sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

SE ALGUÉM ESTÁ EM CRISTO É UMA NOVA CRIAÇÃO

O leitor deverá ter percebido que o título acima é na verdade uma parte das palavras de Paulo em 2 Coríntios 5.17, "E, assim, se alguém está em Cristo, é nova criatura; as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram nova" (ARA). Preferi traduzir a palavra ktisis como "criação" e não como "criatura" pelos seguintes motivos: (1) Das 19 vezes que a palavra ktisis ocorre no Novo Testamento, a grande maioria é traduzida por "criação" (cf. Mc 10.6; 13.19; Rm 1.20; 8.19-22; Cl 1.15, entre outros), embora em alguns casos a tradução "criatura" seja possível. (2) Algumas das traduções mais respeitadas internacionalmente preferem também "criação" em vez de "criatura", como a RSV e a NVI. (3) "Criação" expressa melhor o sentido do que Paulo deseja dizer em 2 Co 5.17. Seu ponto não é a transformação psicológica e espiritual que acontece com uma pessoa que está em Cristo (como na tradução da BLH, é uma nova pessoa"), mas sua participação na nova criação que já foi iniciada por Deus em Cristo. O contraste coisas "antigas" e "novas" não é um contraste entre o tempo antes e depois da conversão da pessoa a Cristo, mas entre o período antes e depois da vinda de Cristo, entre a velha era e a nova. As palavras de Paulo devem ser entendidas, não psicologicamente, mas escatologicamente, em termos do seu ensino sobre o raiar da nova era em Cristo, do início da nova criação em Cristo, da qual ele é o primogênito.(44) Já tratamos acima acerca do ensino paulino sobre as duas eras. Evidentemente esse conceito abrange o outro, de que a pessoa se torna uma nova pessoa interiormente, mas aponta para ainda outras características da obra de Cristo em favor da Sua igreja.

Entendido dessa perspectiva o verso está dizendo que se alguém está em Cristo ele faz parte da nova criação, da nova humanidade cujo cabeça é Cristo, e desfruta de todos os privilégios desse novo status. Outras passagens do Novo Testamento nos completam o quadro: quem está em Cristo goza aqui e agora da presença do Espírito Santo como penhor do que ainda há por vir (Ef 1.14); experimenta o gozo e os poderes do mundo vindouro (Hb 6.4-5); compartilha da natureza de Cristo como primícia da ressurreição ainda por ocorrer; já tem a vida eterna que significa conhecer a Deus e ao Seu Filho Jesus Cristo (Jo 17.1-3); desfruta de um novo coração (Sl 51.10; Ez 11.19; 36.26; Jo 3.3; Gl 6.15); foi liberto do domínio do pecado e da lei (Rm 6.1-14; 7.1-6); é guiado pelo Espírito de Deus (Rm 8.1-17).

As Escrituras enfatizam especialmente a nova relação que aquele que está em Cristo mantém com Deus. Antigamente era filho da ira, dominado pelo mundo, pela carne e pelo diabo e debaixo do juízo de Deus (Ef 2.1-3); agora, foi perdoado e aceito por Deus, adotado como filho em Cristo; já nenhuma condenação existe contra ele (Rm 8.1). Ele não mais pertence a esse mundo que se desfaz, mas à época vindoura que já raiou no presente. Assim, Satanás já não tem mais qualquer autoridade ou direito sobre ele, apesar de ainda tentá-lo ao pecado. Nas palavras do apóstolo João, "o maligno não lhe toca" (1 Jo 5.18).

Basta um estudo simples nas Escrituras, da linguagem usada para descrever nossa redenção, para que não fique qualquer dúvida de que o crente, à semelhança de um escravo exposto à venda na praça, foi comprado por preço, e que, agora, passa a pertencer totalmente ao novo dono. O antigo patrão não tem mais qualquer direito sobre ele, como rezava a legislação romana da época. Assim, Paulo diz que fomos comprados por preço (1 Co 6.20; agorazo, "comprar, redimir, pagar um resgate para libertá-lo"), e que sendo agora livres, não devemos nos deixar outra vez escravizar (1 Co 7.23). Fomos resgatados (lutrow) pelo precioso sangue de Cristo (1 Pe 1.18; cf. Ap 5.9).

