sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Princípios de Interpretação Antigo Testamento

A discussão precedente deu ênfase a certos métodos que o estudante deve seguir na interpretação do Antigo Testamento, quer seja uma passagem quer seja o seu todo. O estudo deve ser feito com todo o cuidado. Ao tentar interpretar uma passagem ou descobrir a significação de um trecho das Escrituras hebraicas, devem determinar-se os seguintes pontos, expostos na ordem de sua importância.

1) A posição histórica do escritor. Isto inclui a história da época e as condições sociais e religiosas prevalecentes. Tanto quanto possível, deve-se conhecer a vida particular do autor e, se possível, os seus antecedentes.

2) A língua original em que o autor se expressou. É impossível traduzir uma língua noutra, porque toda tradução implica numa interpretação. O conhecimento do hebraico é essencial a quem quiser uma exposição sadia do Antigo Testamento. No caso de não se poder obter tal conhecimento, o estudante deve munir-se dos melhores comentários possíveis sobre o texto hebraico.

3) O contexto da passagem. Os escritores sagrados não escreveram cada versículo no vácuo, mas certamente seguiram a lógica e a razão, passando de um verso a outro. Cada versículo deve relacionar-se com os outros, de que faz parte. Cada passagem deve ser estudada à luz que o livro mesmo oferece; e cada livro deve ser examinado com todos os demais, em sua relação com a revelação progressiva do Antigo Testamento.

4) A natureza da literatura. Como foi sugerido na seção anterior, o tipo de literatura em estudo é da maior importância para a boa compreensão de uma determinada passagem do Antigo Testamento.

5) As relações existentes com o seu futuro cumprimento. O estudo crítico do Antigo Testamento, com a sua ênfase sobre a história apenas, tem levado muitos a contentarem-se com esta conclusão. Nem Jesus nem os escritores do Novo Testamento procederam dessa forma. Assim como a vida de um homem torna explícita as suas tendências da infância, o Novo Testamento revela as verdades escondidas no Antigo. Muitas verdades, que nem os próprios autores nem os expositores judaicos descobriram em muitas declarações do Antigo Testamento, só se tornaram claras em Jesus Cristo. Deve-se ter todo o cuidado para não ler numa passagem do V.T. os ensinos que só o Novo contem; não obstante, deve ficar claro que Jesus é a chave do bom entendimento dos sonhos dos profetas. Portanto, deve-se determinar primeiro o que a passagem teria significado para o escritor e para a sua geração. Depois, procurar saber que relação terá com o plano eterno de Deus, que o próprio escritor talvez não compreendesse mas que agora, para os que vivem na plenitude da luz da revelação, é claro.


Divisões do Antigo Testamento

A divisão que os judeus fazem do Antigo Testamento compreende três partes:

1) A Lei: os cinco livros de Moisés. Esta parte sempre foi a mais altamente distinguida pelos judeus e considerada como o fundamento da Bíblia.

2) Os Profetas: (1) Os primeiros profetas - Josué, Juizes, Samuel e Reis; e (2) os últimos profetas - Jeremias, Ezequiel, Isaías e os doze profetas menores.

3) Os Escritos (Hagiógrafos), compreendendo:

(1) Os Livros Poéticos: Salmos, Provérbios, Jó; e
(2) os Cinco Rolos: Cânticos, Rute, Lamentações, Eclesiastes e Ester.
(3) Daniel, Esdras, Neemias e Crônicas.

A maneira de contar os livros, por parte dos judeus, também nos oferece algumas diferenças. Contando Esdras e Neemias como um livro, e os doze profetas como um também, faziam eles o seu Cânon de 24 livros. Reunindo Juízes e Rute, Lamentações e Jeremias, faziam 22 livros, justamente o número das letras do seu alfabeto. O livro de Daniel, que se encontra na terceira parte, e, portanto, entre os chamados Escritos, não foi considerado profético. Pensam uns que o livro é mais história que profecia e o seu autor foi mais político que profeta. Outros acham que, sendo um livro apocalíptico e histórico, ficaria melhor entre os Hagiógrafos. É certo que os críticos têm outra opinião, para explicar a colocação deste profeta entre os livros da terceira coleção. Dizem eles que o Daniel que escreveu este livro não foi o Daniel caldeu e sim outro Daniel, talvez do tempo dos Macabeus, e como o Cânon já estaria fechado a este tempo, foi o livro apenas adicionado a terceira parte. Esta maneira de interpretar a posição do livro de Daniel não parece correta, pois os judeus sempre consideraram este livro como produto do Daniel da Caldéia, e a opinião dos judeus deve valer mais que o dos críticos modernos, que pouco sabem das coisas daqueles dias.


Apologetas (Apologistas)

O termo é usado para falar sobre aqueles pais da igreja cujas obras tiveram o intuito de defender a fé e a Igreja cristã contra os ataques. Esses ataques eram lançados pelo judaísmo, pelo paganismo, pelo estado, e também pela filosofia grega de várias escolas. Como é óbvio, muitos cristãos subseqüentes e contemporâneos podem ser chamados apologetas. Ver o artigo intitulado, Apologética, onde isso é demonstrado sob o titulo: Visão histórica da apologética. Mas, quando usamos as palavras “os apologetas”, estas indicam os primeiros pais da Igreja que se atarefaram nessa atividade.

1) Temos a pregação de Pedro, proveniente do século II d.C., de autor desconhecido, que defendeu o cristianismo diante do judaísmo e do paganismo. Teve larga distribuição e tornou-se parte do livro de Aristides (que descrevemos abaixo). Nesse livro, os crentes são denominados “terceira raça”. Mas foram preservados apenas alguns fragmentos.

