Inerrância significa que a verdade é transmitida em palavras que, entendidas no sentido em que foram empregadas, entendidas no sentido que realmente se destinavam a ter, não expressam erro algum.
A inspiração garante a inerrância da Bíblia. Inerrância não significa que os escritores não tinham faltas na vida, mas que foram preservados de erros os seus ensinos. Eles podem ter tido concepções errôneas acerca de muitas coisas, mas não as ensinaram; por exemplo, quanto à terra, às estrelas, às leis naturais, à geografia, à vida política e social etc.
Também não significa que não se possa interpretar erroneamente o texto ou que ele não possa ser mal compreendido.
A inerrância não nega a flexibilidade da linguagem como veículo de comunicação. É muitas vezes difícil transmitir com exatidão um pensamento por causa desta flexibilidade de linguagem ou por causa de possível variação no sentido das palavras.
A Bíblia vem de Deus. Será que Deus nos deu um livro de instrução religiosa repleto de erros? Se ele possui erros sob a forma de uma pretensa revelação, perpetua os erros e as trevas que professa remover. Pode-se admitir que um Deus Santo adicione a sanção do seu nome a algo que não seja a expressão exata da verdade?.
Diz-se que a Bíblia é parcialmente verdadeira e parcialmente falsa. Se é parcialmente falsa, como se explica que Deus tenha posto o seu selo sobre toda ela? Se ela é parcialmente verdadeira e parcialmente falsa, então a vida e a morte estão a depender de um processo de separação entre o certo e o errado, que o homem não pode realizar.
Cristo declara que a incredulidade é ofensa digna de castigo. Isto implica na veracidade daquilo que tem de ser crido, porque Deus não pode castigar o homem por descrer no que não é verdadeiro (Sl.119:140,142; Mt.5:18; Jo.10:35; Jo.17:17). Aqueles que negam a infalibilidade da Bíblia, geralmente estão prontos a confiar na falibilidade de suas próprias opiniões. Como exemplo de opinião falível encontramos aqueles que atribuem erro à passagem de IRs.7:23 onde lemos que o mar de fundição tinha dez côvados de diâmetro de uma borda até a outra, ao passo que um cordão de trinta côvados o cingia em redor. Sendo assim, tem-se dito que a Bíblia faz o valor do Pi ser 3 em vez de 3,1416. Mas uma vez que não sabemos se a linha em redor era na extremidade da borda ou debaixo da mesma, como parece sugerir o versículo seguinte (v.24) não podemos chegar a uma conclusão definitiva, e devemos ser cautelosos ao atribuir erro ao escritor.
Outro exemplo utilizado para contrariar a inerrância da Bíblia, encontra-se em ICo.10:8 onde lemos que 23.000 homens morreram no deserto, enquanto que Nm.25:9 diz que morreram 24.000. Acontece que em Números nós temos o número total dos mortos, ao passo que em I aos Coríntios nós temos o número parcial que somado ao restante dos homens relacionados nos versículos 9 e 10, deverá contabilizar o total de 24.000.
A inerrância não abrange as cópias dos manuscritos, mas atinge somente os autógrafos, isto é, os originais. Desse modo encontramos os seguintes tipos de erros nos manuscritos:
A) Erros Involuntários: Cometidos pelos escribas do N.T. devido a sua falta ou defeito de visão, defeitos de audição ou falhas mentais.
1) Falhas de Visão: Em Rm.6:5 muitos manuscritos (MSS) tem ama (juntos), mas há alguns que trazem alla (porém). Os dois lambdas juntos deram ao copista a idéia de um mi. Em At.15:40 onde há eplexamenoc (tendo escolhido) aparece no Códice Beza epdexamenoc (tendo recebido) onde o lambda maiúsculo é confundido com um delta maiúsculo.
Há também confusão de sílabas, como é o caso de ITm.3:16 onde o manuscrito D traz homologoumen ôs (nós confessamos que) em vez de homologoumenôs (sem dúvida).
O erro visual chamado parablopse (um olhar ao lado) é facilitado pelo homoioteleuton, que é o final igual de duas linhas, levando o escriba a saltar uma delas, ou pelo homoioarchon, que são duas linhas com o mesmo início.
O Códice Vaticano, em Jo.17:15, não contém as palavras entre parênteses: "Não rogo que os tires do (mundo, mas que os guardes do) maligno". Consultando o N.T. grego veremos que as duas linhas terminavam de maneira idêntica, em autos ek tou, no manuscrito que o escriba de B copiava.
Lc.18:39 não aparece nos manuscritos 33, 57, 103 e b, devido a um final de frase igual na sentença anterior no manuscrito do qual eles se derivam.
O Códice Laudiano tem um exemplo no versículo 4 do Capítulo 2 do livro de Atos: "Et repleti sunt et repleti sunt omnes spiritu sancto", sendo este em caso de adição, chamado ditografia, que é a repetição de uma letra, sílaba ou palavras.
2) Falhas de Audição: Era costume muitos escribas se reunirem numa sala enquanto um leitor lhes ditava o texto sagrado. Desse modo o ouvido traía o escriba até mesmo quando o copista solitário ditava a si próprio. Em Rm.5:1 encontramos um destes casos, onde as variantes echômen e echomen foram confundidas. IPe.2:3 também apresenta um caso semelhante com as variantes cristos (Cristo) e crestos (gentil), esta última encontrada nos manuscritos K e L.
No grego coinê as vogais e ditongos pronunciavam-se de modo igual dentro das respectivas classes. É o caso de ICo.15:54 onde o termo nikos (vitória), foi confundido por neikos (conflito), sendo que aparece em P46 e B como "tragada foi a morte no conflito".
Em Ap.15:6 onde se lê "vestidos de linho puro" a palavra grega linon é substituída por lithon nos manuscritos A e C "vestidos de pedra pura". Desse modo uma só letra que o ouvido menos apurado não entendeu direito e que produziu completa mudança de sentido, torna-se erro grosseiro e hilariante.
3) Falhas da Mente: Quando a mente do escriba o traía, chegava a cometer erros que variavam desde a substituição de sinônimos, como o caso da preposição ek por apo, até a transposição de letras dentro de uma palavra, como o caso de Jo.5:39, onde Jesus disse "porque elas dão testemunho de mim" (ai marturousai) e o escriba do manuscrito D escreveu "porque elas pecam a respeito de mim" (hamartanousai).
B) Erros Intencionais: Erros que não se originaram de negligência ou distração dos escribas, mas antes de suspeita de alteração, principalmente doutrinária.
1) Harmonização: Ao copiar os sinópticos, o escriba era levado a harmonizar passagens paralelas. E’ o caso de Mt.12:13 onde se lê "...estende a tua mão. E ele estendeu; e ela foi restaurada como a outra". Em alguns manuscritos de Marcos o texto pára em "restaurada", sendo que em outros o escriba acrescentou as palavras "como a outra" para harmonizá-lo com Mateus.
Outro tipo de harmonização ocorre quando os escribas faziam o texto do N.T. conformar-se com o A.T. Por exemplo, em Mc.1:1 os escribas do W e Bizantinos mudaram "no profeta Isaias" para "nos profetas" porque verificaram que a citação não é só de Isaias.
2) Correções Doutrinárias: Certo escriba, copiando Mt.24:36 omitiu as palavras "nem o Filho", pois o escriba sabia que Jesus era onisciente, e deduziu que alguém havia cometido erro (Alefe, W, Bizantino).
Os manuscritos da Velha Latina e da Versão Gótica apresentam como acréscimo, em Lc.1:3, a frase "e ao Espírito Santo" como "empréstimo" de At.15:28.
3) Correções Exegéticas: Passagens de difícil interpretação eram alvo dos escribas que tentavam completar o seu sentido através de interpolação e supressões.
Um caso de interpolação encontra-se em Mt.26:15 onde as palavras "trinta moedas de prata" foram alteradas para "trinta estateres" nos MSS D, a e b, afim de definir o tipo de moeda mencionada. Mais tarde outros escribas (dos manuscritos 1, 209 e h) que conheciam os dois textos, juntaram-no produzindo a frase "trinta estateres de prata".
4) Acréscimos Naturais ou de Notas Marginais: Determinado leitor do Códice 1518 anotou nas margens de Tg.1:5 a expressão êgeumatikês kai ouk anthrôpines (espiritual e não humana). Quando este Códice foi copiado, o escriba do manuscritos 603 incluiu esta expressão no texto: "Se alguém de vós tem falta de sabedoria espiritual e não humana, peça-a a Deus...".
sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011
AUTENTICIDADE OU GENUINIDADE DA BÍBLIA
Dizemos que um livro é genuíno ou autêntico quando ele é escrito pela pessoa ou pessoas cujo nome ele leva, ou, se anônimo, pela pessoa ou pessoas a quem a tradição antiga o atribui, ou, se não for atribuído a algum autor ou autores específicos, à época que a tradição lhe atribui.
O Credo Apostólico não é genuíno porque não foi composto pelos apóstolos. As Viagens de Gulliver é genuíno, tendo sido escrito por Dean Swift, embora seus relatos sejam fictícios. Atos de Paulo não é genuíno, pois foi escrito por um sacerdote contemporâneo de Tertuliano. Desse modo a autenticidade relaciona-se ao autor e à época do livro, e todos os livros da Bíblia possuem autenticidade comprovada pela tradição histórica e pela arqueologia (Gl.6:11; Cl.4:18).
O Credo Apostólico não é genuíno porque não foi composto pelos apóstolos. As Viagens de Gulliver é genuíno, tendo sido escrito por Dean Swift, embora seus relatos sejam fictícios. Atos de Paulo não é genuíno, pois foi escrito por um sacerdote contemporâneo de Tertuliano. Desse modo a autenticidade relaciona-se ao autor e à época do livro, e todos os livros da Bíblia possuem autenticidade comprovada pela tradição histórica e pela arqueologia (Gl.6:11; Cl.4:18).
AUTORIDADE DA BÍBLIA
Dizemos que a bíblia é um livro que tem autoridade porque ela tem influência, prestígio e credibilidade (quanto a pureza na transcrição ou tradução), por isso deve ser obedecida porque procede de fonte infalível e autorizada.
A autoridade está vinculada a inspiração, canonicidade e credibilidade, sem os quais a autoridade da Bíblia não se estabeleceria. Assim, por ser inspirado, determinado trecho bíblico possui autoridade; por ser canônico, determinado livro bíblico possui autoridade, e por ter credibilidade, determinadas informações bíblicas possuem autoridade, sejam históricas, geográficas ou científicas.
Entretanto, nem tudo aquilo que é inspirado é autorizado, pois a autoridade de um livro trata de sua procedência, de sua autoria, e, portanto, de sua veracidade. Deus é o Autor da Bíblia, e como tal ela possui autoridade, mas nem tudo que está registrado na Bíblia procedeu da boca de Deus. Por exemplo, o que Satanás disse para Eva foi registrado por inspiração, mas não é a verdade (Gn.3:4,5); o conselho que Pedro deu a Cristo (Mt.16:22); as acusações que Elifaz fez contra Jó (Jó.22:5-11), etc. Nenhuma dessas declarações representam o pensamento de Deus ou procedem dEle (procedem apenas por inspiração), e por isso não têm autoridade. Um texto também perde sua autoridade quando é retirado de seu contexto e lhe é atribuído um significado totalmente diferente daquele que tem quando inserido no contexto. As palavras ainda são inspiradas, mas o novo significado não tem autoridade.
A autoridade está vinculada a inspiração, canonicidade e credibilidade, sem os quais a autoridade da Bíblia não se estabeleceria. Assim, por ser inspirado, determinado trecho bíblico possui autoridade; por ser canônico, determinado livro bíblico possui autoridade, e por ter credibilidade, determinadas informações bíblicas possuem autoridade, sejam históricas, geográficas ou científicas.
Entretanto, nem tudo aquilo que é inspirado é autorizado, pois a autoridade de um livro trata de sua procedência, de sua autoria, e, portanto, de sua veracidade. Deus é o Autor da Bíblia, e como tal ela possui autoridade, mas nem tudo que está registrado na Bíblia procedeu da boca de Deus. Por exemplo, o que Satanás disse para Eva foi registrado por inspiração, mas não é a verdade (Gn.3:4,5); o conselho que Pedro deu a Cristo (Mt.16:22); as acusações que Elifaz fez contra Jó (Jó.22:5-11), etc. Nenhuma dessas declarações representam o pensamento de Deus ou procedem dEle (procedem apenas por inspiração), e por isso não têm autoridade. Um texto também perde sua autoridade quando é retirado de seu contexto e lhe é atribuído um significado totalmente diferente daquele que tem quando inserido no contexto. As palavras ainda são inspiradas, mas o novo significado não tem autoridade.
