terça-feira, 3 de abril de 2012

O Hedonismo e suas consequências


Hedonismo é a “filosofia do prazer”. Seu principal representante na Grécia antiga foi Epicuro. Por isso os hedonistas são também chamados epicureus.

Essa filosofia é referida rapidamente nas Escrituras, em Rm 16.17 e 18 - “E rogo-vos, irmãos,que noteis os que promovem dissensões e escândalos contra a doutrina que aprendestes; desviai-vos deles. Porque os tais não servem a nosso Senhor Jesus Cristo, mas só ao seu ventre; e com suaves palavras e lisonjas enganam os corações dos símplices”.

E em Fp 3.19: “Porque muitos há dos quais muitas vezes vos disse, e agora também digo, chorando, que são inimigos da cruz de Cristo. Cujo fim é a perdição; cujo Deus é o ventre; e cuja glória é para confusão deles, que só pensam nas coisas terrenas”.

É a mesma filosofia do prazer denunciada por Paulo em Rm 1.22-27: “Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos. E mudaram a glória de Deus incorruptível em semelhança da imagem do homem corruptível, e de aves, e de quadrúpedes, e de répteis. Pelo que também Deus os entregou às concupiscências de seus corações, à imundícia, para desonrarem seus corpos entre si; pois mudaram a verdade de Deus em mentira, e honraram e serviram mais à criatura do que o Criador, que é bendito eternamente. Amém. Pelo que Deus os abandonou às paixões infames. Porque até as suas mulheres mudaram o uso natural no contrário à natureza. E semelhantemente. também, os varões, deixando o uso natural da mulher, se inflamaram em sua sensualidade uns para com os outros, varão com varão, cometendo torpeza e recebendo em si mesmos a recompensa que convinha ao seu erro.”

É a busca insaciável do prazer carnal, desde o comer e beber, até o prazer do sexo anti-natural. “Pecam contra si mesmos”.

O comer e beber pelo prazer leva à obesidade mórbida e à embriaguez; a libertinagem sexual leva à destruição do caráter, do amor próprio, à gravidez indesejada e suas consequências; leva às doenças venéreas, inclusive à sífilis e à Aids.

Entretanto, o hedonismo é a filosofia mais difundida e estimulada nos dias de hoje. Basta chegar a uma banca de jornais e observar as capas de dezenas de revistas – a pornografia é evidente; os filmes, as novelas em geral, são um estímulo constante à libertinagem sexual. Oferecem o que agrada “a carne”, o ventre.

As consequências maiores são trágicas: violências sexuais, estupros, prostituição infantil, concubinato substituindo o casamento sério, honesto, e responsável; incesto, prostituição e adultério.

Tudo isso destrói não só os corpos e a saúde física, mas também o caráter das pessoas, a começar pela baixa auto-estima. No íntimo as pessoas viciadas em sexo sabem que são desprezíveis, pois a consciência moral – característica do ser humano – as acusa (Rm 2.14-15: “Quando os gentios, que não têm Lei, fazem naturalmente as coisas que são da lei, não tendo eles lei, para si mesmos são lei; os quais mostram a obra da Lei escrita em seus corações, testificando juntamente a sua consciência, e os seus pensamentos, quer acusando-os, quer defendendo-os.”).

As consequências sociais são terríveis: as crianças abandonadas pelos pais e mães que não as desejavam, são presas fáceis dos corruptores de toda espécie. Homens e mulheres que se entregam aos vícios e a toda espécie de corrupção. Então nos surpreendemos quando ficamos sabendo do tráfico de toneladas de tóxicos, do tráfico internacional de mulheres, da pedofilia praticada até por “religiosos”, de quadrilhas formadas por políticos de todos os níveis, da sociedade consumista que esbanja imensas quantias em frivolidades, desde as modas até o luxo com cachorros, consomem fortunas enquanto crianças e jovens vivem e morrem em extrema miséria.

A inversão de valores é o pecado generalizado. Poucos são os que pensam nos valores morais e espirituais. E sem esses valores reconhecidos e colocados no topo de todos os valores, a sociedade humana se amesquinha, se animaliza e se destrói. O progresso das ciências, como a surpreendente tecnologia de hoje, não está voltada para o bem comum – de todos – mas só para o conforto e diversão de uma elite.

E uma realidade assusta hoje: nosso planeta está em perigo de destruição pelo próprio ser humano.

Tudo isso por que?

O homem – a humanidade – é cada vez mais materialista, e apesar de toda sua religiosidade, ignora a realidade de Deus com a Lei que Ele nos deu, resumida nos “Dez Mandamentos” que são de uma incomparável profundidade moral, espiritual e filosófica.

De modo geral, hoje, quando as pessoas nos ouvem falar de Deus e Seus mandamentos, rejeitam tudo como algo antiquado, sem sentido, e até como burrice.

Entretanto, Deus nos deu a Sua Lei assim como o inventor ou o fabricante de uma máquina preciosa e delicada, como o elevador ou o avião: ensina os cuidados a tomar, excessos a evitar, o uso correto, para o bem e a segurança dos próprios usuários.

Em Dt 6.1-7, diz: “Estes,pois, são os mandamentos, os estatutos e os juízos que mandou o Senhor vosso Deus para se vos ensinar, para que os fizésseis na terra a que passais a possuir: para que temas ao Senhor teu Deus, e guardes todos os Seus estatutos e mandamentos, que Eu te ordeno, tu e teu filho e o filho de teu filho, todos os dias da tua vida, e que teus dias sejam prolongados. Ouve, pois, ó Israel, e atenta que os guardes para que bem te suceda e muito te multipliques. Como te disse o Senhor Deus de teus pais, na terra que mana leite e mel. Ouve, Israel, o Senhor teu Deus é o único Senhor. Amarás, pois, o Senhor teu Deus, de todo o teu coração, e de toda a tua alma e de todo o teu poder. E estas palavras estarão no teu coração; e as intimarás a teus filhos, e delas falarás assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e deitando-te e levantando-te.”

Em Dt 10.12-13 diz: “...que é o que o Senhor teu Deus pede de ti, que temas o Senhor teu Deus, que andes em todos os Seus caminhos, e O ames, e sirva ao Senhor teu Deus, com todo o teu coração... para guardardes os mandamentos do Senhor, e os Seus estatutos, que hoje te ordeno, para o teu bem?”

Você quer que tudo melhore em sua vida? Comece pensando sobre tudo isto, e a obedecer a “Lei do Senhor” escrita em seu coração, isto é, em sua consciência. É o que diz Rm 2.14-15: “Os que ouvem a Lei não são justos, mas os que praticam a Lei hão de ser justificados. Porque, quando os gentios, que não têm Lei , fazem naturalmente as coisas que são da Lei, não tendo eles lei, para si mesmos são lei. Os quais mostram a obra da Lei escrita em seus corações”.

