas do que a realidade da ação de Deus como Juiz. "Juiz" é uma palavra aplicada constantemente a Ele. Abraão, intercedendo por Sodoma, uma cidade como Londres que Deus estava a ponto de destruir, clamou, "Não fará justiça o Juiz de toda a terra?" (Gên. 18:25). Jefté, concluindo seu ultimato aos invasores amonitas declarou "Não sou eu, portanto, quem pecou contra ti! porém tu fazes mal em pelejar contra mim. O Senhor que é Juiz, julgue hoje entre os filhos de Israel e entre os filhos de Amom" (Juí. 11:27). "Mas Deus é o Juiz" (Sal. 75:7); Levanta-te, ó Deus, julga a terra (Sal. 82:8). No Novo Testamento o autor de Hebreus fala de "Deus o Juiz de todos" (Heb. 12:23).
Este não é um assunto só de palavras, a realidade do julgamento divina, como um fato, é apresentada em cada página da história bíblica. Deus julgou Adão e Eva, expulsando-os do Jardim e amaldiçoando sua vida na terra (Gên. 3). Deus julgou o mundo corrupto dos dias de Noé enviando o dilúvio para destruir a humanidade (Gên. 6-8). Deus julgou Sodoma e Gomorra, destruindo-as por meio de uma catástrofe vulcânica (Gên. 18-19).
Deus julgou os egípcios, capatazes dos israelitas, exatamente como havia dito que faria (Gên. 15:14), mandando contra eles o terror das dez pragas (Êxo. 7-12). Deus julgou aqueles que adoraram o bezerro de ouro usando os levitas como seu executor (Êxo. 32:26-35). Deus julgou Nadabe e Abiú por Lhe oferecerem fogo estranho (Lev. 10:1), como mais tarde julgou Coré, Datã e Abirão que foram engolidos por um tremor de terra. Deus julgou Acã por roubo sacrílego, ele e os seus foram eliminados (Jos. 7). Deus julgou Israel por ser infiel a Ele depois de entrar em Canaã, fazendo com que caísse sob o domínio de outras nações (Juí 2:11 e 3:5; 4:1) Antes de entrarem na terra prometida Deus havia ameaçado seu povo com a deportação como o último castigo para a impiedade, e, finalmente, depois de repetidas admoestações feitas pelos profetas, Ele os julgou, cumprindo sua ameaça: o reino do norte (Israel) caiu vítima do cativeiro assírio e o reino do sul (Judá) do babilônico (2 Reis 17; 22:15; 23:26). Na Babilônia, Deus julgou Nabucodonosor e Belsazar, ambos por impiedade. Ao primeiro foi dado tempo para que corrigisse sua vida, ao segundo não. (Dan. 4:5).
As narrativas do julgamento divino não estão confinadas apenas ao Velho 'testamento. Na história do Novo Testamento, o julgamento cai sobre os judeus por haverem rejeitado a Cristo (Mat. 21:43; 1 Tess. 2:14), sobre Ananias e Safira por terem mentido a Deus (Atos 5), sobre Herodes, pelo seu orgulho (Atos 12:21) sobre Elimas, por sua oposição ao evangelho (Atos 13:8), e sobre os cristãos de Corinto, que foram afligidos por doenças (fatais em muitos casos) por causa de sua grosseira irreverência, particularmente em relação à Ceia do Senhor (1 Cor. 11: 29-32). Esta é apenas uma seleção das muitas narrativas dos atos de julgamento divino que a Bíblia contém.
Quando passamos da história para os ensinamentos bíblicos, a lei, os profetas, os escritores de sabedoria, as palavras de Cristo a seus apóstolos, em tudo descobrimos que a idéia da ação de Deus no julgamento supera tudo o mais. A legislação mosaica é dada como vinda de um Deus que é justo Juiz e não hesitará em infligir penalidades por uma atuação providencial direta se Seu povo quebrar Sua lei.
Os profetas acolhem esse tema, na verdade, a maior parte de seus ensinamentos registrados consiste de exposição e aplicação da lei, e de ameaças de julgamento contra os impenitentes e os fora da lei. Eles gastam muito mais espaço falando do julgamento do que predizendo o Messias e seu reino! Nos livros de sabedoria aparece o mesmo ponto de vista: a certeza básica subjacente a todas as discussões sobre os problemas da vida em Jó e em Eclesiastes e em todas as máximas práticas de Provérbios, é que "Deus te pedirá conta", "Porque Deus há de trazei a juízo todas as obras, até as que estão escondidas, quer sejam boas quer sejam más" (Ecles. 12:9, 12:4).
As pessoas que não lêem realmente a Bíblia, confiantemente nos asseguram que quando vamos do Velho para o Novo Testamento, o tema do julgamento divino passa a um segundo plano; mas se examinarmos o Novo Testamento, mesmo superficialmente, vemos logo que a ênfase do Velho testamento na ação de Deus como Juiz, longe de ser reduzida é na realidade intensificada. Todo o Novo Testamento é dominado pela certeza da chegada do dia do juízo universal e pelo problema que ele levanta: Como podemos nós os pecadores nos reconciliarmos com Deus enquanto ainda há tempo? O Novo Testamento fala do "dia do. julgamento" "o dia da ira", "a ira vindoura", e proclama Jesus o divino Salvador, como o Juiz divinamente indicado. "O Juiz" que está à porta (Tia. 5:9) "preparado para julgar os vivos e os mortos" (1 Ped. 4-5), "o justo juiz" que dará a Paulo sua coroa (2 Tim. 4:8), é o Senhor Jesus Cristo. "Ele é quem foi constituído por Deus juiz de vivos e de mortos" (At. 10:42).
Deus "estabeleceu um dia em que há de julgar o mundo com justiça, por meio do varão que destinou" (At. 17:31), disse Paulo aos atenienses. E aos romanos escreveu: "no dia em que Deus, por meio de Cristo Jesus, julgar os segredos dos homens de conformidade com o meu evangelho" (Rom. 2:16). O próprio Jesus disse a mesma coisa: "o pai . . . ao Filho confiou todo o julgamento. . . o Pai. .. deu autoridade para julgar. . . vem a hora em que todos os que se acham nos túmulos ouvirão a sua voz e sairão. Os que tiverem feito o bem para a ressurreição da vida; e os que tiverem praticado o mal, para a ressurreição do juízo" (João 5:22, 26).
O Jesus do Novo Testamento, que é o Salvador do mundo, é também o seu Juiz.
II
Qual é o significado disso? O que está envolvido na idéia do Pai, ou Jesus, ser Juiz? Pelo menos quatro idéias são abrangidas:
1) O juiz é uma pessoa com autoridade
No mundo bíblico, o rei era sempre o juiz supremo, por ser a autoridade maior. É nessa base, de acordo com a Bíblia, que Deus é o Juiz do Seu mundo. Como nosso Criador, Ele nos possui e como nosso Proprietário, Ele tem o direito de dispor de nós; tem, portanto, o direito de fazer leis para nós e nos recompensar de acordo com nossa atitude, se cumprimos ou não essas leis. Em muitos Estados modernos a Legislatura e o Judiciário estão separados, de modo que o juiz não faz as leis que aplica, mas no mundo antigo não era assim, e também não é assim com Deus. Ele é a que faz a lei e o juiz que a administra.
2) O juiz é uma pessoa identificada com o que é bom e certo
A idéia moderna que o juiz deve ser frio e imparcial não tem lugar na Bíblia. Espera-se do juiz bíblico que ame a justiça e a honestidade, que sinta repulsa por lodo o mau tratamento infligido aos homens por seus semelhantes. Um juiz injusto, que não tenha interesse em ver o certo triunfar sobre o errado, é, de acordo com os padrões bíblicos, uma monstruosidade. A Bíblia não deixa qualquer dúvida sobre o amor de Deus pela justiça e seu ódio pela iniqüidade e que o ideal de um juiz totalmente identificado com o que é bom e justo enquadra-se perfeitamente nEle.
3) O juiz é uma pessoa com sabedoria para discernir a verdade
No mundo bíblico a primeira tarefa do juiz é conhecer os fatos da causa a ele apresentada. Não há júri; é responsabilidade dele, e de ninguém mais, interrogar, inquirir, detectar as mentiras e penetrar nos subterfúgios e determinar a situação real.
Quando a Bíblia mostra Deus julgando, dá ênfase à Sua onisciência e sabedoria perscrutando os corações e descobrindo os fatos. Nada Lhe escapa; podamos enganar aos homens, mas jamais a Deus. Ele nos conhece; e nos julga como realmente somos. Quando Abraão se encontrou com o Senhor em forma humana nos carvalhos de Manre, Ele Lhe fez entender que estava a caminho de Sodoma para estabelecer a verdade sobre a situação moral naquela cidade. "Disse mais o Senhor: Com efeito o clamor de Sodoma e Gomorra tem se multiplicado, e o seu pecado te tem agravado muito, descerei, e verei se de fato o que têm praticado corresponde a esse clamor, que é vindo até mim; e se assim não é sabê-lo-ei" (Gên. 18:20-21). E sempre é assim, Deus saberá. Seu julgamento é de acordo com a verdade a verdade concreta, bem como com a verdade moral. Ele julga "o íntimo dos homens", não apenas a sua fachada. Paulo tem razão ao dizer: "Importa que todos nós compareçamos perante o tribunal de Cristo" (2 Cor. 5:10).
4) O juiz é uma pessoa com poder para executar a sentença
O juiz moderno apenas dá a sentença, outro departamento executa e faz cumprir. O mesmo acontecia no mundo antigo. Mas Deus é seu próprio executor. Do mesmo modo como legisla e sentencia, ele também pune. Nele estão acumuladas todas as funções judiciais.
III
De tudo o que foi dito fica claro que a proclamação bíblica da ação de Deus como juiz é parte da afirmação que faz a respeito de Seu caráter. Confirma também o que se disse antes sobre Sua perfeição moral, Sua retidão e justiça, Sua sabedoria, onisciência e onipotência. Mostra-nos também que a retribuição é o centro da justiça que demonstra a natureza de Deus – dar ao homem aquilo que merece; pois esta é a essência da tarefa do juiz. Retribuir o bem com o bem e o mal com o mal, é coisa natural a Deus. Assim, quando o Novo Testamento fala do julgamento final, sempre o apresenta em termos de recompensa. Deus julgará todos os homens "de acordo com suas obras" (Mat. 16:27; Apoc. 20:12).
Paulo amplia essa idéia: Deus "retribuirá a cada um segundo o seu procedimento: dará a vida eterna aos que, perseverando em fazer bem procuram glória, honra e incorruptibilidade; mas ira e indignação e aos facciosos que desobedecem à verdade, e obedecem à injustiça. Tribulação e angústia virão sobre a alma de qualquer homem que faz o mal... glória, porém, e honra e paz a todo aquele que pratica o bem... Porque para com Deus, não há acepção de pessoas" (Rom. 2:6-11).
O princípio da retribuição se aplica do começo ao fim, os cristãos assim como os não-cristãos receberão "de acordo com suas obras". Os cristãos estão implicitamente incluídos na referência quando Paulo diz: "Porque importa que todos nós compareçamos perante o Tribunal de Cristo para que cada um receba segundo o bem ou mal que tiver feito por meio do corpo" (2 Cor. 5:10).
Assim, a recompensa aparece como uma expressão natural e predeterminada do caráter divino. Deus resolveu ser o Juiz de todos os homens, recompensando cada um de acordo com suas obras. A retribuição é a inescapável lei moral da criação; Deus cuidará para que cada pessoa, mais cedo ou mais tarde, receba o que merece aqui, ou na vida futura. Este é um dos fatos básicos da vida. E nós, sendo feitos à imagem de Deus, sabemos no nosso íntimo que isso é correto. É assim mesmo que deve ser. Freqüentemente reclamamos, como faz O criminoso (mas, no seu caso, sem muito fundamento) "não há justiça".
O problema do salmista que via homens inofensivos serem castigados e os ímpios "não se acham em trabalho como outros homens" mas prosperam e têm paz (Sal. 73), é repetido constantemente na experiência humana. Mas o caráter de Deus é a garantia que tudo o que é errado será endireitado um dia, quando chegar o "dia da ira e da manifestação do juízo de Deus (Rom. 2:5), a recompensa será exata e nenhum problema de injustiça cósmica ficará a nos perseguir. Deus é o Juiz e a justiça será feita.
Por que, então os homens evitam a idéia de Deus como Juiz? Por que acham que essa idéia é indigna dEle? A verdade é que parte da perfeição moral de Deus é sua perfeição no julgamento. Um Deus que não se importasse com a diferença entre o certo e o errado seria um ser bom e admirável? Um Deus que não fizesse distinção entre os monstro da História, os Hitler e os Stalin (se é que devemos usar nomes) e seus próprios santos, seria moralmente perfeito e digno de louvor? A indiferença moral seria imperfeição em Deus, e não perfeição. Entretanto, o fato de não julgar o mundo demonstraria indiferença moral. A prova final de que Deus é um Ser moralmente perfeito, que não fica indiferente às questões do que é certo ou errado, é o fato dEle mesmo ter-se comprometido a julgar o mundo.
Está claro que a realidade do julgamento divino deve ter um efeito direto no nosso moda de encarar a vida. Se sabemos que teremos de enfrentar o julgamento retribuidor no final, não viveremos como o faríamos de outro modo. Mas deve-se enfatizar que a doutrina do julgamento divino e particularmente a do julgamento final, não deve ser vista primariamente como um truque com o qual se amedronta os homens para que tenham uma aparência de "correção" condicional. É verdade que tem suas implicações assustadoras para os ímpios, mas seu ponto principal é a revelação do caráter moral de Deus e concede significado moral à vida humana. Como escreveu Leon Morris:
"A doutrina do julgamento final... enfatiza a responsabilidade do homem e a certeza de que a justiça finalmente triunfará sobre todo o mal que é parte e parcela da vida aqui e agora. A primeira concede dignidade ao ato mais humilde e a última traz calma e certeza aos que estão no auge da batalha. Esta doutrina dá sentido à vida... A visão cristã do julgamento significa que a história se dirige para um alvo... O julgamento defende a idéia do triunfo final de Deus e do bem. É impossível pensar que o conflito presente entre o bem e o mal perdure por toda a eternidade. O julgamento significa que o mal será eliminado de uma vez por todas com decisão e autoridade. O julgamento significa. que no final a vontade de Deus será perfeitamente realizada." (The Biblical Doctrine of Judgment, pág. 72).