2) Mais ou menos da mesma época, temos o livro chamado Quadratus, escrito em defesa do cristianismo contra os abusos do estado romano. Foi apresentado ao imperador Adriano, na esperança de obter melhor tratamento para os cristãos, por parte das autoridades romanas. O livro foi escrito em Atenas, cerca de 125 d.C. Apenas uma sentença do mesmo foi preservada para nós.

3) Aristides defendeu o cristianismo contra o paganismo. Ele era ateniense e escreveu em cerca de 147 d.C. Sua apologia foi endereçada ao imperador Antônio. A “raça” cristã é ali chamada de raça superior e digna de tratamento humanitário. A obra desapareceu, excetuando uma tradução siríaca e uma reprodução livre, no grego, no romance medieval de Barlaã e Joasafe. A obra ataca as formas de adoração entre os caldeus, os gregos, os egípcios e os judeus, exaltando o cristianismo acima dessas formas, tanto quanto à própria adoração quanto à moral.

4) Justino Mártir. Sua apologia (escrita cerca de 150 d.C.) foi endereçada a Adriano e a Marco Aurélio. Tomava a posição de que a filosofia grega, apesar de útil, era incompleta, e que esse produto não terminado é aperfeiçoado e suplantado em Cristo e Sua revelação. Para Justino, o cristianismo era a verdadeira filosofia. A filosofia grega era encarada sob a mesma luz que a lei judaica - precursora de algo superior.

5) Aristo, meados do século II d.C., de Pela, na Peréia, escreveu um livro que não chegou até nós, mas que, de acordo com Orígenes, mostrava que as profecias judaicas cumpriram-se em Jesus. Justino fez uso dessa apologia em sua obra.

6) Atenágoras, fins do século II d.C., escreveu contra o paganismo, o estado romano e a filosofia grega. Endereçou seu livro a Marco Aurélio, esperando poder melhorar o
tratamento conferido aos cristãos. Essa obra incluía argumentos em prol da ressurreição dos mortos.

7) Taciano, discípulo de Justino Mártir, exibiu considerável antagonismo contra a filosofia grega, em seus argumentos em prol da superioridade do cristianismo.

8) Teófilo de Antioquia, que escreveu um pouco mais tarde, seguiu o caminho trilhado por Taciano.

9) Minúcio Félix (fins do século II ou começo do século III d.C.), em contraste com Taciano, procurou demonstrar que os cristãos são os melhores filósofos; quando os filósofos são bons, parecem-se mais com os cristãos.

10) Tertuliano (falecido no século III d.C.) atacou a filosofia com argumentos filosóficos, e os filósofos nunca o perdoaram por esse motivo. Ele atacou a substância e o espírito da filosofia grega, bem como o gnosticismo e o paganismo em geral. Considerava a filosofia produto da mente pagã, julgando-a inútil como apoio à fé. Exaltava a fé na revelação, mas falhou quando não percebeu que a fé e a filosofia devem ser sujeitas à pesquisa da razão, a fim de que o falso seja separado do verdadeiro, e que o verdadeiro seja mais bem compreendido.

11) Irineu, bem como seu discípulo, Hipólito, defendeu o cristianismo contra os gn6sticos, muito poderosos na sua época. Ver o artigo sobre o gnosticismo. Sua obra principal nessa linha foi Contra as Heresias (cerca de 180 d.C.). O original grego se perdeu, excetuando fragmentos, preservados nos escritos de Hipólito, Eusébio e Epifânio. Todavia, a obra foi preservada inteira em uma tradução latina. Trata-se da mais completa declaração acerca das fantasias gnósticas. Sua exposição pode ser chamada de primei -a exposição sistemática das crenças cristãs. Irineu foi um dos mais influentes cristãos da Igreja antenicena.

12) Arnóbio (300 d.C.) tinha a filosofia e a razão humana em baixo conceito. Atacou a idéia platônica da preexistência da alma e defendeu o criacionismo (ver o artigo a respeito). Sua obra principal é Adversus Gentes.

13) Lactâncio e Eusébio de Cesárea (III e IV séculos da era cristã) deram continuação à tradição apologética, exaltando o cristianismo em face do paganismo e do judaísmo. Eusébio foi um origenista da segunda geração, decidido aderente da teologia filosófica do Logos, embora tivesse várias idéias não-ortodoxas acerca da divindade de Cristo. Sua principal contribuição é a sua História Eclesiástica. Suas obras apologéticas, embora de menor valor, encontraram lugar na história literária cristã.


A Natureza do Antigo Testamento

Não obstante ser a Bíblia o livro mais vendido no mundo inteiro, nem por isso todo povo tem perfeito conhecimento dela, muito especialmente no Brasil. Lida pelos pregadores e mesmo pelos crentes, dela se valendo muitos para reforçar as suas opiniões em matéria de moral e mesmo filosofia, ainda assim se pensa que a Bíblia é livro para ser interpretado por especialistas em matéria de exegese. Este ponto de vista e especialmente verdadeiro quanto ao Antigo Testamento. Até certo ponto, são
responsáveis por tais idéias os intérpretes inexperientes, que procuram colocar o Antigo Testamento dentro do Novo ou vice-versa, ignorando a situação histórica de cada parte. Se o A.T. é apenas o Novo em hieróglifos, então é muito mais fácil ler apenas o Novo Testamento e desprezar o Antigo. Qualquer estudo feito à margem da história do Antigo Testamento é a mesma coisa que lhe tirar a vida e formar um esqueleto.