Você é um cristão? Então responda com sinceridade para você mesmo: é um cristão de fato e de verdade? Ou é um “cristão nominal”, que “faz média” com o mundo?

Nesse caso, não deixe para depois, tome a decisão: seja um cristão fiel, de fato e de verdade, conforme Rm 12.1-2: “Rogo-vos, pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os vossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. E não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus”. E diga como o salmista no Salmo 119.97: “Oh! Quanto amo a Tua Lei”.

Rubens Osório


Marido que Ama com Atitudes



“Poe-me como selo sobre o teu coração…” Ct8.6

Nós corremos com tantas coisas, nos preocupamos com pessoas que nem sempre se importam conosco e assim vamos vivendo a vida tentando agradar a tanta gente.

Mas tem uma pessoa muito próxima de nós a quem chamamos de “minha esposa”, “minha mulher” e alguns de nós, ainda que no bom humor, a tratam de “dona encrenca”, “dona da pensão”, a quem devemos a maior consideração e cuidado.

Dentre as relações humanas, ela deve ser a pessoa mais importante, é de quem eu não posso me esquecer jamais.

Podemos até negligenciar algumas coisas, mas ela não pode ser negligenciada de forma alguma, ela merece o melhor da nossa dedicação e apreço.
E mais, tudo que eu lhe fizer de bom, o retorno é imediato. Veja que com um investimento pequeno o retorno é muito bom, então, que haja fartura de elogios honestos e oportunos.

Você já reparou que elogiamos tantas pessoas que nos são assim mais distantes, pessoas com as quais mantemos relacionamentos superficiais e esporádicos. No restaurante você agradece ao garçom e elogia a comida, no posto de gasolina agradece e deseja um bom dia ao frentista, e assim por diante. Isso tudo é importante, mostra nossa educação e amor pelas pessoas.

Mas o nosso melhor deve acontecer dentro de nossa casa, no trato com a esposa. Ela deve receber de nossa parte os melhores elogios , agradecimentos. Ela deve ser a pessoa mais estimulada e encorajada das nossas relações.

Não estou dizendo que os meus companheiros devam virar “um meloso”, porque aí é lisonja interesseira e perde o seu valor, mas o elogio sincero, esse tem peso.

Puxa vida, às vezes queremos uma noite memorável de amor, e como gostamos disso. Mas uma grande noite de amor começa ao amanhecer do dia, com um bom e gostoso abraço, uma palavra que semeie alegria, uma declaração que reafirma o amor.
Permita-me ensinar um segredo pra você, sabe aqueles dias, que todo mês vem, pois então, é nesse período que ela mais precisa ser abraçada. Um abraço assim pode até curar a TPM.
E não só isso, um abraço gostoso, bem demorado, cura a depressão, mau humor, ressentimentos e outras coisas mais.

Quando você a abraça estando ela “naqueles dias”, a leitura que ela fará é a seguinte: “Ele me ama independente do que eu posso lhe oferecer.”.
Alguém disse: “Me ame quando eu não merecer, pois é aí que vou precisar do seu amor”, então, é isso! Simples e fácil, mas com um poder curador incrível.

E quando você estiver longe dela, numa viagem ou um trabalho fora, traga um presentinho para ela, alguma coisa ainda que de pequeno valor monetário, mais que trará no seu bojo um valor emocional fantástico. Sabe o que ela vai pensar: “Ele esteve longe, perto de outras mulheres, mais foi de mim que se lembrou e foi para mim que voltou”.

Experimente e veja o resultado que trará.

Na lide pastoral uma esposa disse: “Pastor, ele passa o sábado inteiro lavando, esfregando e polindo aquele carro, fico enciumada e desejo estar no lugar daquele automóvel menos uma vez por mês”. Já imaginou isso?

Você foi chamado por Deus para cuidar dela, portanto não despreze a missão, pois acrescentará longos anos de bom relacionamento.

Pr. Ismael


Casamento, Instrumento de Aperfeiçoamento



O casamento tem muito valor diante de Deus por vários motivos: Porque simboliza a união de Cristo e sua Igreja; Para que o homem não esteja só; Para dar continuidade à descendência e um grande instrumento para nos aperfeiçoar como pessoas, como cristãos. Um ótimo lugar para vivermos o evangelho.

A convivência a dois é tremenda. Há muitas alegrias, muito amor. É um relacionamento entre duas pessoas que deve trazer a elas muita felicidade. Porém, não é só isso. No casamento também acontecem conflitos, dificuldades, lutas, mas, que não devem tirar a beleza da vida a dois, porém, serem interpretadas de uma forma positiva. É sobre isso que vamos falar um pouco.

As dificuldades no casamento ocorrem devido aos seus defeitos e os de seu cônjuge e por circunstâncias que fogem o domínio de vocês. Esses motivos que realmente são os instrumentos usados por Deus para lhe aperfeiçoar.

Com certeza sua maior dificuldade são os defeitos de seu cônjuge. Ele age de tantas formas que você não se agrada e deixa de fazer outras tantas que lhe agradaria bastante. O que você espera que ele faça, ele não faz, porém, o que você mais detesta ele faz. Veja bem, é neste exato momento que você deve exercitar o que tem aprendido na Palavra de Deus. É através dos defeitos de seu cônjuge que Deus quer que você exercite o amor, a paciência, a mansidão, o de dar a outra face, a obediência, a humildade. E nisso o Senhor trabalha em você, moldando-o com o caráter de Cristo. Quando você chega no limite de sua paciência, então entra em ação a paciência de Deus. Quando você chega no limite de sua tolerância, então entra o amor de Deus. Quando você chega em seu limite, seja qual for a área, então você se depara com a decisão de escolher o caminho estreito ou o largo. Sair da teoria, das pregações, da letra, do falar e ir para a prática de tudo que você tem ouvido, falado e pregado, ir para a cruz. É uma escolha. E quando você escolhe a vontade de Deus você é aperfeiçoado e o Espírito Santo manifesta-se através de você. Quais escolhas você tem feito? As da carne ou do Espírito? É no casamento que revela seu nível espiritual, pois, onde mais existem tantos momentos "oportunos"de se colocar em prática a obediência?

Jesus passou por isso. Ele convivia diariamente com os discípulos e cada um tinha suas fraquezas.

E a Bíblia nos diz que o Senhor os amou até o fim. Ele foi aperfeiçoado pelas coisas que sofreu, e algumas delas foi continuar em obediência à vontade de Deus mesmo recebendo traições, dúvidas a respeito de si mesmo, abandono e rejeição daqueles que andaram com Ele. A reação do Senhor era de lavar os pés de seus discípulos; servi-los, amá-los, ensina-los, perdoa-los... E a recompensa de toda a obediência de Jesus Cristo foi a vitória completa, Seu Nome ser acima de todo nome, Deus O exaltou sobremaneira. Para seguir a Jesus você precisa se negar e começa pela sua casa. É muito fácil amarmos àqueles que não moram conosco e também não precisam nos suportar.