IV
Nem sempre se compreende que a principal autoridade do Novo Testamento no julgamento final, tanto no céu como na inferno, é o próprio Senhor Jesus Cristo. Acertadamente o ofício fúnebre anglicano se dirige a Jesus como sendo "o santo e misericordioso Salvador, Tu mais do que notável Juiz eterno". Pois Jesus constantemente afirmou que no dia em que todos aparecerem diante do trono de Deus para receberem as conseqüências permanentes e eternas da vida que levaram, Ele próprio será o agente do Pai no julgamento e sua palavra de aceitação ou rejeição será decisiva. Há muitas passagens em relação a esse assunto, citaremos algumas: Mat. 7:13-27, 10:26-33; 12:36; 13:24-49, 22:1-14, 24:36-25:46; Luc. 13:23-30; 16:19-31 ; João 5:22-29.
A mais clara representação de Jesus como Juiz está em Mateus 25:31 e seguintes: "o Filho do Homem ... se assentará no trono da sua glória; e todas as nações (isto é, todas as pessoas) serão reunidas em sua presença, e ele separará uns dos outros ... Então, o Rei dirá também aos que estiverem à sua esquerda: Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno ..."
A mais clara afirmação da prerrogativa de Jesus como juiz está contido em João 5 :22 em diante: "o Pai a ninguém julga, mas ao Filho confiou todo o julgamento, a fim de que todos honrem o Filho do modo porque honram ao Pai... o Pai... deu-lhe a autoridade para julgar, porque é o Filho do homem (a quem foi prometido domínio, inclusive as funções de Juiz Dan. 7:13)... porque vem a hora em que todos os que estão nos sepulcros ouvirão a sua voz e sairão: os que tiverem feito o bem, para a ressurreição da vida; e os que tiverem praticada o mal, para a ressurreição do juízo". A própria indicação de Deus tornou Jesus Cristo inevitável. Ele está no fim da estrada da vida de todas as pessoas, sem exceção.
"Prepara-te ó Israel, para te encontrares com o teu Deus" (Amós 4:12) foi a mensagem de Amós a Israel. "Prepara-te para te encontrares com Jesus ressuscitado" é a mensagem de Deus hoje ao mundo (At. 17:31). E podemos ter a certeza de que aquele que é verdadeiro Deus e homem perfeito será um juiz perfeitamente justo.
V
O julgamento final, como já vimos, será de acordo com nossas obras, isto é, aquilo que fizemos, durante todo o curso de nossa vida A relevância de nossos "atos" não é que mereçam qualquer prêmio da corte – estão muito aquém da perfeição para isso – mas sim o fato de indicarem aquilo que vai no coração; o que, em outras palavras, é a natureza real de cada agente. Jesus disse certa vez "de toda a palavra frívola que proferirem os homens, dela darão conta no dia do juízo; porque pelas tuas palavras serás justificado, e pelas tuas palavras serás condenado'" (Mat. 12:36-37).
Qual o significado das palavras que pronunciamos (cuja expressão seja "uma obra" ao sentido relevante)? Exatamente este: As palavras mostram como você é interiormente. Jesus salientou bem este ponto: "Porque pelo fruto se conhece a árvore... como podeis falar coisas boas sendo maus? Porque a boca fala do que está cheio o coração" (v. 33-34). Do mesmo modo na passagem sobre as ovelhas e os cabritos é feita uma citação a respeito da atitude dos homens, se atenderam ou não às necessidades dos cristãos. Qual o significado disso? Não é que um modo de agir seja meritório e o outro não, mas que por essas ações pode-se dizer se houve amor a Cristo, amor esse que brota da fé no coração (Mat. 25:34 em diante).
Uma vez tenhamos compreendido que o significado das obras no julgamento final é um índice do caráter espiritual, torna-se possível responder a uma questão que tem confundido a muitos, e que pode ser colocada do seguinte modo. Jesus disse: "Quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou, tem a vida eterna, e não entra em juízo, mas passou da morte para a vida" (João 5:24). Paulo afirmou: "Porque importa que todos nós compareçamos perante o tribunal de Cristo, para que cada um receba segundo o bem ou mal que tiver feito por meio do corpo" (2 Cor. 5:10). Como podemos juntar estas duas afirmações?
Como o perdão gratuito e a justificação pela fé se enquadram no julgamento pelas obras? A resposta parece ser a seguinte. Primeiro, o dom da justificação certamente protege os crentes de serem condenados e banidos da presença de Deus como pecadores. Isto aparece na visão do julgamento em Apocalipse 20:11-15, onde junto com os "livros" onde estão registradas todas as obras de cada pessoa é aberto o "Livro da Vida" e aqueles cujos nomes estão escritos não serão "lançados no lago de fogo" como acontecerá com os outros. Mas, em segundo lugar, a dádiva da justificação não protegerá de modo algum os crentes de serem avaliados como cristãos; e de perderem benefícios que outros irão gozar se ficar provado que como cristãos foram negligentes, maldosos e destrutivos. Paulo adverte os coríntios para que sejam cuidadosos com o tipo de vida que construíram sobre o único fundamento, Cristo. "Contudo, se o que alguém edifica sobre o fundamento é ouro, prata, pedras preciosas, madeira, feno, palha, manifesta se tornará a obra de cada um; pois o dia a demonstrará, porque está sendo revelada pelo fogo;... Se permanecer a obra de alguém que sobre o fundamento edificou, esse receberá galardão; se a obra de alguém se queimar, sofrerá ele dano, mas esse mesmo será salvo, todavia, como que através do fogo" (1 Cor. 3:12-15).
"Galardão" e "perda" significam um relacionamento mais rico ou mais pobre com Deus, embora atualmente esteja além de nossas possibilidades determinar como será isso.
O julgamento final será também de acordo com nosso conhecimento. Todos sabem alguma coisa sobre a vontade de Deus através da revelação, mesmo que não tenham sido instruídos na lei ou no Evangelho, e todos são culpados diante de Deus por não terem correspondido àquilo que sabiam. Mas o demérito é proporcional ao grau desse conhecimento; veja Romanos 2:12 e compare com Lucas 12:47. O princípio empregado aqui é que: "A qualquer que muito foi dado, muito se lhe pedirá" (v. 48). A justiça é evidente neste ponto. O Juiz de toda a Terra agirá retamente em cada caso.
VI
Paulo se refere ao fato de que todos devemos comparecer diante do tribunal de Cristo como o "temor do Senhor" (2 Cor. 5:11), e ele está com a razão. Jesus, o Senhor, da mesma forma que seu Pai, é santo e puro, nós não somos nem uma coisa nem outra. Vivemos debaixo de seus olhos, Ele conhece nosso interior, e no dia do julgamento será feita diante dEle uma recapitulação de toda a nossa vida passada, uma espécie de revisão. Se nos conhecemos realmente, sabemos que não estamos qualificados para enfrentá-Lo.
Que devemos então fazer? A resposta do Novo Testamento é: apele para o Juiz para que seja seu Salvador presente. Como Juiz Ele é a lei, mas como Salvador é o Evangelho. Aparte-se dEle agora e você O encontrará mais tarde como Juiz, e sem apelação. Busque-O agora e você O encontrará (pois "aquele que busca acha"), e descobrirá que está esperando por aquele futuro encontro com alegria, sabendo que "nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus" (Rom. 8:1) Assim:
Eis que vem a morte atrás
Desta vida tão fugaz
Quando eu ao meu lar subir
E teu rosto em glória vir
Rocha eterna, que prazer
Eu terei de em Ti viver.
O AMOR DE DEUS
I
A declaração repetida duas vezes por S. João: "Deus é amor" (1 João 4:8, 16) é um dos pronunciamentos mais tremendos da Bíblia – e também um dos menos entendidos. Idéias falsas cresceram à sua volta como uma cruz de espinhos, ocultando seu significado real, e não é tarefa fácil atravessar esse aglomerado de vegetação mental. Entretanto, quanto maior a dificuldade envolvida maior será a recompensa, quando o verdadeiro sentido desses textos são captados pela alma cristã. Aqueles que sobem uma alta montanha não reclamam de seu esforço ao contemplarem o cenário que se descortina de seu topo!
Na verdade, felizes são aqueles que podem repetir com João as palavras da sentença que precede o segundo "Deus é amor", "nós conhecemos e cremos o amor que Deus nos tem" (v. 16). Conhecer o amor de Deus é na verdade o céu na terra. E o Novo Testamento mostra este conhecimento, não como um privilégio de uns poucos favorecidos, mas como uma parte normal da experiência comum do cristão, alguma coisa que só é estranha àqueles cuja espiritualidade é pouco sadia ou malformada. Quando Paulo diz: "O amor de Deus é derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi outorgado" (Rom. 5:5) ele não se refere ao amor de Deus, como pensava Agostinho, mas ao conhecimento do amor de Deus por nós. E embora nunca chegasse a conhecer pessoalmente os cristãos de Roma a quem estava escrevendo, ele tinha certeza de que a afirmação seria verdadeira para eles como o era para si mesmo.
Há três pontos nas palavras de Paulo que merecem ser comentados. Primeiro note o verbo "derramado". Seu sentido literal é "despejado". É a palavra usada no "derramamento" do Espírito Santo em Atos 2:17, 33; 10:45; Tito 3:6, sugerindo um fluxo livre e uma grande quantidade – de fato, uma inundação. Paulo não está falando de impressões vagas e indecisas, mas de coisas profundas e irresistíveis.
Em segundo lugar observe o tempo do. verbo. Está no perfeito, o que indica uma situação estabelecida como conseqüência de uma ação completada. A idéia é que o conhecimento do amor de Deus tendo inundado os nossos corações, continua a enchê-los agora, como um vale, uma vez inundado permanece cheio de água. Paulo acredita que todos os seus leitores, assim coma ele mesmo, estarão vivendo no gozo de uma forte e permanente certeza do amor de Deus para com eles.
O terceiro ponto, observe que o instilar desse conhecimento é descrito como parte do ministério normal do Espírito àqueles que O recebem – a todos, isto é, aos que nasceram de novo, todos os que crêem realmente. Seria desejável que esse aspecto de seu ministério fosse hoje mais valorizado do que realmente é. Com uma perversidade tão patética quanto empobrecedora, temo-nos preocupado hoje em dia com os ministérios extraordinários, esporádicos e restritos do Espírito, negligenciando os que são comuns e gerais. Assim, mostramos muito maior interesse pelos dons de cura e de línguas – dons dos quais, segundo Paulo, nem todos os cristãos participarão de forma alguma (1 Co 12:28-30) – do que pelo trabalho normal do Espírito de conceder paz, alegria, esperança e amor através do derramamento do conhecimento de Deus em nossos corações. Este ministério é porém muito mais importante do que o anterior. Para os coríntios, que tinham como certo que quanto mais falassem em línguas mais alegres e piedosos seriam também, Paulo teve de insistir que sem amor – santificação, semelhança com Cristo – o dom de línguas não tinha valor algum (1 Cor. 13:1).
Sem dúvida alguma ele veria motivo para tal admoestação também hoje. Será trágico se a preocupação com o reavivamento que está se manifestando presentemente em muitos lugares se desvie para o beco sem saída de um novo "corintianismo". A melhor coisa que Paulo podia desejar para os efésios, no que se refere ao Espírito, era que Ele pudesse continuar com eles o ministério de Romanos 5:5 com um poder cada vez maior, levando-os a um conhecimento mais e mais profundo de Deus em Cristo. A Edição Revista e Atualizada traduz Efésios 3:14 em diante um tanto livremente, mas apresenta muito bem a idéia. "Me ponho de joelhos diante do Pai... para que... vos conceda que sejais fortalecidos com poder, mediante o seu Espírito no homem interior... compreender com todos os santos, qual é a largura, e o comprimento, e a altura e a profundidade, e conhecer o amor de Cristo que excede todo o entendimento. . . "
Reavivamento quer dizer a ação de Deus devolvendo a uma igreja moribunda, de uma maneira fora do comum, aqueles padrões da vida e da experiência cristã que o Novo Testamento estabeleceu como sendo inteiramente normais; e uma preocupação correta com o reavivamento se expressará, não na forma de desejo ansioso de falar em línguas (pois no final das contas, não tem importância alguma o fato de falarmos línguas ou não), mas sim mediante o desejo ardente de que o Espírito possa derramar o amor de Deus em nossos corações com grande poder. Pois é com isso (ao qual um profundo interesse da alma no que diz respeito ao pecado é freqüentemente preliminar) que começa o reavivamento pessoal, e através dele o reavivamento na igreja uma vez começado é mantido.
Nosso objetivo neste capítulo é mostrar a natureza do amor divino que o Espírito derrama. Com este propósito fixamos nossa atenção na grande afirmativa de S. João de que Deus é amor: isso, em outras palavras, o amor que Ele mostra aos homens, o qual os cristãos conhecem e no qual se alegrem, é a revelação de Seu próprio ser interior. Nosso tema nos fará aprofundar no mistério da natureza de Deus, tanto quanto é possível ao homem, mais profundamente do que nossos estudos anteriores o fizeram. Quando estudamos a sabedoria de Deus vimos alguma coisa de Sua mente; quando pensamos no seu poder vimos um pouco de Sua mão e de Seu braço; quando consideramos sua palavra aprendemos algo sobre sua boca, mas agora, contemplando Seu amor, vamos ver o Seu coração. Estaremos pisando solo sagrado, precisamos a graça da reverência para que possamos pisar nele sem pecar.
II
Dois comentários gerais sobre essa afirmação de João serão úteis neste ponto.