Muitos dos críticos têm dado sua contribuição a esta maneira de entender o Antigo Testamento e de criar uma antipatia de todo desnecessária. Muitos deles decompuseram-no em pedaços, como se estivessem fazendo um estudo anatômico, tirando-lhe toda a conexão histórica e destruindo a verdade ou relegando-a a um plano de segunda categoria. Um grande escritor disse: “eles começaram com um canivete e terminaram com um machado; ou como outro afirmou”: “eles foram atiçados pelas fascinantes cavilações da vaidade humana.” Todavia, valiosa contribuição foi feita ao estudo do Antigo Testamento no sentido de que é impossível interpretar uma passagem deslocada do seu lugar e do sentido histórico; e o estudo destes críticos tem sido feito de tal modo que todo o peso e o valor das verdades espirituais foram totalmente negligenciados. A sua ênfase evolucionista levou-os à convicção de que apenas pequenas porções do Antigo Testamento são dignas de estudo: as dos profetas do oitavo século antes de Cristo, quando o Antigo Testamento alcançou o seu ponto culminante. Entretanto, para os escritores do Novo Testamento, o Antigo tinha outro valor muito diferente. Não se detiveram apenas nos livros do Antigo Testamento que mais se aproximavam dos ensinos de Jesus, mas contemplaram a história dos hebreus no seu todo, culminando com a revelação de Deus ao Israel espiritual, por meio da encarnação do Filho. Em Jesus mesmo encontramos essa atitude. Ele sempre considerou as Escrituras como um todo e nunca como uma compilação.

Outros, por sua vez, diminuem o Antigo Testamento, quando o comparam com o Novo Testamento. Afirmam que, sendo o Novo Testamento o cumprimento do Antigo, o estudo das Escrituras judaicas é de pequena valia. Tal opinião é tão estulta como a do estudante que imaginasse começar o seu estudo da linguagem do Antigo Testamento numa classe de Hebraico adiantado, na suposição de que somente num estudo avançado é que se pode compreender a revelação completa. A verdade é que, para se compreender o hebraico, tem de se passar pelo vale preliminar da iniciação desta língua. Do mesmo modo, os que pretendem entender o Novo Testamento ignorando o Antigo são passíveis de penalidades, pelas injustiças e incompreensões de suas interpretações. Tal atitude tem levado muitos eruditos a interpretar o Novo Testamento segundo a literatura e pensamento gregos, ignorando ou pretendendo ignorar o conceito e a natureza hebraica, que lhe deram origem. Esta tem sido a característica feição da história do pensamento cristão. Nos últimos anos, entretanto, a maior ênfase da erudição neo-testamentária tem sido posta na unidade essencial da Bíblia. Como um escritor muito bem disse: “Nenhum progresso ou compreensão do cristianismo primitivo será possível, a menos que a arca da exegese do Novo Testamento seja reconduzida de sua má troca nas terras dos filisteus ao porto seguro das Escrituras clássicas do Antigo Testamento, à Lei e aos
Profetas.” Contrariamente, o Antigo Testamento não deve ser estudado independente do Novo, porque é este que abre a porta de muitos mistérios do Antigo Testamento, inclusive do plano e propósito que presidiram a sua revelação.

Talvez a maior dificuldade que uma pessoa que deseja compreender o Antigo Testamento encontre seja justamente a inadequada compreensão de sua literatura. O meio pelo qual os escritores comunicaram os seus pensamentos foi a linguagem. A arte de falar é a principal bênção pela qual as idéias de uma pessoa podem ser comunicadas a outra. A linguagem, por sua vez, tem suas formas definidas, as quais levam consigo suas leis e seus modos de interpretação. Se um escritor bíblico usou um tipo particular de literatura, o seu pensamento deve ser interpretado de acordo com as leis universais da linguagem, daquele modo de expressão. A menos que uma pessoa seja capaz de determinar se certa passagem é uma ousada imaginação poética ou apenas prosaica declaração de um fato científico, a sua interpretação deve, necessariamente, ser precária. Se tal fato não puder ser devidamente determinado, o significado da passagem deve permanecer em dúvida.

Uma vista de olhos à Bíblia em português revelará que bem pouco auxílio poderá obter um leitor para descobrir o tipo de literatura de uma passagem qualquer. Se abrirmos a Bíblia em qualquer ponto, verificaremos que ela foi arbitrariamente dividida em capítulos, livros e versos. Não compreendendo que os capítulos e versos foram colocados para facilitar a leitura, o leitor comum concluirá que aquelas divisões sempre fizeram parte da Bíblia, sabendo nós, entretanto, que o original não tinha nem capítulos nem versos. Certamente tais coisas ajudam a compreender as Escrituras, mas a literatura sagrada sofreu muito por causa de tal desmembramento. Imagine-se o que aconteceria se os poemas de Tennison fossem editados em capítulos e versos, sem qualquer consideração para com o arranjo original. Entretanto, foi justamente isto que aconteceu com a Bíblia.

Há alguns que consideram o estudo literário das Escrituras como desaconselhável, como se a admiração da beleza de uma flor prejudicasse a apreciação do seu admirável odor. Antes de qualquer coisa poder ser admirada, deve ser capaz de atrair. O manejo teológico das Escrituras tem destruído muito da sua beleza e atração. Necessitamos renovar a apreciação da beleza das narrativas bíblicas, porque isso é o mesmo que abrir a porta à realização da revelação fundamental. É uma tragédia da moderna civilização que os estudantes dos colégios e universidades tenham sido ensinados a apreciar as belezas e sublimidades das obras de Byron e Shakespeare, Browning e outros e tenham permanecido inteiramente ignorantes da grandeza e magnitude da maior literatura que o mundo já conheceu, só porque esta se encontra na Bíblia. Se tal literatura estivesse em qualquer outro livro, o mundo inteiro se curvaria ante ela.