O ensino bíblico acerca da relação que o crente desfruta com Deus precisa ser enfatizado em nossos dias, particularmente as suas implicações. A julgar por muito do que é dito por defensores do movimento de "batalha espiritual" quanto
à atuação e ao poder dos espíritos malignos na vida dos crentes, falta-lhes uma visão e uma compreensão mais exata quanto ao ensino do Novo Testamento sobre o ser nova criatura, ou melhor, nova criação bem como quanto às implicações desse ensino para a "batalha espiritual". Há pelo menos dois ensinamentos da "batalha espiritual" que acabam por minimizar a eficácia da obra de Cristo, que são: a demonização de crentes verdadeiros e a necessidade de quebrar maldições.

Primeiro, vejamos o conceito de que crentes verdadeiros podem ser demonizados. Ela tem se tornado tão popular, que muitos artigos de revistas teológicas especializadas em aconselhamento, ao tratar das características da demonização, não fazem qualquer distinção entre crentes e descrentes.(45) Mas, o que é "demonização"? É importante entendermos bem o que querem dizer quando empregam esse termo. Há quatro coisas que definem bem esse conceito:

Demonização é diferente de possessão demoníaca. Frank Peretti, pastor licenciado da Assembléia de Deus e autor do best seller de 1998 Esse Mundo Tenebroso, um cristão não pode ficar possuído por um demônio, mas pode ser "demonizado".(46) Não somente Peretti, mas muitos líderes do movimento de "batalha espiritual" seguem a mesma distinção, como por exemplo, no Brasil, Gilberto Pickering. Em seu livro Guerra Espiritual ele acusa os tradutores da versão King James de terem colocado a Igreja na direção errada ao traduzir o termo grego daimonizomai e seus cognatos por "possessão demoníaca", tradução também adotada pela Almeida.(47) A expressão "possessão demoníaca" e mesmo "endemoninhamento", segundo Pickering, implica na posse por parte de Satanás da vida e do destino de uma pessoa.(48) Nesse caso, só há duas opções: ou alguém está possuído por um espírito maligno, ou não está.

Demonização é um fenômeno parcial. O ponto defendido é que existem graus diferentes em que uma pessoa — mesmo um crente — está debaixo do controle e influência de Satanás. Daí a preferência pela tradução "demonizado"
ou "endemoninhado", pois expressa a idéia de que uma pessoa, mesmo um crente, pode ter alguma área de sua vida debaixo do controle parcial de um ou mais demônios, sem necessariamente estar "possesso" por eles. Powlison, em sua crítica à "batalha espiritual", descreve este conceito fazendo um paralelo entre a personalidade humana infestada em diversas áreas por demônios e o disco rígido de um computador, onde determinadas áreas estão infectadas com um ou mais vírus.(49)

Portanto, muitos defensores da "batalha espiritual" negariam que um crente pode ficar possesso de um espírito imundo, mas afirmam que ele pode ficar "demonizado", isto é, com alguma área de sua vida debaixo do controle de um ou mais demônios.(50) Na verdade, vão ao ponto de dizer que não existe "possessão demoníaca" nem mesmo de incrédulos — o que há é "demonização".(51) Portanto, a explicação que dão para um comportamento moral ilícito é de que os demônios do pecado estão entrincheirados no coração
humano.

A demonização ocorre por causas bem definidas. Aparentemente, eles entendem que a "demonização" é uma influência maligna na vida de uma pessoa, superior à daquela da tentação, em que um ou mais demônios vêm habitar na pessoa, fazendo-a ficar confusa, incrédula, e especialmente escravizada a determinados hábitos pecaminosos. A pessoa cai vítima desta opressão demoníaca por causa de seus pecados, ou por causa dos pecados de outros contra ela, como por exemplo, a molestação sexual durante a infância.(52) A "demonização" de um crente verdadeiro pode ocorrer ainda por vários outros motivos: o pecado de seus antepassados, ódio, amargura e rebelião durante a infância, pecados sexuais, maldições e pragas rogadas por outros, e envolvimento com o ocultismo.(53) Tais coisas dão autoridade aos demônios para invadi-las. O mesmo ocorre por causa de maldições hereditárias. Qualquer que seja a causa, os demônios invadem a vida das pessoas e nelas habitam. No caso dos crentes, eles permanecem em constante conflito com o Espírito Santo, que também habita nos crentes.(54) Segundo alguns, estes demônios invasores podem ficar habitando no corpo ou na alma do crente.(55)