1) "Deus é amor" não é uma verdade completa sobre Deus, no que diz respeito à Bíblia. Não é uma definição abstrata, que permanece isolada; mas, do ponto de vista do crente, a soma de tudo o que a revelação feita nas Escrituras nos fala sobre o seu Autor. Esta afirmação pressupõe todo o resto do testemunho bíblico sobre Deus. O Deus sobre o qual João está falando é o Deus que fez o mundo, que o condenou pelo Dilúvio, que chamou Abraão e fez dele uma nação, que disciplinou o Seu povo do Velho Testamento pela conquista, cativeiro e exílio, que enviou seu Filho para salvar o mundo, que afastou o Israel descrente, e pouco antes de João haver escrito havia destruído Jerusalém, e que um dia julgará o mundo com justiça. É esse Deus, diz João, que é amor. É errado citar essa afirmação de João como muitos o fazem, como que pondo em dúvida o testemunho bíblico da severidade da justiça de Deus. Não é possível argumentar que um Deus que é amor não possa também ser um Deus que condena e castiga o desobediente, pois é precisamente desse Deus que age exatamente assim, que João está falando.
Se quisermos evitar um mal-entendido a respeito da afirmação de João, devemos aceitá-la juntamente com outras duas grandes declarações com a mesma forma gramatical que encontramos em outros pontos de seus escritos. O que é interessante é que ambas partiram do próprio Cristo. A primeira está no evangelho de João. São as palavras de nosso Senhor à samaritana: "Deus é espírito" (João 4:24). ("Deus é um espírito" é uma tradução conhecida, porém incorreta.) A segunda está no começo desta mesma epístola. João a apresenta como um sumário da "mensagem que da parte dele (Jesus), temos ouvido e vos anunciamos é esta: Deus é luz" (1 João 1:5). A afirmação de que Deus é amor deve ser interpretada conforme os ensinamentos destas duas declarações e será útil fazermos agora um breve estudo das mesmas.
"Deus é espírito". Quando nosso Senhor disse isso, Ele estava procurando fazer com que a samaritana abandonasse a idéia de que havia apenas um lugar adequado para a adoração, como se Deus estivesse confinado de algum modo, a algum lugar. "Espírito" contrasta com "carne". A idéia central de Cristo era que o homem, sendo "carne" só pode estar presente em um lugar de cada vez. Deus porém, sendo "espírito", não é assim limitado. Deus não é material, não tem corpo, portanto, não fica confinado a um lugar. Assim (Cristo continua), a verdadeira condição de uma adoração aceitável não é que seus pés estejam em Jerusalém ou na Samaria, ou em qualquer outro lugar, mas o importante é que seu coração seja receptivo e responda à sua revelação. "Deus é espírito; e importa que seus adoradores o adorem em espírito e em verdade".
O primeiro dos trinta e nove artigos expressa o significado da "espiritualidade de Deus" (como dizem os livros) pela asserção bastante estranha de que Ele não tem "corpo, partes, ou paixões". Alguma coisa muito positiva é expressa por essas três negativas. Deus não tem corpo – portanto, como já dissemos, Ele está livre das limitações do espaço e da distância, e é onipresente. Deus não tem partes – isto significa que sua personalidade, poderes e qualidades estão perfeitamente integrados, assim nada dEle se altera. Com Ele "não há mudança nem sombra de variação" (Tia. 1:17). Assim, Ele é livre de todas as limitações de tempo e dos processos naturais, e permanece eternamente o mesmo. Deus não tem paixões – isto não quer dizer que Ele seja insensível (impassível) ou que não haja nada nEle que corresponda às nossas emoções e afeições, mas enquanto as paixões humanas, especialmente as dolorosas, como medo, sofrimento, arrependimento, desespero – são de algum modo passivas e involuntárias, surgindo através de circunstâncias fora de nosso controle, as atitudes correspondentes em Deus têm a natureza de uma escolha voluntária e deliberada; não sendo, portanto, absolutamente comparáveis às paixões humanas.
Assim, o amor de Deus que é espírito, não é indeciso e variável como o amor humano, nem é apenas um desejo impotente de coisas que talvez nunca venham a realizar-se; pelo contrário, trata-se de uma determinação espontânea de todo o Ser divino em uma atitude de benevolência e beneficio, uma atitude escolhida livremente e fixada com firmeza. Não há inconstância ou vicissitudes no amor do Deus Altíssimo que é espírito. Seu amor é "forte como a morte. . . as muitas águas não poderiam apagar este amor" (Cant. 8:6-7). Nada poderá separá-lo daqueles que um dia foram por ele alcançados (Rom. 8:35-9).
Mas, ficamos sabendo que o Deus que é espírito é também "luz". João fez esta afirmativa, atacando certos cristãos professos que haviam perdido o contato com as realidades morais e estavam dizendo que nada do que faziam era pecado. A intensidade das palavras de João está na frase seguinte: "e não há nele treva nenhuma". "Luz" significa santidade e pureza baseada na lei de Deus; "treva" significa perversidade moral e injustiça de acordo com a mesma lei (1 João 2:7-11; 3:10). O ponto principal das palavras de João é que apenas os que "andam na luz", procuram ser iguais a Deus em santidade e justiça, evitando tudo que não esteja de acordo com isto, gozam da companhia do Pai e do Filho; aqueles que "andam nas trevas" não importa o que digam de si mesmos são estranhos a esse relacionamento (v. 6).
Assim, o Deus que é amor é primeiro e acima de tudo luz, e quaisquer idéias sentimentais a respeito desse amor como sendo algo indulgente, de benevolente mansidão, divorciado dos padrões e idéias morais, devem ser abolidas desde o princípio. O amor de Deus é um amor santo. O Deus que Jesus tornou conhecido não é um Deus indiferente a distinções morais, mas um Deus que ama a justiça e odeia a iniqüidade, um Deus cujo ideal para seus filhos é este: "Sede vós perfeitos como vosso Pai que está nos céus é perfeito" (Mat. 5:48). Ele não aceitará em sua companhia qualquer pessoa; por mais ortodoxas que sejam as suas idéias, que não procure a santidade de vida; e aqueles a quem Ele aceitar serão sujeitos a uma disciplina drástica a fim de que possam alcançar aquilo que buscam. "Porque o senhor corrige a quem ama, e açoita a todo filho a quem recebe para aproveitamento, a fim de sermos participantes da sua santidade... ao depois, entretanto, produz (a correção) fruto pacífico aos que têm sido por ela exercitados, fruto de justiça" (Heb. 12:6-11).
O amor de Deus é inflexível, pois expressa a santidade de quem ama e procura a santidade no amado. As Escrituras não nos permitem supor que pelo fato de Deus ser amor podemos confiar que Ele fará feliz aqueles que não buscam a santidade, ou que protegerá seus amados contra problemas quando Ele sabe que precisam dessas tribulações para aperfeiçoarem a sua santificação.
Agora, entretanto, precisamos fazer um segundo comentário comparativo.
2) "Deus é amor" é a verdade completa sobre Deus no que diz respeito aos cristãos. Dizer "Deus é luz" implica em que a santidade de Deus é expressa em tudo o que Ele diz e faz. Do mesmo modo, a afirmação "Deus é amor" também significa que seu amor é encontrado em tudo o que Ele diz e faz. O conhecimento de que esta realidade é dirigida a ele pessoalmente é o supremo conforto do cristão. Como crente, descobre na cruz de Cristo a certeza de que ele, como indivíduo, é amado por Deus; "o Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou por mim" (Gál. 2:20). Sabendo disto, pode aplicar a si mesmo a promessa de que "todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito" (Rom. 8:28). Não apenas algumas coisas, note bem, mas todas as coisas! Cada pequenina coisa que acontece a ele expressa o amor de Deus e ocorre para cumprir o propósito que Deus tem para sua vida. Assim, pelo que lhe concorre, Deus é amor para ele – santo, onipotente amor – em todos os momentos e em todas as ocasiões da sua vida diária. Mesmo quando não pode ver a razão e a finalidade da ação de Deus, ele sabe que há amor nela e por trás dela, e assim pode sempre se alegrar mesmo quando, humanamente falando, as coisas vão mal. Ele sabe que a verdadeira história da sua vida, quando revelada, provará ter sido um ato de misericórdia do começo ao fim, e com isso se alegra.
III
Mas até agora simplesmente circunscrevemos o amor de Deus, mostrando em termos gerais como e quando ele opera, e isto não é suficiente. Perguntamos: o que ele é essencialmente? Como devemos defini-lo e analisá-lo? Em resposta à essas questões a Bíblia apresenta uma concepção do amor de Deus que podemos formular do seguinte modo.
O amor de Deus é o exercício da Sua bondade para com os pecadores individualmente, pelo qual, tendo Se identificado com o bem-estar deles, deu Seu Filho para ser seu Salvador, e agora os leva a conhecê-Lo e beneficiar-se dEle num relacionamento de aliança divina.
Vamos explicar as partes que constituem essa definição.
1) O amor de Deus é um exercício da sua bondade. A bondade de Deus no sentido bíblico é a sua generosidade cósmica. Bondade em Deus, escreve Berkhof, é "a perfeição em Deus que O leva a tratar generosa e gentilmente a todas as suas criaturas. É a afeição que o Criador sente pelas suas criaturas suscetíveis" (Systematic Theology, p. 70, citando Sal. 145:9; 15, 16; Luc. 6:26; At. 14:17). O amor de Deus é a manifestação suprema e mais gloriosa desta bondade. "O amor", escreve James Orr, "é geralmente aquele princípio que leva um ser moral a desejar e a se alegrar com outro, e alcança sua forma mais elevada em uma amizade pessoal na qual cada um vive na vida do outro e encontra sua alegria em se dar ao outro, recebendo de volta o extravasamento da afeição do outro em si mesmo" (Hastings Dictionary of the Bible III, 153). Assim é o amor de Deus.
2) O amor de Deus é um exercício da Sua bondade para com os pecadores. Assim sendo, tem a natureza da graça e da misericórdia. É uma emanação de Deus na forma de bondade, a qual não apenas é imerecida como também contrária a qualquer merecimento, pois os objetos do amor de Deus são criaturas racionais que quebraram a sua lei, cuja natureza é corrupta aos olhos de Deus e que merecem apenas condenação e a expulsão final de sua presença. É admirável que Deus ame aos pecadores; entretanto, a realidade é essa. Deus ama criaturas que se tornaram indignas desse amor. Não havia nada nos objetos de seu amor que pudesse merecê-lo; nada no homem poderia atrair ou induzir a esse amor. O amor entre as pessoas é despertado por alguma coisa no amado, mas o amor de Deus é livre, espontâneo, sem causa ou inspiração. Deus ama aos homens porque escolheu amá-los – como disse Carlos Wesley: "Ele nos tem amado, Ele nos tem amado, porque queria amar" (um eco de Deut. 7:8) – e nenhum motivo para seu amor pode ser dado salvo o seu soberano prazer. O mundo grego e romano do Novo Testamento jamais podia sonhar com tal amor; era freqüentemente atribuído a seus deuses o fato de cobiçarem as mulheres, mas nunca o de amarem aos pecadores; e os autores do Novo Testamento tiveram de usar uma palavra grega virtualmente nova, agape, para expressar o amor de Deus como eles o conheciam.
3) O amor de Deus é um exercício da Sua bondade para com os pecadores individualmente. Não é uma boa vontade vaga e difusa para com todos em geral e ninguém em particular; pelo contrário, sendo uma função da onisciência todo-poderosa, sua natureza é particularizar tanto os seus objetos como seus efeitos. O propósito do amor de Deus, formado antes da criação (Efés. 1:4) envolveu, primeiro, a escolha e a seleção daqueles a quem Ele abençoaria; e, segundo, uma relação dos benefícios que lhes seriam dados e os meios pelos quais esses benefícios seriam obtidos e gozados. Tudo isto foi assegurado desde o início. Assim, Paulo escreve aos cristãos tessalonicenses: "Entretanto, devemos sempre dar graças a Deus por vós, irmãos amados pelo Senhor, por isso que Deus vos escolheu (selecionou) desde o princípio (antes da criação) para a salvação (o fim determinado), pela santificação do Espírito e fé na verdade (o meio determinado)" (2 Tess. 2:13). O exercício do amor de Deus, no tempo, em relação aos pecadores, individualmente, é a execução de um propósito formado por Ele na eternidade, no sentido de abençoar esses mesmos indivíduos pecadores.
4) O amor de Deus para com os pecadores implica em Sua identificação com o bem-estar deles. Tal identificação está envolvida em toda espécie de amor; sendo, na realidade, uma prova para verificar se o amor é ou não genuíno. Se um pai continua alegre e despreocupado enquanto seu filho está atravessando dificuldades ou se um marido permanece impassível diante do desespero da esposa, ficamos duvidando de que haja realmente amor nesse relacionamento, pois sabemos que aqueles que amam de verdade só ficam felizes quando os entes queridos também estão felizes. O amor de Deus pelos homens é dessa espécie.
Em capítulos anteriores destacamos o fato do propósito de Deus em todas as coisas ser a Sua própria glória – que Ele seja manifestado –conhecido, admirado e adorado. Esta afirmação é verdadeira mas incompleta. Precisa ser equilibrada pelo reconhecimento de que pelo amor dedicado aos homens Deus voluntariamente ligou sua própria felicidade final com a deles. Não é por acaso que a Bíblia habitualmente fala de Deus como o Pai amoroso e o Esposo de seu povo. Conclui-se então que pela própria natureza deste relacionamento a felicidade de Deus não será completa enquanto seus amados não estiverem finalmente livres de dificuldades:
Até que toda a igreja de Deus resgatada
seja salva, para não mais pecar.