CREDIBILIDADE OU VERACIDADE DA BÍBLIA
Um livro tem credibilidade se relatou veridicamente os assuntos como aconteceram ou como eles são; e quando seu texto atual concorda com o escrito original.
Nesse caso credibilidade relaciona-se ao conteúdo do livro (original), e a pureza do texto atual (cópia ou tradução). Por exemplo, as palavras de Satanás em Gn.3:4,5 são inspiradas, mas não possuem autoridade, porque não é verdade, porém tem credibilidade ou veracidade (quanto a sua transcrição) porque foram registradas exatamente como Satanás disse. A veracidade das palavras de Satanás não se relacionam ao o que ele pronunciou, mas sim como ele as pronunciou.
A) Credibilidade do A.T.: Estabelecida por três fatos:
1) Autenticado por Jesus Cristo: Cristo recebeu o A.T. como relato verídico. Ele endossou grande número de ensinamentos do A.T., como, por exemplo: A criação do universo por Deus (Mc.3:19), a criação do homem (Mt.19:4,5), a existência de Satanás (Jo.8:44), o dilúvio (Lc.17:26,27), a destruição de Sodoma e Gomorra (Lc.17:28-30), a revelação de Deus a Moisés na sarça (Mc.12:26), a dádiva do maná (Jo.6:32), a experiência de Jonas dentro do grande peixe (Mt.12:39,40). Como Jesus era Deus manifesto em carne, Ele conhecia os fatos, e não podia se acomodar a idéias errôneas, e, ao mesmo tempo ser honesto. Seu testemunho deve, portanto, ser aceito como verdadeiro ou Ele deve ser rejeitado como Mestre religioso.
2) Prova Arqueológica e Histórica:
a) Arqueológica: Através da arqueologia, a batalha dos reis registrada em Gn.14 não pode mais ser posta em dúvida, já que as inscrições no Vale do Eufrates "mostram indiscutivelmente que os quatro reis mencionados na Bíblia como tendo participado desta expedição não são, como era dito displicentemente, ‘invenções etnológicas’, mas sim personagens históricos reais. Anrafel é identificado como o Hamurábi cujo maravilhoso código de leis foi tão recentemente descoberto por De Morgan em Susa". (Geo. F. Wright, O Testemunho dos Monumentos à Verdade das Escrituras).
As tábuas Nuzi esclarecem a ação de Sara e Raquel ao darem suas servas aos seus maridos (Jack Finegan, Ligth from the Ancient Past = Luz de um Passado Antigo).
Os hieróglifos egípcios indicam que a escrita já era conhecida mais de 1.000 anos antes de Abraão (James Orr, The Problem of the Old Testament = O Problema do Velho Testamento).
A arqueologia também confirma o fato de Israel ter vivido no Egito, como escravo, e ter sido liberto (Melvin G. Kyle, The Deciding Voice of the Monuments = A Voz Decisória dos Monumentos).
Muitas outras confirmações da veracidade dos relatos das Escrituras poderiam ser apresentados, mas esses são suficientes e devem servir como aviso aos descrentes com relação às coisas para as quais ainda não temos confirmação; podemos encontrá-la a qualquer hora.
b) Histórica: A história fornece muitas provas da exatidão das descrições bíblicas. Sabe-se que Salmanezer IV sitiou a cidade de Samaria, mas o rei da Assíria, que sabemos ter sido Sargom II, carregou o povo para a Síria (IIRs.17:3-6). A história mostra que ele reinou de 722-705 a.C. Ele é mencionado pelo nome apenas uma vez na Bíblia (Is.20:1). Nem Beltsazar (Dn.5), nem Dario, o Medo (Dn.6) são mais considerados como personagens fictícios.
3) As Escrituras possuem Integridade:
a) Integridade Topográfica e Geográfica: As descobertas arqueológicas provam que os povos, línguas, os lugares e os eventos mencionados nas Escrituras são encontrados justamente onde as Escrituras os localizam, no local exato e sob as circunstâncias geográficas exatas descritas na Bíblia.
b) Integridade Etnológica ou Racial: Todas as afirmações bíblicas sobre raças tem sido demonstrada como corretas com os fatos etnológicos revelados pela arqueologia.
c) Integridade Cronológica: A identificação bíblica de povos, lugares e acontecimentos com o período de sua ocorrência é corroborada pela cronologia síria e pelos fatos revelados pela arqueologia.
d) Integridade Histórica: O registro dos nomes e títulos dos reis está em harmonia perfeita com os registros seculares, conforme demonstrados por descobertas arqueológicas.
e) Integridade Canônica: A aceitação pela igreja em toda a era cristã, dos livros incluídos nas Escrituras que hoje possuímos, representa o endosso de sua integridade.
Exemplares do A.T. e do N.T. impressos em 1.488 e 1.516 d.C., concordam com os exemplares atuais. Portanto a Bíblia como a possuímos hoje, já existia há 400 anos passados.
Quando essas Bíblias foram impressas, certo erudito tinha em seu poder mais de 2.000 manuscritos. Esse número é sem dúvida suficiente para estabelecer a genuinidade e credibilidade do texto sagrado, e tem servido para restaurar ao texto sua pureza original, e fornecem proteção contra corrupções futuras (Ap.22:18-19; Dt.4:2;12:32).
Enquanto a integridade canônica da Bíblia se baseia em mais de 2.000 manuscritos, os escritos seculares, que geralmente são aceitos sem contestação, baseiam-se em apenas uma ou duas dezenas de exemplares.
As quatro Bíblias mais antigas do mundo, datadas entre 300 e 400 d.C., correspondem exatamente a Bíblia como a possuímos atualmente.
B) Credibilidade do N.T.: Estabelecida por cinco fatos:
1) Escritores Competentes: Possuíam as qualificações necessárias, receberam investidura do Espirito Santo e assim escreveram não somente guiados pela memória, apresentações de testemunho oral e escrito, e discernimento espiritual, mas como escritores qualificados pelo Espirito Santo.
2) Escritores Honestos: O tom moral de seus escritos, sua preocupação com a verdade, e a circunstância de seus registros indicam que não eram enganadores intencionais mais sim homens honestos. O seu testemunho pôs em perigo seus interesses materiais, posição social, e suas próprias vidas. Por quê razão inventariam uma estória que condena a hipocrisia e é contrária a suas crenças herdadas, pagando com suas próprias vidas?
3) Harmonia do N.T.: Os sinópticos não se contradizem mas suplementam um ao outro. Os vinte e sete livros do N.T. apresentam um quadro harmonioso de Jesus Cristo e Sua obra.
4) Prova Histórica e Arqueológica:
a) Histórica: O recenseamento quando Quirino era Governador da Síria (Lc.2:2), os atos de Herodes o Grande (Mt.2:16-18), de Herodes Antipas (Mt.14:1-12), de Agripa I (At.12:1), de Gálio (At.18;12-17), de Agripa II (At.25:13-26:32) etc.
b) Arqueológica: As descobertas arqueológicas confirmam a veracidade do N.T. Quirino (Lc.2:2) foi Governador da Síria duas vezes (16-12 e 6-4 a.C.), sendo que Lucas se refere ao segundo período.
Lisânias, o Tetrarca é mencionado em uma inscrição no local de Abilene na época a que Lucas se refere.
Uma inscrição em Listra registra a dedicação da estátua Zeus (Júpiter) e Hermes (Mercúrio), o que mostra que esses deuses eram colocados no mesmo nível, no culto local, conforme descrito em At.14:12.
Uma inscrição de Pafos faz referência ao Proconsul Paulo, identificado como Sergio Paulo (At.13:7).
Nesse caso credibilidade relaciona-se ao conteúdo do livro (original), e a pureza do texto atual (cópia ou tradução). Por exemplo, as palavras de Satanás em Gn.3:4,5 são inspiradas, mas não possuem autoridade, porque não é verdade, porém tem credibilidade ou veracidade (quanto a sua transcrição) porque foram registradas exatamente como Satanás disse. A veracidade das palavras de Satanás não se relacionam ao o que ele pronunciou, mas sim como ele as pronunciou.
A) Credibilidade do A.T.: Estabelecida por três fatos:
1) Autenticado por Jesus Cristo: Cristo recebeu o A.T. como relato verídico. Ele endossou grande número de ensinamentos do A.T., como, por exemplo: A criação do universo por Deus (Mc.3:19), a criação do homem (Mt.19:4,5), a existência de Satanás (Jo.8:44), o dilúvio (Lc.17:26,27), a destruição de Sodoma e Gomorra (Lc.17:28-30), a revelação de Deus a Moisés na sarça (Mc.12:26), a dádiva do maná (Jo.6:32), a experiência de Jonas dentro do grande peixe (Mt.12:39,40). Como Jesus era Deus manifesto em carne, Ele conhecia os fatos, e não podia se acomodar a idéias errôneas, e, ao mesmo tempo ser honesto. Seu testemunho deve, portanto, ser aceito como verdadeiro ou Ele deve ser rejeitado como Mestre religioso.
2) Prova Arqueológica e Histórica:
a) Arqueológica: Através da arqueologia, a batalha dos reis registrada em Gn.14 não pode mais ser posta em dúvida, já que as inscrições no Vale do Eufrates "mostram indiscutivelmente que os quatro reis mencionados na Bíblia como tendo participado desta expedição não são, como era dito displicentemente, ‘invenções etnológicas’, mas sim personagens históricos reais. Anrafel é identificado como o Hamurábi cujo maravilhoso código de leis foi tão recentemente descoberto por De Morgan em Susa". (Geo. F. Wright, O Testemunho dos Monumentos à Verdade das Escrituras).
As tábuas Nuzi esclarecem a ação de Sara e Raquel ao darem suas servas aos seus maridos (Jack Finegan, Ligth from the Ancient Past = Luz de um Passado Antigo).
Os hieróglifos egípcios indicam que a escrita já era conhecida mais de 1.000 anos antes de Abraão (James Orr, The Problem of the Old Testament = O Problema do Velho Testamento).
A arqueologia também confirma o fato de Israel ter vivido no Egito, como escravo, e ter sido liberto (Melvin G. Kyle, The Deciding Voice of the Monuments = A Voz Decisória dos Monumentos).
Muitas outras confirmações da veracidade dos relatos das Escrituras poderiam ser apresentados, mas esses são suficientes e devem servir como aviso aos descrentes com relação às coisas para as quais ainda não temos confirmação; podemos encontrá-la a qualquer hora.
b) Histórica: A história fornece muitas provas da exatidão das descrições bíblicas. Sabe-se que Salmanezer IV sitiou a cidade de Samaria, mas o rei da Assíria, que sabemos ter sido Sargom II, carregou o povo para a Síria (IIRs.17:3-6). A história mostra que ele reinou de 722-705 a.C. Ele é mencionado pelo nome apenas uma vez na Bíblia (Is.20:1). Nem Beltsazar (Dn.5), nem Dario, o Medo (Dn.6) são mais considerados como personagens fictícios.
3) As Escrituras possuem Integridade:
a) Integridade Topográfica e Geográfica: As descobertas arqueológicas provam que os povos, línguas, os lugares e os eventos mencionados nas Escrituras são encontrados justamente onde as Escrituras os localizam, no local exato e sob as circunstâncias geográficas exatas descritas na Bíblia.
b) Integridade Etnológica ou Racial: Todas as afirmações bíblicas sobre raças tem sido demonstrada como corretas com os fatos etnológicos revelados pela arqueologia.
c) Integridade Cronológica: A identificação bíblica de povos, lugares e acontecimentos com o período de sua ocorrência é corroborada pela cronologia síria e pelos fatos revelados pela arqueologia.
d) Integridade Histórica: O registro dos nomes e títulos dos reis está em harmonia perfeita com os registros seculares, conforme demonstrados por descobertas arqueológicas.
e) Integridade Canônica: A aceitação pela igreja em toda a era cristã, dos livros incluídos nas Escrituras que hoje possuímos, representa o endosso de sua integridade.