Demonização e vida em pecado andam juntas. O efeito da demonização de crentes ou descrentes, segundo Murphy, é uma vida em pecado, geralmente nas áreas de práticas sexuais ilícitas, ódio, mágoa, rancor, rebelião, sensação de culpa, rejeição e vergonha, atração ao ocultismo e ao mundo dos espíritos.(56) Segundo Murphy, o processo de demonização de um crente é geralmente o seguinte: o primeiro demônio invade a sua vida, e abre as portas para que outros venham. Se não forem detectados e expulsos, permanecerão lá, habitando no crente, e gradativamente ganharão controle sobre as sua emoções, até finalmente atingirem o centro de sua personalidade. Crentes demonizados não poderão prosseguir sozinhos na vida cristã; precisam de ajuda de alguém que expulse estas entidades de suas vidas.(57) Embora o conceito de "demonização" seja uma ótima explicação para os hábitos pecaminosos que escravizam muitos crentes, ele esbarra em algumas dificuldades exegéticas e teológicas. Há pelo menos quatro delas que podemos
mencionar.

O problema é mais que uma questão de tradução. Mudar a tradução de daimonizomai ("possessão demoníaca") para "demonização" não resolve o problema levantado pela sugestão de que crentes verdadeiros podem se tornar escravos de demônios, mesmo que seja em apenas algumas áreas morais da sua vida. Embora o último termo traduza de forma mais literal a expressão bíblica, o primeiro expressa melhor o seu sentido. Alguém "demonizado" está debaixo do controle de um demônio. Existe alguma área de sua vida — ou sua vida toda — que está possuída por aquela entidade. É este o sentido da expressão.

Nos casos mencionados nos Evangelhos e Atos, os endemoninhados estavam afligidos por distúrbios, quer mentais ou físicos (paralisia, cegueira, surdez, epilepsia, loucura, cf. Mt 4.24; 8.28; 9.23; 12.22; 15.22). Seus corpos e mentes
haviam sido invadidos por demônios. A causa nunca é citada no Novo Testamento. O efeito é que tais pessoas estavam debaixo do controle destes seres, que não somente as afligiam, mas as haviam privado da razão, às vezes da saúde e do controle físico.

Nos Evangelhos, as atitudes e reações das pessoas "demonizadas" são atribuídas aos demônios que as invadiram, ver Mc 3.11; Mt 8.31; Mc 1.26; Lc 4.35; At 5.16; et al. Portanto, não é de se admirar que os tradutores, quase que universalmente, tem traduzido o verbo daimonizomai indicando possessão demoníaca. É que se trata da invasão de demônios na vida, no corpo, na mente e na personalidade das pessoas, chegando ao ponto de escravizá-lo a certos pecados e atitudes. Admitir que um crente esteja "demonizado" é admitir que ele está debaixo do controle de Satanás, cativo à sua vontade, impelido a estas atitudes compulsivas. E portanto, mesmo que a terminologia foi trocada, permanece a questão se um crente pode ter demônios habitando em seu corpo, o qual é igualmente habitado pelo Espírito Santo.(58) O conceito agride textos claros quanto aos privilégios dos crentes. A questão é realmente aguda, pois a Escritura ensina que o crente está assentado com Cristo nos lugares celestiais, acima de todos os principados e potestades (Ef 1.2122). O crente está em Cristo, e Cristo nada tem a ver com o maligno (Jo 14.30). E, naturalmente, o diabo não toca os que são de Cristo (1 Jo 5.18), pois o que está no crente (o Espírito Santo) é maior que os espíritos malignos que habitam neste mundo (1 Jo 4.4).

O pecado é atribuído à natureza decaída do homem. Os demônios denominados pela "batalha espiritual" como sendo demônios da lascívia, do ódio, da ira, da vingança, da embriagues, da inveja, e assim por diante, não aparecem no Novo Testamento. Estas coisas são, na verdade, as obras da carne mencionadas por Paulo em Gálatas 5.19-21. A solução para estes pecados não é expulsar demônios que supostamente os produzem, mas arrependimento, confissão, e santificação. O conceito de "crente demonizado", na realidade, em vez de produzir a mortificação da nossa natureza pecaminosa como as Escrituras determinam (Cl 3.8; Rm 8.13), fornece uma desculpa e uma racionalização para o pecado, as quais a nossa natureza pecaminosa sempre é rápida em usar.

