sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

O HOMEM É UM SER DECAÍDO E DEBAIXO DO JUSTO JUÍZO DE DEUS

Um terceiro princípio fundamental para colocarmos o assunto de "batalha espiritual" na perspectiva correta é lembrarmos do verdadeiro estado da humanidade diante de Deus. Creio que na raiz de uma demonologia defeituosa e inadequada, como a abraçada pelo moderno movimento de "batalha espiritual", encontra-se uma visão incorreta acerca da extensão dos efeitos do pecado na natureza humana e do estado do homem diante de Deus. Em outras palavras, falta o conceito bíblico de que o homem é um ser decaído moral e espiritualmente e debaixo do justo juízo divino.

Uma das grandes disputas durante a Reforma protestante versou sobre a natureza e a extensão do pecado original. Ele afetou Adão somente, ou todo o gênero humano? A vontade do homem decaído é ainda livre ou escravizada ao pecado? No século V Pelágio havia debatido ferozmente com Agostinho sobre este assunto. Agostinho mantinha que o pecado original de Adão foi herdado por toda a humanidade e que, mesmo que o homem caído retenha a habilidade para escolher, ele está escravizado ao pecado e "não pode não pecar". Por outro lado, Pelágio insistia que a queda de Adão afetara apenas a Adão, e que se Deus exige das pessoas que vivam vidas perfeitas, Ele também dá a habilidade moral para que elas possam fazer assim. Ele reivindicou mais adiante que a graça divina era desnecessária para salvação, embora facilitasse a obediência.

Agostinho teve sucesso refutando Pelágio, mas o pelagianismo não morreu. Várias formas de pelagianismo recorreram periodicamente através dos séculos.
Lutero escreveu um livro "A Escravidão da Vontade" em resposta a uma diatribe de Erasmo, onde o mesmo defendia conceitos pelagianos. Lutero acreditava que Erasmo era "um inimigo de Deus e da religião Cristã" por causa do ensino dele sobre o pecado original.(34)

Embora nem sempre houvesse total concordância entre os cristãos, o ensino defendido por Agostinho, Calvino, Lutero, puritanos e teólogos reformados mais modernos, representou durante muito tempo o pensamento da maioria dos evangélicos. Atualmente, conceitos bastante similares aos de Pelágio parece terem conseguido prevalecer entre os protestantes de maneira geral. Mas, a teologia reformada continuando afirmando que o pecado de Adão trouxe gravíssimas conseqüências aos seus descendentes. As duas principais são essas, como se segue:

A corrupção da natureza humana. Com esse termo se queria indicar a degeneração, perversão, depravação ou decadência espiritual e moral à qual a
raça humana ficou sujeita após o pecado de seus primeiros pais, Adão e Eva. O pecado maculou a personalidade humana de tal maneira, que o homem é mais inclinado a praticar o mal que o bem. O primeiro casal, criado puro e inocente, após experimentar o pecado, já exibia sinais da corrupção interior: cada um tentou justificar seu erro colocando a culpa no outro e afinal em Deus (Gn 3.1013). Depois disso, a história de seus descendentes é uma triste história de violência (Gn 4.8), poligamia (Gn 4.19), soberba e vingança (Gn 4.23) e imoralidade (Gn 13.13; 18.20-21). Apesar de ainda existir algum bem nesse mundo (e isso somente pela graça de Deus), as pessoas sempre estão pensando em fazer coisas erradas (Gn 6.5). A descrição dada pelo salmista é estarrecedora:

Todos se tornaram imorais e fazem coisas horríveis; não há uma só pessoa que faça o bem... todos se desviaram do caminho certo e são igualmente maus. Não há mais ninguém que faça o que é direito, não há ninguém mesmo (Sl 14.1-3, BLH).

O Senhor Jesus, ao explicar de que forma o homem se torna verdadeiramente impuro, apontou para o coração do homem como a fonte de toda sorte de impureza moral e espiritual:

É do coração que vêm os maus pensamentos que levam ao crime, ao adultério e às outras coisas imorais. São os maus pensamentos que levam também a pessoa a roubar, mentir e caluniar. São essas coisas que fazem alguém ficar impuro (Mt 15.19-20, BLH).