Aproveite sua casa para exercitar princípios bíblicos que você, talvez, não terá oportunidade de exercitar em outro lugar. Se deixe ser tratado por Deus. Em vez de contender, separar, revidar, humilhe-se, negue-se e obedeça a seu Senhor.

Claro, que não estou justificando os erros de seu cônjuge, mas lhe digo que só o Espírito de Deus convence o homem do pecado, do juízo e da justiça. Até nisso você é aperfeiçoado pelos erros dele, pois, o estimula, se você realmente entendeu que é o Senhor que convence, a buscar mais a Deus para a cura e libertação de seu cônjuge.

Percebeu que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus e são chamados segundo o Seu propósito? Agindo você assim, em obediência, receberá muito mais da presença de Deus e de suas bênçãos espirituais, matrimoniais, emocionais e até materiais. Experimente!

Elenir F. L. Campos


Como Discordar Sem Brigar?



Vivemos em um mundo de comunicações: internet, fax, telefones/celulares cada vez mais sofisticados e televisão, dentre outros aparelhos, perfazem a poderosa mídia, mas paradoxalmente, entre as pessoas, a regra é o mal-entendido, e a exceção é a comunicação. No interior das famílias, falta-nos reaprender algo que talvez um dia, na infância, soubéssemos fazer: comunicar o que sentimos.

Um marido de meia idade deixou o trabalho mais cedo e foi para casa preparar um jantar especial para a esposa. Dispensou a empregada mais cedo, cuidou das crianças e foi para a cozinha preparar o jantar. Ele queria surpreender a mulher. Quando a mulher chegou a casa, viu a sala arrumada, a mesa pronta, o ambiente suavemente iluminado à luz de velas, sobre a mesa um belo e delicioso jantar. Ela foi até a cozinha e saiu de lá com um pano de prato nas mãos, sujo de gordura. Ruidosamente chamava a atenção do marido para o pano de prato sujo e fora do lugar: como ele pôde fazer aquilo!… A questão deixou de ser o jantar, para se tornar um problema em torno de um pano de prato, sujo de gordura. Como essa esposa não pôde ver o jantar!…

Em outra situação, uma filha adolescente confidenciou à mãe que estava gostando de um garoto da escola. A mãe, um pouco descuidada com a observação respondeu: “você está muito gorda, ele não vai querer você assim”. Depois disso, a filha se retraiu, evitou contar os seus “segredos” para a mãe e passou a contar, apenas para as amigas. A filha adolescente que buscava a cumplicidade da mãe transferiu tal cumplicidade, para as amigas.

As duas histórias podem paralisar as relações das pessoas envolvidas e, inclusive, destruir as relações. Considerando as proporções de cada caso, assim como o longo conflito entre católicos e protestantes na Irlanda do Norte, onde cada lado acredita estar certo, o mesmo também se passa com as pessoas. Todos acreditam que estão certos. Vamos analisar os fatos a partir de uma teoria. Todo fato tem um contexto seguido de seu relato que é dado por um observador. O contexto do fato e o contexto do relato podem ganhar significados diferentes, dependendo dos interlocutores e da situação em que ocorreu.

Quando nos comunicamos, não estamos apenas transmitindo informações, mas, ao mesmo tempo, sugerindo para um outro qualquer, uma forma de nos perceberem. Estamos, sobretudo, falando de nós mesmos, ainda que estejamos falando de uma situação. O que contamos é, ao mesmo tempo, a manifestação de nossa identidade que busca afirmação na concordância do interlocutor. Procuramos no outro a confirmação de nossa imagem, a imagem que desejamos transmitir: queremos que pensem sobre nós ou que nos vejam do jeito que pensamos e nos vemos. É evidente então que mudando o interlocutor, pode mudar o relato. A questão é que não somos apenas pessoas (Carlos, Maria, Joana, etc.), nós somos também, as nossas relações, nossos sonhos, nossa história, com as alegrias, as tristezas, as verdades que dizemos que podem ser mentiras e essas mentiras, podem ser verdades, desde que se mude a perspectiva. Tudo está relacionado com as relações que temos com os outros. Muitas vezes podemos dizer que estamos bem ou que estamos muito mal, depende do lugar e de quem será o nosso interlocutor. Para sermos o que somos ou pensamos que somos, dependemos significativamente dos outros. Quando narramos um relato estamos falando de nós mesmos. Quando falamos estamos demarcando o nosso território psicológico, estamos em busca de auto-afirmação e do reconhecimento de nossa identidade. Essa auto-afirmação assegura o desenvolvimento e a estabilidade mentais. Mas é claro que assim como os outros podem confirmar nossas qualidades, podem também nos rejeitar e nos desconfirmar. Assim como buscamos nos outros a confirmação de nossas qualidades, de nossa auto-imagem, corremos também riscos de nossa total desconfirmação, e de cairmos na baixa auto-estima. Por isso, falar é fácil, mas se comunicar é uma “ciência” complexa.

Seguindo determinações biológicas, os animais se comunicam com precisão absoluta, pelo menos quando seus órgãos sensoriais se encontram em perfeito funcionamento. O biólogo Humberto Maturana (2001), pesquisando as condições em que se processa a cognição, observa o comportamento das salamandras. Diz o cientista que, “quando pomos um bichinho na frente da salamandra, ela lança sua língua e o captura”, ou seja, entre a minúscula estrutura cerebral da salamandra e o bichinho na exterioridade, há uma correlação objetiva entre interior e exterior que garante uma regularidade nesse ato comunicativo. O mesmo acontece com a dança das abelhas, que comunica ao seu núcleo, as fontes de néctar. O caminhar errático das formigas, que distribuem feromônios pelo caminho, são formas de comunicar uma espécie de endereço que leva aos alimentos. Esses pequenos animais estão se comunicando a partir de seu cérebro em relação ao meio exterior. Fazem isso com precisão, mas no “escuro”. Maturana em, Cognição, Ciência e Vida Cotidiana, lembra de uma pescaria de trutas: “um anzol com peninhas… aí vocês jogam o anzol de tal maneira que ele passe apenas roçando a superfície da água. E a truta que está ali salta e, depois de agarrar o anzol, diz: ‘Ah! Claro… me pegaram’. A truta não pode distinguir entre ilusão e percepção” (MATURANA, 2001, p. 26).