Deus estava feliz sem o homem antes que este fosse criado; teria continuado assim se simplesmente houvesse destruído o homem depois deste haver pecado, mas como vemos Ele dedicou seu amor a indivíduos pecadores, e isso significa que, por sua livre e espontânea vontade Ele não conhecerá felicidade pura e perfeita, novamente até que tenha levado cada um deles para o céu. Na realidade, ele resolveu que desde agora até a eternidade sua felicidade seria condicionada à nossa. Assim, Deus salva não apenas para a Sua glória, mis também para sua satisfação. Isto ajuda a explicar porque há alegria (a alegria de Deus) na presença dos anjos quando um pecador Se arrepende (Luc. 15:10), e porque haverá "grande alegria" quando Deus nos colocar imaculados na sua santa presença no último dia (Jud. 24). Essa idéia ultrapassa nosso entendimento e quase supera a crença, mas não há dúvida que, de acordo com as Escrituras, assim é o amor de Deus.
5) O amor de Deus pelos pecadores foi expresso pelo dom de Seu Filho para ser o Salvador deles. Mede-se o amor calculando quanto ele dá, e a medida do amor de Deus é a dádiva de Seu único Filho para ser feito homem e morrer pelos pecadores, e assim tornar-se o único mediador que nos pode levar a Deus. Não nos admiramos de que Paulo tenha se referido ao amor de Deus como "grande", ultrapassando o conhecimento.! (Efés. 2:4; 3:19). Será que já houve generosidade de maior preço? Paulo argumenta que este dom supremo é em si mesmo a garantia de todos os outros: "Aquele que não poupou seu próprio Filho, antes por todos nós o entregou, porventura não nos dará graciosamente com ele todas as cousas?" (Rom. 8:32).
Os escritores do Novo Testamento constantemente apontam a cruz de Cristo como a prova culminante da realidade do amor ilimitada de Deus. Assim, João, imediatamente depois de seu "Deus é amor", segue. dizendo: "Nisto se manifestou o amor de Deus em nós, em haver Deus enviado o seu Filho unigênito ao mundo para vivermos por meio dele. Nisto consiste o amor, não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou, e enviou o seu Filho como propiciação pelos nossos pecados" (1 João 4:9-10). Do mesmo modo, no seu Evangelho: "Deus amou ao mundo de tal maneira que deu seu Filho unigênito para que todo o que nele crê... tenha a vida eterna" (João 3:16). Assim também Paulo escreve: "Mas Deus prova o seu próprio amor para conosco, pelo falo de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores" (Rom. 5:8). E ele encontra a prova de que: o "Filho de Deus... me amou" no fato de que Ele "a si mesmo se entregou por mim" (Gál. 2:20).
6) O amor de Deus pelos pecadores alcança seu objetivo quando "os leva a conhecê-Lo e sentir gozo nEle numa relação de aliança". Uma relação de aliança é aquela na qual as duas partes estão permanentemente comprometidas uma com a outra em serviço mútuo e dependência (exemplo: casamento). A promessa de acordo é aquela pela qual um contrato de relacionamento é estabelecido (exemplo: os votos no casamento). A religião bíblica tem a forma de um contrato de relação com Deus. A primeira ocasião em que os termos dessa relação ficaram claros foi quando Deus mostrou-Se a Abraão como (Deus Altíssimo – Deus Todo-Poderoso) e formalmente deu-lhe o pacto da promessa "para ser o teu Deus" (Gên. 17:1-7).
Todos os cristãos, pela fé em Cristo, são herdeiros dessa promessa, como Paulo diz em Gálatas 3:15 em diante (note o verso 29). Qual é seu significado? Na verdade é um repositório de promessas, contém tudo.
"Esta é a primeira promessa e a fundamental", declara Sibbes, o Puritano, "na verdade, é a vida e a alma de todas as promessas" (Works, VI, 8).
Brooks, outro Puritano dá o seguinte esclarecimento: "... que é como se ele dissesse: Você terá uma participação tão verdadeira em todos os meus atributos, para seu benefício, como eles são meus para minha glória... Minha graça, disse Deus, será de vocês para o seu perdão e meu poder será de vocês para protegê-los e minha sabedoria será para dirigi-los, minha bondade para livrá-los e minha misericórdia para sustentá-los e minha glória será de vocês para coroá-los. Esta é uma promessa compreensível, que Deus seja nosso Deus; tudo está incluído nela. Deus meus et omnia (Deus é meu, e todas as coisas são minhas) disse Lutero" (Works, V, 308).
"Este é o verdadeiro amor para com qualquer pessoa", disse Fillotson, "fazer o melhor possível em relação a ela". Isto é o que Deus faz para com aqueles a quem ama – o melhor possível; e a medida do melhor que Deus pode fizer é a onipotência! Assim, a fé em Cristo nos leva a uma relação que abrange bênçãos incalculáveis, tanto para agora como para a eternidade.
IV
É verdade que Deus é amor para mim como cristão? E o amor de Deus é realmente tudo isso que foi dito? Se assim for, surgem algumas dúvidas.
Por que eu sempre reclamo e mostro descontentamento diante das circunstâncias das quais Deus me colocou?
Por que estou sempre desconfiado, atemorizado ou deprimido?
Por que sempre me permito ficar frio, formal, e pouco dedicado ao serviço do Deus que me ama tanto?
Por que permito que minha lealdade se divida, de modo que Deus não tem todo o meu coração?
João escreveu "Deus é amor", a fim de estabelecer um ponto de ética, "se Deus de tal maneira nos amou, devemos nós também amar uns aos outros" (1 João 4:11). Será que algum observador poderá aprender pela qualidade e intensidade de amor que eu mostro para com os outros? – Minha esposa? Meu marido? Minha família? Meus vizinhos? As pessoas da igreja? As pessoas com quem trabalho? – alguma coisa sobre a grandeza do amor de Deus por mim?
Medite sobre essas coisas. Faça uma auto-análise.
A declaração repetida duas vezes por S. João: "Deus é amor" (1 João 4:8, 16) é um dos pronunciamentos mais tremendos da Bíblia – e também um dos menos entendidos. Idéias falsas cresceram à sua volta como uma cruz de espinhos, ocultando seu significado real, e não é tarefa fácil atravessar esse aglomerado de vegetação mental. Entretanto, quanto maior a dificuldade envolvida maior será a recompensa, quando o verdadeiro sentido desses textos são captados pela alma cristã. Aqueles que sobem uma alta montanha não reclamam de seu esforço ao contemplarem o cenário que se descortina de seu topo!
Na verdade, felizes são aqueles que podem repetir com João as palavras da sentença que precede o segundo "Deus é amor", "nós conhecemos e cremos o amor que Deus nos tem" (v. 16). Conhecer o amor de Deus é na verdade o céu na terra. E o Novo Testamento mostra este conhecimento, não como um privilégio de uns poucos favorecidos, mas como uma parte normal da experiência comum do cristão, alguma coisa que só é estranha àqueles cuja espiritualidade é pouco sadia ou malformada. Quando Paulo diz: "O amor de Deus é derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi outorgado" (Rom. 5:5) ele não se refere ao amor de Deus, como pensava Agostinho, mas ao conhecimento do amor de Deus por nós. E embora nunca chegasse a conhecer pessoalmente os cristãos de Roma a quem estava escrevendo, ele tinha certeza de que a afirmação seria verdadeira para eles como o era para si mesmo.
Há três pontos nas palavras de Paulo que merecem ser comentados. Primeiro note o verbo "derramado". Seu sentido literal é "despejado". É a palavra usada no "derramamento" do Espírito Santo em Atos 2:17, 33; 10:45; Tito 3:6, sugerindo um fluxo livre e uma grande quantidade – de fato, uma inundação. Paulo não está falando de impressões vagas e indecisas, mas de coisas profundas e irresistíveis.
Em segundo lugar observe o tempo do. verbo. Está no perfeito, o que indica uma situação estabelecida como conseqüência de uma ação completada. A idéia é que o conhecimento do amor de Deus tendo inundado os nossos corações, continua a enchê-los agora, como um vale, uma vez inundado permanece cheio de água. Paulo acredita que todos os seus leitores, assim coma ele mesmo, estarão vivendo no gozo de uma forte e permanente certeza do amor de Deus para com eles.
O terceiro ponto, observe que o instilar desse conhecimento é descrito como parte do ministério normal do Espírito àqueles que O recebem – a todos, isto é, aos que nasceram de novo, todos os que crêem realmente. Seria desejável que esse aspecto de seu ministério fosse hoje mais valorizado do que realmente é. Com uma perversidade tão patética quanto empobrecedora, temo-nos preocupado hoje em dia com os ministérios extraordinários, esporádicos e restritos do Espírito, negligenciando os que são comuns e gerais. Assim, mostramos muito maior interesse pelos dons de cura e de línguas – dons dos quais, segundo Paulo, nem todos os cristãos participarão de forma alguma (1 Co 12:28-30) – do que pelo trabalho normal do Espírito de conceder paz, alegria, esperança e amor através do derramamento do conhecimento de Deus em nossos corações. Este ministério é porém muito mais importante do que o anterior. Para os coríntios, que tinham como certo que quanto mais falassem em línguas mais alegres e piedosos seriam também, Paulo teve de insistir que sem amor – santificação, semelhança com Cristo – o dom de línguas não tinha valor algum (1 Cor. 13:1).
Sem dúvida alguma ele veria motivo para tal admoestação também hoje. Será trágico se a preocupação com o reavivamento que está se manifestando presentemente em muitos lugares se desvie para o beco sem saída de um novo "corintianismo". A melhor coisa que Paulo podia desejar para os efésios, no que se refere ao Espírito, era que Ele pudesse continuar com eles o ministério de Romanos 5:5 com um poder cada vez maior, levando-os a um conhecimento mais e mais profundo de Deus em Cristo. A Edição Revista e Atualizada traduz Efésios 3:14 em diante um tanto livremente, mas apresenta muito bem a idéia. "Me ponho de joelhos diante do Pai... para que... vos conceda que sejais fortalecidos com poder, mediante o seu Espírito no homem interior... compreender com todos os santos, qual é a largura, e o comprimento, e a altura e a profundidade, e conhecer o amor de Cristo que excede todo o entendimento. . . "
Reavivamento quer dizer a ação de Deus devolvendo a uma igreja moribunda, de uma maneira fora do comum, aqueles padrões da vida e da experiência cristã que o Novo Testamento estabeleceu como sendo inteiramente normais; e uma preocupação correta com o reavivamento se expressará, não na forma de desejo ansioso de falar em línguas (pois no final das contas, não tem importância alguma o fato de falarmos línguas ou não), mas sim mediante o desejo ardente de que o Espírito possa derramar o amor de Deus em nossos corações com grande poder. Pois é com isso (ao qual um profundo interesse da alma no que diz respeito ao pecado é freqüentemente preliminar) que começa o reavivamento pessoal, e através dele o reavivamento na igreja uma vez começado é mantido.
Nosso objetivo neste capítulo é mostrar a natureza do amor divino que o Espírito derrama. Com este propósito fixamos nossa atenção na grande afirmativa de S. João de que Deus é amor: isso, em outras palavras, o amor que Ele mostra aos homens, o qual os cristãos conhecem e no qual se alegrem, é a revelação de Seu próprio ser interior. Nosso tema nos fará aprofundar no mistério da natureza de Deus, tanto quanto é possível ao homem, mais profundamente do que nossos estudos anteriores o fizeram. Quando estudamos a sabedoria de Deus vimos alguma coisa de Sua mente; quando pensamos no seu poder vimos um pouco de Sua mão e de Seu braço; quando consideramos sua palavra aprendemos algo sobre sua boca, mas agora, contemplando Seu amor, vamos ver o Seu coração. Estaremos pisando solo sagrado, precisamos a graça da reverência para que possamos pisar nele sem pecar.
II
Dois comentários gerais sobre essa afirmação de João serão úteis neste ponto.
1) "Deus é amor" não é uma verdade completa sobre Deus, no que diz respeito à Bíblia. Não é uma definição abstrata, que permanece isolada; mas, do ponto de vista do crente, a soma de tudo o que a revelação feita nas Escrituras nos fala sobre o seu Autor. Esta afirmação pressupõe todo o resto do testemunho bíblico sobre Deus. O Deus sobre o qual João está falando é o Deus que fez o mundo, que o condenou pelo Dilúvio, que chamou Abraão e fez dele uma nação, que disciplinou o Seu povo do Velho Testamento pela conquista, cativeiro e exílio, que enviou seu Filho para salvar o mundo, que afastou o Israel descrente, e pouco antes de João haver escrito havia destruído Jerusalém, e que um dia julgará o mundo com justiça. É esse Deus, diz João, que é amor. É errado citar essa afirmação de João como muitos o fazem, como que pondo em dúvida o testemunho bíblico da severidade da justiça de Deus. Não é possível argumentar que um Deus que é amor não possa também ser um Deus que condena e castiga o desobediente, pois é precisamente desse Deus que age exatamente assim, que João está falando.
Se quisermos evitar um mal-entendido a respeito da afirmação de João, devemos aceitá-la juntamente com outras duas grandes declarações com a mesma forma gramatical que encontramos em outros pontos de seus escritos. O que é interessante é que ambas partiram do próprio Cristo. A primeira está no evangelho de João. São as palavras de nosso Senhor à samaritana: "Deus é espírito" (João 4:24). ("Deus é um espírito" é uma tradução conhecida, porém incorreta.) A segunda está no começo desta mesma epístola. João a apresenta como um sumário da "mensagem que da parte dele (Jesus), temos ouvido e vos anunciamos é esta: Deus é luz" (1 João 1:5). A afirmação de que Deus é amor deve ser interpretada conforme os ensinamentos destas duas declarações e será útil fazermos agora um breve estudo das mesmas.
"Deus é espírito". Quando nosso Senhor disse isso, Ele estava procurando fazer com que a samaritana abandonasse a idéia de que havia apenas um lugar adequado para a adoração, como se Deus estivesse confinado de algum modo, a algum lugar. "Espírito" contrasta com "carne". A idéia central de Cristo era que o homem, sendo "carne" só pode estar presente em um lugar de cada vez. Deus porém, sendo "espírito", não é assim limitado. Deus não é material, não tem corpo, portanto, não fica confinado a um lugar. Assim (Cristo continua), a verdadeira condição de uma adoração aceitável não é que seus pés estejam em Jerusalém ou na Samaria, ou em qualquer outro lugar, mas o importante é que seu coração seja receptivo e responda à sua revelação. "Deus é espírito; e importa que seus adoradores o adorem em espírito e em verdade".