Visão Histórica da Apologética

Deve-se entender desde o princípio que a apologética necessariamente envolve o investigador na filosofia, formal e erudita, ou popular e individualista. Assim é que, quando alguém começa a apresentar um argumento baseado em raciocínio, já está falando como um filósofo, quer queira quer não queira. Tertuliano conhecia a filosofia, e usava argumentos filosóficos contra os filósofos incrédulos. Portanto, ele era um filósofo que argumentava contra a filosofia. Porém, se descrevermos pontos de vista históricos relativos à apologética, para todos os propósitos práticos isso equivalerá a descrever aquilo que vários pais da Igreja e cristãos posteriores pensavam sobre a filosofia. Quanto mais uma pessoa distanciar-se da filosofia, menos valor dará à apologética, como uma atividade legitima para os cristãos.

1) Tertuliano. Supunha que a filosofia é produto da mente pagã, e conseqüentemente, inútil para defender a fé cristã. Isso equivale a ignorar: a) a base bíblica da apologética; e b) que não há razão pela qual não possa haver uma atividade filosófica cristã. Se a razão vem da parte de Deus, e se alguém a usa de maneira sistemática, já estará agindo como um filósofo, utilizando-se de um dom divinamente outorgado. Podemos evitar os abusos. Houve pais latinos, como Arnóbio, Lactâncio e outros que seguiram a idéia de Tertuliano.

2) Os pais alexandrinos. Clemente, Orígenes etc. Proposital e habilidosamente eles usavam filosofia platônica e estóica para dar à fé cristã uma expressão filosófica. A filosofia pode aguçar os conceitos teológicos. Qualquer pessoa que tenha estudado Filosofia pode usá-la para definir, aclarar e aprimorar seus conhecimentos teológicos. Um teólogo que tenha estudado filosofia pode tornar-se um melhor teólogo. Podemos evitar os abusos.

3) Agostinho ensinava que a filosofia é uma criada útil que pode ser empregada em favor da fé religiosa, esclarecendo-a e defendendo-a.

4) Tomás de Aquino foi um apologeta refinado. Sua obra Suma contra Gentiles defendeu a fé cristã contra a maneira materialista e não-espiritual como certos filósofos árabes (como Averróis), utilizavam a filosofia de Aristóteles. A apologética de Tomás de Aquino foi tão bem-sucedida que se transformou em uma força dominante durante séculos, na Igreja ocidental.

5) Os ataques desfechados por deístas e racionalistas contra a fé cristã produziram apologetas modernos como o bispo Joseph Butler, da Igreja anglicana. Sua famosa obra, Analogia da Religião, é urna obra apologética.


6) Karl Barth e sua escola (início e meados do século XX) tomaram uma posição negativa em relação à apologética, argumentando que tal atividade reflete uma espécie de “falta de fé”, porquanto a fé não requereria defesa, por não estar alicerçada sobre a razão humana e a filosofia. Porém, ao expressar-se assim, Barth fazia a apologia de seu ponto de vista particular do conhecimento e da fé. Muitas pessoas, outrossim, não tinham certeza se a fé de Barth era adequada, ou representasse qualquer acúmulo considerável de verdade, pelo que se tornou necessária toda a forma de atividade apologética para esclarecer as coisas.

7) Rudolf Bultmann resolveu redefinir a kerigma (pregação) do Novo Testamento, erigindo uma apologética elaborada a fim de levar avante o seu propósito. Alguns pensam que ele chegou a ponto de querer satisfazer todas as categorias do pensamento moderno, assim debilitando a mensagem que vem mediante a revelação, ao admitir dúvidas demais e ao promover revisões evidentemente desnecessárias.

Quando a Igreja enfrenta os ataques dos ateus, dos agnósticas, dos empiristas radicais, dos positivistas, dos relativistas, então torna-se mister que a apologética continue sendo considerada um ramo da teologia cristã. Nunca é bastante dizer “fé somente”, porque a própria fé é definida por uma atividade apologética, consciente ou inconscientemente.


APOLOGÉTICA E O ANTIGO TESTAMENTO

A apologética é a ciência ou disciplina racional que se esforça por apresentar a defesa da fé religiosa, existindo dentro e fora da Igreja cristã. O termo é usado em contraste com polêmica, que é um debate efetuado entre cristãos a fim de determinar a verdadeira posição cristã sobre alguma questão específica. Presumivelmente, a apologética aborda questões defendidas por alguma fé religiosa específica, como o cristianismo, mas que são negadas pelos incrédulos. No uso comum, a palavra é usualmente empregada para indicar a defesa do cristianismo. Positivamente, a apologética tenta elaborar e defender uma visão cristã de Deus, da alma e do mundo, uma visão apoiada por raciocínios reputados capazes de convencer os não-cristãos da veracidade das doutrinas envolvidas. Negativamente, trata-se de uni esforço para antecipar possíveis pontos de ataque defendendo as doutrinas cristãs contra tais ataques. A palavra. O termo vem do grego, apologia, “defesa”, uma resposta ao ataque (At 26.1; 1Pd 3.16). O famoso diálogo de Platão, a Apologia, expõe a defesa de Sócrates diante de seus acusadores.