Exemplares do A.T. e do N.T. impressos em 1.488 e 1.516 d.C., concordam com os exemplares atuais. Portanto a Bíblia como a possuímos hoje, já existia há 400 anos passados.
Quando essas Bíblias foram impressas, certo erudito tinha em seu poder mais de 2.000 manuscritos. Esse número é sem dúvida suficiente para estabelecer a genuinidade e credibilidade do texto sagrado, e tem servido para restaurar ao texto sua pureza original, e fornecem proteção contra corrupções futuras (Ap.22:18-19; Dt.4:2;12:32).
Enquanto a integridade canônica da Bíblia se baseia em mais de 2.000 manuscritos, os escritos seculares, que geralmente são aceitos sem contestação, baseiam-se em apenas uma ou duas dezenas de exemplares.
As quatro Bíblias mais antigas do mundo, datadas entre 300 e 400 d.C., correspondem exatamente a Bíblia como a possuímos atualmente.
B) Credibilidade do N.T.: Estabelecida por cinco fatos:
1) Escritores Competentes: Possuíam as qualificações necessárias, receberam investidura do Espirito Santo e assim escreveram não somente guiados pela memória, apresentações de testemunho oral e escrito, e discernimento espiritual, mas como escritores qualificados pelo Espirito Santo.
2) Escritores Honestos: O tom moral de seus escritos, sua preocupação com a verdade, e a circunstância de seus registros indicam que não eram enganadores intencionais mais sim homens honestos. O seu testemunho pôs em perigo seus interesses materiais, posição social, e suas próprias vidas. Por quê razão inventariam uma estória que condena a hipocrisia e é contrária a suas crenças herdadas, pagando com suas próprias vidas?
3) Harmonia do N.T.: Os sinópticos não se contradizem mas suplementam um ao outro. Os vinte e sete livros do N.T. apresentam um quadro harmonioso de Jesus Cristo e Sua obra.
4) Prova Histórica e Arqueológica:
a) Histórica: O recenseamento quando Quirino era Governador da Síria (Lc.2:2), os atos de Herodes o Grande (Mt.2:16-18), de Herodes Antipas (Mt.14:1-12), de Agripa I (At.12:1), de Gálio (At.18;12-17), de Agripa II (At.25:13-26:32) etc.
b) Arqueológica: As descobertas arqueológicas confirmam a veracidade do N.T. Quirino (Lc.2:2) foi Governador da Síria duas vezes (16-12 e 6-4 a.C.), sendo que Lucas se refere ao segundo período.
Lisânias, o Tetrarca é mencionado em uma inscrição no local de Abilene na época a que Lucas se refere.
Uma inscrição em Listra registra a dedicação da estátua Zeus (Júpiter) e Hermes (Mercúrio), o que mostra que esses deuses eram colocados no mesmo nível, no culto local, conforme descrito em At.14:12.
Uma inscrição de Pafos faz referência ao Proconsul Paulo, identificado como Sergio Paulo (At.13:7).
ILUMINAÇÃO DA BÍBLIA
É a influência ou ministério do Espirito Santo que capacita todos os que estão num relacionamento correto com Deus para entender as Escrituras (I Cor.2:12; Lc.24:32,45; IJo.2:27).
A iluminação não inclui a responsabilidade de acrescentar algo às Escrituras (revelação) e nem inclui uma transmissão infalível na linguagem (inspiração) daquele que o Espirito Santo ensina.
A iluminação é diferenciada da revelação e da inspiração no fato de ser prometida a todos os crentes, pois não depende de escolha soberana, mas de ajustamento pessoal ao Espirito Santo. Além disso a iluminação admite graus podendo aumentar ou diminuir (Ef.1:16-18; 4:23; Cl.1:9).
A iluminação não se limita a questões comuns, mas pode atingir as coisas profundas de Deus (ICo.2:10) porque o Mestre Divino está no coração do crente e, portanto, ele não houve uma voz falando de fora e em determinados momentos, mas a mente e o coração são sobrenaturalmente despertados de dentro (ICo.2:16). Este despertamento do Espírito pode ser prejudicado pelo pecado, pois é dito que o cristão que é espiritual discerne todas as coisas (ICo.2:15), ao passo que aquele que é carnal não pode receber as verdades mais profundas de Deus que são comparadas ao alimento sólido (ICo.2:15;3:1-3; Hb.5:12-14).
A iluminação, a inspiração e a revelação estão estritamente ligadas, porém podem ser independentes, pois há inspiração sem revelação (Lc.1:1-3; IJo.1:1-4); inspiração com revelação (Ap.1:1-11); inspiração sem iluminação (IPe.1:10-12); iluminação sem inspiração (Ef.1:18) e sem revelação (ICo.2:12; Jd.3); revelação sem iluminação (IPe.1:10-12) e sem inspiração (Ap.10:3,4; Ex.20:1-22). E’ digno de nota que encontramos estes três ministérios do Espirito Santo mencionados em uma só passagem (ICo.2:9-13); a revelação no versículo 10; a iluminação no versículo 12 e a inspiração no versículo 13.
A iluminação não inclui a responsabilidade de acrescentar algo às Escrituras (revelação) e nem inclui uma transmissão infalível na linguagem (inspiração) daquele que o Espirito Santo ensina.
A iluminação é diferenciada da revelação e da inspiração no fato de ser prometida a todos os crentes, pois não depende de escolha soberana, mas de ajustamento pessoal ao Espirito Santo. Além disso a iluminação admite graus podendo aumentar ou diminuir (Ef.1:16-18; 4:23; Cl.1:9).
A iluminação não se limita a questões comuns, mas pode atingir as coisas profundas de Deus (ICo.2:10) porque o Mestre Divino está no coração do crente e, portanto, ele não houve uma voz falando de fora e em determinados momentos, mas a mente e o coração são sobrenaturalmente despertados de dentro (ICo.2:16). Este despertamento do Espírito pode ser prejudicado pelo pecado, pois é dito que o cristão que é espiritual discerne todas as coisas (ICo.2:15), ao passo que aquele que é carnal não pode receber as verdades mais profundas de Deus que são comparadas ao alimento sólido (ICo.2:15;3:1-3; Hb.5:12-14).
A iluminação, a inspiração e a revelação estão estritamente ligadas, porém podem ser independentes, pois há inspiração sem revelação (Lc.1:1-3; IJo.1:1-4); inspiração com revelação (Ap.1:1-11); inspiração sem iluminação (IPe.1:10-12); iluminação sem inspiração (Ef.1:18) e sem revelação (ICo.2:12; Jd.3); revelação sem iluminação (IPe.1:10-12) e sem inspiração (Ap.10:3,4; Ex.20:1-22). E’ digno de nota que encontramos estes três ministérios do Espirito Santo mencionados em uma só passagem (ICo.2:9-13); a revelação no versículo 10; a iluminação no versículo 12 e a inspiração no versículo 13.
INSPIRAÇÃO DA BÍBLIA
É a operação divina que influenciou os escritores bíblicos, capacitando-os a receber a mensagem divina, e que os moveu a transcrevê-la com exatidão, impedindo-os de cometerem erros e omissões, de modo que ela recebeu autoridade divina e infalível, garantindo a exata transferência da verdade revelada de Deus para a linguagem humana inteligível (ICo.10:13; IITm.3:16; IIPe.1:20,21).
A) Autoria Dual: Com este termo indicamos dois fatos:
1) Autoria Divina: Do lado divino as Escrituras são a Palavra de Deus no sentido de que se originaram nEle e são a expressão de Sua mente. Em IITm.3:16 encontramos a referência a Deus: "Toda Escritura é divinamente inspirada" (theopneustos = soprada ou expirada por Deus) . A referência aqui é ao escrito.
2) Autoria Humana: Do lado humano certos homens foram escolhidos por Deus para a responsabilidade de receber a Palavra e passá-la para a forma escrita. Em IIPe.1:21 encontramos a referência aos homens: "Homens santos de Deus falaram movidos pelo Espírito Santo" (pherô = movidos ou conduzidos). A referência aqui é ao escritor.
B) Inspiração ou Expiração?
A palavra inspiração vem do latim, e significa respirar para dentro. Ela é usada pela ARC. (Almeida Revista e Corrigida) somente duas vezes no N.T. (IITm.3:16; IIPe.1:21). Este vocábulo, embora consagrado pelo uso, e, portanto, pela teologia, não é um termo adequado, pois pode parecer que Deus tenha soprado alguma espécie de vida divina em palavras humanas. Em IITm.3:16 encontramos o vocábulo grego theopneustos que significa soprado por Deus. Portanto podemos afirmar que toda a Escritura é soprada ou expirada por Deus, e não inspirada como expressa a ARC. As Escrituras são o próprio sopro de Deus, é o próprio Deus falando (IISm.23:2). Em IIPe.1:21 este vocábulo se torna mais inadequado ainda, pois a tradução da ARC. transmite a idéia de que os homens santos foram inspirados pelo Espírito Santo. O fato é que o homem não é inspirado, mas a Palavra de Deus é que é expirada (Compare Jó.32:8; 33:4; com Ez.36:27; 37:9). A ARA. (Almeida Revista e Atualizada), porém, apesar de utilizar o termo inspiração em IITm.3:16, usa, com acerto, o verbo mover em IIPe.1:21, como tradução do vocábulo grego pherô, que significa exatamente mover ou conduzir.
Considerada esta ressalva, não devemos pender para o extremo, excluindo a autoria humana da compilação das Escrituras. Ela própria reconhece a autoria dual no registro bíblico. Em Mt.15:4 está escrito que Deus ordenou enquanto que em Mc.7:10 diz que foi Moisés quem ordenou. E muitas outras passagens há semelhantes a esta (Compare Sl.110:1 com Mc.12:36; Ex.3:6,15 com Mt.22:31; Lc.20:37 com Mc.12:26; Is.6:9,10; At.28:25 com Jo.12:39-41; Mt.1:22;2:15; At.l:16;4:25; Hb.3:7-11; Hb.9:8;10:15) Deus opera de modo misterioso usando e não anulando a vontade humana, sem que o homem perceba que está sendo divinamente conduzido, sendo que neste fenômeno, o homem faz pleno uso de sua liberdade (Pv.16:1;19:21; Sl.33:15;105:25; Ap.17:17). Desse mesmo modo Deus também usa Satanás (Compare ICr.21:1 com IISm.24:1; IRs.22:20-23), mas não retira a responsabilidade do homem (At.5:3,4), como também o faz na obra da salvação (Dt.30:19; Sl.65:4; Jo.6:44).
C) O Termo Logos: Este termo grego foi utilizado no N.T. cerca de 200 vezes para indicar a Palavra de Deus Escrita, e 7 vezes para indicar o Filho de Deus (Jo.1:1,14; IJo.1:1;5:7; Ap.19:13). Eles são para Deus o que a expressão é para o pensamento e o que a fala é para a razão, portanto o Logos de Deus é a expressão de Deus, quer seja na forma escrita ou viva (Compare Jo.14:6 com Jo.17:17).
1) Cristo é a Palavra Viva: Cristo é o Logos, isto é, a fala, a expressão de Deus.
2) A Bíblia é a Palavra Escrita: A Bíblia também é o Logos de Deus, e assim como em Cristo há dois elementos (duas naturezas), divino e humano, igualmente na Palavra de Deus estes dois elementos aparecem unidos sobrenaturalmente.
D) Provas da Inspiração:
Somos acusados de provar a inspiração pela Bíblia e de provar a verdade da Bíblia pela inspiração, e, assim, de argumentar num círculo vicioso. Mas o processo parte de uma prova que todos aceitam: a evidência. Esta, primeiro prova a veracidade ou credibilidade da testemunha, e então aceita o seu testemunho. A veracidade das Escrituras é estabelecida de vários modos, e, tendo constatado a sua veracidade, ou a validade do seu testemunho, bem podemos aceitar o que elas dizem de si mesmas. As Escrituras afirmam que são inspiradas, e elas ou devem ser cridas neste particular ou rejeitadas em tudo mais.
1) O A.T. afirma sua Inspiração: (Dt.4:2,5; IISm.23:2; Is.1:10; Jr.1:2,9; Ez.3:1,4; Os.1:1; Jl.l:1; Am.1:3;3:1; Ob.1:1; Mq.1:1).