Se a truta distinguisse um inseto de um anzol com peninhas que imitam o inseto não haveria pesca de trutas dessa maneira. Qual a diferença entre o comportamento animal e o comportamento do homem? Maturana defende que, tanto os animais citados acima, quanto os homens, não sabem distinguir entre ilusão e percepção na experiência. O marido não pôde perceber a mensagem do pano de prato; a esposa não percebe a mensagem do jantar. A mãe, não percebe a mensagem da filha que, ao sentir-se desejada, quer também a validação afetiva da mãe; a filha não pôde entender o desespero da mãe. É como se todos ao invés de falar a verdade sobre o que sentem, estivessem mentindo. É uma questão de impossibilidade humana, trata-se de uma limitação entre o real das coisas e as palavras. No caso dos animais, eles dependem de um tempo, onde ocorre uma mutação adaptativa para aprenderem um novo comportamento. No caso dos humanos, dependemos da produção de uma linguagem sempre nova. Por isso, a idéia de que há sempre outras possibilidades de nos entendermos ou de recomeçar do ponto onde paramos. O que muitas vezes esquecemos é que nós falamos, e é o que faz toda a diferença. Por que falamos, podemos transformar a realidade e reinventar modos de vida. Diz o biólogo: “não podermos distinguir entre ilusão e percepção na experiência é uma condição constitutiva dos seres vivos. E tanto é assim que, inclusive, temos palavras que implicam essa incapacidade de distinção, e estas são erro e mentira. Quando se diz a outra pessoa: ‘você mente’, o que se diz é: ‘no momento em que dizia, você sabia que o que dizia não era válido’. Mas quando alguém diz: ‘eu me equivoquei’, o que diz é: no momento em que disse o que disse, eu tinha todos os motivos para pensar que o que dizia era válido’, quer dizer, não sabia que o que dizia não era válido, mas o sei a posteriori” (Idem). Ou seja, só podemos distinguir um equívoco depois da experiência, sendo que tal experiência depende de uma explicação, de uma linguagem.

Nós “mentimos” durante a experiência, ou seja, já sabemos a priorísticamente da mentira, ao passo que o equívoco não pode ser percebido a não ser a posteriori. Nos dois casos, na mentira e no equívoco, temos a elaboração da linguagem. Existimos na linguagem. Não há modo de nos referirmos ao mundo a não ser explicando-o por meio da linguagem. Daí, nós nos separamos da pura natureza instintiva dos animais. Um animal quando se mimetiza, está mentindo para dizer a verdade ou está dizendo a verdade mentindo. Podemos estender a mão com uma precisão matemática para pegar um copo d’água, assim como a salamandra captura com a língua o seu alimento, mas não temos a tradição de nos perguntarmos por que fazemos isso. “Se não me faço a pergunta, vivo na deliciosa ignorância” em relação a maior parte das coisas que me acontecem. E a dificuldade não está em pegar a água, mas de explicar as coisas e os acontecimentos do entorno. Faltam, nos dois exemplos citados, marido-mulher e mãe-filha, saírem do escuro para praticarem o jogo lúdico da oficina das palavras. Fazer perguntas sinceras sobre o sentimento de um e de outro.

Viver instintivamente é difícil, repetir gestos e comportamentos é muito simples, os animais o fazem. Aqui encontramos a nossa questão, no ponto em que nos distinguimos dos animais e deles nos distanciamos. É, também, o momento em que nos tornamos complexos e quando complicamos as nossas relações. Quando começamos a simbolizar o mundo, as emoções, os pensamentos e os sentimentos e deixamos, ao mesmo tempo, a possibilidade de retorno ao estado animal de contato com o mundo. As palavras não são signos transparentes e perfeitos. Elas não têm o contato e a plenitude da presença dos objetos a um tempo, elas são signos arbitrários, não têm o poder de representar a realidade a que se refere. Ao mesmo tempo em que residimos na linguagem, perdemos o paraíso que sem ela submergiríamos em plena ignorância. Uma outra condição que dificulta a nossa comunicação é o fato de olharmos e ouvirmos em perspectiva. Não podemos nos livrar da condição de observadores e tal condição faz com que olhemos o mundo em perspectiva. Olhamos, escutamos, sentimos e nos expressamos a partir de nossas perspectivas. Estamos condenados ao perspectivismo e não há outra maneira de ser. É do alto de nosso corpo, com as faculdades dos sentidos que aprisionamos o mundo, as pessoas, as coisas e os acontecimentos. Tudo é perspectiva. Quando discordamos, é de uma perspectiva para outra.

No primeiro caso, faltou ao marido a capacidade de ver a perspectiva da esposa. O que ela queria “dizer” com a queixa do pano de prato? Falta à esposa “ler” a perspectiva do marido. O que ele quer “dizer” com o jantar? Cada um quer “dizer” alguma coisa que ainda não “pode” dizer de maneira mais precisa. Com a ajuda da psicoterapia, ela diz: “eu não quero que ele vá para casa mais cedo, nem que faça jantar, ou que cuide das crianças. Nós temos empregados para esse tipo de coisa. Estou cansada de dizer a ele que precisamos sair, viajar, dormir fora, fazer amor…”.

O marido se justifica: “estou cansado, sem desejo, sem vontade de sair. Pensei que fazendo esse tipo de coisa, pudesse substituir uma coisa por outra”. Eles não conseguiam falar sobre essas dificuldades, é como se fosse uma derrota, uma humilhação. Cada um gostaria que o outro percebesse isso sem que fosse preciso dizer.

No segundo caso, a mãe diz: “é que tenho medo que minha filha inicie uma vida sexual prematuramente, que engravide, se perca na vida espiritual…”.

A filha relata que a questão não é sexual, trata-se de aceitação. Um menino da escola demonstrou simpatia, com isso a menina se sentiu amada. Neste caso, a filha quis partilhar com a mãe os seus segredos e suas experiências e obter também o afeto da mãe. Falta-nos a capacidade para compreender o que não está sendo dito. A adolescente, de certa maneira, quer dizer: “olha mãe, mesmo estando um pouco gordinha, tem um menino que está gostando de mim”. E a mãe preocupada, gostaria de ter dito: “estou com medo de você descobrir o sexo antes da hora”.

O marido quer dizer: “estou sem desejo, não quero fazer sexo em lugar nenhum, estou cansado, estressado, por isso, tento agradá-la fazendo o que fiz”.

E a mulher, com o pano de prato na mão, deveria ter dito: “não é nada disso, nenhum jantar vai resolver a nossa questão. Precisamos descobrir uma outra saída para as nossas dificuldades, precisamos aprender a falar sobre nossos problemas”. John Gray em Men are from Mars, Women are from Vênus (1992), diz que as mulheres querem falar a partir dos seus problemas; os homens querem falar da solução dos problemas, só que a matriz da solução dos problemas dos homens não é a mesma com que as mulheres falam de seus problemas. Os problemas emocionais têm uma outra lógica, trata-se de uma lógica subjetiva. A matriz de pensamento do homem está marcada pela subjetividade patriarcal.