Semelhantemente, o apóstolo Paulo escrevendo aos Romanos, e desejando mostrar que todos, sem exceção, são naturalmente corrompidos e inclinados ao mal, cita em série várias passagens do Antigo Testamento como prova da depravação total do homem:

Não há ninguém justo, ninguém que tenha juízo; não há quem adore a Deus. Todos se desviaram do caminho certo, todos se perderam. Não há mais ninguém que faça o bem, não há ninguém mesmo. Mentem e enganam sem parar. Mentiras perversas saem de suas línguas, e palavras de morte, como veneno de cobra, saem de seus lábios. As suas bocas estão cheias de terríveis
maldições. Eles têm pressa de ferir e de matar. Por onde passam, deixam a destruição e a desgraça. Não conhecem o caminho da paz e não aprenderam a
temer a Deus (Rm 3.10-18, BLH).(35)

Essas passagens da Bíblia são suficientes para demonstrar o nosso ponto (ainda outras poderiam ser acrescentadas). Basta uma consulta sincera à nossa consciência, aliada a um exame da história humana e a uma olhada ao nosso redor para verificarmos que a Bíblia diagnostica de forma exata a situação da raça humana. Mesmo quem não abraça o ensino bíblico sobre a corrupção inata ao ser humano, não pode deixar de perceber como ela macula todas as instituições sociais. Escreveu Shakespeare:

Ah, se as propriedades, títulos e cargos. Não fossem fruto da corrupção! e se as altas honrarias Se adquirissem só pelo mérito de quem as detém! Quantos, então, não estariam hoje melhor do que estão? Quantos, que comandam, não estariam entre os comandados?(36)

Existem algumas ressalvas importantes a serem feitas para evitarmos uma falsa compreensão desse ensinamento. Segue-se quatro delas.

A queda do homem não contradiz a presença do bem nele. Quando dizemos que a depravação é total não estamos com isso querendo dizer que nunca ninguém tem pensamentos bons ou faz coisas certas. "Não há depravação, por absoluta que seja, que não traga, em seu aspecto exterior, algum traço de virtude".(37) O termo total aponta para o fato de que o pecado penetrou em todas as faculdades do homem e as contaminou, como pensamentos, emoções, vontade. Também indica que essa contaminação é de tal forma que, se deixado entregue à si mesmo, o homem seguirá naturalmente caminhos que o desviam de Deus e o levam cada vez mais ao pecado.

A queda do homem não contradiz a presença do bem no mundo. É preciso ressalvar que o ensino reformado da total depravação do homem não ignora a realidade óbvia de que há pessoas nesse mundo que fazem obras de caridade, que demonstram sentimentos de misericórdia e compaixão, e que são capazes de sacrifícios os mais heróicos e altruístas por causas humanitárias e nobres. Apenas atribui tais atos, não à natureza do homem em si, mas ao que denomina de a graça comum de Deus. Com isso os reformados designam aquelas operações graciosas e soberanas da providência de Deus, pelo Seu Espírito, na humanidade em geral, restringindo as corrupções e as tendências malignas dos corações e promovendo atitudes de misericórdia, independentemente das crenças religiosas das pessoas, com o objetivo de preservar por mais um tempo o convívio humano, a existência da sociedade e a sobrevivência da raça humana. Dessa forma, se por um lado a humanidade é totalmente inclinada a fazer coisas erradas, por outro, é levada (na maioria das vezes de forma inconsciente) por Deus a realizar atos de misericórdia e bondade, pelos quais a sua sobrevivência em sociedade é preservada. Caso Deus deixasse de atuar assim, a humanidade já teria se destruído há muito tempo (veja Gn 20.6; Sl 33.5; 104.13-15; Mt 5.45).