Base bíblica. Alguns fazem oposição a qualquer defesa da fé cristã, supondo que o conhecimento da verdade por meio da revelação é perfeito, e não requer qualquer raciocínio humano em sua defesa. orém, a idéia que a revelação, coada por mentes humanas, é perfeita, capaz assim de produzir um perfeito corpo de verdades conhecidas, não passa de um dogma formulado pelo homem, e não uma doutrina da própria Bíblia. De fato, essa idéia é urna apologia em favor de um dos modos de se obter conhecimento. Em qualquer instância em que algum argumento é apresentado nas Escrituras, não diretamente alicerçado sobre algum texto de prova, dentro da Bíblia, é uma apologia dentro dos livros sacros. Tomemos como exemplo o primeiro capítulo da epístola aos Romanos. Paulo mostra a culpa e a impossibilidade de defesa dos pagãos, diante da mente divina. Ele erige uma apologia em favor de certas idéias básicas, e muitos capítulos das epístolas de Paulo podem ser encarados por esse prisma.

Motivos bíblicos em favor da apologética.

1) O trecho de 1Pd 3.15 faz esta declaração direta. “... estando sempre preparados para responder a todo aquele que vos pedir razão da esperança que há em vós”. Fica entendido que tal resposta conterá raciocínios acerca da fé, e não apenas textos de prova extraídos da Bíblia.

2) Segundo salientamos acima, no Novo Testamento há muita apologia, e em certo sentido, o próprio volume sagrado é uma apologia em prol da nova religião, em conflito com o antigo judaísmo e com o paganismo. O cristianismo enfrentou um sistema helenizador, no qual a filosofia tinha grande peso. No décimo sétimo capítulo de Atos, Paulo não hesitou em apelar diretamente à apologética, utilizando argumentos filosóficos, procurando convencer os atenienses. O evangelho de Lucas é uma apologia escrita para um oficial romano, a fim de procurar conquistar posição oficial para a nova fé, fazendo assim estacar a perseguição. “... para que tenhas plena certeza das verdades em que foste instruído” (Lc 1.4). Essa era a certeza que Lucas procurou transmitir aos seus leitores.

As próprias denominações cristãs são atividades apologéticas. Alguns têm imaginado que a apologia é uma espécie de “ausência de fé”, e não de defesa de fé. Tais pessoas partem do pressuposto que a fé não precisa ser defendida. Mas com isso olvidam-se que os homens interpretam a fé das mais variadas maneiras. Qual é a fé que não precisa ser defendida? Se alguém retrucar que é a fé bíblica, devemo-nos lembrar que as denominações que se utilizam a Bíblia como autoritária estão longe de concordar com a natureza exata da fé que emerge das páginas da Bíblia. Muito mais se verifica quando saímos para fora das fronteiras da igreja cristã e conversamos com incrédulos bem-informados acerca da “fé”. Eles têm informações suficientes para saber que tal fé, em qualquer forma que ela assuma, tem tal forma precisamente por causa de uma apologia por detrás da mesma que caracteriza alguma denominação particular. Cada denominação tem sua própria apologia que dá
forma às suas doutrinas e ao seu sistema, a despeito da reivindicação de que aquilo que é exposto é apenas a fé bíblica. Esses fatos não anulam nem a fé e nem a verdade, mas requerem uma cuidadosa apologia a respeito da fé, examinando-a, definindo-a e promovendo-a. A natureza do conhecimento força-nos a apelar para a apologética. O conhecimento não tem uma única origem. Antes, pode ser adquirido por estes meios:

1) A observação empírica, baseada nos sentidos;

2) a intuição, visto que o homem é um ser que tem ciência, e que mesmo sem investigação sabe de certas coisas, tal como sucede com Deus;

3) a razão, com a qual o homem foi dotado, pode penetrar em enigmas e desencavar a verdade, à parte da experiência prática ou empírica formal;

4) a revelação, que é conhecimento outorgado como dom de Deus. A revelação é uma subcategoria do misticismo.

Deus dá conhecimento por meio de homens santos, através de visões, profecias, sonhos, etc. (experiência mística), reduzidas à forma escrita, tornando-se um Livro Sagrado. Tudo isso se sucede, mas o conhecimento é mais amplo do que isso, derivando-se de mais de uma direção. Ademais, a razão e a intuição nunca cessam de examinar o conhecimento que nos chega através da revelação, porquanto há revelações incompletas, havendo até mesmo revelações que não são válidas. Em outras palavras, na busca pela verdade, precisamos de muitas fontes, de muitos meios. O fato de que o conhecimento chega até nós através de grande diversidade de meios, demonstra a nossa necessidade de uma apologia mediante a qual possamos testar, avaliar e defender a verdade. Ver os artigos separados como o empirismo, a intuição, o racionalismo, o misticismo e conhecimento, fontes de. O palácio do conhecimento tem multas portas e janelas através das quais as informações entram e saem. Limitar esse palácio a uma única porta (a revelação, e a fé baseada na revelação) é contar com unia casa muito estranha, de fato.


DEMONOLOGIA

Introdução

A demonologia é um estudo que vem despertando o interesse das pessoas neste final de século. Idéias fictícias, invencionices mistificadas, teorias religiosas e filosóficas e até alusões bíblicas desprovidas de interpretação correta têm invadido o mundo da literatura secular. O cristão por sua vez não desconhece o fato de que Satanás na sua rebelião contra Deus arrastou consigo uma grande multidão de anjos das ordens inferiores (Ap 12.4) que são identificados (após sua queda) com os demônios ou espíritos e que Satanás e muitos desses anjos inferiores decaídos foram banidos para a terra e sua atmosfera circundante, onde operam limitados segundo a vontade permissiva de Deus. Neste capítulo, teremos a oportunidade de conhecer essa doutrina do ponto de vista da Bíblia, como única autoridade capaz de revelar e esclarecer a realidade e a identidade dos demônios.