O primeiro dos trinta e nove artigos expressa o significado da "espiritualidade de Deus" (como dizem os livros) pela asserção bastante estranha de que Ele não tem "corpo, partes, ou paixões". Alguma coisa muito positiva é expressa por essas três negativas. Deus não tem corpo – portanto, como já dissemos, Ele está livre das limitações do espaço e da distância, e é onipresente. Deus não tem partes – isto significa que sua personalidade, poderes e qualidades estão perfeitamente integrados, assim nada dEle se altera. Com Ele "não há mudança nem sombra de variação" (Tia. 1:17). Assim, Ele é livre de todas as limitações de tempo e dos processos naturais, e permanece eternamente o mesmo. Deus não tem paixões – isto não quer dizer que Ele seja insensível (impassível) ou que não haja nada nEle que corresponda às nossas emoções e afeições, mas enquanto as paixões humanas, especialmente as dolorosas, como medo, sofrimento, arrependimento, desespero – são de algum modo passivas e involuntárias, surgindo através de circunstâncias fora de nosso controle, as atitudes correspondentes em Deus têm a natureza de uma escolha voluntária e deliberada; não sendo, portanto, absolutamente comparáveis às paixões humanas.
Assim, o amor de Deus que é espírito, não é indeciso e variável como o amor humano, nem é apenas um desejo impotente de coisas que talvez nunca venham a realizar-se; pelo contrário, trata-se de uma determinação espontânea de todo o Ser divino em uma atitude de benevolência e beneficio, uma atitude escolhida livremente e fixada com firmeza. Não há inconstância ou vicissitudes no amor do Deus Altíssimo que é espírito. Seu amor é "forte como a morte. . . as muitas águas não poderiam apagar este amor" (Cant. 8:6-7). Nada poderá separá-lo daqueles que um dia foram por ele alcançados (Rom. 8:35-9).
Mas, ficamos sabendo que o Deus que é espírito é também "luz". João fez esta afirmativa, atacando certos cristãos professos que haviam perdido o contato com as realidades morais e estavam dizendo que nada do que faziam era pecado. A intensidade das palavras de João está na frase seguinte: "e não há nele treva nenhuma". "Luz" significa santidade e pureza baseada na lei de Deus; "treva" significa perversidade moral e injustiça de acordo com a mesma lei (1 João 2:7-11; 3:10). O ponto principal das palavras de João é que apenas os que "andam na luz", procuram ser iguais a Deus em santidade e justiça, evitando tudo que não esteja de acordo com isto, gozam da companhia do Pai e do Filho; aqueles que "andam nas trevas" não importa o que digam de si mesmos são estranhos a esse relacionamento (v. 6).
Assim, o Deus que é amor é primeiro e acima de tudo luz, e quaisquer idéias sentimentais a respeito desse amor como sendo algo indulgente, de benevolente mansidão, divorciado dos padrões e idéias morais, devem ser abolidas desde o princípio. O amor de Deus é um amor santo. O Deus que Jesus tornou conhecido não é um Deus indiferente a distinções morais, mas um Deus que ama a justiça e odeia a iniqüidade, um Deus cujo ideal para seus filhos é este: "Sede vós perfeitos como vosso Pai que está nos céus é perfeito" (Mat. 5:48). Ele não aceitará em sua companhia qualquer pessoa; por mais ortodoxas que sejam as suas idéias, que não procure a santidade de vida; e aqueles a quem Ele aceitar serão sujeitos a uma disciplina drástica a fim de que possam alcançar aquilo que buscam. "Porque o senhor corrige a quem ama, e açoita a todo filho a quem recebe para aproveitamento, a fim de sermos participantes da sua santidade... ao depois, entretanto, produz (a correção) fruto pacífico aos que têm sido por ela exercitados, fruto de justiça" (Heb. 12:6-11).
O amor de Deus é inflexível, pois expressa a santidade de quem ama e procura a santidade no amado. As Escrituras não nos permitem supor que pelo fato de Deus ser amor podemos confiar que Ele fará feliz aqueles que não buscam a santidade, ou que protegerá seus amados contra problemas quando Ele sabe que precisam dessas tribulações para aperfeiçoarem a sua santificação.
Agora, entretanto, precisamos fazer um segundo comentário comparativo.
2) "Deus é amor" é a verdade completa sobre Deus no que diz respeito aos cristãos. Dizer "Deus é luz" implica em que a santidade de Deus é expressa em tudo o que Ele diz e faz. Do mesmo modo, a afirmação "Deus é amor" também significa que seu amor é encontrado em tudo o que Ele diz e faz. O conhecimento de que esta realidade é dirigida a ele pessoalmente é o supremo conforto do cristão. Como crente, descobre na cruz de Cristo a certeza de que ele, como indivíduo, é amado por Deus; "o Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou por mim" (Gál. 2:20). Sabendo disto, pode aplicar a si mesmo a promessa de que "todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito" (Rom. 8:28). Não apenas algumas coisas, note bem, mas todas as coisas! Cada pequenina coisa que acontece a ele expressa o amor de Deus e ocorre para cumprir o propósito que Deus tem para sua vida. Assim, pelo que lhe concorre, Deus é amor para ele – santo, onipotente amor – em todos os momentos e em todas as ocasiões da sua vida diária. Mesmo quando não pode ver a razão e a finalidade da ação de Deus, ele sabe que há amor nela e por trás dela, e assim pode sempre se alegrar mesmo quando, humanamente falando, as coisas vão mal. Ele sabe que a verdadeira história da sua vida, quando revelada, provará ter sido um ato de misericórdia do começo ao fim, e com isso se alegra.
III
Mas até agora simplesmente circunscrevemos o amor de Deus, mostrando em termos gerais como e quando ele opera, e isto não é suficiente. Perguntamos: o que ele é essencialmente? Como devemos defini-lo e analisá-lo? Em resposta à essas questões a Bíblia apresenta uma concepção do amor de Deus que podemos formular do seguinte modo.
O amor de Deus é o exercício da Sua bondade para com os pecadores individualmente, pelo qual, tendo Se identificado com o bem-estar deles, deu Seu Filho para ser seu Salvador, e agora os leva a conhecê-Lo e beneficiar-se dEle num relacionamento de aliança divina.
Vamos explicar as partes que constituem essa definição.
1) O amor de Deus é um exercício da sua bondade. A bondade de Deus no sentido bíblico é a sua generosidade cósmica. Bondade em Deus, escreve Berkhof, é "a perfeição em Deus que O leva a tratar generosa e gentilmente a todas as suas criaturas. É a afeição que o Criador sente pelas suas criaturas suscetíveis" (Systematic Theology, p. 70, citando Sal. 145:9; 15, 16; Luc. 6:26; At. 14:17). O amor de Deus é a manifestação suprema e mais gloriosa desta bondade. "O amor", escreve James Orr, "é geralmente aquele princípio que leva um ser moral a desejar e a se alegrar com outro, e alcança sua forma mais elevada em uma amizade pessoal na qual cada um vive na vida do outro e encontra sua alegria em se dar ao outro, recebendo de volta o extravasamento da afeição do outro em si mesmo" (Hastings Dictionary of the Bible III, 153). Assim é o amor de Deus.
2) O amor de Deus é um exercício da Sua bondade para com os pecadores. Assim sendo, tem a natureza da graça e da misericórdia. É uma emanação de Deus na forma de bondade, a qual não apenas é imerecida como também contrária a qualquer merecimento, pois os objetos do amor de Deus são criaturas racionais que quebraram a sua lei, cuja natureza é corrupta aos olhos de Deus e que merecem apenas condenação e a expulsão final de sua presença. É admirável que Deus ame aos pecadores; entretanto, a realidade é essa. Deus ama criaturas que se tornaram indignas desse amor. Não havia nada nos objetos de seu amor que pudesse merecê-lo; nada no homem poderia atrair ou induzir a esse amor. O amor entre as pessoas é despertado por alguma coisa no amado, mas o amor de Deus é livre, espontâneo, sem causa ou inspiração. Deus ama aos homens porque escolheu amá-los – como disse Carlos Wesley: "Ele nos tem amado, Ele nos tem amado, porque queria amar" (um eco de Deut. 7:8) – e nenhum motivo para seu amor pode ser dado salvo o seu soberano prazer. O mundo grego e romano do Novo Testamento jamais podia sonhar com tal amor; era freqüentemente atribuído a seus deuses o fato de cobiçarem as mulheres, mas nunca o de amarem aos pecadores; e os autores do Novo Testamento tiveram de usar uma palavra grega virtualmente nova, agape, para expressar o amor de Deus como eles o conheciam.
3) O amor de Deus é um exercício da Sua bondade para com os pecadores individualmente. Não é uma boa vontade vaga e difusa para com todos em geral e ninguém em particular; pelo contrário, sendo uma função da onisciência todo-poderosa, sua natureza é particularizar tanto os seus objetos como seus efeitos. O propósito do amor de Deus, formado antes da criação (Efés. 1:4) envolveu, primeiro, a escolha e a seleção daqueles a quem Ele abençoaria; e, segundo, uma relação dos benefícios que lhes seriam dados e os meios pelos quais esses benefícios seriam obtidos e gozados. Tudo isto foi assegurado desde o início. Assim, Paulo escreve aos cristãos tessalonicenses: "Entretanto, devemos sempre dar graças a Deus por vós, irmãos amados pelo Senhor, por isso que Deus vos escolheu (selecionou) desde o princípio (antes da criação) para a salvação (o fim determinado), pela santificação do Espírito e fé na verdade (o meio determinado)" (2 Tess. 2:13). O exercício do amor de Deus, no tempo, em relação aos pecadores, individualmente, é a execução de um propósito formado por Ele na eternidade, no sentido de abençoar esses mesmos indivíduos pecadores.
4) O amor de Deus para com os pecadores implica em Sua identificação com o bem-estar deles. Tal identificação está envolvida em toda espécie de amor; sendo, na realidade, uma prova para verificar se o amor é ou não genuíno. Se um pai continua alegre e despreocupado enquanto seu filho está atravessando dificuldades ou se um marido permanece impassível diante do desespero da esposa, ficamos duvidando de que haja realmente amor nesse relacionamento, pois sabemos que aqueles que amam de verdade só ficam felizes quando os entes queridos também estão felizes. O amor de Deus pelos homens é dessa espécie.
Em capítulos anteriores destacamos o fato do propósito de Deus em todas as coisas ser a Sua própria glória – que Ele seja manifestado –conhecido, admirado e adorado. Esta afirmação é verdadeira mas incompleta. Precisa ser equilibrada pelo reconhecimento de que pelo amor dedicado aos homens Deus voluntariamente ligou sua própria felicidade final com a deles. Não é por acaso que a Bíblia habitualmente fala de Deus como o Pai amoroso e o Esposo de seu povo. Conclui-se então que pela própria natureza deste relacionamento a felicidade de Deus não será completa enquanto seus amados não estiverem finalmente livres de dificuldades:
Até que toda a igreja de Deus resgatada
seja salva, para não mais pecar.
Deus estava feliz sem o homem antes que este fosse criado; teria continuado assim se simplesmente houvesse destruído o homem depois deste haver pecado, mas como vemos Ele dedicou seu amor a indivíduos pecadores, e isso significa que, por sua livre e espontânea vontade Ele não conhecerá felicidade pura e perfeita, novamente até que tenha levado cada um deles para o céu. Na realidade, ele resolveu que desde agora até a eternidade sua felicidade seria condicionada à nossa. Assim, Deus salva não apenas para a Sua glória, mis também para sua satisfação. Isto ajuda a explicar porque há alegria (a alegria de Deus) na presença dos anjos quando um pecador Se arrepende (Luc. 15:10), e porque haverá "grande alegria" quando Deus nos colocar imaculados na sua santa presença no último dia (Jud. 24). Essa idéia ultrapassa nosso entendimento e quase supera a crença, mas não há dúvida que, de acordo com as Escrituras, assim é o amor de Deus.
5) O amor de Deus pelos pecadores foi expresso pelo dom de Seu Filho para ser o Salvador deles. Mede-se o amor calculando quanto ele dá, e a medida do amor de Deus é a dádiva de Seu único Filho para ser feito homem e morrer pelos pecadores, e assim tornar-se o único mediador que nos pode levar a Deus. Não nos admiramos de que Paulo tenha se referido ao amor de Deus como "grande", ultrapassando o conhecimento.! (Efés. 2:4; 3:19). Será que já houve generosidade de maior preço? Paulo argumenta que este dom supremo é em si mesmo a garantia de todos os outros: "Aquele que não poupou seu próprio Filho, antes por todos nós o entregou, porventura não nos dará graciosamente com ele todas as cousas?" (Rom. 8:32).
Os escritores do Novo Testamento constantemente apontam a cruz de Cristo como a prova culminante da realidade do amor ilimitada de Deus. Assim, João, imediatamente depois de seu "Deus é amor", segue. dizendo: "Nisto se manifestou o amor de Deus em nós, em haver Deus enviado o seu Filho unigênito ao mundo para vivermos por meio dele. Nisto consiste o amor, não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou, e enviou o seu Filho como propiciação pelos nossos pecados" (1 João 4:9-10). Do mesmo modo, no seu Evangelho: "Deus amou ao mundo de tal maneira que deu seu Filho unigênito para que todo o que nele crê... tenha a vida eterna" (João 3:16). Assim também Paulo escreve: "Mas Deus prova o seu próprio amor para conosco, pelo falo de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores" (Rom. 5:8). E ele encontra a prova de que: o "Filho de Deus... me amou" no fato de que Ele "a si mesmo se entregou por mim" (Gál. 2:20).