A queda do homem não exclui sua responsabilidade. O ensino reformado da depravação total também não exclui o reconhecimento de que as Escrituras ensinam que o homem, mesmo nesse estado decaído, é responsável pelos seus malfeitos. Alguns estudiosos alegam que o homem não pode ser responsabilizado pelos seus atos pecaminosos desde que é irresistivelmente inclinado a praticá-los. Porém, entendemos que a queda do homem de um estado de pureza e inocência para o de depravação moral e espiritual não anulou a sua responsabilidade diante de Deus. As Escrituras, mesmo afirmando a depravação moral e espiritual das pessoas, avisa-as que são responsabilizadas por Deus pelos seus atos, e que sofrem as conseqüências dos mesmos (cf. Jz 9.56; Pv 5.22; 22.8; Jr 21.14; Rm 6.21,23; 2 Co 5.10; Gl 6.8-9). Não é difícil constatar que freqüentemente sofremos com os resultados de decisões, palavras e atitudes erradas que tomamos. A preguiça tem trazido pobreza a muitos. Uma vida desregrada traz doenças. A falta de domínio próprio tem provocado reações que levam ao homicídio. A embriagues e o uso de drogas tem trazido sofrimentos indizíveis aos seus usuários e familiares. O amor ao dinheiro, a cobiça e a inveja têm traspassado a muitos com muitas dores. Nas palavras do escritor Jules Romains (1885-1972), "Se nossa época, se nossa civilização correm a uma catástrofe, isto se dá menos por cegueira, do que por preguiça e por falta de mérito".(38) Esse é o ponto que desejamos enfocar nessa parte do nosso ensaio: grande parte da miséria espiritual, moral, social, individual, financeira e estrutural que sempre aflige a humanidade é fruto, em primeiro lugar, dos pecados que ela comete. A humanidade em geral é responsável, em grande medida, pela sofrimento moral, espiritual e físico que suporta durante sua existência.

É verdade que há muitos e muitos casos em que pessoas sofrem como conseqüência, não de seus erros, mas dos erros de outros — como por exemplo, os pais que perdem um filho atropelado por um motorista bêbado, ou os civis que sofrem durante uma guerra. Negar isso seria cruel. Mas não é esse o nosso ponto. O que estamos querendo dizer é que, ou por nossa culpa ou pela de outros humanos, grande parte da miséria que nos acomete tem como raiz última esse estado de depravação e corrupção a que a desobediência dos nossos primeiros pais nos lançou, desobediência essa na qual incorremos por nós mesmos; pois até mesmo as catástrofes naturais — como terremotos, ciclones, secas e dilúvios — são atribuídos na Bíblia à desordem cósmica gerada pela queda do homem no jardim do Éden (cf. Gn 3.17-18; Rm 8.20-22).

A condenação e o castigo de Deus. Essa é a segunda conseqüência da queda que desejo enfatizar. A humanidade não somente vive num estado lastimável de depravação espiritual, provocando muitas dores em si mesma — ela está debaixo do mais severo juízo de Deus por causa do estado de rebelião em que vive, atraindo sobre si castigos temporais impostos por Ele. As Escrituras declaram abertamente que Deus, mesmo tendo reservado para o futuro as penas eternas merecidas pelos pecadores impenitentes, aqui e agora já impõe castigos temporais aos mesmos.. As Escrituras nos dão inúmeros exemplos dos castigos temporais de Deus sobre o pecado do homem. A começar com os castigos impostos ao primeiro casal no Éden (Gn 3), passando pelo dilúvio (Gênesis 6-8), a confusão das línguas (Gn 10) e a destruição de Sodoma e Gomorra (Gn 13-17), a Bíblia nos deixa muito claro que, aqui e agora, no presente tempo em que vivemos, Deus está executando, mesmo que parcialmente, juízos sobre os homens pecadores. Esses juízos por vezes tomam a forma de flagelos físicos. Deus disse por intermédio de Moisés que castigaria os israelitas com toda sorte de misérias temporais em caso de desobediência. O catálogo de sofrimentos em Deuteronômio 28 é impressionante: diminuição do patrimônio (v.18), doenças contagiosas, infecções, inflamações e febres (v. 21-22), pragas (v. 22b), secas (v. 23), tumores, chagas, úlceras e coceiras (v. 27), cegueira (v. 28-29), fracasso financeiro e escravidão (v. 29) — a lista é infindável (cf. o restante dela nos vv.
30-44; ver também Levítico 26.14-46).

Não pretendo fechar os olhos ao fato de que as Escrituras ensinam que Deus é paciente, complacente e misericordioso para com a humanidade rebelde, e que
apesar da desobediência e rebelião das pessoas, Ele graciosamente lhes dá a
vida, saúde, bens, e até longevidade. Mesmo as pessoas mais ímpias por vezes experimentam nessa vida privilégios materiais que excedem em muito a porção magra com que freqüentemente os justos são agraciados. A constatação dessa realidade levou muitos santos antigos a inquirir acerca da justiça de Deus (ver Salmo 72; o livro de Jó; o livro de Eclesiastes). A resposta é que Deus, em sua muita misericórdia e seguindo propósitos freqüentemente ocultos aos nossos olhos, nem sempre nesta vida castiga o pecado imediatamente e na proporção que o mesmo merece. O juízo e a condenação final dos ímpios é certa e Deus tem reservado a punição deles para aquela ocasião. Aqui no presente Ele os castigue por vezes com flagelos e aflições temporais, como prenúncios daquela condenação eterna que os aguarda.