2) O N.T. afirma sua Inspiração: (Mt.10:19; Jo.14:26;15:26,27; Jo.16:13; At.2:33;15:28; ITs.1:5; ICo.2:13; IICo.13:3; IIPe.3:16; ITs.2:13; ICo.14:37).
3) O N.T. afirma a Inspiração do A.T.: (Lc.1:70; At.4:25; Hb.1:1, IItm.3:16; IPe.1:11; IIPe.1:21).
4) A Bíblia faz declarações científicas descobertas posteriormente: (Jó.26:7; Sl.135:7; Ec.1:7; Is.40:22).
E) Teorias da Inspiração:
Podemos ter revelação sem inspiração (Ap.10:3,4), e podemos ter inspiração sem revelação, como quando os escritores registram o que viram com seus próprios olhos e descobriram pela pesquisa (IJo.1:1-4; Lc.1:1-4). Aqui nós temos a forma e o resultado da inspiração. A forma é o método que Deus empregou na inspiração, enquanto que o resultado indica a conseqüência da inspiração. Portanto, as chamadas teorias da intuição, da iluminação, a dinâmica e a do ditado, todas descrevem a forma de inspiração, enquanto que a teoria verbal plenária indica o resultado.
1) Teoria da Inspiração Dinâmica:
Afirma que Deus forneceu a capacidade necessária para a confiável transmissão da verdade que os escritores das Escrituras receberam ordem de comunicar. Isto os tornou infalíveis em questões de fé e prática, mas não nas coisas que não são de natureza imediatamente religiosa, isto é, a inspiração atinge apenas os ensinamentos e preceitos doutrinários, as verdades desconhecidas dos autores humanos. Esta teoria tem muitas falhas: Ela não explica como os escritores bíblicos poderiam mesclar seus conhecimentos sobrenaturais ao registrarem uma sentença, e serem rebaixados a um nível inferior ao relatarem um fato de modo natural. Ela não fornece a psicologia daquele estado de espírito que deveria envolver os escritores bíblicos ao se pronunciarem infalivelmente sobre matérias de doutrina, enquanto se desviam a respeito dos fatos mais simples da história. Ela não analisa a relação existente entre as mentes divina e humana, que produz tais resultados. Ela não distingue entre coisas que são essenciais à fé e à pratica e àquelas que não são. Erasmo, Grotius, Baxter, Paley, Doellinger e Strong compartilham desta teoria.
2) Teoria do Ditado ou Mecânica:
Afirma que os escritores bíblicos foram meros instrumentos (amanuenses), não seres cujas personalidades foram preservadas. Se Deus tivesse ditado as Escrituras, o seu estilo seria uniforme. Teria a dicção e o vocabulário do divino Autor, livre das idiossincrasias dos homens (Rm.9:1-3; IIPe.3:15,16). Na verdade o autor humano recebeu plena liberdade de ação para a sua autoria, escrevendo com seus próprios sentimentos, estilo e vocabulário, mas garantiu a exatidão da mensagem suprema com tanta perfeição como se ela tivesse sido ditada por Deus. Não há nenhuma insinuação de que Deus tenha ditado qualquer mensagem a um homem além daquela que Moisés trasncreveu no monte santo, pois Deus usa e não anula as suas vontades. Esta teoria, portanto, enfatiza sobremaneira a autoria divina ao ponto de excluir a autoria humana.
3) Teoria da Inspiração Natural ou Intuição:
Afirma que a inspiração é simplesmente um discernimento superior das verdades moral e religiosa por parte do homem natural. Assim como tem havido artistas, músicos e poetas excepcionais, que produziram obras de arte que nunca foram superadas, também em relação as Escrituras houve homens excepcionais com visão espiritual que, por causa de seus dons naturais, foram capazes de escrever as Escrituras. Esta é a noção mais baixa de inspiração, pois enfatiza a autoria humana a ponto de excluir a autoria divina. Esta teoria foi defendida pelos pelagianos e unitarianos.
4) Teoria da Inspiração Mística ou Iluminação:
Afirma que inspiração é simplesmente uma intensificação e elevação das percepções religiosas do crente. Cada crente tem sua iluminação até certo ponto, mas alguns tem mais do que outros. Se esta teoria fosse verdadeira, qualquer cristão em qualquer tempo, através da energia divina especial, poderia escrever as Escrituras. Schleiermacher foi quem disseminou esta teoria. Para ele inspiração é "um despertamento e excitamento da consciência religiosa, diferente em grau e não em espécie da inspiração piedosa ou sentimentos intuitivos dos homens santos". Lutero, Neander, Tholuck, Cremer, F.W.Robertson, J.F.Clarke e G.T.Ladd defendiam esta teoria, segundo Strong.
5) Inspiração dos Conceitos e não das Palavras:
Esta teoria pressupõe pensamentos à parte das palavras, através da qual Deus teria transmitido idéias mas deixou o autor humano livre para expressá-las em sua própria linguagem. Mas idéias não são transferíveis por nenhum outro modo além das palavras. Esta teoria ignora a importância das palavras em qualquer mensagem. Muitas passagens bíblicas dependem de uma das palavras usadas para a sua força e valor. O estudo exegético das Escrituras nas línguas originais é um estudo de palavras, para que o conceito possa ser alcançado através das palavras, e não para que palavras sem importância representem um conceito. A Bíblia sempre enfatiza suas palavras e não um simples conceito (ICo.2:13; Jo.6:63;17:8; Ex.20:1; Gl.3:16).
6) Graus de Inspiração:
Afirma que há inspiração em três graus. Sugestão, direção, elevação, superintendência, orientação e revelação direta, são palavras usadas para classificar estes graus. Esta teoria alega que algumas partes da Bíblia são mais inspiradas do que outras. Embora ela reconheça as duas autorias, dá margem a especulação fantasiosa.
7) Inspiração Verbal Plenária:
É o poder inexplicado do Espírito Santo agindo sobre os escritores das Sagradas Escrituras, para orientá-los (conduzí-los) na transcrição do registro bíblico, quer seja através de observações pessoais, fontes orais ou verbais, ou através de revelação divina direta, preservando-os de erros e omissões, abrangendo as palavras em gênero, número, tempo, modo e voz, preservando, desse modo, a inerrância das Escrituras, e dando à ela autoridade divina.
a) Observação Pessoal: (IJo.1:1-4).
b) Fonte Oral: (Lc.l:1-4).
c) Fonte Verbal: (At.17:18; Tt.1:12; Hb.1:1).
d) Revelação Divina Direta: ( Ap.1:1-ll; Gl.1:12).
e) Gênero: (Gn.3:15).
f) Número: (Gl.3:16).
g) Tempo: (Ef.4:30; Cl.3:13).
h) Modo: (Ef.4:30; Cl.3:13).
i) Voz: (Ef.5:18)
j) Explicação dos itens e,f,g,h,i:
A inspiração verbal plenária fica assim estabelecida. Em Gn.3:15 o pronome hebraico está no gênero masculino, pois se refere exclusivamente a Cristo (Ele te ferirá a cabeça...). Em Gl.3:16 Paulo faz citação de um substantivo hebraico que está no singular, fazendo, também, referência exclusiva a Cristo. Em Ef.4:30 e Cl.3:13 o verbo perdoar encontra-se, no grego, no modo particípio e no tempo presente, o que significa que o perdão judicial de Deus realizado no passado, quando aceitamos a Cristo, estende-se por toda a nossa vida, abrangendo o perdão dos pecados do passado, do presente, e do futuro (IJo.1:9 trata do perdão do pecado doméstico e não do judicial). Jesus Cristo reconheceu a inspiração verbal plenária quando declarou que nem um til (a menor letra do alfabeto hebraico) seria omitido da lei(Mt.5:18 e Lc.16:l7).
A) Autoria Dual: Com este termo indicamos dois fatos:
1) Autoria Divina: Do lado divino as Escrituras são a Palavra de Deus no sentido de que se originaram nEle e são a expressão de Sua mente. Em IITm.3:16 encontramos a referência a Deus: "Toda Escritura é divinamente inspirada" (theopneustos = soprada ou expirada por Deus) . A referência aqui é ao escrito.
2) Autoria Humana: Do lado humano certos homens foram escolhidos por Deus para a responsabilidade de receber a Palavra e passá-la para a forma escrita. Em IIPe.1:21 encontramos a referência aos homens: "Homens santos de Deus falaram movidos pelo Espírito Santo" (pherô = movidos ou conduzidos). A referência aqui é ao escritor.
B) Inspiração ou Expiração?
A palavra inspiração vem do latim, e significa respirar para dentro. Ela é usada pela ARC. (Almeida Revista e Corrigida) somente duas vezes no N.T. (IITm.3:16; IIPe.1:21). Este vocábulo, embora consagrado pelo uso, e, portanto, pela teologia, não é um termo adequado, pois pode parecer que Deus tenha soprado alguma espécie de vida divina em palavras humanas. Em IITm.3:16 encontramos o vocábulo grego theopneustos que significa soprado por Deus. Portanto podemos afirmar que toda a Escritura é soprada ou expirada por Deus, e não inspirada como expressa a ARC. As Escrituras são o próprio sopro de Deus, é o próprio Deus falando (IISm.23:2). Em IIPe.1:21 este vocábulo se torna mais inadequado ainda, pois a tradução da ARC. transmite a idéia de que os homens santos foram inspirados pelo Espírito Santo. O fato é que o homem não é inspirado, mas a Palavra de Deus é que é expirada (Compare Jó.32:8; 33:4; com Ez.36:27; 37:9). A ARA. (Almeida Revista e Atualizada), porém, apesar de utilizar o termo inspiração em IITm.3:16, usa, com acerto, o verbo mover em IIPe.1:21, como tradução do vocábulo grego pherô, que significa exatamente mover ou conduzir.
Considerada esta ressalva, não devemos pender para o extremo, excluindo a autoria humana da compilação das Escrituras. Ela própria reconhece a autoria dual no registro bíblico. Em Mt.15:4 está escrito que Deus ordenou enquanto que em Mc.7:10 diz que foi Moisés quem ordenou. E muitas outras passagens há semelhantes a esta (Compare Sl.110:1 com Mc.12:36; Ex.3:6,15 com Mt.22:31; Lc.20:37 com Mc.12:26; Is.6:9,10; At.28:25 com Jo.12:39-41; Mt.1:22;2:15; At.l:16;4:25; Hb.3:7-11; Hb.9:8;10:15) Deus opera de modo misterioso usando e não anulando a vontade humana, sem que o homem perceba que está sendo divinamente conduzido, sendo que neste fenômeno, o homem faz pleno uso de sua liberdade (Pv.16:1;19:21; Sl.33:15;105:25; Ap.17:17). Desse mesmo modo Deus também usa Satanás (Compare ICr.21:1 com IISm.24:1; IRs.22:20-23), mas não retira a responsabilidade do homem (At.5:3,4), como também o faz na obra da salvação (Dt.30:19; Sl.65:4; Jo.6:44).
C) O Termo Logos: Este termo grego foi utilizado no N.T. cerca de 200 vezes para indicar a Palavra de Deus Escrita, e 7 vezes para indicar o Filho de Deus (Jo.1:1,14; IJo.1:1;5:7; Ap.19:13). Eles são para Deus o que a expressão é para o pensamento e o que a fala é para a razão, portanto o Logos de Deus é a expressão de Deus, quer seja na forma escrita ou viva (Compare Jo.14:6 com Jo.17:17).
1) Cristo é a Palavra Viva: Cristo é o Logos, isto é, a fala, a expressão de Deus.
2) A Bíblia é a Palavra Escrita: A Bíblia também é o Logos de Deus, e assim como em Cristo há dois elementos (duas naturezas), divino e humano, igualmente na Palavra de Deus estes dois elementos aparecem unidos sobrenaturalmente.
D) Provas da Inspiração:
Somos acusados de provar a inspiração pela Bíblia e de provar a verdade da Bíblia pela inspiração, e, assim, de argumentar num círculo vicioso. Mas o processo parte de uma prova que todos aceitam: a evidência. Esta, primeiro prova a veracidade ou credibilidade da testemunha, e então aceita o seu testemunho. A veracidade das Escrituras é estabelecida de vários modos, e, tendo constatado a sua veracidade, ou a validade do seu testemunho, bem podemos aceitar o que elas dizem de si mesmas. As Escrituras afirmam que são inspiradas, e elas ou devem ser cridas neste particular ou rejeitadas em tudo mais.