Os homens, na infância, ganharam como presentes, carros e bolas de futebol. Numa lógica que aponta para o exterior e acompanha a anatomia do órgão genital, o homem, desde muito cedo, é lançado em direção ao mundo exterior. A mulher, da mesma sociedade falocrata, é educada sob uma matriz oposta. As meninas ganham bonecas, fogõezinhos e panelinhas, indicadores de uma outra subjetividade. Aprendemos a andar lado-a-lado, mas sem possibilidades de nos encontrarmos. Os encontros de intimidade afetiva só existem a partir de construções na linguagem. Precisamos aprender, urgentemente, a falar de sentimentos e com sentimentos. Pais e filhos, maridos e mulheres, ainda nos resta resolvermos essa questão. Olhamos, mas nem sempre enxergamos, não percebemos o que o outro quer nos mostrar.

Ouvimos, mas não escutamos, nem compreendemos o que quiseram verdadeiramente nos dizer. Falamos muito, sobre muitas coisas, mas quão pouco dizemos, ou, mesmo comunicamos sobre nossos sentimentos: desejos, medos, vontades, sonhos, etc. Como diz Peter Drucker, “O mais importante em comunicação é ouvir o que não está sendo dito.” E falando psicanaliticamente, a verdade se esconde entre as brechas da fala. É na dificuldade de falar que se encontra o maior sentido do ouvir.

Clécio BrancoPsicólogo


Supremo absurdo



Contrariando a Constituição, STF reconhece “união estável” entre pessoas do mesmo sexo

A Constituição Federal de 1988 reconheceu como entidade familiar a “união estável” entre o homem e a mulher:

Art. 226, § 3º. Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento.

Conforme reconhece o ministro Ricardo Lewandowski, “nas discussões travadas na Assembleia Constituinte a questão do gênero na união estável foi amplamente debatida, quando se votou o dispositivo em tela, concluindo-se, de modo insofismável, que a união estável abrange, única e exclusivamente, pessoas de sexo distinto”[1]. Logo, sem violar a Constituição, jamais uma lei poderia reconhecer a “união estável” entre dois homens ou entre duas mulheres. De fato, o Código Civil, repetindo quase literalmente o texto constitucional, reconhece a “união estável” somente entre o homem e a mulher:

Art. 1.723. É reconhecida como entidade familiar a união estável entre o homem e a mulher, configurada na convivência pública, contínua e duradoura e estabelecida com o objetivo de constituição de família.
A não ser que se reformasse a Constituição, os militantes homossexualistas jamais poderiam pretender o reconhecimento da união estável entre dois homossexuais ou entre duas lésbicas. Isso é o que diz a lógica e o bom senso.

No julgamento ocorrido em 4 e 5 de maio de 2011, no entanto, o Supremo Tribunal Federal, ferindo regras elementares da coerência lógica, reconheceu por unanimidade (!) a “união estável” entre duplas homossexuais.

Naqueles dias foram julgadas em conjunto duas ações: a Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental 132 (ADPF 132) proposta em 2008 pelo governador Sérgio Cabral, do Estado do Rio de Janeiro e a Ação Direta de Inconstitucionalidade 4277 (ADI 4277) proposta em 2009 pela vice-Procuradora Geral da República Débora Duprat, na época exercendo interinamente o cargo de Procuradora Geral da República. O que ambas as ações tinham em comum era o pedido de declarar o artigo 1723 do Código Civil inconstitucional a menos que ele fosse interpretado de modo a incluir as duplas homossexuais na figura da “união estável”. O pedido, por estranho (e absurdo) que fosse, foi acolhido pelo relator Ministro Ayres Britto e por toda a Suprema Corte. Foi impedido de votar o Ministro Dias Toffoli, que já havia atuado no feito como Advogado Geral da União (em defesa da “união” homossexual, é óbvio). Dos dez restantes, todos votaram pela procedência do pedido. Acompanhemos o raciocínio do relator Ayres Britto.

Segundo ele, o texto do artigo 1723 do Código Civil admite “plurissignificatividade”[2], ou seja, mais de um significado. O primeiro (e óbvio) significado é que o artigo reconhece como entidade familiar a união estável somente entre um homem e uma mulher, excluindo a união de pessoas do mesmo sexo. O segundo significado (contenha-se para não rir) é que o artigo reconhece como entidade familiar a união estável, por exemplo, entre um homem e uma mulher, mas sem excluir as uniões homossexuais. Para Ayres Britto, a primeira interpretação é inconstitucional, por admitir um “preconceito” ou “discriminação” em razão do sexo, o que é vedado pela Constituição Federal (art. 3º, IV). Somente a segunda interpretação, por ele descoberta (ou criada) é constitucional. Concluiu então seu voto dizendo: “dou ao art. 1.723 do Código Civil interpretação conforme à Constituição para dele excluir qualquer significado que impeça o reconhecimento da união contínua, pública e duradoura entre pessoas do mesmo sexo como ‘entidade familiar’, entendida esta como sinônimo perfeito de ‘família’. Reconhecimento que é de ser feito segundo as mesmas regras e com as mesmas consequências da união estável heteroafetiva”[3].

Uma das consequências imediatas do reconhecimento da “união estável” entre pessoas do mesmo sexo é que tal união poderá ser convertida em casamento, conforme o artigo 1726 do Código Civil: “A união estável poderá converter-se em casamento, mediante pedido dos companheiros ao juiz e assento no Registro Civil”. De um só golpe, portanto, o Supremo Tribunal Federal reconhece a “união estável” e o “casamento” de homossexuais!

Para se avaliar quão disparatada é essa decisão, observe-se que, embora a “união estável” e o casamento sempre ocorram entre um homem e uma mulher, não ocorrem entre qualquer homem e qualquer mulher. Não pode haver casamento, por exemplo, entre irmão e irmã, entre pai e filha ou entre genro e sogra. Esses impedimentos baseados na consanguinidade e na afinidade (art. 1521, CC) aplicam-se também à “união estável” (art. 1723, § 1º, CC). A diversidade dos sexos é necessária, mas não basta. Não se reconhece “união estável” entre um homem e uma mulher “impedidos de casar” (art. 1727).

Será que os Ministros do STF considerariam inconstitucionais estas proibições do casamento de parentes próximos? Em outras palavras: é “preconceituosa” e “discriminatória” a lei que proíbe as uniões incestuosas? Parece que a resposta seria afirmativa. Pois embora o incesto seja uma perversão sexual, ele ainda está abaixo do homossexualismo, que foi admitido pela Suprema Corte como meio de constituição de uma “família”.

E quanto à pedofilia? Seria sua proibição um simples “preconceito de idade”? Esse é o argumento da associação NAMBLA de pedófilos dos Estados Unidos[4], que usa a palavra “ageism” (“idadismo” ou etarismo) para criticar a proibição de praticar atos homossexuais com crianças.