A idéia de que todo mal — quer sob a forma de sofrimento e misérias, quer sob a forma de pecado — provém da atuação direta de demônios é bastante difundida pelo movimento de batalha espiritual. Na verdade, acredito que o conceito de que "todo mal é demoníaco" é a mais fundamental doutrina desse movimento. A esses espíritos malignos é atribuída a responsabilidade, não somente de doenças, desastres, fracassos, divórcios, desemprego e coisas semelhantes, mas também de atitudes pecaminosas, como o uso de drogas, a prostituição, o homossexualismo, o consumo de pornografia e todos distúrbios morais de comportamento. Segundo o entendimento de muitos proponentes da "batalha espiritual", essas entidades maléficas se instalam na vida das pessoas (crentes e descrentes) e nas estruturas sociais, políticas e econômicas de determinadas regiões geográficas. Resta à Igreja somente o método de expelir essas entidades dos locais estratégicos onde se instalaram, como meio eficaz de combatê-las e libertar as pessoas debaixo de seu controle.

O ponto que desejo frisar é que esse ensino do movimento de "batalha espiritual" é uma perspectiva limitada e reducionista do ensino bíblico acerca do sofrimento humano bem como uma avaliação distorcida da realidade que nos cerca. Os diferentes sofrimentos experimentados nessa vida pelos homens têm como origem, muitas vezes, não somente a desobediência humana, como também o castigo divino. Evidentemente, não sabemos ao certo dizer quando um termina e o outro começa. E é preciso reconhecer que, em casos como o de Jó, Satanás pode servir como instrumento dentro dos propósitos divinos.

Provavelmente os efeitos do pecado, os juízos divinos e a atuação dos demônios estão tão interligados em alguns casos que a separação na prática é impossível. De qualquer forma, creio ter ficado claro que o conceito defendido pelo movimento de batalha espiritual, de que todo sofrimento, toda miséria e todo mal circunstancial que sobrevêm às pessoas hoje, tem origem demoníaca, não tem qualquer sustentáculo bíblico.

Não estou dizendo que os espíritos malignos não atuam na promoção da miséria e da dor, bem como na disseminação do pecado. Negar isso seria negar o ensino da Bíblia. Ela afirma que o diabo veio para matar, roubar e destruir (João 10.10). Afirma também que ele é o pai da mentira (Jo 8.44). Sabemos que Satanás se utiliza da nossa natureza depravada como instrumento de tentação, como se fosse um aliado interno, para nos levar ao pecado.(39) O que estou questionando é a ênfase do movimento de batalha espiritual de que toda forma de mal (circunstancial e moral) provém diretamente de Satanás, e que ele é, em última análise, o responsável pela nossa escravidão a determinados pecados.

Reconheço que muitos cristãos acham extremamente difícil romper com determinados comportamentos compulsivos que sabem ser pecaminoso, como ver pornografia, comer em excesso, sentir autopiedade ou mentir. Estou também pronto a admitir que Satanás procura levar as pessoas a permanecer escravas desses hábitos e padrões pecaminosos. Questiono, porém, a idéia de que tais crentes não conseguem se livrar porque estão debaixo do poder de um
determinado espírito maligno que os levam a pecar sempre que esses demônios assim o desejem. Questiono essa idéia porque creio estar claro nas Escrituras que o homem é corrompido o suficiente para atrair sobre si sofrimentos e aflições decorrentes de seus próprios atos (sem que nenhum demônio esteja necessariamente envolvido). A idéia de que todo comportamento compulsivo é decorrente de demonização é um diagnóstico inadequado e abre portas para soluções inadequadas.