6) O amor de Deus pelos pecadores alcança seu objetivo quando "os leva a conhecê-Lo e sentir gozo nEle numa relação de aliança". Uma relação de aliança é aquela na qual as duas partes estão permanentemente comprometidas uma com a outra em serviço mútuo e dependência (exemplo: casamento). A promessa de acordo é aquela pela qual um contrato de relacionamento é estabelecido (exemplo: os votos no casamento). A religião bíblica tem a forma de um contrato de relação com Deus. A primeira ocasião em que os termos dessa relação ficaram claros foi quando Deus mostrou-Se a Abraão como (Deus Altíssimo – Deus Todo-Poderoso) e formalmente deu-lhe o pacto da promessa "para ser o teu Deus" (Gên. 17:1-7).
Todos os cristãos, pela fé em Cristo, são herdeiros dessa promessa, como Paulo diz em Gálatas 3:15 em diante (note o verso 29). Qual é seu significado? Na verdade é um repositório de promessas, contém tudo.
"Esta é a primeira promessa e a fundamental", declara Sibbes, o Puritano, "na verdade, é a vida e a alma de todas as promessas" (Works, VI, 8).
Brooks, outro Puritano dá o seguinte esclarecimento: "... que é como se ele dissesse: Você terá uma participação tão verdadeira em todos os meus atributos, para seu benefício, como eles são meus para minha glória... Minha graça, disse Deus, será de vocês para o seu perdão e meu poder será de vocês para protegê-los e minha sabedoria será para dirigi-los, minha bondade para livrá-los e minha misericórdia para sustentá-los e minha glória será de vocês para coroá-los. Esta é uma promessa compreensível, que Deus seja nosso Deus; tudo está incluído nela. Deus meus et omnia (Deus é meu, e todas as coisas são minhas) disse Lutero" (Works, V, 308).
"Este é o verdadeiro amor para com qualquer pessoa", disse Fillotson, "fazer o melhor possível em relação a ela". Isto é o que Deus faz para com aqueles a quem ama – o melhor possível; e a medida do melhor que Deus pode fizer é a onipotência! Assim, a fé em Cristo nos leva a uma relação que abrange bênçãos incalculáveis, tanto para agora como para a eternidade.
IV
É verdade que Deus é amor para mim como cristão? E o amor de Deus é realmente tudo isso que foi dito? Se assim for, surgem algumas dúvidas.
Por que eu sempre reclamo e mostro descontentamento diante das circunstâncias das quais Deus me colocou?
Por que estou sempre desconfiado, atemorizado ou deprimido?
Por que sempre me permito ficar frio, formal, e pouco dedicado ao serviço do Deus que me ama tanto?
Por que permito que minha lealdade se divida, de modo que Deus não tem todo o meu coração?
João escreveu "Deus é amor", a fim de estabelecer um ponto de ética, "se Deus de tal maneira nos amou, devemos nós também amar uns aos outros" (1 João 4:11). Será que algum observador poderá aprender pela qualidade e intensidade de amor que eu mostro para com os outros? – Minha esposa? Meu marido? Minha família? Meus vizinhos? As pessoas da igreja? As pessoas com quem trabalho? – alguma coisa sobre a grandeza do amor de Deus por mim?
Medite sobre essas coisas. Faça uma auto-análise.
A TUA PALAVRA É A VERDADE
I
Dois fatos sobre o Jeová Triúno são sugeridos, senão realmente afirmados, em todas as passagens bíblicas. O primeiro é que Ele é rei-monarca absoluto do Universo, dirigindo todas as suas atividades, realizando a sua vontade em tudo o que acontece dentro dele. O segundo é que Ele fala – preferindo palavras que expressam Sua vontade a fim de que esta seja realizada. O primeiro tema sobre o governo de Deus foi abordado em capítulos anteriores. É o segundo tema, a Palavra de Deus que nos interessa agora. O estudo do segundo tema fará com que aumente nossa compreensão do primeiro, pois assim como as relações de Deus com seu mundo devem ser entendidas em termos de Sua soberania, do mesmo modo Sua soberania deve ser entendida em termos do que a Bíblia nos diz a respeito de Sua Palavra.
Um governante absoluto, tal como o foram todos os reis do mundo antigo, no curso normal dos acontecimentos, falará regularmente em dois níveis e por duas razões. Por um lado Ele decretará regulamentos e leis que determinarão diretamente o ambiente – judicial, fiscal e cultural – dentro do qual Seus súditos deverão viver daí em diante. Por outro lado, fará discursos públicos, a fim de estabelecer, tanto quanto possível, uma ligação pessoal entre a Sua pessoa e a de Seus súditos, e para extrair deles o máximo apoio e cooperação para tudo o que está fazendo. A Bíblia apresenta a Palavra de Deus como tendo um caráter duplo semelhante a esse. Deus é o rei; nós, suas criaturas, somos seus súditos. Sua palavra se refere tanto às coisas que nos rodeiam como diretamente a nós; Deus fala para determinar nosso ambiente e para atrair nossas mentes e corações.
Na primeira associação, que é a esfera da criação e da providência, a palavra de Deus toma a forma de uma ordem soberana: "Façamos. . .". Na última conexão, a esfera na qual a palavra de Deus é endereçada a nós pessoalmente, a palavra toma a forma de um "" real (a palavra hebraica traduzida por "lei" no nosso Velho Testamento, que na realidade implica em "instrução" em todas as suas múltiplas formas).
A de Deus, o rei, tem três características: parte dela é lei (no sentido mais rígido de ordens ou proibições, com as sanções incluídas); outra parte é promessa (favorável ou desfavorável, condicional ou incondicional); outra ainda é testemunho (informações dadas por Deus sobre Ele mesmo, sobre os homens e seus respectivos atos, objetivos, natureza e perspectivas).
A palavra que Deus nos dirige diretamente (como uma fala real, apenas com muito mais valor) é um instrumento, não apenas de governo mas também de comunhão; pois,, embora Deus seja um grande rei, não é seu desejo viver distante de seus súditos. Muito pelo contrário, Ele nos criou com a intenção. de que pudéssemos andar juntos para sempre em um relacionamento amistoso. Mas tal relacionamento só pode existir quando as partes envolvidas se conhecem mutuamente. Deus, nosso Criador, sabe tudo a nosso respeito antes que digamos qualquer coisa (Sal. 139:1-4), mas nós não poderemos saber nada a seu respeito a menos que Ele nos diga. Aqui está, portanto, uma outra razão para Deus falar conosco: não apenas para levar-nos a fazer o que Ele quer, mas para que possamos conhecê-Lo e assim amá-lo. Deus, portanto, envia-nos Sua palavra tanto no caráter de informação como de convite. Ela vem não só para nos persuadir como para nos instruir; ela não apenas nos fez ver o que Deus tem feito e está ainda fazendo, mas também nos chama à comunhão pessoal com o próprio Senhor que nos ama.
II
Encontramos a palavra de Deus em suas várias relações nos três primeiros capítulos da Bíblia. Veja primeiro a história da Criação em Gênesis 1. Parte do propósito deste capítulo é nos assegurar que cada item daquilo que nos rodeia foi colocado ali por Deus. O primeiro versículo apresenta o tema que será exposto no resto do capítulo - "No princípio, criou Deus os céus e a terra". O segundo verso apresenta a situação em termos tais que é mostrada uma análise detalhada da ação de Deus; é uma situação na qual a Terra era vazia, sem vida, escura e totalmente coberta de água. Então o versículo 3 nos diz como Deus falou no meio desse caos e esterilidade. "E Deus disse, Haja luz", e o que aconteceu? Imediatamente "houve luz". Mais sete vezes (v. 6, 9, 11, 14, 20, 24, 26) a palavra criadora de Deus "haja..." foi pronunciada, e passo a passo as coisas começaram a ser feitas e ordenadas. O dia e a noite (v. 5), o céu e o mar (v. 6), o mar e a terra (v. 9) foram separados; a vegetação verde (v. 12), os corpos celestes (v. 14), peixes e aves (v. 20), insetos e animais (v. 24) e finalmente o homem (v. 26) apareceram. Tudo foi feito pela palavra de Deus (Sal. 33:6,9; Heb. 11:3; 2 Ped. 3:5).
A história agora atinge outro estágio. Deus fala com o homem e com a mulher que Ele havia feito. "Deus lhes disse. . ." (v. 28). Aqui Deus está se dirigindo diretamente ao homem; assim começou a amizade entre Deus e o homem. Note as mudanças que vão ocorrendo nas ordens de Deus ao homem durante a historia. A primeira palavra de Deus a Adão e a Eva foi de comando, ordenando-lhes que cumprissem a vocação da humanidade de dirigir a ordem criada. "Sede fecundos. . . e dominai. . ." (v.28). Segue depois uma palavra de testemunho ("Eis v. 29) no qual Deus explica que toda a vegetação, colheita e frutos foram feitos para a alimentação do homem e dos animais. A seguir encontramos urna proibição com a penalidade anexa: "da árvore do conhecimento do bem e do mal, não comerás; porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás" (2:17). Finalmente, depois da queda, Deus se aproxima de Adão e Eva e lhes fala outra vez, e agora suas palavras são de promessa, tanto favorável como desfavorável – pois enquanto por um lado diz que a semente da mulher esmagará a cabeça da serpente, por outro determina o sofrimento de Eva na parto, o trabalho frustrante de Adão, e morte certa para ambos (vs. 15-20).
Aqui, no espaço destes três curtos capítulos vemos a palavra de Deus em todas as relações nas quais ela se coloca para o mundo e para o homem dentro dele – determinando por um lado as circunstâncias e o ambiente do homem, do outro ordenando que o homem obedeça, apelando para sua confiança e abrindo a ele a mente do Criador. No resto da Bíblia vemos muitas novas ordenanças de Deus, mas nenhuma outra categoria de relacionamento entre a palavra de Deus e suas criaturas. Em vez disso, a apresentação da palavra de Deus em Gênesis 1-3 é reiterada e confirmada.
Assim, se por um lado a Bíblia toda insiste que todas as circunstâncias e acontecimentos do mundo são determinados pela palavra de Deus, o onipotente "Haja..." do Criador, as Escrituras descrevem tudo o que acontece como o cumprimento da palavra de Deus, desde a mudança do tempo (Sal. 147:15-18; 148:8) até o erguimento e a queda das nações. O fato de que a Palavra de Deus realmente determina os acontecimentos do mundo foi a primeira lição que Ele ensinou a Jeremias quando o chamou para ser profeta. "Olha," disse-lhe Deus, "olha que hoje te constituo sobre as nações, e sobre os reinos, para arrancares, e para derrubares, e para destruíres e para arruinares; e também pala edificares e para plantares" (Jer. 1:10)
Mas como poderia ser isso? O chamado de Jeremias não era para ser um diplomata ou um potentado, mas para ser um profeta, um mensageiro de Deus (v. 7). Como poderia um homem sem nenhuma posição oficial, cujo único trabalho seria falar, ser descrito como o juiz das nações indicado por Deus? Apenas porque tinha em sua boca a palavra de Deus (v. 9), e todas as palavras que Deus havia dado a ele para que falasse sobre o destino das nações seriam certamente cumpridas. Para que isso ficasse bem fixado na mente de Jeremias Deus lhe proporcionou sua primeira visão. "Que vês tu Jeremias?" "Vejo uma vara de amendoeira" () ... "Viste bem: porque eu velo () sobre a minha palavra para a cumprir" (Jer. 1:11).
Através de Isaías Deus proclama a mesma verdade desta forma: "Porque assim como descem a chuva e a neve dos céus, e para lá não tornam, sem que primeiro reguem a terra e a fecundem, e a façam brotar... assim será a palavra que sair da minha boca; não voltará para mim vazia, mas fará o que me apraz. . . " (Isa. 55:10-11). A Bíblia toda mantém esta afirmação que a palavra de Deus é seu instrumento executivo em todos os assuntos humanos. A respeito dEle e de ninguém mais, é verdade que o que Ele diz acontece. Na verdade, é a palavra de Deus que governa o mundo e que fixa o nosso destino.
Por outro lado a Bíblia consistentemente apresenta a palavra de Deus vindo a nós das três maneiras em que foi usada no jardim do Éden. Às vezes nos chega como lei – no Sinai, em diversos sermões dos profetas e em muitos ensinamentos de Cristo e na ordem evangélica para o arrependimento (At. 17:30) e para crer no Senhor Jesus Cristo (1 João 3:23). Às vezes ela nos vem como promessa – como na promessa da posteridade na aliança feita com Abraão (Gên. 15:5; 17:1), a promessa de redenção no Egito (Êxo. 3:7), a promessa do Messias (Isa. 9:6; 11:1) e do reino de Deus (Dan. 2:44; 7:13) e no Novo Testamento promessas da justificação, da ressurreição e glorificação para os crentes.
Às vezes ela vem como testemunho – a instrução divina a respeito dos fatos da fé e dos princípios de piedade na forma de narração histórica, argumento teológico, salmodia e sabedoria. O fato do chamado da palavra de Deus ser para nós absoluto é sempre ressaltado: a palavra é para ser recebida, devemos ter confiança nela e obedecê-la porque é a palavra de Deus, o Rei. A essência da impiedade é a obstinação orgulhosa deste "povo maligno, que se recusa a ouvir as minhas palavras" (Jer. 13:10). Por outro. lado a marca da verdadeira humildade e piedade é que o homem "treme da minha palavra" (Isa. 66:2).
III
Mas o que a palavra de Deus requer de nós não depende apenas de nosso relacionamento com Ele como criaturas e súditos. Devemos crer e obedecer, não apenas porque Ele nos diz que o façamos, mas também e primeiramente por ser uma palavra. verdadeira. Seu autor é o ''Deus da verdade" (Sal. 31:5; Isa. 65:16), " grande em fidelidade" (Êxo. 34:6); Sua "fidelidade – se eleva – para além das nuvens" (Sal. 108:4; 57:10), isto é, ela é universal e ilimitada. Portanto sua "palavra é a verdade" (João 17:17). "As tuas palavras são em tudo verdade desde o princípio" (Sal. 119:160). "Tu mesmo és Deus e as tuas palavras são verdade" (2 Sam. 7:28).