Falta comprovação bíblica da demonização de crentes. Além disto, falta a necessária comprovação bíblica de que podemos e devemos expulsar demônios da vida de crentes verdadeiros. Jesus nunca expulsou demônios de quem era seu discípulo — Maria Madalena, de quem Jesus expulsou sete espíritos malignos, certamente se converteu naquela ocasião (Lc 8.2). Os apóstolos, igualmente, nunca expulsaram demônios de crentes das igrejas locais. O Novo Testamento é absolutamente silencioso a este respeito; silencia igualmente quanto às causas que levaram determinadas pessoas a ficarem endemoninhadas. O Novo Testamento apenas descreve o encontro de Jesus e dos apóstolos com pessoas endemoninhadas, mas em nenhum caso revela como o endemoninhamento aconteceu, se foi por causa de pecados pessoais, pelos pecados de outros, por maldições hereditárias, ou qualquer outros dos motivos alegados pelos proponentes da "batalha espiritual". Não devemos tentar satisfazer a nossa curiosidade baseados em especulações e experiências pessoais.

Segundo, a quebra de maldições. Esse ensinamento característico da "batalha espiritual" tende igualmente a minimizar a perfeição e a eficácia da obra de Cristo na vida do crente. Podemos resumir esse conceito em quatro pontos.

Os filhos pagam pelos erros dos pais. Os pecados, vícios, e pactos demoníacos feitos pelos antepassados de um crente afetam negativamente a sua existência presente. Maldições hereditárias são aquelas que herdamos dos
nossos pais e antepassados em decorrência desses erros que eles cometeram.

Este conceito procura basear-se em Êxodo 20.5, onde Deus afirma que castiga a maldade dos pais nos filhos até a terceira e quarta geração.

A transmissão genética de demônios. Autores como Rodovalho chegam a sugerir que os espíritos "familiares" passam dos pais para os filhos através dos genes.(59) Dessa forma, eles se perpetuam na família geração após geração. Isso explicaria porque determinadas famílias sofrem de pecados ou tragédias características em suas linhagens. Por exemplo, famílias que através dos séculos são marcadas por casos e mais casos de suicídios são vítimas de um "espírito familiar" de suicídio, que entrou na linhagem por algum motivo e só sairá com a quebra da maldição e a reparação do pecado que lhe deu a oportunidade.

O poder abençoador e amaldiçoador das palavras. As pragas, maldições ou palavras más proferidas diretamente contra nós no presente também têm o poder de nos tornar infelizes, de perturbar nossas vidas. Maldições podem incluir frases dos nossos pais como "menino, vai para o diabo que te carregue!". Através delas, os demônios recebem autoridade para entrar em nossas vidas e torná-las em miséria, dor e sofrimento.

A necessidade de quebrar essas maldições. Mesmo um verdadeiro crente pode deixar de alcançar a plena felicidade nesse mundo caso esteja "amaldiçoado", isso é, debaixo de alguma maldição. Caso não as quebre, padecerá nas mãos dos demônios, que recebem poder para atormentá-lo através delas. O processo consiste em localizar e identificar estas maldições, e anulá-las "em nome de Jesus". A "quebra" destas maldições o caminho para a libertação.(60) No caso de maldições hereditárias, alguns aconselham que se trace a árvore genealógica da nossa família, procurando identificar as pragas, maldições, pecados e pactos com demônios feitos por eles no passado, para depois anulá-los, quebrando-os e rejeitando-os em nome de Jesus.(61)

É verdade que podemos experimentar as conseqüências dos erros da nossa família. Também é verdade que as palavras podem ser usadas para destruir vidas. É igualmente verdadeiro que devemos rejeitar todas as obras das trevas, cuidar das nossas palavras e não sermos coniventes com os pecados de nossos antepassados e parentes ao nosso redor. Contudo, o ensino de "quebra de maldições" vai muito além disso. Existem quatro críticas que podemos fazer a ele.

Uso parcial da evidência bíblica. Geralmente o texto usado para defender o conceito de que os filhos pagam pelos erros dos pais é Êxodo 20.5, onde Deus ameaça visitar a maldade dos pais nos filhos, até a terceira e quarta geração dos que o aborrecem.