1) O A.T. afirma sua Inspiração: (Dt.4:2,5; IISm.23:2; Is.1:10; Jr.1:2,9; Ez.3:1,4; Os.1:1; Jl.l:1; Am.1:3;3:1; Ob.1:1; Mq.1:1).
2) O N.T. afirma sua Inspiração: (Mt.10:19; Jo.14:26;15:26,27; Jo.16:13; At.2:33;15:28; ITs.1:5; ICo.2:13; IICo.13:3; IIPe.3:16; ITs.2:13; ICo.14:37).
3) O N.T. afirma a Inspiração do A.T.: (Lc.1:70; At.4:25; Hb.1:1, IItm.3:16; IPe.1:11; IIPe.1:21).
4) A Bíblia faz declarações científicas descobertas posteriormente: (Jó.26:7; Sl.135:7; Ec.1:7; Is.40:22).
E) Teorias da Inspiração:
Podemos ter revelação sem inspiração (Ap.10:3,4), e podemos ter inspiração sem revelação, como quando os escritores registram o que viram com seus próprios olhos e descobriram pela pesquisa (IJo.1:1-4; Lc.1:1-4). Aqui nós temos a forma e o resultado da inspiração. A forma é o método que Deus empregou na inspiração, enquanto que o resultado indica a conseqüência da inspiração. Portanto, as chamadas teorias da intuição, da iluminação, a dinâmica e a do ditado, todas descrevem a forma de inspiração, enquanto que a teoria verbal plenária indica o resultado.
1) Teoria da Inspiração Dinâmica:
Afirma que Deus forneceu a capacidade necessária para a confiável transmissão da verdade que os escritores das Escrituras receberam ordem de comunicar. Isto os tornou infalíveis em questões de fé e prática, mas não nas coisas que não são de natureza imediatamente religiosa, isto é, a inspiração atinge apenas os ensinamentos e preceitos doutrinários, as verdades desconhecidas dos autores humanos. Esta teoria tem muitas falhas: Ela não explica como os escritores bíblicos poderiam mesclar seus conhecimentos sobrenaturais ao registrarem uma sentença, e serem rebaixados a um nível inferior ao relatarem um fato de modo natural. Ela não fornece a psicologia daquele estado de espírito que deveria envolver os escritores bíblicos ao se pronunciarem infalivelmente sobre matérias de doutrina, enquanto se desviam a respeito dos fatos mais simples da história. Ela não analisa a relação existente entre as mentes divina e humana, que produz tais resultados. Ela não distingue entre coisas que são essenciais à fé e à pratica e àquelas que não são. Erasmo, Grotius, Baxter, Paley, Doellinger e Strong compartilham desta teoria.
2) Teoria do Ditado ou Mecânica:
Afirma que os escritores bíblicos foram meros instrumentos (amanuenses), não seres cujas personalidades foram preservadas. Se Deus tivesse ditado as Escrituras, o seu estilo seria uniforme. Teria a dicção e o vocabulário do divino Autor, livre das idiossincrasias dos homens (Rm.9:1-3; IIPe.3:15,16). Na verdade o autor humano recebeu plena liberdade de ação para a sua autoria, escrevendo com seus próprios sentimentos, estilo e vocabulário, mas garantiu a exatidão da mensagem suprema com tanta perfeição como se ela tivesse sido ditada por Deus. Não há nenhuma insinuação de que Deus tenha ditado qualquer mensagem a um homem além daquela que Moisés trasncreveu no monte santo, pois Deus usa e não anula as suas vontades. Esta teoria, portanto, enfatiza sobremaneira a autoria divina ao ponto de excluir a autoria humana.
3) Teoria da Inspiração Natural ou Intuição:
Afirma que a inspiração é simplesmente um discernimento superior das verdades moral e religiosa por parte do homem natural. Assim como tem havido artistas, músicos e poetas excepcionais, que produziram obras de arte que nunca foram superadas, também em relação as Escrituras houve homens excepcionais com visão espiritual que, por causa de seus dons naturais, foram capazes de escrever as Escrituras. Esta é a noção mais baixa de inspiração, pois enfatiza a autoria humana a ponto de excluir a autoria divina. Esta teoria foi defendida pelos pelagianos e unitarianos.
4) Teoria da Inspiração Mística ou Iluminação:
Afirma que inspiração é simplesmente uma intensificação e elevação das percepções religiosas do crente. Cada crente tem sua iluminação até certo ponto, mas alguns tem mais do que outros. Se esta teoria fosse verdadeira, qualquer cristão em qualquer tempo, através da energia divina especial, poderia escrever as Escrituras. Schleiermacher foi quem disseminou esta teoria. Para ele inspiração é "um despertamento e excitamento da consciência religiosa, diferente em grau e não em espécie da inspiração piedosa ou sentimentos intuitivos dos homens santos". Lutero, Neander, Tholuck, Cremer, F.W.Robertson, J.F.Clarke e G.T.Ladd defendiam esta teoria, segundo Strong.
5) Inspiração dos Conceitos e não das Palavras:
Esta teoria pressupõe pensamentos à parte das palavras, através da qual Deus teria transmitido idéias mas deixou o autor humano livre para expressá-las em sua própria linguagem. Mas idéias não são transferíveis por nenhum outro modo além das palavras. Esta teoria ignora a importância das palavras em qualquer mensagem. Muitas passagens bíblicas dependem de uma das palavras usadas para a sua força e valor. O estudo exegético das Escrituras nas línguas originais é um estudo de palavras, para que o conceito possa ser alcançado através das palavras, e não para que palavras sem importância representem um conceito. A Bíblia sempre enfatiza suas palavras e não um simples conceito (ICo.2:13; Jo.6:63;17:8; Ex.20:1; Gl.3:16).
6) Graus de Inspiração:
Afirma que há inspiração em três graus. Sugestão, direção, elevação, superintendência, orientação e revelação direta, são palavras usadas para classificar estes graus. Esta teoria alega que algumas partes da Bíblia são mais inspiradas do que outras. Embora ela reconheça as duas autorias, dá margem a especulação fantasiosa.
7) Inspiração Verbal Plenária:
É o poder inexplicado do Espírito Santo agindo sobre os escritores das Sagradas Escrituras, para orientá-los (conduzí-los) na transcrição do registro bíblico, quer seja através de observações pessoais, fontes orais ou verbais, ou através de revelação divina direta, preservando-os de erros e omissões, abrangendo as palavras em gênero, número, tempo, modo e voz, preservando, desse modo, a inerrância das Escrituras, e dando à ela autoridade divina.
a) Observação Pessoal: (IJo.1:1-4).
b) Fonte Oral: (Lc.l:1-4).
c) Fonte Verbal: (At.17:18; Tt.1:12; Hb.1:1).
d) Revelação Divina Direta: ( Ap.1:1-ll; Gl.1:12).
e) Gênero: (Gn.3:15).
f) Número: (Gl.3:16).
g) Tempo: (Ef.4:30; Cl.3:13).
h) Modo: (Ef.4:30; Cl.3:13).
i) Voz: (Ef.5:18)
j) Explicação dos itens e,f,g,h,i:
A inspiração verbal plenária fica assim estabelecida. Em Gn.3:15 o pronome hebraico está no gênero masculino, pois se refere exclusivamente a Cristo (Ele te ferirá a cabeça...). Em Gl.3:16 Paulo faz citação de um substantivo hebraico que está no singular, fazendo, também, referência exclusiva a Cristo. Em Ef.4:30 e Cl.3:13 o verbo perdoar encontra-se, no grego, no modo particípio e no tempo presente, o que significa que o perdão judicial de Deus realizado no passado, quando aceitamos a Cristo, estende-se por toda a nossa vida, abrangendo o perdão dos pecados do passado, do presente, e do futuro (IJo.1:9 trata do perdão do pecado doméstico e não do judicial). Jesus Cristo reconheceu a inspiração verbal plenária quando declarou que nem um til (a menor letra do alfabeto hebraico) seria omitido da lei(Mt.5:18 e Lc.16:l7).
SE ALGUÉM ESTÁ EM CRISTO É UMA NOVA CRIAÇÃO
O leitor deverá ter percebido que o título acima é na verdade uma parte das palavras de Paulo em 2 Coríntios 5.17, "E, assim, se alguém está em Cristo, é nova criatura; as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram nova" (ARA). Preferi traduzir a palavra ktisis como "criação" e não como "criatura" pelos seguintes motivos: (1) Das 19 vezes que a palavra ktisis ocorre no Novo Testamento, a grande maioria é traduzida por "criação" (cf. Mc 10.6; 13.19; Rm 1.20; 8.19-22; Cl 1.15, entre outros), embora em alguns casos a tradução "criatura" seja possível. (2) Algumas das traduções mais respeitadas internacionalmente preferem também "criação" em vez de "criatura", como a RSV e a NVI. (3) "Criação" expressa melhor o sentido do que Paulo deseja dizer em 2 Co 5.17. Seu ponto não é a transformação psicológica e espiritual que acontece com uma pessoa que está em Cristo (como na tradução da BLH, é uma nova pessoa"), mas sua participação na nova criação que já foi iniciada por Deus em Cristo. O contraste coisas "antigas" e "novas" não é um contraste entre o tempo antes e depois da conversão da pessoa a Cristo, mas entre o período antes e depois da vinda de Cristo, entre a velha era e a nova. As palavras de Paulo devem ser entendidas, não psicologicamente, mas escatologicamente, em termos do seu ensino sobre o raiar da nova era em Cristo, do início da nova criação em Cristo, da qual ele é o primogênito.(44) Já tratamos acima acerca do ensino paulino sobre as duas eras. Evidentemente esse conceito abrange o outro, de que a pessoa se torna uma nova pessoa interiormente, mas aponta para ainda outras características da obra de Cristo em favor da Sua igreja.
Entendido dessa perspectiva o verso está dizendo que se alguém está em Cristo ele faz parte da nova criação, da nova humanidade cujo cabeça é Cristo, e desfruta de todos os privilégios desse novo status. Outras passagens do Novo Testamento nos completam o quadro: quem está em Cristo goza aqui e agora da presença do Espírito Santo como penhor do que ainda há por vir (Ef 1.14); experimenta o gozo e os poderes do mundo vindouro (Hb 6.4-5); compartilha da natureza de Cristo como primícia da ressurreição ainda por ocorrer; já tem a vida eterna que significa conhecer a Deus e ao Seu Filho Jesus Cristo (Jo 17.1-3); desfruta de um novo coração (Sl 51.10; Ez 11.19; 36.26; Jo 3.3; Gl 6.15); foi liberto do domínio do pecado e da lei (Rm 6.1-14; 7.1-6); é guiado pelo Espírito de Deus (Rm 8.1-17).
As Escrituras enfatizam especialmente a nova relação que aquele que está em Cristo mantém com Deus. Antigamente era filho da ira, dominado pelo mundo, pela carne e pelo diabo e debaixo do juízo de Deus (Ef 2.1-3); agora, foi perdoado e aceito por Deus, adotado como filho em Cristo; já nenhuma condenação existe contra ele (Rm 8.1). Ele não mais pertence a esse mundo que se desfaz, mas à época vindoura que já raiou no presente. Assim, Satanás já não tem mais qualquer autoridade ou direito sobre ele, apesar de ainda tentá-lo ao pecado. Nas palavras do apóstolo João, "o maligno não lhe toca" (1 Jo 5.18).
Basta um estudo simples nas Escrituras, da linguagem usada para descrever nossa redenção, para que não fique qualquer dúvida de que o crente, à semelhança de um escravo exposto à venda na praça, foi comprado por preço, e que, agora, passa a pertencer totalmente ao novo dono. O antigo patrão não tem mais qualquer direito sobre ele, como rezava a legislação romana da época. Assim, Paulo diz que fomos comprados por preço (1 Co 6.20; agorazo, "comprar, redimir, pagar um resgate para libertá-lo"), e que sendo agora livres, não devemos nos deixar outra vez escravizar (1 Co 7.23). Fomos resgatados (lutrow) pelo precioso sangue de Cristo (1 Pe 1.18; cf. Ap 5.9).