Andemos adiante. Quando a Constituição fala que “todos são iguais perante a lei” (art. 5º) não diz explicitamente que este “todos” se refere apenas aos seres humanos. Estariam os animais aí incluídos? Seria, portanto, inconstitucional a proibição de uma “união estável” ou de um “casamento” entre uma pessoa e um animal? O bioeticista australiano Peter Singer usa o termo “especismo” para designar o “preconceito” e “discriminação” contra os animais em razão de sua espécie. Num futuro próximo, não só a pedofilia, mas também a bestialidade (prática sexual com animais) poderia ser admitida com base no mesmo argumento que admitiu a “família” fundada no homossexualismo.

Discriminação contra os castos

Imagine-se que dois amigos compartilhem a mesma habitação a fim de fazerem um curso universitário. Enquanto eles viverem castamente, não terão qualquer direito especial. Se, porém, decidirem praticar entre si o vício contra a natureza de maneira “contínua, pública e duradoura”, constituirão, se quiserem, uma “família”, com todos os direitos a ela anexos. A decisão do STF constitui um privilégio para o vício em detrimento dos que vivem a castidade.

Perda da segurança jurídica

Com o golpe de 4 e 5 de maio de 2011, o Estado brasileiro perdeu toda a segurança jurídica. Se a Suprema Corte reserva a si o direito não só de legislar (o que já seria um abuso), mas até de reformar a Constituição, mudando o sentido óbvio de seu texto em favor de uma ideologia, todo o sistema jurídico passa a se fundar sobre a areia movediça. A vergonhosa decisão demonstrou que a clareza das palavras da Constituição não impede que os Ministros imponham a sua vontade, quando conflitante com o texto constitucional.

A Frente Parlamentar em Defesa da Vida – contra o Aborto – pretende apresentar uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que acrescente as palavras “desde a concepção” no artigo 5º, caput, que trata da inviolabilidade do direito à vida. Em tese, essa emenda, se aprovada, sepultaria toda pretensão abortista no país. Isso se pudéssemos contar com a seriedade da Suprema Corte. Essa seriedade, porém, foi perdida com a admissão das “uniões” homossexuais. É de se temer que, mesmo diante da expressão “desde a concepção”, alguns Ministros do STF inventem uma peculiar “interpretação” do texto que não exclua o direito ao aborto.

Caso inédito

A monstruosidade lógica do julgamento da ADPF 132 / ADI 4277 ultrapassa tudo o que se conhece de absurdo em alguma Corte Constitucional. É verdade que a sentença Roe versus Wade, emitida em 22 de janeiro de 1973 pela Suprema Corte dos EUA, declarou inconstitucional qualquer lei que incriminasse o aborto nos seis primeiros meses de gestação. Esse golpe foi dado com base no direito da mulher à privacidade e na negação da personalidade do nascituro. No entanto, a decisão não foi unânime. Dos nove juízes, houve dois que se insurgiram contra ela. No Brasil, porém, para nosso espanto e vergonha, não houve dissidência. Todos os membros do STF admitiram enxergar uma inconstitucionalidade que não existe no artigo 1723 do Código Civil.

Isso faz lembrar o conto “A roupa nova do imperador”, cujos tecelões afirmavam que só não era vista pelos tolos. Enquanto o monarca desfilava com camiseta e calça curta, todos — com exceção de uma criança — se diziam admirados com a beleza da inexistente roupa. Desta vez, os Ministros, temerosos de serem considerados não tolos, mas “preconceituosos”, “retrógrados” e “homofóbicos” acabaram todos por enxergar uma inconstitucionalidade inexistente. Espera-se o grito de alguma criança para acabar com a comédia.

Pe. Luiz Carlos Lodi da Cruz



Notas
[1] Voto na ADI 4277 e ADPF 132, 05 maio 2011, p. 5.
[2] Voto na ADI 4277 e ADPF 132, 04 maio 2011, p. 1.
[3] Voto na ADI 4277 e ADPF 132, 04 maio 2011, p. 48-49.



Casamento, antídoto contra a solidão?



"De onde eu estava podia ver o casal na entrada da casa. A mulher estava chorando e gritando com o homem, que em pé, mantinha as mãos no bolso de um gorduroso avental. Dava para ver algumas tatuagens bem rústicas em seu braço - um típico sinal de quem já esteve na prisão.

Como estava indo na direção deles, ouvi mais claramente a mulher pedir que ele consertasse alguma coisa em seu carro, para que ela pudesse ir embora. A resposta dele foi uma sonora gargalhada!

Naquele momento, me aproximei. Ela, subitamente voltou-se para mim e perguntou se eu poderia ajudar o marido a consertar o carro. Outro policial se aproximou e nós separamos o casal para encontrar uma solução para o problema.

Comecei a conversar com o homem e este me disse que sua esposa estava tendo um caso e o estava abandonando. Perguntei se eles já haviam tentado algum aconselhamento, ao que respondeu que não estava interessado. Disse que a única coisa que queria naquele momento era pegar suas coisas que, segundo ele, ela havia escondido.

Falei, então, com a esposa sobre isso, ao que ela respondeu que só as devolveria se ele lhe desse um dos video-cassetes. Ela mencionou que só queria um dos 3 vídeos que o casal possuía. O outro policial dirigiu-se ao carro daquela esposa, levantou e capô e deu uma olhada para ver se havia algo que pudesse fazer. O marido então caminhou em sua direção, tirou um fio elétrico que faltava no carro e o entregou ao policial. Depois, disse à esposa que ela poderia ficar com o video-cassete se ela lhe devolvesse suas coisas (mais tarde fiquei sabendo que as "coisas" eram drogas com as quais ele estava negociando).

Quando o esposa entrou na casa, vi duas menininhas paradas no batente da porta, assistindo ao drama que se transcorria na frente delas. Deveriam ter de 8 a 10 anos. Ambas usavam vestidos e carregavam bonecas de pano. Ao lado delas havia duas pequenas valises. Eu não conseguia afastar meus olhos daquela cena e da forma como elas observavam as 2 pessoas a quem mais amavam no mundo, separando-se.

A mulher saiu da casa com um video-cassete em seus braços e o colocou no banco de trás, que já estava lotado. Depois virou-se para o marido e lhe disse onde encontraria suas coisas. Ambos concordaram em dividir as outras coisas igualmente.

Então, foi quase sem acreditar que vi e ouvi o marido apontar para as meninas e dizer:
- Bem, com qual das duas você vai ficar??!


Sem aparentar qualquer emoção a mãe escolheu a mais velha. As meninas olharam uma para a outra e depois a irmã mais velha saiu de onde estava e entrou no carro. A menorzinha, ainda agarrando sua boneca de pano ao peito com uma das mãos e a malinha na outra, acompanhava com os olhos enquanto sua mãe e irmã se afastavam. Pude ver grossas lágrimas escorrendo em suas faces. O único "conforto" que ela recebeu foi uma ordem do pai para que entrasse, enquanto ele se dirigia a um grupo de amigos para conversar.
E ali estava eu... um impotente espectador diante da morte de uma família!" (David R. Johnson, do livro "The Light Behind The Stars").