A doutrina dos demônios

O termo “demônio” aparece somente três vezes no Velho Testamento (Dt 32.17; Sl 106.37; Lv 17.7). No Novo Testamento, a palavra “demônio” (gr. daimon ou daimonion) assumiu o sentido de malignidade, pois eles são seres espirituais, inteligentes, impuros e com poder para afligir e contaminar os homens moral e espiritualmente. O termo daimon ocorre em Mt 8.31; e daimoniodes apenas em Tg 3.15. Mas o substantivo daimonion aparece 63 vezes, e o verbo daimonizomai, 13 vezes. No grego clássico, os termos daimonion e daimon se referem a deuses inferiores, tanto bons como maus.


No texto de Dt 32.17, o cântico de Moisés destaca que os israelitas caíram em idolatria: “sacrifícios ofereceram aos demônios (shedhim)”. Entende-se então que o termo shedhim se identifica não só com as imagens de idolatria, mas também relaciona o termo com seres espirituais por detrás dos que adoram as imagens. O termo seirim, etimologicamente significa “o peludo” ou “bode peludo”. O povo de Israel repudiava esses animais porque eram considerados objetos de adoração (Lv 17.1-7).

Quem são os Demônios

Alguns teólogos entendem que os demônios e espíritos maus são diferentes dos anjos caídos. Outros admitem que tanto anjos caídos, espíritos malignos e demônios são apenas nomes diferentes para os mesmos seres. Antes de apresentarmos o nosso ponto de vista exibiremos algumas teorias enganosas.

Teorias falsas sobre os demônios

Essas teorias apresentam idéias divergentes sobre a origem dos anjos caídos. Teóricos utilizam textos bíblicos isolados para defenderem suas posições.

Os demônios são espíritos sem corpos de habitantes de uma raça pré-adâmica

Acreditam os defensores dessa teoria que havia na terra uma raça pré-adâmica que se constituía de criaturas físicas, as quais, pela rebelião de Lúcifer, sofreram a perda de seus corpos materiais, tornando-se espíritos sem corpos, denominados “demônios”. Esta idéia vai de encontro ao fato de que em parte alguma das Escrituras é tal raça mencionada. Mas como a queda de Satanás, de seus anjos e dos demônios deve ter acontecido entre Gn 1 e 2, não é improvável que, além dos anjos, houvesse uma raça de seres espirituais que habitava na terra, sobre quem Satanás dominava, e que também caiu quando ele caiu. Como castigo para ele, Deus permitiu-lhes estar aí em um estado de desincorporação até que sejam confinados ao Geena, quando do julgamento final de Satanás e suas hostes. Diversos escritores modernos que escrevem sobre profecias aceitam este ponto de vista. Esta idéia parece explicar melhor o fato dos demônios buscarem possuir seres humanos. A destruição a que se refere 2Pe 3.5,6 poderia se referir a um julgamento sobre uma tal raça pré-adâmica, através da qual a criação perfeita de Deus foi transformada no caos de Gn 1.2.

Satanás é um anjo, e é chamado príncipe dos demônios (Mt 12.24), indicando que os demônios são anjos e não uma raça pré-adâmica. Além disso, Satanás tem uma hierarquia bem organizada de anjos (Ef 6.11-12), e é razoável supor que estes sejam demônios. Alguns demônios já estão presos (2Pe 2.4; Jd 6) e alguns estão à solta, cumprindo ordens de Satanás. Alguns pensam que a razão para tal aprisionamento é a participação daqueles demônios no pecado de Gn 6.1-4.

Na verdade, essa teoria não consegue se definir, porque biblicamente, nunca existiu raça alguma pré-adâmica que tivesse habitado neste planeta. Por essa razão, a idéia de uma raça pré-adâmica é pura conjectura, sem nenhum apoio bíblico. Não há nenhuma raça criada anterior à raça humana de Adão e Eva (Gn 1.26,27). A única criação de seres vivos e inteligentes existente antes da criação da raça humana eram os anjos, e estes nunca habitaram na terra como raça criada.

Os demônios são seres gerados da relação de anjos com mulheres antediluvianas (Gn 6.1-4)

Não são poucos os teólogos que apóiam as doutrinas das “testemunhas de Jeová”, ao defenderem ser “os filhos de Deus” (Gn 6.2) anjos caídos que não guardaram o seu estado original. Essa teoria defende uma intromissão angélica na esfera humana e como resultado uma raça de gigantes perversos.

Os defensores dessa teoria interpretam que “as filhas dos homens” eram realmente da descendência de Adão e Eva e que “os filhos de Deus” eram anjos que entraram em conúbio com estas mulheres e produziram uma progênie espantosa de filhos gigantes. Os que admitem essa teoria partem da idéia de que “os anjos” são chamados “filhos de Deus” em algumas partes das Escrituras, mui especialmente no Antigo Testamento. É fato que em algumas Escrituras encontramos a expressão “filhos de Deus” para referir-se aos “anjos”, mas não podemos omitir outro fato de que a mesma expressão “filhos de Deus” também se encontra em outras escrituras referindo-se a “homens”. Isto só é possível perceber à luz do contexto de cada escritura. Forçar uma interpretação contrariando o contexto, tanto o imediato como o remoto, significa ferir a revelação divina de cada escritura. O argumento aceitável, racional e bíblico, é que esses “filhos de Deus” eram oriundos da linhagem piedosa de Sete e as “filhas dos homens” eram da linhagem pecaminosa de Caim. O ensino bíblico e canônico é que os anjos são seres assexuados. Eles não possuem descendência, nem ascendência ou família. Foram apenas criados e, tantos quantos foram criados no princípio da criação, são tantos quantos existem.