O ensino bíblico acerca da relação que o crente desfruta com Deus precisa ser enfatizado em nossos dias, particularmente as suas implicações. A julgar por muito do que é dito por defensores do movimento de "batalha espiritual" quanto
à atuação e ao poder dos espíritos malignos na vida dos crentes, falta-lhes uma visão e uma compreensão mais exata quanto ao ensino do Novo Testamento sobre o ser nova criatura, ou melhor, nova criação bem como quanto às implicações desse ensino para a "batalha espiritual". Há pelo menos dois ensinamentos da "batalha espiritual" que acabam por minimizar a eficácia da obra de Cristo, que são: a demonização de crentes verdadeiros e a necessidade de quebrar maldições.
Primeiro, vejamos o conceito de que crentes verdadeiros podem ser demonizados. Ela tem se tornado tão popular, que muitos artigos de revistas teológicas especializadas em aconselhamento, ao tratar das características da demonização, não fazem qualquer distinção entre crentes e descrentes.(45) Mas, o que é "demonização"? É importante entendermos bem o que querem dizer quando empregam esse termo. Há quatro coisas que definem bem esse conceito:
Demonização é diferente de possessão demoníaca. Frank Peretti, pastor licenciado da Assembléia de Deus e autor do best seller de 1998 Esse Mundo Tenebroso, um cristão não pode ficar possuído por um demônio, mas pode ser "demonizado".(46) Não somente Peretti, mas muitos líderes do movimento de "batalha espiritual" seguem a mesma distinção, como por exemplo, no Brasil, Gilberto Pickering. Em seu livro Guerra Espiritual ele acusa os tradutores da versão King James de terem colocado a Igreja na direção errada ao traduzir o termo grego daimonizomai e seus cognatos por "possessão demoníaca", tradução também adotada pela Almeida.(47) A expressão "possessão demoníaca" e mesmo "endemoninhamento", segundo Pickering, implica na posse por parte de Satanás da vida e do destino de uma pessoa.(48) Nesse caso, só há duas opções: ou alguém está possuído por um espírito maligno, ou não está.
Demonização é um fenômeno parcial. O ponto defendido é que existem graus diferentes em que uma pessoa — mesmo um crente — está debaixo do controle e influência de Satanás. Daí a preferência pela tradução "demonizado"
ou "endemoninhado", pois expressa a idéia de que uma pessoa, mesmo um crente, pode ter alguma área de sua vida debaixo do controle parcial de um ou mais demônios, sem necessariamente estar "possesso" por eles. Powlison, em sua crítica à "batalha espiritual", descreve este conceito fazendo um paralelo entre a personalidade humana infestada em diversas áreas por demônios e o disco rígido de um computador, onde determinadas áreas estão infectadas com um ou mais vírus.(49)
Portanto, muitos defensores da "batalha espiritual" negariam que um crente pode ficar possesso de um espírito imundo, mas afirmam que ele pode ficar "demonizado", isto é, com alguma área de sua vida debaixo do controle de um ou mais demônios.(50) Na verdade, vão ao ponto de dizer que não existe "possessão demoníaca" nem mesmo de incrédulos — o que há é "demonização".(51) Portanto, a explicação que dão para um comportamento moral ilícito é de que os demônios do pecado estão entrincheirados no coração
humano.
A demonização ocorre por causas bem definidas. Aparentemente, eles entendem que a "demonização" é uma influência maligna na vida de uma pessoa, superior à daquela da tentação, em que um ou mais demônios vêm habitar na pessoa, fazendo-a ficar confusa, incrédula, e especialmente escravizada a determinados hábitos pecaminosos. A pessoa cai vítima desta opressão demoníaca por causa de seus pecados, ou por causa dos pecados de outros contra ela, como por exemplo, a molestação sexual durante a infância.(52) A "demonização" de um crente verdadeiro pode ocorrer ainda por vários outros motivos: o pecado de seus antepassados, ódio, amargura e rebelião durante a infância, pecados sexuais, maldições e pragas rogadas por outros, e envolvimento com o ocultismo.(53) Tais coisas dão autoridade aos demônios para invadi-las. O mesmo ocorre por causa de maldições hereditárias. Qualquer que seja a causa, os demônios invadem a vida das pessoas e nelas habitam. No caso dos crentes, eles permanecem em constante conflito com o Espírito Santo, que também habita nos crentes.(54) Segundo alguns, estes demônios invasores podem ficar habitando no corpo ou na alma do crente.(55)
Demonização e vida em pecado andam juntas. O efeito da demonização de crentes ou descrentes, segundo Murphy, é uma vida em pecado, geralmente nas áreas de práticas sexuais ilícitas, ódio, mágoa, rancor, rebelião, sensação de culpa, rejeição e vergonha, atração ao ocultismo e ao mundo dos espíritos.(56) Segundo Murphy, o processo de demonização de um crente é geralmente o seguinte: o primeiro demônio invade a sua vida, e abre as portas para que outros venham. Se não forem detectados e expulsos, permanecerão lá, habitando no crente, e gradativamente ganharão controle sobre as sua emoções, até finalmente atingirem o centro de sua personalidade. Crentes demonizados não poderão prosseguir sozinhos na vida cristã; precisam de ajuda de alguém que expulse estas entidades de suas vidas.(57) Embora o conceito de "demonização" seja uma ótima explicação para os hábitos pecaminosos que escravizam muitos crentes, ele esbarra em algumas dificuldades exegéticas e teológicas. Há pelo menos quatro delas que podemos
mencionar.
O problema é mais que uma questão de tradução. Mudar a tradução de daimonizomai ("possessão demoníaca") para "demonização" não resolve o problema levantado pela sugestão de que crentes verdadeiros podem se tornar escravos de demônios, mesmo que seja em apenas algumas áreas morais da sua vida. Embora o último termo traduza de forma mais literal a expressão bíblica, o primeiro expressa melhor o seu sentido. Alguém "demonizado" está debaixo do controle de um demônio. Existe alguma área de sua vida — ou sua vida toda — que está possuída por aquela entidade. É este o sentido da expressão.
Nos casos mencionados nos Evangelhos e Atos, os endemoninhados estavam afligidos por distúrbios, quer mentais ou físicos (paralisia, cegueira, surdez, epilepsia, loucura, cf. Mt 4.24; 8.28; 9.23; 12.22; 15.22). Seus corpos e mentes
haviam sido invadidos por demônios. A causa nunca é citada no Novo Testamento. O efeito é que tais pessoas estavam debaixo do controle destes seres, que não somente as afligiam, mas as haviam privado da razão, às vezes da saúde e do controle físico.
Nos Evangelhos, as atitudes e reações das pessoas "demonizadas" são atribuídas aos demônios que as invadiram, ver Mc 3.11; Mt 8.31; Mc 1.26; Lc 4.35; At 5.16; et al. Portanto, não é de se admirar que os tradutores, quase que universalmente, tem traduzido o verbo daimonizomai indicando possessão demoníaca. É que se trata da invasão de demônios na vida, no corpo, na mente e na personalidade das pessoas, chegando ao ponto de escravizá-lo a certos pecados e atitudes. Admitir que um crente esteja "demonizado" é admitir que ele está debaixo do controle de Satanás, cativo à sua vontade, impelido a estas atitudes compulsivas. E portanto, mesmo que a terminologia foi trocada, permanece a questão se um crente pode ter demônios habitando em seu corpo, o qual é igualmente habitado pelo Espírito Santo.(58) O conceito agride textos claros quanto aos privilégios dos crentes. A questão é realmente aguda, pois a Escritura ensina que o crente está assentado com Cristo nos lugares celestiais, acima de todos os principados e potestades (Ef 1.2122). O crente está em Cristo, e Cristo nada tem a ver com o maligno (Jo 14.30). E, naturalmente, o diabo não toca os que são de Cristo (1 Jo 5.18), pois o que está no crente (o Espírito Santo) é maior que os espíritos malignos que habitam neste mundo (1 Jo 4.4).
O pecado é atribuído à natureza decaída do homem. Os demônios denominados pela "batalha espiritual" como sendo demônios da lascívia, do ódio, da ira, da vingança, da embriagues, da inveja, e assim por diante, não aparecem no Novo Testamento. Estas coisas são, na verdade, as obras da carne mencionadas por Paulo em Gálatas 5.19-21. A solução para estes pecados não é expulsar demônios que supostamente os produzem, mas arrependimento, confissão, e santificação. O conceito de "crente demonizado", na realidade, em vez de produzir a mortificação da nossa natureza pecaminosa como as Escrituras determinam (Cl 3.8; Rm 8.13), fornece uma desculpa e uma racionalização para o pecado, as quais a nossa natureza pecaminosa sempre é rápida em usar.
Falta comprovação bíblica da demonização de crentes. Além disto, falta a necessária comprovação bíblica de que podemos e devemos expulsar demônios da vida de crentes verdadeiros. Jesus nunca expulsou demônios de quem era seu discípulo — Maria Madalena, de quem Jesus expulsou sete espíritos malignos, certamente se converteu naquela ocasião (Lc 8.2). Os apóstolos, igualmente, nunca expulsaram demônios de crentes das igrejas locais. O Novo Testamento é absolutamente silencioso a este respeito; silencia igualmente quanto às causas que levaram determinadas pessoas a ficarem endemoninhadas. O Novo Testamento apenas descreve o encontro de Jesus e dos apóstolos com pessoas endemoninhadas, mas em nenhum caso revela como o endemoninhamento aconteceu, se foi por causa de pecados pessoais, pelos pecados de outros, por maldições hereditárias, ou qualquer outros dos motivos alegados pelos proponentes da "batalha espiritual". Não devemos tentar satisfazer a nossa curiosidade baseados em especulações e experiências pessoais.
Segundo, a quebra de maldições. Esse ensinamento característico da "batalha espiritual" tende igualmente a minimizar a perfeição e a eficácia da obra de Cristo na vida do crente. Podemos resumir esse conceito em quatro pontos.
Os filhos pagam pelos erros dos pais. Os pecados, vícios, e pactos demoníacos feitos pelos antepassados de um crente afetam negativamente a sua existência presente. Maldições hereditárias são aquelas que herdamos dos
nossos pais e antepassados em decorrência desses erros que eles cometeram.
Este conceito procura basear-se em Êxodo 20.5, onde Deus afirma que castiga a maldade dos pais nos filhos até a terceira e quarta geração.
A transmissão genética de demônios. Autores como Rodovalho chegam a sugerir que os espíritos "familiares" passam dos pais para os filhos através dos genes.(59) Dessa forma, eles se perpetuam na família geração após geração. Isso explicaria porque determinadas famílias sofrem de pecados ou tragédias características em suas linhagens. Por exemplo, famílias que através dos séculos são marcadas por casos e mais casos de suicídios são vítimas de um "espírito familiar" de suicídio, que entrou na linhagem por algum motivo e só sairá com a quebra da maldição e a reparação do pecado que lhe deu a oportunidade.
O poder abençoador e amaldiçoador das palavras. As pragas, maldições ou palavras más proferidas diretamente contra nós no presente também têm o poder de nos tornar infelizes, de perturbar nossas vidas. Maldições podem incluir frases dos nossos pais como "menino, vai para o diabo que te carregue!". Através delas, os demônios recebem autoridade para entrar em nossas vidas e torná-las em miséria, dor e sofrimento.
A necessidade de quebrar essas maldições. Mesmo um verdadeiro crente pode deixar de alcançar a plena felicidade nesse mundo caso esteja "amaldiçoado", isso é, debaixo de alguma maldição. Caso não as quebre, padecerá nas mãos dos demônios, que recebem poder para atormentá-lo através delas. O processo consiste em localizar e identificar estas maldições, e anulá-las "em nome de Jesus". A "quebra" destas maldições o caminho para a libertação.(60) No caso de maldições hereditárias, alguns aconselham que se trace a árvore genealógica da nossa família, procurando identificar as pragas, maldições, pecados e pactos com demônios feitos por eles no passado, para depois anulá-los, quebrando-os e rejeitando-os em nome de Jesus.(61)
É verdade que podemos experimentar as conseqüências dos erros da nossa família. Também é verdade que as palavras podem ser usadas para destruir vidas. É igualmente verdadeiro que devemos rejeitar todas as obras das trevas, cuidar das nossas palavras e não sermos coniventes com os pecados de nossos antepassados e parentes ao nosso redor. Contudo, o ensino de "quebra de maldições" vai muito além disso. Existem quatro críticas que podemos fazer a ele.