Que história triste! Acredito que, se fizéssemos uma pesquisa dessa família desde o dia do "SIM" até o trágico evento daquela tarde, descobriríamos inúmeros fatores que a levaram àquela situação. É impossível não pensar que o isolamento e seu conseqüente resultado - solidão - tenham tomado conta do relacionamento do casal.

Sou conselheiro familiar e grande parte de meu trabalho é com casais que vivem nos grandes centros urbanos do Brasil. São locais de grande acesso de pessoas, porém, também são os maiores focos de solidão. Os casais moram sob o mesmo teto, fazem suas refeições à mesma mesa, sentam-se lado a lado no mesmo sofá, e dormem na mesma cama. Porém, há entre eles uma distância emocional, uma falta de intimidade e proximidade. Praticam o sexo mas sem amor. Conversam entre si, mas não se comunicam. Moram juntos, mas na realidade não vivem juntos.

E o mais triste sobre isso é o fato de que certo dia duas pessoas se achegaram uma à outra, com a proposta de juntas, procurarem "driblar" a solidão. E esse realmente foi um dos motivos pelos quais Deus criou a família. ("Não é bom que o homem esteja só"). Porém, pelo fato de muitos não conseguirem aplacar seu sentimento de solidão e nem o do cônjuge, muito pelo contrário, acrescentarem à sua história muitos outros problemas, chegaram a tal ponto de desespero que decidiram "dependurar as chuteiras". Sem conseguir sequer identificar as causas, utilizam como razão a famosa incompatibilidade (inabilidade de viver juntos em paz e harmonia). Em algum lugar, entre a noite de núpcias e a assinatura dos papéis de divórcio, fatores ocorreram causando essa inversão. A compatibilidade tornando-se incompatibilidade e, um dos fatores decisivos, foi certamente o isolamento e a solidão em que se encontravam.

Cada casal possui necessidades emocionais, intelectuais e espirituais, e muitas delas, Deus planejou que fossem supridas do contexto familiar. A alma do ser humano foi criada para viver em família, em comunhão, em amizade. Somos, por natureza, seres sociais. Ansiamos por intimidade e o casamento, é o lugar mais lógico dela ser encontrada e desenvolvida.

Quando um casal resolve se casar, raramente pensa nas necessidades um do outro e, ainda muito menos, em como supri-las. Quando o clima de encantamento se esvai e, ocorre de "alguém mais" entrar em cena, aparentando compreender e suprir as carências do "incompreendido (a)", aí dá-se a inversão do compatível em incompatível de um lado, e o oposto do outro, resultando na infidelidade. Algumas vezes esse(a) amante não é outro homem, ou mulher, mas um emprego, uma carreira, um projeto ou mesmo um hobby.
A leveza do relacionamento se torna em fardo enquanto o casal luta com as finanças, disciplina dos filhos, relacionamento com os sogros, relacionamento sexual, e muitas outras facetas. Enquanto os casais procuram tratar de cada uma dessas áreas, dependendo de como o fazem, o isolamento, como um vírus muito sutil, vai penetrando no relacionamento:

- Começa a sensação de que um cônjuge está se afastando do outro;
- Ambos trabalham fora em carreiras separadas e, pouco a pouco, passam a dar prioridade à própria realização profissional e às atividades pessoais, ao invés de cultivarem e cuidarem do relacionamento conjugal e familiar;
- Há recusa em tratar dos conflitos existentes, os quais poderiam ser resolvidos de forma satisfatória para cada um dos cônjuges;
- Surge o sentimento de incapacidade de agradar ou de atingir as expectativas do cônjuge;
- Brota a atitude de "quem se importa com isso? ", ou "não adianta tentar!";
- Existe a impressão de que seu cônjuge não aprecia ouví-la(o) e que não a(o) entende. Podem até existir palavras, mas elas são vazias, não correspondendo aos sentimentos.
Esses e ainda outros são sinais de que o cônjuge que os estiver sentindo e percebendo, deverá parar e fazer uma avaliação. Sinal de alerta!
- O que está acontecendo?
- O que podemos fazer para interromper este fluxo de desatenções que está nos cobrindo, antes que o mesmo nos sufoque?


Nesse ponto, podemos parar, avaliar nossos sentimentos e, transformar o "vilão" em "mocinho". A palavra solidão geralmente suscita sentimentos negativos. Porém, podemos transformá-la em algo positivo.
Tenho aprendido com meus momentos de solidão. Apesar de ter uma esposa maravilhosa, viajo muito para dar meus cursos e, muitas vezes me sinto só. Nesses momentos, minha alma anseia a intimidade de estar com alguém próximo, com quem compartilhar minhas lutas e alegrias. E esse desejo de intimidade, geralmente me leva a buscar mais ansiosamente o meu Deus. Davi já passava por isso. Veja o Salmo 63 .1: "Ó Deus, tu és o meu Deus forte, eu te busco ansiosamente; a minha alma tem sede de ti; meu corpo de almeja, numa terra árida, exausta, sem água." E o salmo 42.1-2: "Como suspira a corça pelas correntes das águas, assim, por ti, ó Deus, suspira a minha alma. A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo..."
Esses momentos de anseio de intimidade devem, primeiramente, ser supridos com nosso relacionamento pessoal com Deus. Ele merece o primeiro lugar em nossas vidas. Após corrermos para Deus para saciarmos nossa sede n'Ele, é tempo de procurarmos avaliar e trabalhar nosso casamento. Somos seres sociáveis que precisam bem relacionar-se com o próximo. Nossa família deve ser o que temos de mais próximo, depois de Deus. E, por isso mesmo, é onde o inimigo quer implantar a solidão destrutiva. Deixe-me compartilhar algumas sugestões que têm me ajudado.

1. Reconhecimento da ação do inimigo - Jesus disse: "O ladrão vem somente para roubar, matar e destruir; eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância." João 10.10. É absolutamente essencial que nos conscientizemos da batalha espiritual. Sua tática é destruir as boas idéias de Deus, e a família é um de seus alvos prediletos. Coloque sua família sob a total armadura de Deus - Ef 6.10-17.

2. Conscientização de que o seu Deus está torcendo por você - Visto que a família foi criada por Deus, Ele é o maior interessado em preservá-la. Corra a Ele quando sentir-se intimidado, frustrado, sozinho, ou mesmo quando estiver em ponto de desespero. Ele não o decepcionará!

3. Cuidado com as expectativas irreais - O relacionamento que se baseia em desempenho, que funciona nas bases de mérito, tem sua motivação com base nos sentimentos. A tendência humana é prestar mais atenção às fraquezas do que às virtudes e isso ocorre, particularmente, em relação aos cônjuges.