A verdade na Bíblia é primariamente uma qualidade de pessoas e só em segundo lugar de proposições: isso significa estabilidade, confiança, firmeza, fidelidade, a qualidade de uma pessoa que é inteiramente consistente, sincera, realista e não se deixa enganar. Deus é tal pessoa. A verdade, neste sentido, é sua natureza, e não há nEle possibilidade de ser qualquer outra coisa. Por isso é que Ele não pode mentir (Tito 1:2; Núm. 23:19; 1 Sam. 15:29; Heb. 6:18). É por isso, que suas palavras para nós são verdadeiras e não podem ser outra coisa senão a verdade. Elas são o índice da realidade: mostram-nos as coisas como realmente são, e como serão para nós no futuro de acordo com a atenção que dermos ou não à palavra de Deus.
Vamos estudar um pouco mais esse assunto em duas associações:
1) As ordens de Deus são verdadeiras.
''Todos os teus mandamentos são verdade" (Sal. 119:151). Por que serão eles descritos dessa forma? Primeiro porque têm estabilidade e permanência como que mostrando o que Deus quer ver nas vidas humanas em qualquer época; segundo, porque nos falam da verdade imutável sobre a nossa própria natureza. Pois isto é parte do propósito da lei de Deus; ela nos dá uma definição prática da verdadeira humanidade. Mostra-nos a finalidade da vida do homem, e nos ensina como ser verdadeiramente humanos, advertindo contra a autodestruição moral. Este é um assunto de grande importância e que necessita ser grandemente considerado nos dias atuais.
Estamos familiarizados com a idéia de que nossos corpos são como máquinas, precisando seguir uma rotina determinada de alimentação, repouso e exercício se quisermos que funcione eficientemente, estando sujeito a perder sua capacidade de funcionamento saudável quando abastecido com o combustível errado: álcool, venenos, drogas, e vindo finalmente a "engripar" de vez na morte física. O que temos talvez mais dificuldade para entender é que Deus quer que pensemos em nossas almas de modo semelhante. Como pessoas racionais, fomos feitos de modo a ter a imagem moral de Deus, isto é, nossas almas foram feitas para "funcionar" praticando a adoração, observando as leis, a fidelidade, a honestidade, a disciplina, o autocontrole, e para servir a Deus e a nosso próximo. Se abandonarmos essas práticas, não apenas seremos culpados diante de Deus, mas também, progressivamente, destruiremos nossas almas. A consciência se atrofia, o senso de vergonha desaparece, nossa capacidade de fidelidade, lealdade e honestidade é destruída e o caráter da pessoa se desintegra. Tornamo-nos não apenas desesperadamente miseráveis, mas vamos sendo gradualmente desumanizados. Este é um aspecto da morte espiritual.
Richard Baxter estava certo ao formular a alternativa, como "Um Santo – ou um Bruto": essa, em análise final, é a única escolha; e todos, cedo ou tarde, consciente ou inconscientemente, optarão por uma ou por outra alternativa. Hoje em dia, algumas pessoas sustentarão, em nome do humanismo, que a moralidade sexual 'puritana" da Bíblia é prejudicial para se alcançar a verdadeira maturidade humana, e que um pouco mais de liberdade torna a vida mais rica. O nome exato para essa ideologia, na nossa opinião, não é Humanismo, mas Brutismo. A lassidão sexual não o tornará mais homem, mas pelo contrário, menos homem; ela o brutalizará e sua alma será partida em pedaços. A mesma coisa acontece sempre que qualquer mandamento de Deus é desrespeitado. Viveremos vidas realmente humanas apenas enquanto estivermos nos esforçando para guardar os mandamentos de Deus, não há outro modo.
2) As promessas de Deus tão verdadeiras: pois Ele as cumpre.
"Quem fez a promessa é fiel" (Heb. 10:23). A Bíblia proclama em termos superlativos a fidelidade de Deus. "Até às nuvens (chega) a tua fidelidade" (Sal. 36:5); "a tua fidelidade estende-se de geração em geração" (Sal. 119:90); "Grande é a tua fidelidade" (Lam. 3:23). Como a fidelidade de Deus se apresenta? Pelo infalível cumprimento de suas promessas. Ele é um Deus que mantém a aliança; Ele nunca engana aqueles que confiam na sua palavra. Abraão provou a fidelidade de Deus, esperando por um quarto de século, com idade avançada, pelo nascimento de seu herdeiro prometido, e milhões mais têm provado isso desde então.
Nos dias em que a Bíblia era universalmente reconhecida nas igrejas como "A Palavra escrita de Deus", ficava claramente entendido que as promessas de Deus registradas nas Escrituras eram a base própria, dada por Deus, para tola a nossa vida de fé. E o modo de fortalecer a fé era se concentrar em determinadas promessas que se aplicavam às condições do indivíduo.
Samuel Clark, um moderno puritano, na introdução de Suas Promessas das Escrituras; ou a Herança Cristã, Uma coleção de Promessas das Escrituras classificadas por assunto, escreveu:
"Uma atenção fixa e constante às promessas e uma crença firme nelas evitará os cuidados e a ansiedade quanto aos problemas desta vida. Ela manterá a mente calma e composta em qualquer mudança e sustentará e impedirá que nosso espírito soçobre sob as diversas dificuldades da vida... Os cristãos negam a si mesmos os mais sólidos confortos pela sua descrença e esquecimento das promessas de Deus. Pois não há situação tão desesperadora para a qual não exista uma promessa adequada a ela e perfeitamente capaz de nos trazer alívio.
"Um conhecimento total das promessas seria de grande vantagem para a oração. Com que segurança o cristão pode dirigir-se a Deus em Cristo quando considera as repetidas afirmações de que suas preces serão ouvidas! Com que alegria pode apresentar os desejos de seu coração quando se lembra dos textos onde é prometida a misericórdia! E com que fervor de espírito e grande fé pode reforçar suas orações apoiando-se nas promessas feitas graciosamente e que se aplicam a seu caso!"
Estas coisas costumavam ser entendidas, mas a teologia liberal, com sua recusa em identificar as Escrituras escritas com a palavra de Deus, tem-nos privado largamente do hábito da meditação sobre as promessas, e de basear nelas as nossas orações, aventurando-nos pela fé na nossa vida diária até onde as promessas nos levarão. As pessoas hoje em dia zombam das caixinhas de promessa que nossos avós usavam, mas esta não é uma atitude sábia; as caixas de promessas podem ter sido usadas de modo errado, mas a abordagem das Escrituras e da oração que elas expressavam estava certa. Isto é alguma coisa que perdemos e devemos recuperar.
IV
O que é um cristão? Ele pode ser descrito de muitos ângulos, mas partindo-se do que dissemos é claro que resumiremos tudo ao dizer: é uma pessoa que conhece e vive sob a palavra de Deus. É alguém que se submete sem reservas à palavra de Deus escrita na "escritura da verdade" (Dan. 10:21), crendo nos ensinamentos, confiando nas promessas, seguindo os mandamentos. Seus olhos vêem o Deus da Bíblia como seu Pai, e o Cristo da Bíblia como seu Salvador. Se você lhe perguntar ele dirá que a palavra de Deus o convenceu de seu pecado e também lhe deu a garantia do perdão. Sua consciência, como a de Lutero, é cativa da palavra de Deus, e ele aspira como o Salmista pautar sua vida de acordo com ela. "Oxalá sejam firmes os meus passos para que eu observe os teus preceitos; não me deixes fugir aos teus mandamentos." "Ensina-me os teus decretos, faze-me atinar com o caminho dos teus preceitos." "Inclina o meu coração aos teus testemunhos." "Seja o meu coração irrepreensível nos teus decretos." (Sal. 119:5, 10, 26, 27, 36, 50).
As promessas estão diante dele enquanto ora e os preceitos estão à sua frente quando se move. entre os homens. Ele sabe que além da palavra de Deus dirigida diretamente a ele através das Escrituras, essa mesma palavra também foi proferida a fim de criar, controlar e ordenar as coisas que o rodeiam; mas como as Escrituras lhe dizem que todas as coisas contribuem juntamente para o seu bem, a idéia de Deus ordenando todas as circunstâncias só lhe traz alegria. Ele é uma pessoa independente, pois usa a palavra de Deus como uma pedra de toque pela qual testa as diversas idéias que lhe são apresentadas e não aceitará coisa alguma sem ter certeza da aprovação das Escrituras.
Por que esta descrição se aplica a tão poucos de nós que professamos ser cristãos hoje em dia? Você terá grande proveito se fizer esta pergunta à sua consciência e deixar que ela lhe fale.
Dois fatos sobre o Jeová Triúno são sugeridos, senão realmente afirmados, em todas as passagens bíblicas. O primeiro é que Ele é rei-monarca absoluto do Universo, dirigindo todas as suas atividades, realizando a sua vontade em tudo o que acontece dentro dele. O segundo é que Ele fala – preferindo palavras que expressam Sua vontade a fim de que esta seja realizada. O primeiro tema sobre o governo de Deus foi abordado em capítulos anteriores. É o segundo tema, a Palavra de Deus que nos interessa agora. O estudo do segundo tema fará com que aumente nossa compreensão do primeiro, pois assim como as relações de Deus com seu mundo devem ser entendidas em termos de Sua soberania, do mesmo modo Sua soberania deve ser entendida em termos do que a Bíblia nos diz a respeito de Sua Palavra.
Um governante absoluto, tal como o foram todos os reis do mundo antigo, no curso normal dos acontecimentos, falará regularmente em dois níveis e por duas razões. Por um lado Ele decretará regulamentos e leis que determinarão diretamente o ambiente – judicial, fiscal e cultural – dentro do qual Seus súditos deverão viver daí em diante. Por outro lado, fará discursos públicos, a fim de estabelecer, tanto quanto possível, uma ligação pessoal entre a Sua pessoa e a de Seus súditos, e para extrair deles o máximo apoio e cooperação para tudo o que está fazendo. A Bíblia apresenta a Palavra de Deus como tendo um caráter duplo semelhante a esse. Deus é o rei; nós, suas criaturas, somos seus súditos. Sua palavra se refere tanto às coisas que nos rodeiam como diretamente a nós; Deus fala para determinar nosso ambiente e para atrair nossas mentes e corações.
Na primeira associação, que é a esfera da criação e da providência, a palavra de Deus toma a forma de uma ordem soberana: "Façamos. . .". Na última conexão, a esfera na qual a palavra de Deus é endereçada a nós pessoalmente, a palavra toma a forma de um "" real (a palavra hebraica traduzida por "lei" no nosso Velho Testamento, que na realidade implica em "instrução" em todas as suas múltiplas formas).
A de Deus, o rei, tem três características: parte dela é lei (no sentido mais rígido de ordens ou proibições, com as sanções incluídas); outra parte é promessa (favorável ou desfavorável, condicional ou incondicional); outra ainda é testemunho (informações dadas por Deus sobre Ele mesmo, sobre os homens e seus respectivos atos, objetivos, natureza e perspectivas).
A palavra que Deus nos dirige diretamente (como uma fala real, apenas com muito mais valor) é um instrumento, não apenas de governo mas também de comunhão; pois,, embora Deus seja um grande rei, não é seu desejo viver distante de seus súditos. Muito pelo contrário, Ele nos criou com a intenção. de que pudéssemos andar juntos para sempre em um relacionamento amistoso. Mas tal relacionamento só pode existir quando as partes envolvidas se conhecem mutuamente. Deus, nosso Criador, sabe tudo a nosso respeito antes que digamos qualquer coisa (Sal. 139:1-4), mas nós não poderemos saber nada a seu respeito a menos que Ele nos diga. Aqui está, portanto, uma outra razão para Deus falar conosco: não apenas para levar-nos a fazer o que Ele quer, mas para que possamos conhecê-Lo e assim amá-lo. Deus, portanto, envia-nos Sua palavra tanto no caráter de informação como de convite. Ela vem não só para nos persuadir como para nos instruir; ela não apenas nos fez ver o que Deus tem feito e está ainda fazendo, mas também nos chama à comunhão pessoal com o próprio Senhor que nos ama.
II
Encontramos a palavra de Deus em suas várias relações nos três primeiros capítulos da Bíblia. Veja primeiro a história da Criação em Gênesis 1. Parte do propósito deste capítulo é nos assegurar que cada item daquilo que nos rodeia foi colocado ali por Deus. O primeiro versículo apresenta o tema que será exposto no resto do capítulo - "No princípio, criou Deus os céus e a terra". O segundo verso apresenta a situação em termos tais que é mostrada uma análise detalhada da ação de Deus; é uma situação na qual a Terra era vazia, sem vida, escura e totalmente coberta de água. Então o versículo 3 nos diz como Deus falou no meio desse caos e esterilidade. "E Deus disse, Haja luz", e o que aconteceu? Imediatamente "houve luz". Mais sete vezes (v. 6, 9, 11, 14, 20, 24, 26) a palavra criadora de Deus "haja..." foi pronunciada, e passo a passo as coisas começaram a ser feitas e ordenadas. O dia e a noite (v. 5), o céu e o mar (v. 6), o mar e a terra (v. 9) foram separados; a vegetação verde (v. 12), os corpos celestes (v. 14), peixes e aves (v. 20), insetos e animais (v. 24) e finalmente o homem (v. 26) apareceram. Tudo foi feito pela palavra de Deus (Sal. 33:6,9; Heb. 11:3; 2 Ped. 3:5).