Uso parcial da evidência bíblica. Geralmente o texto usado para defender o conceito de que os filhos pagam pelos erros dos pais é Êxodo 20.5, onde Deus ameaça visitar a maldade dos pais nos filhos, até a terceira e quarta geração dos que o aborrecem.
Entretanto, ensinar que Deus faz cair sobre os filhos as conseqüências dos pecados dos pais, é só metade da verdade. A Escritura nos diz igualmente que se um filho de pai idólatra e adúltero vir as obras más de seu pai, temer a Deus, e andar em Seus caminhos, nada do que o pai fez virá cair sobre ele. A conversão e o arrependimento individuais "quebram", na existência das pessoas, a "maldição hereditária" (um efeito somente possível por causa da obra de Cristo). Este foi o ponto enfatizado pelo profeta Ezequiel em sua pregação ao povo de Israel da época (leia cuidadosamente Ezequiel 18). A nação de Israel havia sido levada em cativeiro para a Babilônia, e os judeus cativos se queixavam de Deus dizendo "Os pais comeram uvas verdes, e os dentes dos filhos é que se embotaram. . ." (Ez 18.2b) — ou seja, "nossos pais pecaram, e nós é que sofremos as conseqüências". Eles estavam transferindo para seus pais a responsabilidade pelo castigo divino que lhes sobreveio, que foi o desterro para a terra dos caldeus. Achavam que era injusto que estivessem pagando pelo pecado de idolatria dos seus pais. Usavam um provérbio da época, que nos nossos dias seria mais ou menos assim: "Nossos pais comeram a feijoada, mas nós é que tivemos a dor de barriga. . ."
Através do profeta Ezequiel, Deus os repreendeu, afirmando que a responsabilidade moral é pessoal e individual diante dele: "A pessoa que pecar, é ela quem morrerá — não o seu pai ou a sua mãe" (Ez 18.4b, 20). E que pela conversão e por uma vida reta, o indivíduo está livre da "maldição" dos pecados de seus antepassados, ver 18.14-19. Esta passagem é muito importante, pois nos mostra de que maneira o próprio Deus interpreta (através de Ezequiel) o significado de Êxodo 20.5. Aplicando aos nossos dias, fica evidente que o crente verdadeiro já rompeu com seu passado, e com as implicações espirituais dos pecados dos seus antepassados, quando, arrependido, veio a Cristo em fé.
Minimizaçao dos efeitos da obra de Cristo. Esse é a nossa maior preocupação. O apóstolo Paulo nos esclarece que o escrito de dívida que nos era contrário, a maldição da lei, foi tornado sem qualquer efeito sobre nós: Jesus o anulou na cruz (Cl 2.13-15; Gl 3.13). Ou seja, toda e qualquer condenação que pesava sobre nós foi removida completamente quando Cristo pagou, de forma suficiente e eficaz, nossa culpa diante de Deus. Ora, se a obra de Cristo no Calvário em nosso favor foi poderosa o suficiente para remover de sobre nós a própria maldição da santa lei de Deus, quanto mais qualquer coisa que poderia ser usada por Satanás para reivindicar direitos sobre nós, inclusive pactos feitos com entidades malignas, por nós, ou por nossos pais, na nossa ignorância.
Basta um estudo simples nas Escrituras, da linguagem usada para descrever nossa redenção, para que não fique qualquer dúvida de que o crente, à semelhança de um escravo exposto à venda na praça, foi comprado por preço, e que, agora, passa a pertencer totalmente ao seu novo senhor. O antigo patrão não tem mais qualquer direito sobre ele, como rezava a legislação romana da época. Assim, Paulo diz que fomos comprados por preço (1 Co 6.20; agorazw, comprar, redimir, pagar um resgate — termo usado para o ato de comprar um escravo na praça, ou pagar seu resgate para libertá-lo), e que sendo agora livres, não devemos nos deixar outra vez escravizar (1 Co 7.23). Fomos resgatados (lutrow) pelo precioso sangue de Cristo (1 Pe 1.18; cf. Ap 5.9). Quando vivemos à luz da gloriosa verdade de que "se alguém está em Cristo é nova criação" não tememos pragas, maldições, encostos, mau-olhado, "olho gordo", despachos, trabalhos. Igualmente vivemos seguros de que não somos "amaldiçoados" por qualquer dos pecados de nossos pais: tudo foi anulado na cruz. Não estou dizendo que os verdadeiros cristãos gozam de uma imunidade automática quanto à influência de espíritos malignos. É preciso revestir-se da força do Senhor e de toda armadura de Deus para que possam resistir às astutas ciladas do diabo.(62) Meu objetivo foi deixar clara a importância de abraçarmos o ensino correto sobre a situação daquele que está em Cristo. Saber o que isso significa nos dará o parâmetros corretos para avaliarmos os freqüentes relatos de experiências estranhas que ouvimos de evangélicos ao nosso redor, que parecem minimizar ou diminuir a suficiência da obra de Cristo em favor dos que são seus.
Entendido dessa perspectiva o verso está dizendo que se alguém está em Cristo ele faz parte da nova criação, da nova humanidade cujo cabeça é Cristo, e desfruta de todos os privilégios desse novo status. Outras passagens do Novo Testamento nos completam o quadro: quem está em Cristo goza aqui e agora da presença do Espírito Santo como penhor do que ainda há por vir (Ef 1.14); experimenta o gozo e os poderes do mundo vindouro (Hb 6.4-5); compartilha da natureza de Cristo como primícia da ressurreição ainda por ocorrer; já tem a vida eterna que significa conhecer a Deus e ao Seu Filho Jesus Cristo (Jo 17.1-3); desfruta de um novo coração (Sl 51.10; Ez 11.19; 36.26; Jo 3.3; Gl 6.15); foi liberto do domínio do pecado e da lei (Rm 6.1-14; 7.1-6); é guiado pelo Espírito de Deus (Rm 8.1-17).
As Escrituras enfatizam especialmente a nova relação que aquele que está em Cristo mantém com Deus. Antigamente era filho da ira, dominado pelo mundo, pela carne e pelo diabo e debaixo do juízo de Deus (Ef 2.1-3); agora, foi perdoado e aceito por Deus, adotado como filho em Cristo; já nenhuma condenação existe contra ele (Rm 8.1). Ele não mais pertence a esse mundo que se desfaz, mas à época vindoura que já raiou no presente. Assim, Satanás já não tem mais qualquer autoridade ou direito sobre ele, apesar de ainda tentá-lo ao pecado. Nas palavras do apóstolo João, "o maligno não lhe toca" (1 Jo 5.18).
Basta um estudo simples nas Escrituras, da linguagem usada para descrever nossa redenção, para que não fique qualquer dúvida de que o crente, à semelhança de um escravo exposto à venda na praça, foi comprado por preço, e que, agora, passa a pertencer totalmente ao novo dono. O antigo patrão não tem mais qualquer direito sobre ele, como rezava a legislação romana da época. Assim, Paulo diz que fomos comprados por preço (1 Co 6.20; agorazo, "comprar, redimir, pagar um resgate para libertá-lo"), e que sendo agora livres, não devemos nos deixar outra vez escravizar (1 Co 7.23). Fomos resgatados (lutrow) pelo precioso sangue de Cristo (1 Pe 1.18; cf. Ap 5.9).
O ensino bíblico acerca da relação que o crente desfruta com Deus precisa ser enfatizado em nossos dias, particularmente as suas implicações. A julgar por muito do que é dito por defensores do movimento de "batalha espiritual" quanto
à atuação e ao poder dos espíritos malignos na vida dos crentes, falta-lhes uma visão e uma compreensão mais exata quanto ao ensino do Novo Testamento sobre o ser nova criatura, ou melhor, nova criação bem como quanto às implicações desse ensino para a "batalha espiritual". Há pelo menos dois ensinamentos da "batalha espiritual" que acabam por minimizar a eficácia da obra de Cristo, que são: a demonização de crentes verdadeiros e a necessidade de quebrar maldições.
Primeiro, vejamos o conceito de que crentes verdadeiros podem ser demonizados. Ela tem se tornado tão popular, que muitos artigos de revistas teológicas especializadas em aconselhamento, ao tratar das características da demonização, não fazem qualquer distinção entre crentes e descrentes.(45) Mas, o que é "demonização"? É importante entendermos bem o que querem dizer quando empregam esse termo. Há quatro coisas que definem bem esse conceito:
Demonização é diferente de possessão demoníaca. Frank Peretti, pastor licenciado da Assembléia de Deus e autor do best seller de 1998 Esse Mundo Tenebroso, um cristão não pode ficar possuído por um demônio, mas pode ser "demonizado".(46) Não somente Peretti, mas muitos líderes do movimento de "batalha espiritual" seguem a mesma distinção, como por exemplo, no Brasil, Gilberto Pickering. Em seu livro Guerra Espiritual ele acusa os tradutores da versão King James de terem colocado a Igreja na direção errada ao traduzir o termo grego daimonizomai e seus cognatos por "possessão demoníaca", tradução também adotada pela Almeida.(47) A expressão "possessão demoníaca" e mesmo "endemoninhamento", segundo Pickering, implica na posse por parte de Satanás da vida e do destino de uma pessoa.(48) Nesse caso, só há duas opções: ou alguém está possuído por um espírito maligno, ou não está.
Demonização é um fenômeno parcial. O ponto defendido é que existem graus diferentes em que uma pessoa — mesmo um crente — está debaixo do controle e influência de Satanás. Daí a preferência pela tradução "demonizado"
ou "endemoninhado", pois expressa a idéia de que uma pessoa, mesmo um crente, pode ter alguma área de sua vida debaixo do controle parcial de um ou mais demônios, sem necessariamente estar "possesso" por eles. Powlison, em sua crítica à "batalha espiritual", descreve este conceito fazendo um paralelo entre a personalidade humana infestada em diversas áreas por demônios e o disco rígido de um computador, onde determinadas áreas estão infectadas com um ou mais vírus.(49)
Portanto, muitos defensores da "batalha espiritual" negariam que um crente pode ficar possesso de um espírito imundo, mas afirmam que ele pode ficar "demonizado", isto é, com alguma área de sua vida debaixo do controle de um ou mais demônios.(50) Na verdade, vão ao ponto de dizer que não existe "possessão demoníaca" nem mesmo de incrédulos — o que há é "demonização".(51) Portanto, a explicação que dão para um comportamento moral ilícito é de que os demônios do pecado estão entrincheirados no coração
humano.
A demonização ocorre por causas bem definidas. Aparentemente, eles entendem que a "demonização" é uma influência maligna na vida de uma pessoa, superior à daquela da tentação, em que um ou mais demônios vêm habitar na pessoa, fazendo-a ficar confusa, incrédula, e especialmente escravizada a determinados hábitos pecaminosos. A pessoa cai vítima desta opressão demoníaca por causa de seus pecados, ou por causa dos pecados de outros contra ela, como por exemplo, a molestação sexual durante a infância.(52) A "demonização" de um crente verdadeiro pode ocorrer ainda por vários outros motivos: o pecado de seus antepassados, ódio, amargura e rebelião durante a infância, pecados sexuais, maldições e pragas rogadas por outros, e envolvimento com o ocultismo.(53) Tais coisas dão autoridade aos demônios para invadi-las. O mesmo ocorre por causa de maldições hereditárias. Qualquer que seja a causa, os demônios invadem a vida das pessoas e nelas habitam. No caso dos crentes, eles permanecem em constante conflito com o Espírito Santo, que também habita nos crentes.(54) Segundo alguns, estes demônios invasores podem ficar habitando no corpo ou na alma do crente.(55)
Demonização e vida em pecado andam juntas. O efeito da demonização de crentes ou descrentes, segundo Murphy, é uma vida em pecado, geralmente nas áreas de práticas sexuais ilícitas, ódio, mágoa, rancor, rebelião, sensação de culpa, rejeição e vergonha, atração ao ocultismo e ao mundo dos espíritos.(56) Segundo Murphy, o processo de demonização de um crente é geralmente o seguinte: o primeiro demônio invade a sua vida, e abre as portas para que outros venham. Se não forem detectados e expulsos, permanecerão lá, habitando no crente, e gradativamente ganharão controle sobre as sua emoções, até finalmente atingirem o centro de sua personalidade. Crentes demonizados não poderão prosseguir sozinhos na vida cristã; precisam de ajuda de alguém que expulse estas entidades de suas vidas.(57) Embora o conceito de "demonização" seja uma ótima explicação para os hábitos pecaminosos que escravizam muitos crentes, ele esbarra em algumas dificuldades exegéticas e teológicas. Há pelo menos quatro delas que podemos
mencionar.