4. Compreensão dos papéis definidos tanto do marido quanto da esposa - De forma geral, o papel do marido é proporcionar à esposa um clima de liderança amorosa e o suprimento de suas necessidades emocionais através do amor, cuidado e de uma boa comunicação com ela. Esposa, cabe a você reagir positivamente à liderança dele, seguindo-o. Isso significa respeitá-lo e admirá-lo. Isso implica em ser amiga e amante. Gostaria de desafiar tanto o marido quanto à esposa, para que ambos leiam as passagens de Efésios 5.22-33 e 1 Pedro 3.1-7, e que perante Deus, clamem que o Espírito Santo torne realidade aquelas atuações no dia-a-dia de cada um.

5. Tornando-se seus próprios "amantes" - A preocupação em agradar o outro sexualmente, implica em negar-se a si mesmo e procurar diligentemente aprender quais são os sonhos e necessidades do cônjuge, fazendo o possível para supri-las. Isso implica em um investimento, de forma a cultivar desde palavras à pequenos gestos, com significados apenas conhecidos por ambos.

6. Conflito criado, conflito tratado - Será sempre necessária uma comunicação honesta para tratar os conflitos que surgirem. Isso significa que deverá existir uma confrontação em amor, quando surgirem atitudes ou comportamentos errados ou mesmo inadequados. Por outro lado, também deverá haver um espírito tolerante perante os desacordos, tendo em vista uma negociação. Também os diferentes maneirismos, formas de fazer as coisas e diferenças de opinião, devem ser respeitadas. Os cônjuges devem se comprometer cem por cento com a Palavra de Deus no que se refere às decisões a serem tomadas, atitudes e ações. Um espírito de humildade deve permear o relacionamento.


7. Compromisso integral - Tenho, ao longo de nossos 30 anos de casados, dito muitas vezes à minha esposa Judith que uma das melhores coisas da vida é poder envelhecer ao lado dela. Separação e divórcio são palavras que não existem em nosso vocabulário. Quando sofrimentos, tribulações, conflitos e dificuldades sobrevêm ao nosso casamento, à nossa família, nós os enfrentamos com a graça e o poder de Deus. Juntos, temos atravessado várias adversidades. Esse tipo de compromisso ajuda a construirmos bases de unidade e intimidade.

Queridos, creio que pior do que a solidão física, é a emocional. O isolamento de alma abate e atrofia o ser humano. Que Deus possibilite a conscientização de que podemos aproveitar o tempo em que temos uma família ao redor, para nos achegarmos e desenvolvermos relacionamentos profundos e significativos. E, que nossos momentos de solidão sirvam para nos aproximarmos de Deus e desenvolvermos um relacionamento de intimidade com Ele.

"A intimidade do Senhor é para aqueles que O temem, aos quais Ele dará a conhecer a Sua aliança". Sl 25.14


Pr. Jayme Kemp


Precisamos de um imposto sobre sexo?



Os políticos estão sempre falando sobre impostos. Alguns deles querem cobrar mais dos ricos; outros querem elevar os impostos sobre o álcool e cigarros. Mas estou pensando num “produto para o consumidor” no qual nunca veremos um imposto: sexo. Mas talvez devêssemos. O sexo — isto é, o tipo errado de sexo — está elevando os custos do governo.

Numa recente coluna, o especialista em casamento Mike McManus faz investigações sobre os elevados custos do sexo fora do casamento. Por exemplo, mais de 7 milhões de casais americanos vivem juntos sem estarem casados. De cada cinco desses casais, quatro se separarão sem nunca casar oficialmente. Mas, escreve McManus, se eles tiveram um bebê, muitas dessas mães e filhos estarão em condições de cumprir os requisitos para receber do governo assistência médica gratuita, moradia, subsídios de creche e bolsas família.

Segundo, mesmo quando casais amigados realmente se casam, de acordo com um estudo do Estado da Pensilvânia, eles sofrem índices mais elevados de divórcio do que os casais que não vivem juntos primeiro. Em média, cada divórcio envolve um filho. E tal qual a mãe nunca antes casada, a mãe divorciada também está em condições de cumprir os requisitos para receber muitos benefícios governamentais. De acordo com a Fundação Heritage, escreve McManus, “13 milhões de mães solteiras com filhos custaram aos contribuintes de imposto de renda 20.000 dólares, ou 260 bilhões no ano de 2004”. O total provavelmente chega a 300 bilhões de dólares hoje, diz McManus.

E isso é só o começo.

Uma criança que nasce fora do casamento tem uma probabilidade sete vezes maior de abandonar a escolar, de se tornar pai ou mãe na adolescência e de acabar na prisão. Essas crianças têm uma probabilidade 33 vezes mais elevada de sofrerem graves abusos.

E todos temos ouvido acerca dos elevados índices de DSTs afetando os adolescentes dos EUA — doenças que custam bilhões de dólares em tratamento.

Portanto, talvez devêssemos considerar um imposto sobre o sexo sem casamento — taxando tudo, desde o encontro sexual casual de uma noite apenas aos acordos de viver juntos. Tudo isso está nos custando muito dinheiro. E tais impostos poderiam, aliás, saldar a dívida nacional.

Deixando toda piada de lado, essas estatísticas nos dizem que precisamos fazer mais para baixar o índice de nascimentos de filhos ilegítimos — começando com a iniciativa de dar às adolescentes as ferramentas de que precisam para dizer “não” ao sexo antes do casamento. Temos também de manter os pais numa posição em que eles prestem contas pelos filhos que eles ajudam a trazer ao mundo. E temos de preservar o casamento tradicional — pois redefinir o casamento para significar nada mais do que um contrato entre duas ou mais pessoas de qualquer sexo destruiria ainda mais a instituição do casamento, com todos os custos resultantes depois.

Mike McManus, que é também o fundador da organização Marriage Savers (Resgatadores do Casamento), tem mais algumas ideias: Os estados têm de criar comissões de casamento para incentivar o casamento, em vez de coabitação. As secretarias de assistência social de cada estado, diz ele, têm de “fornecer informações sobre o valor do casamento na redução da pobreza e aumento de riqueza, felicidade e maior longevidade”. E temos de exigir que as escolas públicas e clínicas de planejamento familiar que recebem financiamento do governo ensinem as crianças sobre os benefícios de longo prazo de se criar filhos dentro do casamento, em vez de coabitação.

Se fizéssemos tudo isso, poderíamos salvar centenas de milhões de dólares, escreve McManus. Olha, ele está certo. Eu desejava que os candidatos políticos fossem corajosos o suficiente para assumir essa questão, mas eles não o farão. O sexo é considerado o direito mais sagrado de nossa cultura pós-cristã.


Este artigo foi reproduzido com permissão de breakpoint.org
Traduzido por Julio Severo: www.juliosevero.com


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