Os Demônios são simples nomes dados a certas enfermidades

Com o aparecimento das idéias dos atuais grupos da Confissão Positiva e da Teologia da Prosperidade nos meios pentecostais, essa teoria tem se espalhado como se fosse planta daninha entre o povo de Deus. Crêem e ensinam que as doenças, de um modo geral, são “espíritos maus” ou “demônios” que precisam ser expelidos. Essa teoria atribui certas desordens naturais a atividade dos maus espíritos. Ao nomear as doenças como espíritos maus ou demônios, mesmo aquelas doenças de causas naturais, estão tratando os espíritos ou demônios como se eles não tivessem existência real. Devemos ter cuidado em separar as causas dos seus efeitos. Nem todas as enfermidades são causadas por demônios, e nem todas podem ser atribuídas aos demônios. Há doenças de causas naturais como conseqüência da herança pecaminosa que todo ser humano herda, e há doenças causadas por demônios. Não podemos tratar as doenças como demônios, pois dessa forma todo crente quando fica enfermo estaria endemoninhado, o que é um absurdo. Não podemos, também, tratar os demônios como se não tivessem existência real. Os demônios não são coisas, nem meras idéias, nem doenças. Eles são seres pessoais e espirituais que podem causar grandes danos às pessoas. Lucas conta que uma certa mulher esteve presa por um espírito de enfermidade por 18 anos e Jesus a libertou daquele jugo. O texto bíblico diz literalmente que aquela mulher estava possessa de um “espírito de enfermidade” (Lc 13.11), isto é, entende-se que um espírito maligno

aprisionava aquela mulher com uma enfermidade, mas esta não era um espírito ou demônio. Aquele espírito provocou naquela mulher a enfermidade que a fizera sofrer por longo tempo.

Os demônios são os espíritos de homens malvados que já estão mortos

Outra tremenda aberração! Não há nenhum apoio bíblico para esta idéia. Essa teoria foi se desenvolvendo através dos séculos e, em pleno final do século 20, torna-se generalizada. Porém, a Bíblia refuta veementemente esse falso conceito. Os demônios são apenas “anjos caídos” e são eles que promovem todo o engano e confusão na mente humana. Os mortos continuam mortos e seus espíritos não andam vagando por aí a perturbar a paz das pessoas.

O que a Bíblia afirma ser os demônios

O Novo Testamento menciona muitas vezes pessoas sofrendo de opressão ou influência maligna de Satanás, devido a um espírito maligno que neles habita; menciona também o conflito de Jesus com os demônios. O Evangelho segundo Marcos, por exemplo, descreve muitos desses casos: 1.23-27, 32, 34, 39; 3.10-12, 15; 5.1-20; 6.7, 13; 7.25-30; 9.17-29; 16.17.

Os demônios são seres espirituais com personalidade e inteligência. Como súditos de Satanás, inimigos de Deus e dos seres humanos (Mt 12.43-45), são malignos, destrutivos e estão sob a autoridade de Satanás (Mt 4.10 nota).

Os demônios são a força motriz que está por trás da idolatria, de modo que adorar falsos deuses é praticamente o mesmo que adorar demônios (1Co 10.20). O Novo Testamento mostra que o mundo está alienado de Deus e controlado por Satanás (Jo 12.31; 2Co 4.4; Ef 6.10-12).

Os demônios são parte das potestades malignas; o cristão tem de lutar continuamente contra eles (Ef 6.12). Os demônios podem habitar no corpo dos incrédulos, e, constantemente, o fazem (Mc 5.15; Lc 4.41; 8.27,28; At 16.18) e falam através das vozes dessas pessoas. Escravizam tais indivíduos e os induzem à iniqüidade, à imoralidade e à destruição.

Os demônios podem causar doenças físicas (Mt 9.32,33; 12.22; 17.14-18; Mc 9.17-27; Lc 13.11,16), embora nem todas as doenças e enfermidades procedam de espíritos maus (Mt 4.24; Lc 5.12,13). Aqueles que se envolvem com espiritismo e magia (isto é, feitiçaria) estão lidando com espíritos malignos, o que facilmente leva à possessão demoníaca (At 13.8-10; 19.19; Gl 5.20; Ap 9.20,21).

Os espíritos malignos estarão grandemente ativos nos últimos dias desta era, na difusão do ocultismo, imoralidade, violência e crueldade; atacarão a Palavra de Deus e a sã doutrina (Mt 24.24; 2Co 11.14,15; 1Tm 4.1). O maior surto de atividade demoníaca ocorrerá através do Anticristo e seus seguidores (2Ts 2.9; Ap 13.2-8; 16.13,14).

Jesus e os demônios

Nos seus milagres, Jesus freqüentemente ataca o poder de Satanás e o demonismo (Mc 1.25,26, 34, 39; 3.10,11; 5.1-20; 9.17-29; Lc 13.11,12,16). Um dos seus propósitos ao vir à terra foi subjugar Satanás e libertar seus escravos (Mt 12.29; Mc 1.27; Lc 4.18).

Jesus derrotou Satanás, em parte pela expulsão de demônios e, de modo pleno, através da sua morte e ressurreição (Jo 12.31; 16.17; Cl 2.15; Hb 2.14). Deste modo, Ele aniquilou o domínio de Satanás e restaurou o poder do reino de Deus. O inferno (gr. Gehenna), o lugar de tormento, está preparado para o diabo e seus demônios - anjos (Mt 8.29; 25.41). Exemplos do termo Gehenna no grego: Mc 9.43,45,47; Mt 10.28; 18.9.

O crente e os demônios

As Escrituras ensinam que nenhum verdadeiro crente, em quem habita o Espírito Santo, pode ficar endemoninhado; isto é, o Espírito e os demônios nunca poderão habitar no mesmo corpo (2Co 6.15,16). Os demônios podem, no entanto, influenciar os pensamentos, emoções e atos dos crentes que não obedecem aos ditames do Espírito Santo (Mt 16.23; 2Co 11.3,14).