Entretanto, ensinar que Deus faz cair sobre os filhos as conseqüências dos pecados dos pais, é só metade da verdade. A Escritura nos diz igualmente que se um filho de pai idólatra e adúltero vir as obras más de seu pai, temer a Deus, e andar em Seus caminhos, nada do que o pai fez virá cair sobre ele. A conversão e o arrependimento individuais "quebram", na existência das pessoas, a "maldição hereditária" (um efeito somente possível por causa da obra de Cristo). Este foi o ponto enfatizado pelo profeta Ezequiel em sua pregação ao povo de Israel da época (leia cuidadosamente Ezequiel 18). A nação de Israel havia sido levada em cativeiro para a Babilônia, e os judeus cativos se queixavam de Deus dizendo "Os pais comeram uvas verdes, e os dentes dos filhos é que se embotaram. . ." (Ez 18.2b) — ou seja, "nossos pais pecaram, e nós é que sofremos as conseqüências". Eles estavam transferindo para seus pais a responsabilidade pelo castigo divino que lhes sobreveio, que foi o desterro para a terra dos caldeus. Achavam que era injusto que estivessem pagando pelo pecado de idolatria dos seus pais. Usavam um provérbio da época, que nos nossos dias seria mais ou menos assim: "Nossos pais comeram a feijoada, mas nós é que tivemos a dor de barriga. . ."

Através do profeta Ezequiel, Deus os repreendeu, afirmando que a responsabilidade moral é pessoal e individual diante dele: "A pessoa que pecar, é ela quem morrerá — não o seu pai ou a sua mãe" (Ez 18.4b, 20). E que pela conversão e por uma vida reta, o indivíduo está livre da "maldição" dos pecados de seus antepassados, ver 18.14-19. Esta passagem é muito importante, pois nos mostra de que maneira o próprio Deus interpreta (através de Ezequiel) o significado de Êxodo 20.5. Aplicando aos nossos dias, fica evidente que o crente verdadeiro já rompeu com seu passado, e com as implicações espirituais dos pecados dos seus antepassados, quando, arrependido, veio a Cristo em fé.

Minimizaçao dos efeitos da obra de Cristo. Esse é a nossa maior preocupação. O apóstolo Paulo nos esclarece que o escrito de dívida que nos era contrário, a maldição da lei, foi tornado sem qualquer efeito sobre nós: Jesus o anulou na cruz (Cl 2.13-15; Gl 3.13). Ou seja, toda e qualquer condenação que pesava sobre nós foi removida completamente quando Cristo pagou, de forma suficiente e eficaz, nossa culpa diante de Deus. Ora, se a obra de Cristo no Calvário em nosso favor foi poderosa o suficiente para remover de sobre nós a própria maldição da santa lei de Deus, quanto mais qualquer coisa que poderia ser usada por Satanás para reivindicar direitos sobre nós, inclusive pactos feitos com entidades malignas, por nós, ou por nossos pais, na nossa ignorância.

Basta um estudo simples nas Escrituras, da linguagem usada para descrever nossa redenção, para que não fique qualquer dúvida de que o crente, à semelhança de um escravo exposto à venda na praça, foi comprado por preço, e que, agora, passa a pertencer totalmente ao seu novo senhor. O antigo patrão não tem mais qualquer direito sobre ele, como rezava a legislação romana da época. Assim, Paulo diz que fomos comprados por preço (1 Co 6.20; agorazw, comprar, redimir, pagar um resgate — termo usado para o ato de comprar um escravo na praça, ou pagar seu resgate para libertá-lo), e que sendo agora livres, não devemos nos deixar outra vez escravizar (1 Co 7.23). Fomos resgatados (lutrow) pelo precioso sangue de Cristo (1 Pe 1.18; cf. Ap 5.9). Quando vivemos à luz da gloriosa verdade de que "se alguém está em Cristo é nova criação" não tememos pragas, maldições, encostos, mau-olhado, "olho gordo", despachos, trabalhos. Igualmente vivemos seguros de que não somos "amaldiçoados" por qualquer dos pecados de nossos pais: tudo foi anulado na cruz. Não estou dizendo que os verdadeiros cristãos gozam de uma imunidade automática quanto à influência de espíritos malignos. É preciso revestir-se da força do Senhor e de toda armadura de Deus para que possam resistir às astutas ciladas do diabo.(62) Meu objetivo foi deixar clara a importância de abraçarmos o ensino correto sobre a situação daquele que está em Cristo. Saber o que isso significa nos dará o parâmetros corretos para avaliarmos os freqüentes relatos de experiências estranhas que ouvimos de evangélicos ao nosso redor, que parecem minimizar ou diminuir a suficiência da obra de Cristo em favor dos que são seus.


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