A história agora atinge outro estágio. Deus fala com o homem e com a mulher que Ele havia feito. "Deus lhes disse. . ." (v. 28). Aqui Deus está se dirigindo diretamente ao homem; assim começou a amizade entre Deus e o homem. Note as mudanças que vão ocorrendo nas ordens de Deus ao homem durante a historia. A primeira palavra de Deus a Adão e a Eva foi de comando, ordenando-lhes que cumprissem a vocação da humanidade de dirigir a ordem criada. "Sede fecundos. . . e dominai. . ." (v.28). Segue depois uma palavra de testemunho ("Eis v. 29) no qual Deus explica que toda a vegetação, colheita e frutos foram feitos para a alimentação do homem e dos animais. A seguir encontramos urna proibição com a penalidade anexa: "da árvore do conhecimento do bem e do mal, não comerás; porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás" (2:17). Finalmente, depois da queda, Deus se aproxima de Adão e Eva e lhes fala outra vez, e agora suas palavras são de promessa, tanto favorável como desfavorável – pois enquanto por um lado diz que a semente da mulher esmagará a cabeça da serpente, por outro determina o sofrimento de Eva na parto, o trabalho frustrante de Adão, e morte certa para ambos (vs. 15-20).
Aqui, no espaço destes três curtos capítulos vemos a palavra de Deus em todas as relações nas quais ela se coloca para o mundo e para o homem dentro dele – determinando por um lado as circunstâncias e o ambiente do homem, do outro ordenando que o homem obedeça, apelando para sua confiança e abrindo a ele a mente do Criador. No resto da Bíblia vemos muitas novas ordenanças de Deus, mas nenhuma outra categoria de relacionamento entre a palavra de Deus e suas criaturas. Em vez disso, a apresentação da palavra de Deus em Gênesis 1-3 é reiterada e confirmada.
Assim, se por um lado a Bíblia toda insiste que todas as circunstâncias e acontecimentos do mundo são determinados pela palavra de Deus, o onipotente "Haja..." do Criador, as Escrituras descrevem tudo o que acontece como o cumprimento da palavra de Deus, desde a mudança do tempo (Sal. 147:15-18; 148:8) até o erguimento e a queda das nações. O fato de que a Palavra de Deus realmente determina os acontecimentos do mundo foi a primeira lição que Ele ensinou a Jeremias quando o chamou para ser profeta. "Olha," disse-lhe Deus, "olha que hoje te constituo sobre as nações, e sobre os reinos, para arrancares, e para derrubares, e para destruíres e para arruinares; e também pala edificares e para plantares" (Jer. 1:10)
Mas como poderia ser isso? O chamado de Jeremias não era para ser um diplomata ou um potentado, mas para ser um profeta, um mensageiro de Deus (v. 7). Como poderia um homem sem nenhuma posição oficial, cujo único trabalho seria falar, ser descrito como o juiz das nações indicado por Deus? Apenas porque tinha em sua boca a palavra de Deus (v. 9), e todas as palavras que Deus havia dado a ele para que falasse sobre o destino das nações seriam certamente cumpridas. Para que isso ficasse bem fixado na mente de Jeremias Deus lhe proporcionou sua primeira visão. "Que vês tu Jeremias?" "Vejo uma vara de amendoeira" () ... "Viste bem: porque eu velo () sobre a minha palavra para a cumprir" (Jer. 1:11).
Através de Isaías Deus proclama a mesma verdade desta forma: "Porque assim como descem a chuva e a neve dos céus, e para lá não tornam, sem que primeiro reguem a terra e a fecundem, e a façam brotar... assim será a palavra que sair da minha boca; não voltará para mim vazia, mas fará o que me apraz. . . " (Isa. 55:10-11). A Bíblia toda mantém esta afirmação que a palavra de Deus é seu instrumento executivo em todos os assuntos humanos. A respeito dEle e de ninguém mais, é verdade que o que Ele diz acontece. Na verdade, é a palavra de Deus que governa o mundo e que fixa o nosso destino.
Por outro lado a Bíblia consistentemente apresenta a palavra de Deus vindo a nós das três maneiras em que foi usada no jardim do Éden. Às vezes nos chega como lei – no Sinai, em diversos sermões dos profetas e em muitos ensinamentos de Cristo e na ordem evangélica para o arrependimento (At. 17:30) e para crer no Senhor Jesus Cristo (1 João 3:23). Às vezes ela nos vem como promessa – como na promessa da posteridade na aliança feita com Abraão (Gên. 15:5; 17:1), a promessa de redenção no Egito (Êxo. 3:7), a promessa do Messias (Isa. 9:6; 11:1) e do reino de Deus (Dan. 2:44; 7:13) e no Novo Testamento promessas da justificação, da ressurreição e glorificação para os crentes.
Às vezes ela vem como testemunho – a instrução divina a respeito dos fatos da fé e dos princípios de piedade na forma de narração histórica, argumento teológico, salmodia e sabedoria. O fato do chamado da palavra de Deus ser para nós absoluto é sempre ressaltado: a palavra é para ser recebida, devemos ter confiança nela e obedecê-la porque é a palavra de Deus, o Rei. A essência da impiedade é a obstinação orgulhosa deste "povo maligno, que se recusa a ouvir as minhas palavras" (Jer. 13:10). Por outro. lado a marca da verdadeira humildade e piedade é que o homem "treme da minha palavra" (Isa. 66:2).
III
Mas o que a palavra de Deus requer de nós não depende apenas de nosso relacionamento com Ele como criaturas e súditos. Devemos crer e obedecer, não apenas porque Ele nos diz que o façamos, mas também e primeiramente por ser uma palavra. verdadeira. Seu autor é o ''Deus da verdade" (Sal. 31:5; Isa. 65:16), " grande em fidelidade" (Êxo. 34:6); Sua "fidelidade – se eleva – para além das nuvens" (Sal. 108:4; 57:10), isto é, ela é universal e ilimitada. Portanto sua "palavra é a verdade" (João 17:17). "As tuas palavras são em tudo verdade desde o princípio" (Sal. 119:160). "Tu mesmo és Deus e as tuas palavras são verdade" (2 Sam. 7:28).
A verdade na Bíblia é primariamente uma qualidade de pessoas e só em segundo lugar de proposições: isso significa estabilidade, confiança, firmeza, fidelidade, a qualidade de uma pessoa que é inteiramente consistente, sincera, realista e não se deixa enganar. Deus é tal pessoa. A verdade, neste sentido, é sua natureza, e não há nEle possibilidade de ser qualquer outra coisa. Por isso é que Ele não pode mentir (Tito 1:2; Núm. 23:19; 1 Sam. 15:29; Heb. 6:18). É por isso, que suas palavras para nós são verdadeiras e não podem ser outra coisa senão a verdade. Elas são o índice da realidade: mostram-nos as coisas como realmente são, e como serão para nós no futuro de acordo com a atenção que dermos ou não à palavra de Deus.
Vamos estudar um pouco mais esse assunto em duas associações:
1) As ordens de Deus são verdadeiras.
''Todos os teus mandamentos são verdade" (Sal. 119:151). Por que serão eles descritos dessa forma? Primeiro porque têm estabilidade e permanência como que mostrando o que Deus quer ver nas vidas humanas em qualquer época; segundo, porque nos falam da verdade imutável sobre a nossa própria natureza. Pois isto é parte do propósito da lei de Deus; ela nos dá uma definição prática da verdadeira humanidade. Mostra-nos a finalidade da vida do homem, e nos ensina como ser verdadeiramente humanos, advertindo contra a autodestruição moral. Este é um assunto de grande importância e que necessita ser grandemente considerado nos dias atuais.
Estamos familiarizados com a idéia de que nossos corpos são como máquinas, precisando seguir uma rotina determinada de alimentação, repouso e exercício se quisermos que funcione eficientemente, estando sujeito a perder sua capacidade de funcionamento saudável quando abastecido com o combustível errado: álcool, venenos, drogas, e vindo finalmente a "engripar" de vez na morte física. O que temos talvez mais dificuldade para entender é que Deus quer que pensemos em nossas almas de modo semelhante. Como pessoas racionais, fomos feitos de modo a ter a imagem moral de Deus, isto é, nossas almas foram feitas para "funcionar" praticando a adoração, observando as leis, a fidelidade, a honestidade, a disciplina, o autocontrole, e para servir a Deus e a nosso próximo. Se abandonarmos essas práticas, não apenas seremos culpados diante de Deus, mas também, progressivamente, destruiremos nossas almas. A consciência se atrofia, o senso de vergonha desaparece, nossa capacidade de fidelidade, lealdade e honestidade é destruída e o caráter da pessoa se desintegra. Tornamo-nos não apenas desesperadamente miseráveis, mas vamos sendo gradualmente desumanizados. Este é um aspecto da morte espiritual.
Richard Baxter estava certo ao formular a alternativa, como "Um Santo – ou um Bruto": essa, em análise final, é a única escolha; e todos, cedo ou tarde, consciente ou inconscientemente, optarão por uma ou por outra alternativa. Hoje em dia, algumas pessoas sustentarão, em nome do humanismo, que a moralidade sexual 'puritana" da Bíblia é prejudicial para se alcançar a verdadeira maturidade humana, e que um pouco mais de liberdade torna a vida mais rica. O nome exato para essa ideologia, na nossa opinião, não é Humanismo, mas Brutismo. A lassidão sexual não o tornará mais homem, mas pelo contrário, menos homem; ela o brutalizará e sua alma será partida em pedaços. A mesma coisa acontece sempre que qualquer mandamento de Deus é desrespeitado. Viveremos vidas realmente humanas apenas enquanto estivermos nos esforçando para guardar os mandamentos de Deus, não há outro modo.
2) As promessas de Deus tão verdadeiras: pois Ele as cumpre.
"Quem fez a promessa é fiel" (Heb. 10:23). A Bíblia proclama em termos superlativos a fidelidade de Deus. "Até às nuvens (chega) a tua fidelidade" (Sal. 36:5); "a tua fidelidade estende-se de geração em geração" (Sal. 119:90); "Grande é a tua fidelidade" (Lam. 3:23). Como a fidelidade de Deus se apresenta? Pelo infalível cumprimento de suas promessas. Ele é um Deus que mantém a aliança; Ele nunca engana aqueles que confiam na sua palavra. Abraão provou a fidelidade de Deus, esperando por um quarto de século, com idade avançada, pelo nascimento de seu herdeiro prometido, e milhões mais têm provado isso desde então.
Nos dias em que a Bíblia era universalmente reconhecida nas igrejas como "A Palavra escrita de Deus", ficava claramente entendido que as promessas de Deus registradas nas Escrituras eram a base própria, dada por Deus, para tola a nossa vida de fé. E o modo de fortalecer a fé era se concentrar em determinadas promessas que se aplicavam às condições do indivíduo.
Samuel Clark, um moderno puritano, na introdução de Suas Promessas das Escrituras; ou a Herança Cristã, Uma coleção de Promessas das Escrituras classificadas por assunto, escreveu:
"Uma atenção fixa e constante às promessas e uma crença firme nelas evitará os cuidados e a ansiedade quanto aos problemas desta vida. Ela manterá a mente calma e composta em qualquer mudança e sustentará e impedirá que nosso espírito soçobre sob as diversas dificuldades da vida... Os cristãos negam a si mesmos os mais sólidos confortos pela sua descrença e esquecimento das promessas de Deus. Pois não há situação tão desesperadora para a qual não exista uma promessa adequada a ela e perfeitamente capaz de nos trazer alívio.
"Um conhecimento total das promessas seria de grande vantagem para a oração. Com que segurança o cristão pode dirigir-se a Deus em Cristo quando considera as repetidas afirmações de que suas preces serão ouvidas! Com que alegria pode apresentar os desejos de seu coração quando se lembra dos textos onde é prometida a misericórdia! E com que fervor de espírito e grande fé pode reforçar suas orações apoiando-se nas promessas feitas graciosamente e que se aplicam a seu caso!"
Estas coisas costumavam ser entendidas, mas a teologia liberal, com sua recusa em identificar as Escrituras escritas com a palavra de Deus, tem-nos privado largamente do hábito da meditação sobre as promessas, e de basear nelas as nossas orações, aventurando-nos pela fé na nossa vida diária até onde as promessas nos levarão. As pessoas hoje em dia zombam das caixinhas de promessa que nossos avós usavam, mas esta não é uma atitude sábia; as caixas de promessas podem ter sido usadas de modo errado, mas a abordagem das Escrituras e da oração que elas expressavam estava certa. Isto é alguma coisa que perdemos e devemos recuperar.
IV
O que é um cristão? Ele pode ser descrito de muitos ângulos, mas partindo-se do que dissemos é claro que resumiremos tudo ao dizer: é uma pessoa que conhece e vive sob a palavra de Deus. É alguém que se submete sem reservas à palavra de Deus escrita na "escritura da verdade" (Dan. 10:21), crendo nos ensinamentos, confiando nas promessas, seguindo os mandamentos. Seus olhos vêem o Deus da Bíblia como seu Pai, e o Cristo da Bíblia como seu Salvador. Se você lhe perguntar ele dirá que a palavra de Deus o convenceu de seu pecado e também lhe deu a garantia do perdão. Sua consciência, como a de Lutero, é cativa da palavra de Deus, e ele aspira como o Salmista pautar sua vida de acordo com ela. "Oxalá sejam firmes os meus passos para que eu observe os teus preceitos; não me deixes fugir aos teus mandamentos." "Ensina-me os teus decretos, faze-me atinar com o caminho dos teus preceitos." "Inclina o meu coração aos teus testemunhos." "Seja o meu coração irrepreensível nos teus decretos." (Sal. 119:5, 10, 26, 27, 36, 50).
As promessas estão diante dele enquanto ora e os preceitos estão à sua frente quando se move. entre os homens. Ele sabe que além da palavra de Deus dirigida diretamente a ele através das Escrituras, essa mesma palavra também foi proferida a fim de criar, controlar e ordenar as coisas que o rodeiam; mas como as Escrituras lhe dizem que todas as coisas contribuem juntamente para o seu bem, a idéia de Deus ordenando todas as circunstâncias só lhe traz alegria. Ele é uma pessoa independente, pois usa a palavra de Deus como uma pedra de toque pela qual testa as diversas idéias que lhe são apresentadas e não aceitará coisa alguma sem ter certeza da aprovação das Escrituras.
Por que esta descrição se aplica a tão poucos de nós que professamos ser cristãos hoje em dia? Você terá grande proveito se fizer esta pergunta à sua consciência e deixar que ela lhe fale.
Assinar:
Comentários (Atom)