Jesus prometeu aos genuínos crentes autoridade sobre o poder de Satanás e das suas hostes. Ao nos depararmos com eles, devemos aniquilar o poder que querem exercer sobre nós e sobre outras pessoas, confrontando-os sem trégua pelo poder do Espírito Santo (Lc 4.14-19). Desta maneira, podemos nos livrar dos poderes das trevas.

Segundo a parábola em Mc 3.27, o conflito espiritual contra Satanás envolve três aspectos: declarar guerra contra Satanás segundo o propósito de Deus (Lc 4.14-19); ir onde Satanás está (qualquer lugar onde ele tem uma fortaleza), atacá-lo e vencê-lo pela oração e pela proclamação da Palavra, e destruir suas armas de engano e tentação demoníacos (Lc 11.20-22); apoderar-se de bens ou posses, isto é, libertando os cativos do inimigo e entregando-os a Deus para que recebam perdão e santificação mediante a fé em Cristo (Lc 11.22; At 26.18).

Seguem-se os passos que cada um deve observar nesta luta contra o mal: Reconhecer que não estamos num conflito contra a carne e o sangue, mas contra forças espirituais do mal (Ef 6.12); viver diante de Deus uma vida fervorosamente dedicada à sua verdade e justiça (Rm 12.1,2; Ef 6.14); Crer que o poder de Satanás pode ser aniquilado seja onde for o seu domínio (At 26.18; Ef 6.16; 1Ts 5.8) e reconhecer que o crente tem armas espirituais poderosas dadas por Deus para a destruição das fortalezas de Satanás (2Co 10.3-5); proclamar o evangelho do reino, na plenitude do Espírito Santo (Mt 4.23; Lc 1.15-17; At 1.8; 2.4; 8.12; Rm 1.16; Ef 6.15); confrontar Satanás e o seu poder de modo direto, pela fé no nome de Jesus (At 16.16-18), ao usar a Palavra de Deus (Ef 6.17), ao orar no Espírito (At 6.4; Ef 6.18), ao jejuar (Mt 6.16; Mc 9.29) e ao expulsar demônios (Mt 10.1; 12.28; 17.17-21; Mc 16.17; Lc 10.17; At 5.16; 8.7; 16.18; 19.12); orar, principalmente, para que o Espírito Santo convença os perdidos, no tocante ao pecado, à justiça e ao juízo vindouro (Jo 16.7-11); orar, com desejo sincero, pelas manifestações do Espírito, mediante os dons de curar, de línguas, de milagres e de maravilhas (At 4.29-33; 10.38; 1Co 12.7-11).


A natureza espiritual, intelectual e moral dos demônios

Eles possuem uma natureza intelectual, até mesmo porque na etimologia da palavra daimon o sentido é conhecimento, inteligência. Portanto, os demônios não são coisas impensantes, mas conhecem a Jesus e até falam dele como “o filho do Altíssimo” (Mc 5.6,7). Tiago escreveu que os demônios crêem e estremecem (Tg 2.19). Quanto à natureza moral dos demônios é inegável que eles se corromperam indo após Lúcifer, praticando toda a sorte de perversão e depravação espiritual. Por isso, eles são chamados “espíritos imundos” (Mt 10.1; Mc 1.27; 3.11; Lc 4.36; At 8.7, Ap 16.13). Eles usam as pessoas, possuindo suas mentes ou influenciando-as por outros meios a fim de que elas se tornem “instrumentos de iniqüidade” (Rm 6.13).

Na rebelião promovida por Lúcifer, este arrastou consigo uma grande multidão de seres angelicais (Mt 25.41; Ap 12.4). Depois, ele organizou sua própria corte com os anjos que o seguiram, distinguindo-os em “principados, potestades e dominadores das trevas e hostes espirituais da maldade” (Ef 6.12). Os anjos que trocaram a sua habitação pela oferta do rebelde Lúcifer, foram banidos da presença de Deus e seguiram a liderança de Lúcifer. E, assim, passaram a ser identificados como “anjos caídos”.

Lugar atual e destino final dos demônios

a) Satanás na sua rebelião inicial contra Deus (Mt 4.10) sublevou uma terça parte dos anjos (Ap 12.4). A maioria deles está solta sob o domínio e controle de Satanás (Mt 12.24; ]25.41; Ef 2.2; Ap 12.7). Estes são os emissários altamente organizados do diabo (Ef 6.11,12) que equivalem aos demônios referidos na Bíblia;

b) Outros desses estão algemados no poço do abismo (2Pe 2.4; Jd 6), e serão soltos na Grande Tribulação. “E o quinto anjo tocou a trombeta, e vi uma estrela que do céu caiu na terra; e foi-lhe dada a chave do poço do abismo. E abriu o poço do abismo, e subiu fumaça do poço como a fumaça de uma grande fornalha e, com a fumaça do poço, escureceu-se o sol e o ar” (Ap 9.1,2). Nesse texto encontramos a estrela que cai do céu que é provavelmente um anjo que executa o julgamento divino e o poço do abismo que é o lugar onde estão aprisionados os demônios que não guardaram o seu principado e ali foram encerrados até que Che o tempo de serem soltos (Ap 11.7; 17.8; 20.1,3; Lc 8.31; 2Pe 2.4; Jd 6). Do poço do abismo saem gafanhotos que representam um vultoso número de demônios e também intensa atividade demoníaca na terra, perto do fim da história.

c) finalmente todos os demônios serão lançados juntamente com Satanás para dentro do lago de fogo. “Então, dirá também aos que estiverem à sua esquerda: Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos” (Mt 25.41).


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