O problema é mais que uma questão de tradução. Mudar a tradução de daimonizomai ("possessão demoníaca") para "demonização" não resolve o problema levantado pela sugestão de que crentes verdadeiros podem se tornar escravos de demônios, mesmo que seja em apenas algumas áreas morais da sua vida. Embora o último termo traduza de forma mais literal a expressão bíblica, o primeiro expressa melhor o seu sentido. Alguém "demonizado" está debaixo do controle de um demônio. Existe alguma área de sua vida — ou sua vida toda — que está possuída por aquela entidade. É este o sentido da expressão.
Nos casos mencionados nos Evangelhos e Atos, os endemoninhados estavam afligidos por distúrbios, quer mentais ou físicos (paralisia, cegueira, surdez, epilepsia, loucura, cf. Mt 4.24; 8.28; 9.23; 12.22; 15.22). Seus corpos e mentes
haviam sido invadidos por demônios. A causa nunca é citada no Novo Testamento. O efeito é que tais pessoas estavam debaixo do controle destes seres, que não somente as afligiam, mas as haviam privado da razão, às vezes da saúde e do controle físico.
Nos Evangelhos, as atitudes e reações das pessoas "demonizadas" são atribuídas aos demônios que as invadiram, ver Mc 3.11; Mt 8.31; Mc 1.26; Lc 4.35; At 5.16; et al. Portanto, não é de se admirar que os tradutores, quase que universalmente, tem traduzido o verbo daimonizomai indicando possessão demoníaca. É que se trata da invasão de demônios na vida, no corpo, na mente e na personalidade das pessoas, chegando ao ponto de escravizá-lo a certos pecados e atitudes. Admitir que um crente esteja "demonizado" é admitir que ele está debaixo do controle de Satanás, cativo à sua vontade, impelido a estas atitudes compulsivas. E portanto, mesmo que a terminologia foi trocada, permanece a questão se um crente pode ter demônios habitando em seu corpo, o qual é igualmente habitado pelo Espírito Santo.(58) O conceito agride textos claros quanto aos privilégios dos crentes. A questão é realmente aguda, pois a Escritura ensina que o crente está assentado com Cristo nos lugares celestiais, acima de todos os principados e potestades (Ef 1.2122). O crente está em Cristo, e Cristo nada tem a ver com o maligno (Jo 14.30). E, naturalmente, o diabo não toca os que são de Cristo (1 Jo 5.18), pois o que está no crente (o Espírito Santo) é maior que os espíritos malignos que habitam neste mundo (1 Jo 4.4).
O pecado é atribuído à natureza decaída do homem. Os demônios denominados pela "batalha espiritual" como sendo demônios da lascívia, do ódio, da ira, da vingança, da embriagues, da inveja, e assim por diante, não aparecem no Novo Testamento. Estas coisas são, na verdade, as obras da carne mencionadas por Paulo em Gálatas 5.19-21. A solução para estes pecados não é expulsar demônios que supostamente os produzem, mas arrependimento, confissão, e santificação. O conceito de "crente demonizado", na realidade, em vez de produzir a mortificação da nossa natureza pecaminosa como as Escrituras determinam (Cl 3.8; Rm 8.13), fornece uma desculpa e uma racionalização para o pecado, as quais a nossa natureza pecaminosa sempre é rápida em usar.
Falta comprovação bíblica da demonização de crentes. Além disto, falta a necessária comprovação bíblica de que podemos e devemos expulsar demônios da vida de crentes verdadeiros. Jesus nunca expulsou demônios de quem era seu discípulo — Maria Madalena, de quem Jesus expulsou sete espíritos malignos, certamente se converteu naquela ocasião (Lc 8.2). Os apóstolos, igualmente, nunca expulsaram demônios de crentes das igrejas locais. O Novo Testamento é absolutamente silencioso a este respeito; silencia igualmente quanto às causas que levaram determinadas pessoas a ficarem endemoninhadas. O Novo Testamento apenas descreve o encontro de Jesus e dos apóstolos com pessoas endemoninhadas, mas em nenhum caso revela como o endemoninhamento aconteceu, se foi por causa de pecados pessoais, pelos pecados de outros, por maldições hereditárias, ou qualquer outros dos motivos alegados pelos proponentes da "batalha espiritual". Não devemos tentar satisfazer a nossa curiosidade baseados em especulações e experiências pessoais.
Segundo, a quebra de maldições. Esse ensinamento característico da "batalha espiritual" tende igualmente a minimizar a perfeição e a eficácia da obra de Cristo na vida do crente. Podemos resumir esse conceito em quatro pontos.
Os filhos pagam pelos erros dos pais. Os pecados, vícios, e pactos demoníacos feitos pelos antepassados de um crente afetam negativamente a sua existência presente. Maldições hereditárias são aquelas que herdamos dos
nossos pais e antepassados em decorrência desses erros que eles cometeram.
Este conceito procura basear-se em Êxodo 20.5, onde Deus afirma que castiga a maldade dos pais nos filhos até a terceira e quarta geração.
A transmissão genética de demônios. Autores como Rodovalho chegam a sugerir que os espíritos "familiares" passam dos pais para os filhos através dos genes.(59) Dessa forma, eles se perpetuam na família geração após geração. Isso explicaria porque determinadas famílias sofrem de pecados ou tragédias características em suas linhagens. Por exemplo, famílias que através dos séculos são marcadas por casos e mais casos de suicídios são vítimas de um "espírito familiar" de suicídio, que entrou na linhagem por algum motivo e só sairá com a quebra da maldição e a reparação do pecado que lhe deu a oportunidade.
O poder abençoador e amaldiçoador das palavras. As pragas, maldições ou palavras más proferidas diretamente contra nós no presente também têm o poder de nos tornar infelizes, de perturbar nossas vidas. Maldições podem incluir frases dos nossos pais como "menino, vai para o diabo que te carregue!". Através delas, os demônios recebem autoridade para entrar em nossas vidas e torná-las em miséria, dor e sofrimento.
A necessidade de quebrar essas maldições. Mesmo um verdadeiro crente pode deixar de alcançar a plena felicidade nesse mundo caso esteja "amaldiçoado", isso é, debaixo de alguma maldição. Caso não as quebre, padecerá nas mãos dos demônios, que recebem poder para atormentá-lo através delas. O processo consiste em localizar e identificar estas maldições, e anulá-las "em nome de Jesus". A "quebra" destas maldições o caminho para a libertação.(60) No caso de maldições hereditárias, alguns aconselham que se trace a árvore genealógica da nossa família, procurando identificar as pragas, maldições, pecados e pactos com demônios feitos por eles no passado, para depois anulá-los, quebrando-os e rejeitando-os em nome de Jesus.(61)
É verdade que podemos experimentar as conseqüências dos erros da nossa família. Também é verdade que as palavras podem ser usadas para destruir vidas. É igualmente verdadeiro que devemos rejeitar todas as obras das trevas, cuidar das nossas palavras e não sermos coniventes com os pecados de nossos antepassados e parentes ao nosso redor. Contudo, o ensino de "quebra de maldições" vai muito além disso. Existem quatro críticas que podemos fazer a ele.
Uso parcial da evidência bíblica. Geralmente o texto usado para defender o conceito de que os filhos pagam pelos erros dos pais é Êxodo 20.5, onde Deus ameaça visitar a maldade dos pais nos filhos, até a terceira e quarta geração dos que o aborrecem.
Entretanto, ensinar que Deus faz cair sobre os filhos as conseqüências dos pecados dos pais, é só metade da verdade. A Escritura nos diz igualmente que se um filho de pai idólatra e adúltero vir as obras más de seu pai, temer a Deus, e andar em Seus caminhos, nada do que o pai fez virá cair sobre ele. A conversão e o arrependimento individuais "quebram", na existência das pessoas, a "maldição hereditária" (um efeito somente possível por causa da obra de Cristo). Este foi o ponto enfatizado pelo profeta Ezequiel em sua pregação ao povo de Israel da época (leia cuidadosamente Ezequiel 18). A nação de Israel havia sido levada em cativeiro para a Babilônia, e os judeus cativos se queixavam de Deus dizendo "Os pais comeram uvas verdes, e os dentes dos filhos é que se embotaram. . ." (Ez 18.2b) — ou seja, "nossos pais pecaram, e nós é que sofremos as conseqüências". Eles estavam transferindo para seus pais a responsabilidade pelo castigo divino que lhes sobreveio, que foi o desterro para a terra dos caldeus. Achavam que era injusto que estivessem pagando pelo pecado de idolatria dos seus pais. Usavam um provérbio da época, que nos nossos dias seria mais ou menos assim: "Nossos pais comeram a feijoada, mas nós é que tivemos a dor de barriga. . ."
Através do profeta Ezequiel, Deus os repreendeu, afirmando que a responsabilidade moral é pessoal e individual diante dele: "A pessoa que pecar, é ela quem morrerá — não o seu pai ou a sua mãe" (Ez 18.4b, 20). E que pela conversão e por uma vida reta, o indivíduo está livre da "maldição" dos pecados de seus antepassados, ver 18.14-19. Esta passagem é muito importante, pois nos mostra de que maneira o próprio Deus interpreta (através de Ezequiel) o significado de Êxodo 20.5. Aplicando aos nossos dias, fica evidente que o crente verdadeiro já rompeu com seu passado, e com as implicações espirituais dos pecados dos seus antepassados, quando, arrependido, veio a Cristo em fé.
Minimizaçao dos efeitos da obra de Cristo. Esse é a nossa maior preocupação. O apóstolo Paulo nos esclarece que o escrito de dívida que nos era contrário, a maldição da lei, foi tornado sem qualquer efeito sobre nós: Jesus o anulou na cruz (Cl 2.13-15; Gl 3.13). Ou seja, toda e qualquer condenação que pesava sobre nós foi removida completamente quando Cristo pagou, de forma suficiente e eficaz, nossa culpa diante de Deus. Ora, se a obra de Cristo no Calvário em nosso favor foi poderosa o suficiente para remover de sobre nós a própria maldição da santa lei de Deus, quanto mais qualquer coisa que poderia ser usada por Satanás para reivindicar direitos sobre nós, inclusive pactos feitos com entidades malignas, por nós, ou por nossos pais, na nossa ignorância.
Basta um estudo simples nas Escrituras, da linguagem usada para descrever nossa redenção, para que não fique qualquer dúvida de que o crente, à semelhança de um escravo exposto à venda na praça, foi comprado por preço, e que, agora, passa a pertencer totalmente ao seu novo senhor. O antigo patrão não tem mais qualquer direito sobre ele, como rezava a legislação romana da época. Assim, Paulo diz que fomos comprados por preço (1 Co 6.20; agorazw, comprar, redimir, pagar um resgate — termo usado para o ato de comprar um escravo na praça, ou pagar seu resgate para libertá-lo), e que sendo agora livres, não devemos nos deixar outra vez escravizar (1 Co 7.23). Fomos resgatados (lutrow) pelo precioso sangue de Cristo (1 Pe 1.18; cf. Ap 5.9). Quando vivemos à luz da gloriosa verdade de que "se alguém está em Cristo é nova criação" não tememos pragas, maldições, encostos, mau-olhado, "olho gordo", despachos, trabalhos. Igualmente vivemos seguros de que não somos "amaldiçoados" por qualquer dos pecados de nossos pais: tudo foi anulado na cruz. Não estou dizendo que os verdadeiros cristãos gozam de uma imunidade automática quanto à influência de espíritos malignos. É preciso revestir-se da força do Senhor e de toda armadura de Deus para que possam resistir às astutas ciladas do diabo.(62) Meu objetivo foi deixar clara a importância de abraçarmos o ensino correto sobre a situação daquele que está em Cristo. Saber o que isso significa nos dará o parâmetros corretos para avaliarmos os freqüentes relatos de experiências estranhas que ouvimos de evangélicos ao nosso redor, que parecem minimizar ou diminuir a suficiência da obra de Cristo em favor dos que são seus.
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