A Bíblia também ensina, como vimos, que Deus é o autor de males e sofrimentos que envia sobre os ímpios (e mesmo, sobre seus filhos, para corrigilos). Com isso não estou, nem por um segundo, sugerindo que Deus é o autor do pecado, ou que seja, no mínimo, cúmplice do mesmo. Quando começamos a ir além da Escritura, e responsabilizamos o diabo por todo o mal que ocorre nesse mundo, corremos alguns riscos:



Perdermos de vista o ensino bíblico acerca da queda e depravação do homem. Num artigo crítico contra os ensinos de Peter Wagner e demais proponentes do movimento de batalha espiritual, Mike Wakely acusa a teologia do movimento de ser pobre, descuidada e inferior, pois apresenta uma perspectiva inadequada do ensino bíblico acerca da queda do homem. Satanás, continua Wakely, é visto como operando primariamente através de instituições políticas, econômicas e religiosas. Uma vez que seu poder sobre esses sistemas é quebrado, as pessoas prontamente se converterão a Cristo.(40) Mas esse ensino, diz Wakely, está em completo desacordo com o ensino bíblico de que o coração do homem é endurecido, teimoso e rebelde. Esse ensino de Wagner e de outros tende a justificar os pecados dessas pessoas e sua recusa em submeter-se a Cristo.(41)

Perdermos de vista o ensino bíblico acerca da responsabilidade pessoal de cada indivíduo pelos atos que comete. Num artigo sobre como os cristãos podem se libertar de comportamentos compulsivos — outra maneira de se referir a prática costumeira de determinados pecados —, o autor Lester Sumrall
corretamente menciona que o diabo ilude as pessoas com conceitos errados acerca do pecado e de Deus, para mantê-las escravizadas a determinados hábitos pecaminosos; mas responsabiliza tais indivíduos por não serem capazes de romper com tais hábitos:

(1) muitos não desejam realmente renunciar ao prazer que o pecado lhes traz; (2) outros são orgulhosos demais para buscar ajuda;
(3) outros se concentram em assuntos secundários em vez de irem à raiz do problema;
(4) ainda outros são inconstantes: desejam mudar, mas não ao ponto de renunciar àqueles hábitos e sentimentos familiares.

Ele conclui dizendo que é somente através de um esforço espiritual constante que poderemos nos libertar de padrões rotineiros de pecado.(42) O que desejo destacar nesse artigo de Sumrall é a combinação equilibrada entre o reconhecimento de que Satanás pode iludir as pessoas ao pecado e a responsabilidade última que cada pessoa tem diante de Deus por se deixar iludir e praticar a iniquidade. Infelizmente, essa última ênfase tem faltado em muitas das publicações defendendo a "batalha espiritual". A tendência geralmente é resolver o problema da escravidão ao pecado em termos de expulsão de demônios supostamente responsáveis pelos mesmos, em vez do emprego dos meios bíblicos como a disciplina espiritual,, como mencionado no artigo de Sumrall.

Perdermos de vista o ensino bíblico de que devemos resistir ao pecado.É importante observar que nem sempre é fácil distinguir entre os problemas comuns da vida e ataques de espíritos malignos. A dificuldade aumenta quando descobrimos que a Bíblia menciona que, além de Satanás, somos ainda tentados pela carne, pelo mundo e pelas circunstâncias adversas dessa vida. O que muitos defensores da "batalha espiritual" parecem não perceber é que a maioria dos nossos problemas, dificuldades e sofrimentos diários se originam da combinação entre nossa "bagagem de miséria humana básica" (predisposições genéticas, ambiente familiar, deficiências pessoais) e nossas tendências pecaminosas (amargura, ira, raiva, egoísmo). O mundo e o diabo completam o quadro, interagindo entre si para criar situações de conflito, que são por vezes tão complexas, que não conseguimos classificá-las claramente. O que é mais interessante em tudo isso, é que as Escrituras oferecem aos crentes uma maneira padrão de agir nessas circunstâncias, seja qual for a origem — ou origens — do conflito: submeter-se a Deus, arrepender-se dos pecados, e resistir ao diabo — e ele fugirá (Tg 4.7-10).(43) Entendendo a batalha espiritual somente em termos de ataques de espíritos malignos, muitos hoje têm negligenciado o ensino bíblico acerca da necessidade de santificação, disciplina espiritual e resistência moral contra as tentações — sejam elas da carne, do mundo ou do diabo.

Portanto, é extremamente importante que mantenhamos firmes em nossas mentes o ensino bíblico de que o homem é um ser decaído e que está debaixo do justo juízo de Deus. É importante, não por que desejamos enfatizar morbidamente essas tristes verdades. Mas, porque precisamos compreender claramente a natureza das misérias e dos males que acometem as pessoas, a responsabilidade que têm nelas, e de que forma devem reagir.


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